O MUNDO DE METRÓPOLIS

O Mundo de Metrópolis - Parte 7

Ao chegar à rodoviária de Metrópolis, antes de ir ao encontro da amiga Cat, Lois Lane procurou na sua bolsa as chaves de um dos guarda-volumes da estação. Encontrando-a, atravessou o saguão em direção aos armários. Procurou o número 520 e, ao abri-lo, deparou-se com uma inevitável surpresa. Lois, que havia guardado, naquele mesmo armário, o envelope com todo o material colhido por Peter Sands a respeito de Lex Luthor, surpreendia-se ao encontrá-lo vazio. Estarrecida, ela conferiu se o número no guarda-volumes era o mesmo que estava na chave. E era. Olhou à volta, e procurou pelo guichê que fazia o aluguel dos armários.

"Moça", disse ela à garota que estava atrás do balcão, "sabe se existe cópia dessas chaves?", perguntou-lhe, mostrando a chave do guarda-volume que tinha alugado e de onde havia sumido o envelope de Sands.

"Claro que temos cópias", respondeu ela, com naturalidade. "Alguns locatários perdem suas chaves e temos cópias de reserva".

"E onde ficam?", perguntou.

"Mas a senhorita ainda tem a sua chave", disse a moça, sorrindo. "Por que iria querer uma cópia?"

"Claro que tenho, e eu não disse que quero uma cópia. O problema é que o conteúdo do armário que eu aluguei ontem, não está mais lá", explicou Lois, controlando-se para não perder a paciência.

Surpresa, a moça pegou o telefone e chamou alguém. Minutos depois, um sujeito com uniforme da empresa que alugava os armários na estação rodoviária chegou ao balcão.

"Qual o problema?", perguntou ele.

"Essa garota está dizendo que suas coisas no armário sumiram", explicou a atendente.

"Na verdade, estou dizendo que alguém pegou a cópia da chave que me foi dada e roubou o que havia dentro do guarda-volumes que aluguei", corrigiu-a Lois.

"Senhorita", disse o sujeito alarmado, "isso é impossível. Esse é o tipo de coisa que jamais aconteceu por aqui".

Lois suspirou. Certamente não conseguiria a ajuda deles e de mais ninguém. Estava completamente perdida. Sentindo-se vencida pelas circunstâncias, Lois olhou à volta para ver se encontrava Catherine e terminava logo com aquela situação infernal, até que viu as câmeras nas colunas no saguão da estação rodoviária. Olhou para o alto e viu que também havia câmeras próximo de onde ficavam os armários.

"Aquelas câmeras", disse Lois, apontando na direção do guarda-volumes, "onde fica a central de segurança que as controla?"

A moça e o sujeito se entreolharam e, certamente, pensando que aquela era uma garota muito perturbada da cabeça, resolveram ajudá-la. No caminho até o setor que controlava o sistema de vigilância de dentro da rodoviária, Lois, que seguia o sujeito da empresa de aluguel de armários, encontrou Catherine, que a esperava próximo da plataforma de desembarque em que a amiga devia estar. Lois a chamou e, sem entender, Catherine a acompanhou.

"O quê aconteceu?", perguntou Catherine.

"Você já vai saber", disse Lois, com um pequeno sorriso no canto dos lábios.

...

Era cedo, portanto, o Red Pepper estava fechado. Mas Fred limpava alguns copos, enquanto Leto, seu garçom e ajudante, varria o chão do bar. Estavam cansados e dali iriam direto para casa. Um último cliente estava sentado numa mesa, a única que não estava com a cadeira sobreposta para que Leto terminasse de limpar. O sujeito ainda segurava um copo com uísque a a cabeça estava mergulhada num sono profundo sobre uma tigela com amendoins.

"Ele vai ficar aqui o dia inteiro, Pepper?", perguntou Leto, que queria varrer perto da mesa.

"Deixa ele", disse o dono do bar, detrás do balcão. "Pegou a mulher na cama com outro há dois dias e foi demitido ontem. Não vamos tornar as coisas mais dificíceis do que já estão para o pobre coitado".

Leto deu de ombros e, ao ver um rapaz em frente à porta do bar, tentando abrir a maçanete, apontou para o chefe:

"Você o conhece?"

Fred, que não enxergava bem de longe, colocou os óculos de grau que estavam debaixo do balcão.

"Nunca vi na vida", respondeu ele. "Vá ver o que ele quer".

Leto deixou a vassoura encostada na mesa onde estava o fregues adormecido, e foi atender a porta.

"Pois não?", perguntou.

"Preciso falar com um tal de Fred", disse Clark, querendo entrar. "Ele está?"

"Pepper!", exclamou o garçom. "Esse sujeito quer falar com você".

Fred, que não parecia de muita conversa naquele dia, diria para ele voltar um outro dia, mas ao ver que aquele parecia um garoto bem apessoado, disse ao ajudante que o deixasse entrar. Clark olhou à volta. Era um bar desprezível, e o sujeito adormecido chamou sua atenção.

"Ele está bem?", perguntou ao homem que estava atrás do bar.

"Está sim", respondeu ele. "Apenas tentando superar alguns problemas", explicou e, encarando Clark, perguntou: "O quê você quer falar comigo?"

"Bem", disse Clark, aproximando-se, com as mãos nos bolsos das calças, "na verdade, queria lhe fazer algumas perguntas".

Fred olhou para Leto, que continuou a fazer seu serviço, mas ouvia a conversa entre dois, atentamente.

"O senhor conhecia Peter Sands?", perguntou, então, Clark.

Fred deu um risinho quase inaudível.

"É a segunda pessoa que me pergunta isso em menos de dois dias", comentou ele. "Fiquei sabendo o que aconteceu com ele", disse, então, mudando o semblante, como se lamentasse a morte do repórter, "mas não sei se posso ajudar".

Clark ergueu as sobrancelhas, denotando interesse por tudo o que ele lhe podia dizer.

"Vou lhe contar o mesmo que contei à moça que veio aqui ontem", disse ele, passando a mão pela barriga saliente, que transbordava sobre o cinto. "Ele andava muito estranho, ultimamente", revelou.

"Estranhos, como?", perguntou Clark, esperando mais especificidade do bartender.

"Não vinha mais para encher a cara como antes", explicou ele. "Eu sabia que ele estava parando, pois, um dia, bêbado, ele me contou que havia conseguido um novo trabalho. Dizia que queria lavar sua honra. Nunca contou o quê era e eu também nunca tive interesse em saber. Depois, percebi que ele vinha, pedia uma bebida e se sentava naquela mesa", apontou ele, para a mais escondida mesa de todo o bar, e que ficava próximo dos sanitários. "Ficava lá algum tempo, sem tocar na bebida, até que chegava alguém, que passava direto pelo bar, e se sentava à mesa com ele. Ficavam entre dez e vinte minutos conversando e, depois, saía o sujeito, e logo depois, o Peter, que pagava a conta direto no caixa".

Clark ficou pensativo. Devia haver mais alguma coisa que pudesse ajudar.

"Lembra como era o sujeito?", perguntou-lhe.

"Não era muito mais alto do que você", respondeu ele. "Tinha o cabelo ralo, loiro, e estava sempre vestido num capote preto, com luvas pretas. Parecia mafioso, sabe. Era o tipo de cliente que eu jamais imaginava que pudesse entrar no meu bar que não fosse para um encontro incomum. E aqueles eram encontros incomuns, pois eter sempre saía nervoso do bar, depois que conversava com ele".

"Não sabe mais nada do sujeito?", perguntou Clark, insistente.

"É...", respondeu Fred, lembrando de um detalhe, "nunca vou me esquecer daquele cigarro horroroso que ele fumava, com aquela fumaceira verde que se espalhava por todo o meu bar, incomodando todos os outros fregueses".

E Clark se surpreendeu. Sabia de quem ele falava, embora não soubesse sua identidade. Já o havia encontrado, meses antes, em Smallville, quando a prima de Chloe estava no hospital. Ele tentava invadir a casa da amiga, para roubar informações de Lois Lane.

"Quantas vezes o viu?", perguntou Clark.

"Não foram muitas, não", respondeu ele. "Umas quatro ou cinco vezes".

"Sabe o nome dele?"

"Não, filho", respondeu Fred, com um pequeno sorriso, de como se já não pudesse mais ajudá-lo. Clark sorriu e agradeceu, porém, antes de sair, Leto, o garçom, chamou-o:

"Moço, talvez isso possa ajudar", disse, tirando do bolso da calça, uma caixa de fósforos. "Ele deixou cair numa das vezes que esteve aqui. Tentei devolver, mas ele sumiu rua abaixo".

Clark pegou a pequena caixinha, que tinha forma de um envelope, como aqueles que serviam de brinde em hotéis e restaurantes, e havia um nome, era o do Metrópolis Palace Hotel. Abriu o envelope e notou, além dos cinco fósforos remanescentes, um número de telefone.

"Pensei em ligar para esse número, mas achei que seria um tanto bobo demais, só por causa de uma caixa de fósforos", explicou Leto, olhando para Clark e, depois, para o chefe, atrás do balcão do bar, que balançava a cabeça, satisfeito com a honestidade do garçom e sua iniciativa para ajudar.

"Posso ficar com ela?", perguntou Clark, referindo ao envelope com os fósforos.

"Claro", respondeu Leto. "Espero que ajude".

Clark sorriu, agradeceu pelas informações e foi embora.

Continua...