O MUNDO DE METRÓPOLIS
O Mundo de Metrópolis - Parte 8
"Chloe? Pode falar?", perguntou Clark de um telefone público em frente ao Metrópolis Palace Hotel, segurando a caixinha de fósforos que o garoto da limpeza lhe entregou no Red Pepper.
"Onde você está?", indagou Chloe, segurando o telefone com o o ombro, enquanto usava as mãos para fazer uma arrumação na desordem que estava sobre a sua mesa no The Torch.
"Você nem vai acreditar. Mas depois eu explico melhor", respondeu ele. "Poderia verificar o número de um telefone?"
"Claro. Pode mandar!", exclamou ela, pegando uma caneta.
"As coisas andam meio estranhas, Clark", comentou Chloe, depois de anotar o número, e antes que Clark perguntasse qual era o problema, ela continuou: "Ontem mesmo encontrei a minha prima aqui, em Smallville. Mal pude acreditar. Acho que esse caso de assassinato está dando o que falar. Hoje à tarde vai ser o enterro, no Cemitério de Metrópolis, e ainda não há suspeitos".
"Ouça, Chloe, preciso desligar", disse Clark, "mas ficarei feliz se você puder verificar esse número."
"Pode deixar. Vou ver isso agora mesmo".
Ao desligar, Clark caminhou na direção do hotel, e só depois que entrou no saguão do Metrópolis Palace Hotel é que se deu conta de que não sabia o nome do suspeito. Porém, na tentativa de assim mesmo descobrir se ele ainda estava hospedado, perguntou ao homem que estava atrás do balcão da recepção.
"Bom dia, senhor", disse ele. "Bem-vindo ao Metrópolis Palace Hotel".
"Estou procurando um hóspede", disse Clark, dando a descrição do sujeito, tal como o Fred do Red Pepper lhe dera, e tal como ele próprio se lembrava, quando, meses antes o havia encontrado em Smallville, na varanda da casa da Chloe.
"Creio que esteja se referindo ao Sr. Stiles", disse o atendente. "Ele está no quarto 1213, no décimo segundo andar", e antes que Clark lhe desse as costas para ir em direção ao elevador, ponderou: "Mas não pode subir sem antes ser anunciado".
Clark ficou receoso, então. Enquanto o recepcionista ligava para o apartamento em que o suspeito estava hospedado, imaginou se ele escaparia. Pensou diversas vezes se, por um mínimo de distração do atendente, poderia usar sua super-velocidade para chegar ao quarto, mas havia câmeras por todo o saguão, e ele não podia se arriscar.
"Que estranho", disse, então, o recepcionista, colocando o fone do interfone de volta ao gancho.
"O quê?", perguntou Clark.
"A chave dele não está aqui. Estou na portaria desde ontem à noite e não o vi sair, mas mesmo assim ele não atende", explicou, tentando mais uma vez. Percebendo que, ainda assim, não atendia, sob o olhar atento de Clark, ele devolveu o aparelho ao gancho e disse:
"Vamos fazer o seguinte... Sidney!", gritou na direção de um sujeito que ficava em frente à portaria. "Pode me cobrir por um instante aqui?"
O tal de Sidney correu para a recepção para assumir o lugar do sujeito que atendia Clark, que abria um armário que ficava debaixo do balcão.
"Vou pegar uma chave reserva e vamos subir até o apartamento do Sr. Stiles", disse ele, caminhando, acompanhado de Clark, até o elevador. "Pode não ser nada demais, mas ele nunca deixa de atender o interfone até o terceiro toque, o que me preocupa".
"Ele sempre se hospeda aqui?", perguntou Clark, surpreso com o fato do recepcionista conhecer tão bem os hábitos dele.
"O Sr. Stiles praticamente mora aqui", respondeu ele.
Ao chegar no décimo segundo andar, Clark o acompanhou até o final de um extenso corredor, e ao chegar em frente à porta do apartamento 1213, sentiu que alguma coisa estava errada. Usou sua visão de raio-x, e viu uma pessoa sentada à uma cadeira, segurando uma arma. Antes, portanto, que o empregado do hotel abrisse a porta, Clark interveio, indo à sua frente:
"Espere", disse, "pode ser perigoso!"
Ao abrir a porta, porém, Clark e o recepcionista se surpreenderam. Stiles era mesmo o homem que Clark procurava. No entanto, sentado ao sofá ao lado da cama, ele jazia morto, com um tiro de revólver na cabeça, e a arma numa das mãos, sobre uma das pernas.
"Ah, meu Deus! Vou chamar a polícia!", exclamou, correndo para a portaria, embora tenha pensado em usar o telefone do quarto, imaginando, prontamente, que não poderia deixar digitais.
Clark entrou no quarto e olhou à volta, inclusive, usando sua visão de raio- x, para descobrir alguma coisa, enquanto o recepcionista avisava a polícia. Mas não havia nada de comprometedor. Olhou, então, para o homem, morto em frente à uma parede manchada de sangue. Ficou imaginando se era mesmo suicídio. Sem tocar em coisa alguma, procurou por um bilhete, ou algo do gênero que um suicida poderia deixar. Mas nada. Viu, no entanto, dentro do bolso do paletó do cadáver, sua carteira. Sem hesitar, Clark a pegou. Revirou-a, e além de mil dólares em notas de cem, viu a carta de motorista. Samuel Stiles era seu nome. Colocou a carteira de volta no bolso e ficou pensativo. Sua única esperança, agora, era que Chloe descobrisse de onde era aquele número de telefone na caixinha de fósforos.
"Chloe?", perguntou Clark, quase uma hora depois, do mesmo aparelho de telefone público de onde falou com ela antes. "Conseguiu descobrir alguma coisa sobre aquele número que lhe dei?"
"Descobri, sim, Clark", respondeu ela, em frente à tela do computador. "Descobri que pode ser qualquer coisa, menos um número de telefone".
"Como?", indagou ele, incrédulo.
"Isso mesmo", disse ela. "Não existe esse número como sendo o de um telefone, pelo menos em todos os bancos de dados das empresas de telefonia em que pesquisei. Não há código para sabermos se é um número de telefone internacional, nem nada mais que nos possa ajudar. Sinto muito, Clark".
"Tente encontrar alguma coisa sobre Samuel Stiles, então", disse ele, olhando o movimento em frente ao hotel, onde a polícia ainda fazia seu trabalho.
"Quem é ele?", perguntou ela.
"Um suspeito, Chloe", respondeu Clark.
"Da morte do Sands?", questionou, com entusiasmo.
"Ao que tudo indica", disse ele, "só que ele está morto".
"Como assim?", perguntou ela, surpresa.
"Estou em frente ao hotel onde ele estava hospedado", explicou Clark. "Há dez minutos, eu estava respondendo perguntas da polícia, por ter encontrado, junto com um empregado do hotel, o corpo do tal Stiles no seu quarto. Ficou parecendo suicídio, mas acho pouco provável".
"Esse é o Clark Kent que eu conheço", disse Chloe, que acreditava na mesma hipótese. "Pode deixar que eu descubro até mesmo as notas que ele costumava tirar em geografia no ginásio".
...
Enquanto isso, duas horas depois, e após oito fitas cassetes com imagens aceleradas filmadas pelas câmeras de segurança da Estação Rodoviária de Metrópolis, Lois e Catherine, finalmente, com a ajuda de um dos técnicos da segurança, descobriram a fita onde continha a gravação do sujeito abrindo o armário e levando o envelope de Sands. No marcador de tempo, dizia que o roubo havia sido ao meio-dia de ontem.
"Ele parece com a descrição que o Fred me deu do sujeito que andava se encontrando com o Peter, no Red Pepper", comentou Catherine, que também não pôde deixar de notar, apesar da imagem ser em preto e branco e vir de cima, que o sujeito tinha cabelo ralo e vestia capote e luvas pretas.
"Parece um típico criminoso", disse Jerome, o segurança que as ajudava a encontrar o tape. "Vou ligar para a polícia, para que investiguem o caso".
"Pode me fazer mais um favor?", perguntou-lhe Lois.
"Claro", disse ele, que já estava se acostumando às incessantes perguntas de Lois e Catherine naquelas duas horas em que as ajudava a procurar as imagens do ladrão de guarda-columes da rodoviária.
"Existem câmeras no estacionamento?", perguntou ela, então.
Como se já entendesse as suas pretensões, Jerome sorriu e pegou a fita de vigilância do estacionamento no mesmo horário da fita anterior. Depois de acelerar um pouco as imagens, conseguiu encontrar a do ladrão chegando à estação rodoviária. O horário coincidia. Lois pegou uma caneta do fundo da bolsa e anotou a placa do carro.
"Pode me fazer uma cópia dessas fitas?", perguntou ela. "Aliás, duas cópias?"
"Você vai ser uma ótima repórter um dia, Srta. Lane", disse ele com a intimidade que haviam adquirido naquelas últimas horas, sorrindo, e preparando o aparelho de vídeo para fazer as cópias.
Enquanto Jerome gravava as fitas com as imagens para Lois, esta ligava do celular de Catherine, num cantinho silencioso da sala, para o departamento de trânsito.
"O que ele roubou deve ser muito importante para vocês se darem tanto o trabalho", comentou Jerome com Catherine, enquanto Lois falava ao telefone.
Catherine ficou pensativa, com o olhar perdido. Sentia muita falta de Peter, seu amigo de tantos anos. E ficou lembando como ele andava feliz com aquele novo trabalho. E como escrever aquele livro e, descobrir tantas coisas importantes sobre os Luthor o estava fazendo se empenhar cada vez mais na recuperação de sua auto-estima e de seu orgulho. Peter estava mesmo radiante com a possibilidade de voltar a ser um repórter respeitado e, quem sabe, um dia, voltar a trabalhar no Diário Planeta, até mesmo como um colunista. Eram pensamentos tristes. Tudo havia se esvaído. Peter estava morto e todo o seu trabalho já devia estar destruído.
"E era", respondeu ela, simplesmente.
"Já descobri", disse Lois, voltando-se para Catherine. "Passei o número da placa para o departamento de trânsito. Consultaram o banco de dados e descobriram que está em nome de uma locadora de carros. Consegui o número de telefone com o próprio departamento de trânsito", e antes que Catherine dissesse o quanto a amiga a surpreendia, Lois continuou: "O veículo está alugado no nome de Samuel Stiles, que, por acaso, está hospedado no Metrópolis Palace Hotel".
"Tão rápido assim?", perguntou Catherine.
"Hoje em dia, é só apertar um botão, e conseguimos tudo", respondeu Lois.
"Puxa vida!", exclamou Jerome, que terminava de gravar as fitas. "Será que você pode descobrir pra mim qual vai ser o resultado do próximo jogo da loteria?"
...
Quando chegaram ao Metrópolis Palace Hotel, porém, uma grande surpresa abalou Lois e Catherine. Havia algumas viaturas da polícia, uma ambulância e um veículo do Instituto Médico Legal. Como se já desconfiasse do que se tratava, enquanto Catherine procurava um lugar para estacionar o carro, Lois procurou pelo gerente do hotel, que a informou que um hóspede havia sido encontrado morto, mas que parecia ter sido suicídio. Ao perguntar quem era o tal hóspede, descobrindo que se tratava do seu suspeito, Samuel Stiles, Lois tratou de procurar pelo encarregado pelo caso. Encontrou, então, Bill Hendersen, chefe do departamento de homicídios de Metrópolis.
"Sr. Hendersen!", chamou-o Lois, em meio à confusão entre policiais, peritos e hóspedes que começava a se dissipar no saguão ho hotel. "Pode dizer o que aconteceu?"
"Quem é você?", indagou ele, com firmeza. "Já disse que não quero falar com repórteres bisbilhioteiros!"
"Não sou repórter", disse ela. "O quê aconteceu?"
"Uma pessoa cometeu suicídio", respondeu ele, olhando para o carro do Instituto Médico Legal que ia embora com o corpo.
"Foi mesmo suicídio?", perguntou Lois.
Furioso, Hendersen a encarou:
"Está questionando o trabalho de uma autoridade policial, garota?", gritou, furioso. "Cai fora daqui!"
"Espere!", exclamou Lois, enquanto ele saía pela porta do hotel, e seguia direto para o seu carro, ao lado de uma viatura. Mas Hendersen não lhe deu atenção e, antes que entrasse no automóvel, Lois tirou da bolsa, o The Ledge do dia anterior, e entregou a ele.
"Peter Sands, repórter decadente é assassinado em Smallville?", perguntou ele, lendo a manchete. "O que isso tem a ver?"
"Samuel Stiles pode ser assassino e ladrão!", explicou, também tirando da bolsa uma das cópias das fitas de vigilância da rodoviária que Jerome lhe deu. "Tenho provas de que ele roubou algo de muita importância que eu havia deixado num guarda-volumes na rodoviária de Metrópolis quando ia para Smallville, investigar algo sobre o assassinato de Peter Sands. Preciso saber se o que ele roubou está com ele".
"Quem é você, afinal de contas?", indagou ele, não contendo o abalo daquela conversa.
"Lois Lane, Sr. Hendersen", respondeu ela.
"Certo, Srta. Lane", disse ele, desconfiado. "Deixe as fitas comigo. Vou ver qual é a ligação disso tudo. Dê o seu nome completo e telefone para aquela policial", pediu, apontando para uma oficial que tentava normalizar o trânsito em frente ao hotel. "Se eu precisar de alguma coisa, telefono".
E, antes que Bill Hendersen fosse embora e Lois voltasse para o estacionamento para encontrar com Catherine, ele perguntou:
"O quê ele roubou, afinal, Srta. Lane?"
"Uma coisa que pode complicar, e muito, uma pessoa, Sr. Hendersen", respondeu ela, a poucos metros, cheia de dúvidas e expectativas.
Continua...
O Mundo de Metrópolis - Parte 8
"Chloe? Pode falar?", perguntou Clark de um telefone público em frente ao Metrópolis Palace Hotel, segurando a caixinha de fósforos que o garoto da limpeza lhe entregou no Red Pepper.
"Onde você está?", indagou Chloe, segurando o telefone com o o ombro, enquanto usava as mãos para fazer uma arrumação na desordem que estava sobre a sua mesa no The Torch.
"Você nem vai acreditar. Mas depois eu explico melhor", respondeu ele. "Poderia verificar o número de um telefone?"
"Claro. Pode mandar!", exclamou ela, pegando uma caneta.
"As coisas andam meio estranhas, Clark", comentou Chloe, depois de anotar o número, e antes que Clark perguntasse qual era o problema, ela continuou: "Ontem mesmo encontrei a minha prima aqui, em Smallville. Mal pude acreditar. Acho que esse caso de assassinato está dando o que falar. Hoje à tarde vai ser o enterro, no Cemitério de Metrópolis, e ainda não há suspeitos".
"Ouça, Chloe, preciso desligar", disse Clark, "mas ficarei feliz se você puder verificar esse número."
"Pode deixar. Vou ver isso agora mesmo".
Ao desligar, Clark caminhou na direção do hotel, e só depois que entrou no saguão do Metrópolis Palace Hotel é que se deu conta de que não sabia o nome do suspeito. Porém, na tentativa de assim mesmo descobrir se ele ainda estava hospedado, perguntou ao homem que estava atrás do balcão da recepção.
"Bom dia, senhor", disse ele. "Bem-vindo ao Metrópolis Palace Hotel".
"Estou procurando um hóspede", disse Clark, dando a descrição do sujeito, tal como o Fred do Red Pepper lhe dera, e tal como ele próprio se lembrava, quando, meses antes o havia encontrado em Smallville, na varanda da casa da Chloe.
"Creio que esteja se referindo ao Sr. Stiles", disse o atendente. "Ele está no quarto 1213, no décimo segundo andar", e antes que Clark lhe desse as costas para ir em direção ao elevador, ponderou: "Mas não pode subir sem antes ser anunciado".
Clark ficou receoso, então. Enquanto o recepcionista ligava para o apartamento em que o suspeito estava hospedado, imaginou se ele escaparia. Pensou diversas vezes se, por um mínimo de distração do atendente, poderia usar sua super-velocidade para chegar ao quarto, mas havia câmeras por todo o saguão, e ele não podia se arriscar.
"Que estranho", disse, então, o recepcionista, colocando o fone do interfone de volta ao gancho.
"O quê?", perguntou Clark.
"A chave dele não está aqui. Estou na portaria desde ontem à noite e não o vi sair, mas mesmo assim ele não atende", explicou, tentando mais uma vez. Percebendo que, ainda assim, não atendia, sob o olhar atento de Clark, ele devolveu o aparelho ao gancho e disse:
"Vamos fazer o seguinte... Sidney!", gritou na direção de um sujeito que ficava em frente à portaria. "Pode me cobrir por um instante aqui?"
O tal de Sidney correu para a recepção para assumir o lugar do sujeito que atendia Clark, que abria um armário que ficava debaixo do balcão.
"Vou pegar uma chave reserva e vamos subir até o apartamento do Sr. Stiles", disse ele, caminhando, acompanhado de Clark, até o elevador. "Pode não ser nada demais, mas ele nunca deixa de atender o interfone até o terceiro toque, o que me preocupa".
"Ele sempre se hospeda aqui?", perguntou Clark, surpreso com o fato do recepcionista conhecer tão bem os hábitos dele.
"O Sr. Stiles praticamente mora aqui", respondeu ele.
Ao chegar no décimo segundo andar, Clark o acompanhou até o final de um extenso corredor, e ao chegar em frente à porta do apartamento 1213, sentiu que alguma coisa estava errada. Usou sua visão de raio-x, e viu uma pessoa sentada à uma cadeira, segurando uma arma. Antes, portanto, que o empregado do hotel abrisse a porta, Clark interveio, indo à sua frente:
"Espere", disse, "pode ser perigoso!"
Ao abrir a porta, porém, Clark e o recepcionista se surpreenderam. Stiles era mesmo o homem que Clark procurava. No entanto, sentado ao sofá ao lado da cama, ele jazia morto, com um tiro de revólver na cabeça, e a arma numa das mãos, sobre uma das pernas.
"Ah, meu Deus! Vou chamar a polícia!", exclamou, correndo para a portaria, embora tenha pensado em usar o telefone do quarto, imaginando, prontamente, que não poderia deixar digitais.
Clark entrou no quarto e olhou à volta, inclusive, usando sua visão de raio- x, para descobrir alguma coisa, enquanto o recepcionista avisava a polícia. Mas não havia nada de comprometedor. Olhou, então, para o homem, morto em frente à uma parede manchada de sangue. Ficou imaginando se era mesmo suicídio. Sem tocar em coisa alguma, procurou por um bilhete, ou algo do gênero que um suicida poderia deixar. Mas nada. Viu, no entanto, dentro do bolso do paletó do cadáver, sua carteira. Sem hesitar, Clark a pegou. Revirou-a, e além de mil dólares em notas de cem, viu a carta de motorista. Samuel Stiles era seu nome. Colocou a carteira de volta no bolso e ficou pensativo. Sua única esperança, agora, era que Chloe descobrisse de onde era aquele número de telefone na caixinha de fósforos.
"Chloe?", perguntou Clark, quase uma hora depois, do mesmo aparelho de telefone público de onde falou com ela antes. "Conseguiu descobrir alguma coisa sobre aquele número que lhe dei?"
"Descobri, sim, Clark", respondeu ela, em frente à tela do computador. "Descobri que pode ser qualquer coisa, menos um número de telefone".
"Como?", indagou ele, incrédulo.
"Isso mesmo", disse ela. "Não existe esse número como sendo o de um telefone, pelo menos em todos os bancos de dados das empresas de telefonia em que pesquisei. Não há código para sabermos se é um número de telefone internacional, nem nada mais que nos possa ajudar. Sinto muito, Clark".
"Tente encontrar alguma coisa sobre Samuel Stiles, então", disse ele, olhando o movimento em frente ao hotel, onde a polícia ainda fazia seu trabalho.
"Quem é ele?", perguntou ela.
"Um suspeito, Chloe", respondeu Clark.
"Da morte do Sands?", questionou, com entusiasmo.
"Ao que tudo indica", disse ele, "só que ele está morto".
"Como assim?", perguntou ela, surpresa.
"Estou em frente ao hotel onde ele estava hospedado", explicou Clark. "Há dez minutos, eu estava respondendo perguntas da polícia, por ter encontrado, junto com um empregado do hotel, o corpo do tal Stiles no seu quarto. Ficou parecendo suicídio, mas acho pouco provável".
"Esse é o Clark Kent que eu conheço", disse Chloe, que acreditava na mesma hipótese. "Pode deixar que eu descubro até mesmo as notas que ele costumava tirar em geografia no ginásio".
...
Enquanto isso, duas horas depois, e após oito fitas cassetes com imagens aceleradas filmadas pelas câmeras de segurança da Estação Rodoviária de Metrópolis, Lois e Catherine, finalmente, com a ajuda de um dos técnicos da segurança, descobriram a fita onde continha a gravação do sujeito abrindo o armário e levando o envelope de Sands. No marcador de tempo, dizia que o roubo havia sido ao meio-dia de ontem.
"Ele parece com a descrição que o Fred me deu do sujeito que andava se encontrando com o Peter, no Red Pepper", comentou Catherine, que também não pôde deixar de notar, apesar da imagem ser em preto e branco e vir de cima, que o sujeito tinha cabelo ralo e vestia capote e luvas pretas.
"Parece um típico criminoso", disse Jerome, o segurança que as ajudava a encontrar o tape. "Vou ligar para a polícia, para que investiguem o caso".
"Pode me fazer mais um favor?", perguntou-lhe Lois.
"Claro", disse ele, que já estava se acostumando às incessantes perguntas de Lois e Catherine naquelas duas horas em que as ajudava a procurar as imagens do ladrão de guarda-columes da rodoviária.
"Existem câmeras no estacionamento?", perguntou ela, então.
Como se já entendesse as suas pretensões, Jerome sorriu e pegou a fita de vigilância do estacionamento no mesmo horário da fita anterior. Depois de acelerar um pouco as imagens, conseguiu encontrar a do ladrão chegando à estação rodoviária. O horário coincidia. Lois pegou uma caneta do fundo da bolsa e anotou a placa do carro.
"Pode me fazer uma cópia dessas fitas?", perguntou ela. "Aliás, duas cópias?"
"Você vai ser uma ótima repórter um dia, Srta. Lane", disse ele com a intimidade que haviam adquirido naquelas últimas horas, sorrindo, e preparando o aparelho de vídeo para fazer as cópias.
Enquanto Jerome gravava as fitas com as imagens para Lois, esta ligava do celular de Catherine, num cantinho silencioso da sala, para o departamento de trânsito.
"O que ele roubou deve ser muito importante para vocês se darem tanto o trabalho", comentou Jerome com Catherine, enquanto Lois falava ao telefone.
Catherine ficou pensativa, com o olhar perdido. Sentia muita falta de Peter, seu amigo de tantos anos. E ficou lembando como ele andava feliz com aquele novo trabalho. E como escrever aquele livro e, descobrir tantas coisas importantes sobre os Luthor o estava fazendo se empenhar cada vez mais na recuperação de sua auto-estima e de seu orgulho. Peter estava mesmo radiante com a possibilidade de voltar a ser um repórter respeitado e, quem sabe, um dia, voltar a trabalhar no Diário Planeta, até mesmo como um colunista. Eram pensamentos tristes. Tudo havia se esvaído. Peter estava morto e todo o seu trabalho já devia estar destruído.
"E era", respondeu ela, simplesmente.
"Já descobri", disse Lois, voltando-se para Catherine. "Passei o número da placa para o departamento de trânsito. Consultaram o banco de dados e descobriram que está em nome de uma locadora de carros. Consegui o número de telefone com o próprio departamento de trânsito", e antes que Catherine dissesse o quanto a amiga a surpreendia, Lois continuou: "O veículo está alugado no nome de Samuel Stiles, que, por acaso, está hospedado no Metrópolis Palace Hotel".
"Tão rápido assim?", perguntou Catherine.
"Hoje em dia, é só apertar um botão, e conseguimos tudo", respondeu Lois.
"Puxa vida!", exclamou Jerome, que terminava de gravar as fitas. "Será que você pode descobrir pra mim qual vai ser o resultado do próximo jogo da loteria?"
...
Quando chegaram ao Metrópolis Palace Hotel, porém, uma grande surpresa abalou Lois e Catherine. Havia algumas viaturas da polícia, uma ambulância e um veículo do Instituto Médico Legal. Como se já desconfiasse do que se tratava, enquanto Catherine procurava um lugar para estacionar o carro, Lois procurou pelo gerente do hotel, que a informou que um hóspede havia sido encontrado morto, mas que parecia ter sido suicídio. Ao perguntar quem era o tal hóspede, descobrindo que se tratava do seu suspeito, Samuel Stiles, Lois tratou de procurar pelo encarregado pelo caso. Encontrou, então, Bill Hendersen, chefe do departamento de homicídios de Metrópolis.
"Sr. Hendersen!", chamou-o Lois, em meio à confusão entre policiais, peritos e hóspedes que começava a se dissipar no saguão ho hotel. "Pode dizer o que aconteceu?"
"Quem é você?", indagou ele, com firmeza. "Já disse que não quero falar com repórteres bisbilhioteiros!"
"Não sou repórter", disse ela. "O quê aconteceu?"
"Uma pessoa cometeu suicídio", respondeu ele, olhando para o carro do Instituto Médico Legal que ia embora com o corpo.
"Foi mesmo suicídio?", perguntou Lois.
Furioso, Hendersen a encarou:
"Está questionando o trabalho de uma autoridade policial, garota?", gritou, furioso. "Cai fora daqui!"
"Espere!", exclamou Lois, enquanto ele saía pela porta do hotel, e seguia direto para o seu carro, ao lado de uma viatura. Mas Hendersen não lhe deu atenção e, antes que entrasse no automóvel, Lois tirou da bolsa, o The Ledge do dia anterior, e entregou a ele.
"Peter Sands, repórter decadente é assassinado em Smallville?", perguntou ele, lendo a manchete. "O que isso tem a ver?"
"Samuel Stiles pode ser assassino e ladrão!", explicou, também tirando da bolsa uma das cópias das fitas de vigilância da rodoviária que Jerome lhe deu. "Tenho provas de que ele roubou algo de muita importância que eu havia deixado num guarda-volumes na rodoviária de Metrópolis quando ia para Smallville, investigar algo sobre o assassinato de Peter Sands. Preciso saber se o que ele roubou está com ele".
"Quem é você, afinal de contas?", indagou ele, não contendo o abalo daquela conversa.
"Lois Lane, Sr. Hendersen", respondeu ela.
"Certo, Srta. Lane", disse ele, desconfiado. "Deixe as fitas comigo. Vou ver qual é a ligação disso tudo. Dê o seu nome completo e telefone para aquela policial", pediu, apontando para uma oficial que tentava normalizar o trânsito em frente ao hotel. "Se eu precisar de alguma coisa, telefono".
E, antes que Bill Hendersen fosse embora e Lois voltasse para o estacionamento para encontrar com Catherine, ele perguntou:
"O quê ele roubou, afinal, Srta. Lane?"
"Uma coisa que pode complicar, e muito, uma pessoa, Sr. Hendersen", respondeu ela, a poucos metros, cheia de dúvidas e expectativas.
Continua...
