~~*O amanhã não existe*~~




~~*Cronos*~~

Pierrot. O tolo do anjo de Deus. Enganado. Apaixonado. Machucado. Chutado. Chorando. Orando. Esperando. Acreditando. Amando. Sangrando. Sorrindo. Fingindo. Caindo. Coração partido. Lágrimas rolando. Sonhos desmoronando. Esperança arrancada. Dor sobrepujando a própria dor. Mentiras desacreditando verdades falsas. Castelos de areia. Ventos cortantes movendo ondas salgadas engolfando sua alma. Silêncio. Fim.

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Vazio, errado. Dor, certo. Culpa, certo. Compaixão, certo. Prazer, errado. Indiferença, errado. Saudades, certo. Alívio, errado. Desespero, certo. Tédio, errado. Amor, certo. "dio, certo. Desprezo, errado. Orgulho, errado. Harry, certo. Draco errado.

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Um raio rasgou o céu noturno de outono onde soprava a brisa de primaveras esquecidas, brisa esta que entrava pela janela entreaberta fazendo ondular as cortinas de fina seda e espalhando o cheiro do café quente por todo o aposento.

E em frente à janela, antevendo a tempestade que em breve começaria, Draco Malfoy segurava uma xícara com dedos longos e pálidos, e uma expressão de pura contemplação.

Aquilo era perfeição.

Os ventos que faziam as árvores entoarem sinfonias de momentos perdidos e as nuvens que iluminadas pela luz da lua cheia mostravam a simplicidade em sua forma mais esplendorosa e arrebatadora. Os odores de terra e chuva, de céu e mar, água e fogo. A beleza em sua forma mais selvagem e sem propósito, a falta de sentido culminando em... perfeição.

Aquilo valia a pena.

Mas do outro lado da janela, a brisa que levava o cheiro de café parecia misturar-se ao sangue derramado pelas mãos que seguravam tão casualmente a xícara de porcelana, e as sinfonias das sílfides perdiam-se em meio aos gritos de guerra e a perfeição era obscurecida pelo remorso da falta de remorso e o brilho da lua era não-luz se comparado ao brilho do sorriso triunfante, cruel, deleitoso, sarcástico, irônico do jovem que observava sua vida como avaliaria as memórias de um poeta trágico consumido por suas certezas mais do que por suas dúvidas.

Porque a dúvida era reticente e as certezas, chagas abertas em sua alma que sangrava sem trégua.

E toda a poesia era inútil.

O sangue inocente vertia em sorvos de vida alimentando a morte da mesma forma que o vento ventava.

E o vento ventava... e era simples e belo como a morte.

Quem dera assim fosse a vida.

Foi nesse momento que uma coruja negra entrou voando agourentamente pela janela aberta.

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Harry Potter estava pronto para morrer.

Ou assim ele pensava.

Afinal, dizem que todo mundo tem uma missão na Terra. Mas o que você faz quando a sua missão já está cumprida?

Ele salvara o mundo. Várias vezes. Supunha que era o suficiente.

No fim das contas, ele, o tão falado herói pós-guerra, cumprira a sua missão às custas das vidas alheias. Comprara seu lote no céu com barris de sangue, sangue que era tão igual ao vinho e ao rubor das maçãs na mesa. As maçãs estavam sorrindo para ele. E ele escondia o rosto como um qualquer, um covarde sem rumo e sem sentido.

Draco diria que a vida não tem sentido. Então ele iria sorrir e Harry entenderia menos ainda, desejando desesperadamente alguma maneira de sentir-se menos idiota.

Porque Draco sempre fazia com que ele se sentisse idiota. E parecia apreciar muito o fato.

Draco... Draco... Onde diabos estaria Draco agora?

Talvez vagando pelas ruas chuvosas e pensando em todo o tempo perdido. Talvez imaginando as possibilidades e as curvas para o lado errado, as estradas esburacadas que não levavam ao Paraíso, como nos faziam pensar. Ou talvez fosse apenas o garoto rico e desinteressado estirado em seu quarto do tamanho daquela casa inteira.

Draco era um mistério. E a única certeza sobre ele era que seus segredos nunca seriam revelados.

Por mais que Harry quisesse, por mais que Harry se esforçasse e gritasse e sangrasse... ele era apenas mais um peão no tabuleiro daquele reizinho arrogante que não confiava em ninguém além de si mesmo. E agora ele estava prestes a tombar de uma vez por todas.

Jogou-se pesadamente no sofá, observando a estante alta e escura e os móveis ao redor como se eles de fato não existissem.

Hermione estava em algum lugar da França, havia ido embora bem no meio da guerra, com um ótimo emprego muito bem remunerado em alguma área de pesquisa sobre a qual ele não entendia nada, que de muito valeria na luta contra Voldemort, e ao mesmo tempo a ajudaria a ficar longe de tudo aquilo. E ela de fato provara seu valor. A bruxinha que ainda nem completara seus vinte anos e já era reconhecida mundialmente e vivia feliz, rica e muito bem casada naquela terrinha não-tão-distante-assim, mas que pela freqüência das cartas e das visitas parecia ficar a milhares de anos-luz.

E Rony agora vivia com a mulher e os filhos na casa dos pais, e parecia decidido a dedicar toda a sua vida para que as crianças não precisassem passar por tudo que eles haviam passados juntos. Ronald Weasley queria uma vida próspera e simples com sua família em um vilarejo afastado, e queria esquecer todos os horrores que a guerra o fizera passar. É claro que Harry fora visitá-lo quando os gêmeos nasceram. E eles riram, e conversaram sobre banalidades, e a vida seguira em frente.

Nada mais das escapadas noturnas do trio maravilha. Sem as conversas até de madrugada sobre o novo plano de Voldemort. Sem as lutas emocionantes em que nada importava além de sair com vida e matar quantos Comensais fosse possível.

A maldita guerra que os unia e que os separara.

Porque ao menor sinal de algum ataque de Voldemort, desde seu primeiro ano em Hogwarts, lá estavam eles para "bancarem os detetives" e salvar o mundo mais uma vez. E quando a guerra realmente explodira, quando Voldemort voltara, eles estavam ainda mais unidos, e nada mais importava além de derrotá-lo e conseguir aquele final feliz pelo qual todos esperavam e todos já estavam acostumados.

Então, Draco. Ele partira, e Harry mal podia suportar a dor de abrir os olhos todos os dias, quanto mais lutar por ideais que ele mal acreditava. A maçã era bonita e lustrosa, mas estava podre por dentro. E ele descobrira que era fraco demais para aquilo tudo. Ele era fraco demais para aceitar que o seu conto de fadas se transformara em uma história de bruxas.

Mas ele ficara lá, ele suportara, ele lutara, ele matara e morrera por dentro, e se isolara, e chorara e gritara, mas ninguém nunca estivera lá para ouvir. Ele se afogara lentamente, e as cordas que ele esperara que o puxassem para a margem nunca vieram. Quem ele esperara que se atirasse no seu oceano de lágrimas salgadas e ácidas para salvá-lo ou morrer tentando apenas virara o rosto e continuara andando.

Ele fora abandonado, por tudo e por todos, como sempre acontecia.

Primeiro por seus pais, depois por Draco e por seus amigos, e finalmente pelos sonhos e a esperança que era a única que ainda o sustentava.

Estava tudo terminado.

A valsa chegara ao fim, e agora que os dançarinos já haviam abandonado a dança na metade, era a hora do músico se retirar para as sombras do camarim para sempre.

Levantou-se, rabiscou algumas palavras trêmulas em um pedaço de pergaminho velho e amassado, e despachou-o em sua coruja preta e de olhos gritantemente parecidos com os seus, que fora presente de Draco quando Hedwig morrera.

Observou-a voar, perdendo-se em meio aos ventos da tempestade que estava chegando, com um sorriso melancólico nos lábios, quase ouvindo o princípio de seu réquiem.
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N/A: Gostaram? Não gostaram? O próximo capítulo é o último (simmm, já! Vocês vão se ver livres de mim!) então me deixem bastantes reviews pra eu ficar feliz antes de publicar! ^^

N/A2: Agradecimentos de sempre: Hikari (o 3v tá morrido, né? Mas quando ele voltar acho que posto o fim da fic lá sim...), Debora Dumbledore (me conte o que você achar do último capítulo... huahauahuhu), Dani Potter (ahh, obrigadaaaa! ^^ Coisas difíceis.. no fim a vida é difícil, não é?), Lo (que sempre comenta! Muito muito muito obrigada, viu? Já está acabando então você só vai ter que esperar mais um capítulo... hehe) e Shadow Maid (hauhauahahu concordo plenamente! E que convencida o quê... fala se o mundo não seria muito mais feliz se cada um pudesse ter o seu Draquinho??).. Até o próximo capítulo e não esqueçam de comentar! ^^