As horas passaram rapidamente e logo os convidados já estavam chegando. Souta convidou seus amigos do colégio e da vizinhança e até alguns amigos de Kagome também estavam lá. Kagome estava de anfitriã na porta de casa.
– Ah, boa noite, que bom que puderam vir. A festa é lá nos fundos.
E convidado após convidado todos eram recebidos pelo sorriso de Kagome, que era observada por Inu-Yasha. Ela estava radiante e, como não poderia deixar de ser, ela estava vestida de sacerdotisa estilo feudal e carregava um arco e flecha nas costas. Quando percebeu sua presença foi em sua direção.
– Inu-Yasha você já está pronto... Onde estão os outros?
– Lá nos fundos com os outros convidados.
– Que bom, está tudo tão perfeito. Minhas amigas estão chegando. Vamos... – Disse ela, empurrando-o em direção as suas amigas. – Eu quero te apresentar.
– Tudo bem, mas não precisa empurrar.
Kagome abraçou cada uma de suas amigas, já fazia algum tempo que não as via.
– Que fantasias lindas, meninas!
– Hei, Kagome, quem é o seu amigo? – Perguntou Eri.
– Ah, é. Inu-Yasha, estas são minhas amigas do colégio: Ayumi, Eri e Yuka.
– Olá, meninas...
– Dá uma licencinha pra gente? – Ayumi arrastou Kagome para um canto, seguida pelas outras duas.
– Como é que você nunca falou desse garoto para gente, Kagome? – Novamente Eri, a curiosa.
– Isso é muito egoísmo da sua parte. – Continuou Yuka. – Você tem o Inu-Yasha e mantém o Houjou como step...
– O quê? Não é nada disso, meninas. Inu-Yasha e eu somos apenas bons amigos...
– Agora vai dar a maior confusão, não é Yuka? – Disse Ayumi.
Kagome olhou para sua amiga Yuka que estava meio sem graça.
– Desembucha logo, Yuka! O que foi?
– Bem, Kagome, é que... Ai, meu Deus! Eu sabia que ia dar confusão! É que como ia ter a festa do seu irmão, eu achei que você estivesse melhor, então convidei o Houjou.
– Você fez o quê!
Antes que se desse conta, escutou atrás de si o sino da bicicleta do Houjou. "Ai, meu Deus, e agora? O Inu-Yasha vai matar o Houjou!". Houjou estava com uma fantasia de samurai antigo e tinha até uma espada. Kagome tentou disfarçadamente levá-lo para os fundos, mas não deu para fugir do Inu-Yasha.
– Hei, Kagome! Você não vai me apresentar ao seu amigo?
Kagome deu de ombros e guiou Houjou até onde estava Inu-Yasha. Ele estava com um ar cínico e de braços cruzados. Não era um bom sinal.
– Houjou esse é Inu-Yasha. Inu-Yasha esse é Houjou.
– Muito prazer, Inu-Yasha. Os amigos de Higurashi também são meus amigos... – Estendeu a mão para Inu-Yasha que permaneceu de braços cruzados.
– Deixa eu dar uma palavrinha com Inu-Yasha, Houjou... Eu já volto, viu? – Puxou Inu-Yasha para um canto. – Eu pensei que você não quisesse que as pessoas soubessem, mas, do jeito que você está agindo, é como se colocasse um letreiro bem na sua testa!
– Eu não gosto desse sujeitinho, Kagome.
– Você está com ciúmes, Inu-Yasha?
– Ora, mas por que eu deveria ter ciúmes desse humano idiota?
– Anda vai. Faz uma forcinha, por mim...
– Ah, tá bom.
Kagome o levou de volta de volta até Houjou, onde os dois se cumprimentaram. Depois ela levou os dois para os fundos e se reuniu com os demais convidados. Ela estava realmente muito feliz. Inu-Yasha ficou observando Kagome de uma certa distância. "Esse é o lugar dela... Não tenho o direito de tirá-la daqui...".
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Enquanto caminhavam em direção ao vilarejo, Kagome percebeu que Inu-Yasha estava muito quieto. Mas quando ia tentar descobrir o que era, foi interpelada por Sango.
– Kagome, posso te fazer uma pergunta particular?
– O que foi, Sango?
– Você e o Inu-Yasha estão namorando?
– Ah, o quê? Mas de onde você tirou essa idéia?
– Sabe... Eu tenho o sono muito leve e percebi que você não voltou para o quarto aquela noite... E que só voltou pela manhã, com Inu-Yasha e entrou pela janela. Desculpe, mas eu também vi o beijo...
– Ah, não dá mais para esconder... Mas promete que não conta nada para ninguém?
– Prometo.
Kagome contou o que aconteceu ao ouvido da amiga. Mal conseguia esconder sua felicidade. Sango também ficou muito feliz por ela. Kagome se sentiu aliviada, pois agora havia aberto seu coração para alguém.
Ao chegarem no vilarejo, Inu-Yasha disse que queria conversar em particular com Kaede. Ambos foram para a cabana da velha sacerdotisa.
– Velha Kaede, você acredita em destino? Será que nós podemos mudar o que nos foi reservado?
– Que conversa é essa, Inu-Yasha? Eu sinto que você está um pouco diferente... – Tentou encarar Inu-Yasha, mas ele desviou o olhar. – Alguma coisa muito séria aconteceu no mundo de Kagome, não foi? Mas sem saber do que se trata só tem um conselho que eu posso lhe dar: Siga o seu coração.
– Seguir o meu coração? Eu não sou muito bom nisso, velhota... E se ele estiver errado?
– Inu-Yasha, você só vai saber se tentar. Tem certeza de que não quer me contar o que aconteceu?
Inu-Yasha cruzou os braços e pensou por um momento. Precisava desabafar com alguém. Resolveu contar toda a história desde o momento em que saíram do poço. Kaede escutou tudo atentamente, sem interrompê-lo. Ao terminar de ouvi-lo, seu semblante era um tanto sério.
– Escute aqui, velhota, eu não estou a fim de ouvir sermões, ouviu?
– Eu não vou lhe dar nenhum sermão, Inu-Yasha. Na verdade, até fico feliz por vocês dois, mas...Não há mais nada que eu possa dizer que lhe ajude nessa decisão, exceto que você não está sozinho. Qualquer que seja a sua decisão, Kagome tem que estar de acordo, do contrário, ela jamais será feliz, não importa onde ou com quem esteja.
– Eu entendo...
– Inu-Yasha, tem algo que eu preciso lhe contar. Minha irmã Kikyou esteve aqui.
– A Kikyou? Aqui? Onde ela está? Anda, me diga!
– Inu-Yasha, acalme-se! Se Kagome estivesse aqui ficaria muito aborrecida com o seu comportamento!
– Você não entende, não é velhota? Dentre as duas eu já fiz a minha escolha! Só que eu não posso suportar a idéia de que ela continue achando que eu a trai!
– Quanto a isso pode ficar despreocupado. Ela sabe de toda a verdade. Perguntou sobre Naraku, e depois partiu. Não se preocupe, Inu-Yasha, minha irmã sabe como se cuidar.
– É, mas, apesar disso, ela roubou os fragmentos da Jóia de Quatro Almas da Kagome e os deu ao Naraku.
– Mas por que...?
– Na verdade, eu não sei mais... – Respirou fundo. – Obrigado pelos conselhos, velha Kaede. – Levantou-se e seguiu até a porta.
"Ele realmente está muito mudado. Até me agradeceu".
– Inu-Yasha, qual foi a sua escolha?
– Ora, velhota, isso não é óbvio? Quando eu vi a Kikyou naquele bosque, sobrevivendo das almas dos mortos, eu fiquei muito confuso... Eu realmente queria ajudá-la de alguma forma... Mas, quando eu estou com a Kagome é diferente. Quando eu a beijei naquela noite, eu percebi que era com ela que eu queria ficar. Quanto a Kikyou, eu só espero que ela encontre o seu caminho...
Inu-Yasha sorriu para ela. Kaede achou estranho vê-lo sorrindo, para falar a verdade, ela nunca o tinha visto sorrir. Retribuiu com outro sorriso e ele se retirou da cabana. "Eu também espero que você encontre o seu caminho, minha irmã querida... Mas o que será que passou pela sua cabeça?". Perdida em seus pensamentos, nem percebeu que toda sua conversa fora ouvida sorrateiramente por uma figura sombria escondida atrás da cabana, debaixo da janela...
Ao sair da cabana Inu-Yasha viu seus companheiros sentados ao redor de uma fogueira. Aproximou-se e pediu que Kagome o acompanhasse. Caminharam até uma grande cerejeira às margens do pequeno rio que cortava o vilarejo. Havia uma leve brisa e a tênue luz do pôr-do-sol era a única luz que os tocava. Kagome sabia que o assunto era sério, pois Inu-Yasha parecia muito preocupado.
– Kagome... Quando isso tudo acabar, eu quero que você volte para o seu mundo...
– O quê?
– Você não percebe? Eu não posso pedir para você ficar comigo. Isso não está certo!
– Mas não é isso o que o meu coração quer... – Mal podia conter seu desespero. Seu corpo todo tremia e seus olhos encheram-se de lágrimas, porém nenhuma foi derramada. – O meu coração quer você, Inu-Yasha...
– Kagome, se eu fosse você eu...
– Pára com essa história, Inu-Yasha! Se o Naraku fosse você, usava a Jóia de Quatro Almas para ser um youkai mais poderoso. Se a Kikyou fosse você usava para transformá-lo num ser humano. E você já se perguntou o que você realmente quer? Agora vem você com essa história de "Se eu fosse você...".
– Como assim?
– Nós temos vivido em função das circunstâncias ou do que as outras pessoas tinham planejado para nós. Eu não escolhi vir para este mundo. Você não escolheu nascer hanyou, mas eu jamais pediria para você mudar quem você é, porque é justamente por você ser quem você é que eu te amo tanto.
– Kagome...
– Mesmo sabendo do futuro, minha escolha está no passado... Minha escolha é você, Inu-Yasha.
Kagome tomou as mãos de Inu-Yasha entre as suas e os dois ficaram fitando-se num profundo silêncio.
– Minha escolha também é você, Kagome.
Os dois se abraçaram e assim permaneceram durante um longo tempo. Miroku podia observá-los da fogueira. "Finalmente parece que aqueles dois se entenderam. Bom para eles...". O pequeno Shippou estava adormecido ao lado da fogueira, alheio a tudo que acontecia ao seu redor. Miroku continuou a remexer nas brasas da fogueira com um graveto. Estava distante e pensativo. Sango percebeu e resolveu interrompê-lo.
– Parece que você não vai mais poder pedir para ela ter um filho seu...
– Mesmo que ela ou qualquer outra mulher dissesse que sim, eu não poderia...
– Por quê?
– Meu pai viu meu avô ser sugado por esse buraco do vento e eu vi o meu pai ser sugado por ele... Não seria justo condenar um filho meu a um fim tão horrível... Eu acho que vou acabar morrendo engolido por esse destino com o qual aquele maldito Naraku amaldiçoou toda minha descendência. Eu simplesmente não posso...
Seu corpo todo tremia de ódio. Seu punho estava cerrado, como se fosse socar alguém, mas não havia ninguém ali para socar. Então Sango surpreendeu o monge segurando sua mão.
– Eu não vou deixar você morrer, Miroku. Nós vamos achar e acabar com a raça daquele maldito, você vai ver.
– Sango... Obrigado. Você acalma minha alma.
– E você a minha.
E os dois permaneceram de mãos dadas até Kagome e Inu-Yasha se juntarem ao grupo.
– Hei, Miroku! Você não vai pedir a ela para ter um filho seu? – Perguntou Inu-Yasha, em tom de brincadeira.
– Inu-Yasha, isso não é coisa que se diga assim!
Miroku ficou ruborizado. Quanto mais tentava fugir do assunto, mais Inu-Yasha o atiçava. Continuaram suas brincadeiras sem perceber que eram observados.
– Menina tola... Ele não será seu... – Kikyou saiu caminhando pela floresta. – Se eu estivesse viva, o coração do Inu-Yasha seria meu... Só meu... Eu tenho que me livrar dela! – Seu corpo tremia de ódio. O ódio, na verdade, era a única coisa que movia aquele corpo frio feito de ossos e terra...
