Capítulo 6 - A emboscada

No vilarejo, todos dormiam tranqüilamente, enquanto o dia amanhecia. Exceto Inu-Yasha. Estava inquieto, não conseguia dormir. Tinha a estranha sensação de que algo estava para acontecer. E não era boa coisa. De repente, percebeu uma bola de fogo no céu. Voava muito rápido.

– Hei, vocês todos acordem! Tem alguma coisa vindo!

Todos saíram de suas camas e foram ver do que se tratava. Inu-Yasha estava pronto para sacar a Tessaiga quando Kagome o interrompeu.

– Inu-Yasha, espera! É a Kirara!

– Como é que é? Você consegue ver dessa distância?

Kagome só deu de ombros e sorriu. Inu-Yasha se desarmou e esperou que Kirara chegasse. Antes de saírem para o mundo de Kagome, haviam deixado Kirara e Myouga para procurarem pistas dos fragmentos da Jóia de Quatro Almas. E, pela pressa com que vinham, provavelmente encontraram alguma coisa.

– Senhor Inu-Yasha! Senhor Inu-Yasha!

– O que foi, Myouga? Para quê esse escândalo todo?

– Desculpe se o acordei, Senhor Inu-Yasha, mas tenho informações sobre fragmentos da Jóia.

– Então, diga logo, Myouga. Não fica enrolando!

– Dizem que uma poderosa youkai ronda a floresta ao norte. Tem aparência humana e até então só matou youkais. Tem muito poder, talvez gerado por um fragmento da Jóia de Quatro Almas.

– Myouga, você tem certeza disso?

– Bem, Senhor Inu-Yasha, eu não a vi com meus próprios olhos, mas nenhum humano comum poderia demonstrar o poder que me foi relatado... Disseram-me que, em uma única noite, ela foi capaz de eliminar cinqüenta Youkais.

– O quê! Cinqüenta youkais! – Ficou surpreso com o relato de Myouga. – "Será que é a Kikyou? Talvez ela esteja procurando pelo Naraku...".

Kagome observava Inu-Yasha atentamente e já sabia no que ou em quem ele estava pensando.

– É melhor irmos andando, senão vamos perder a pista dessa youkai. – Disse ela.

– Senhorita Kagome...

– Vovô Myouga, se realmente tem um fragmento da Jóia no meio, eu vou dizer ao Inu-Yasha onde está, ele vai acertar aquela youkai com a Tessaiga e nós voltaremos rapidinho. É melhor irmos andando, temos que aproveitar a luz do dia. – Pegou sua mochila, colocou sobre a bicicleta e seguiu na direção indicada por Myouga.

– Inu-Yasha, foi impressão minha ou ela estava aborrecida? – Perguntou Miroku a Inu-Yasha, meio que cochichando.

– Não foi impressão, Miroku. Vamos atrás dela. "Será que ela percebeu algo. Não, não pode ser. Ela não pode ler pensamentos. Ou será que pode?".

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Após três dias de caminhada, chegaram a uma queda d'água. O lugar possuía um clima encoberto, talvez causado pelas águas, uma névoa singela pairava pelo lugar. Kagome se encantou com a beleza natural e segurou no braço de Inu-Yasha.

– Que lugar lindo! Vamos ficar aqui hoje, Inu-Yasha?

– Tudo bem. Já está anoitecendo mesmo. – Soltou-se dela, meio sem graça. – Miroku, vamos pegar lenha para fazer uma fogueira. – E os dois saíram.

– Sango, agora que o Inu-Yasha e o Miroku saíram, podemos aproveitar e tomar um banho sossegado.

– Claro, Kagome, a água parece ótima! Shippou, você fica de vigia, certo?

– Certo! – O pequeno youkai bateu continência. – Pode deixar comigo!

Enquanto Sango e Kagome tomavam banho, Inu-Yasha e Miroku montavam o acampamento, que ficou um tanto afastado da queda d'água.

– Isso não é justo, Miroku! Enquanto nós estamos aqui arrumando tudo, elas estão lá se divertindo.

– Fala a verdade, Inu-Yasha. Você queria ir até lá para dar uma olhadinha, não é?

– O quê? Você é que é o sem-vergonha aqui, Miroku!

Sango os surpreendeu chegando de mansinho com Shippou.

– Do que vocês dois estão falando?

– Nada, Sango... Onde está Kagome? – Sango sorriu ao notar a preocupação de Inu-Yasha, o que o deixou sem graça. – Hum... O que foi? Por que esse sorrisinho?

– Não se preocupe, Inu-Yasha. Ela queria ficar mais um pouco, então, eu vim ajudar a fazer o jantar...

– E você deixou ela sozinha! E se aquela youkai estiver por aqui? – Saiu correndo na direção da queda d'água. – Kagome!

– Inu-Yasha! Espere! Você vai arrumar confusão!

Inu-Yasha não deu atenção às palavras de Sango. Ao chegar, viu Kagome em pé na margem, olhando fixamente para as águas cálidas da lagoa formada pela cascata, envolta somente em uma toalha branca. Inu-Yasha ficou encabulado, mas não conseguia deixar de admirá-la. "Como é bonita..." Foi se aproximando lentamente. Estava tão deslumbrado que, enquanto andava, pisou em um galho e chamou a atenção de Kagome.

– Inu-Yasha! O que você está fazendo aqui? Não é educado espiar uma garota durante o banho!

– Eu... Eu...

– Senta! – Inu-Yasha caiu de cara no chão. – Pelo menos assim você não fica me espionando!

– Eu não estava te espionando! – Levantou-se furiosamente. – Vim saber porque você demorava tanto! Mas como você parece muito bem, então eu vou voltar! E vê se não perde o fragmento da Jóia de Quatro Almas!

– Grosso! – Kagome deu às costas para Inu-Yasha, que retornou para o acampamento. Ela sentou-se e começou a procurar algo em sua mochila. – Aquele idiota do Inu-Yasha! Eu acho que fui um pouco dura com ele... Mas ele bem que podia ser um pouquinho mais gentil comigo! Droga! Onde foi que eu coloquei aquele creme...

Acabou por encontrar o fragmento que haviam pego de Kouga, pouco tempo atrás. Uma grande sombra a cobriu. Ao olhar para cima, percebeu que estava cercada por bandidos.

– Hei, garota! Você quer se divertir um pouco com a gente? – Ironizou um dos bandidos.

Kagome só teve tempo de gritar.

– Inu-Yasha!

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"Nossa! Que mancada! Mas ela também tem um gênio bem ruinzinho!". Inu-Yasha estava quase chegando ao acampamento quando teve um pressentimento. Olhou para traz e ficou prestando atenção.

– Kagome! – Disparou de volta à cascata. Ao chegar lá, só encontrou a mochila e as roupas de Kagome. – Kagome, onde você está?

Ao longo da margem, havia rastros que iam para o bosque. Inu-Yasha abaixou-se e os examinou.

– É o cheiro da Kagome! E tinha mais alguém aqui! Não podem estar longe, ainda está fresco.

Inu-Yasha seguiu os rastros até uma clareira, onde encontrou os bandidos e Kagome.

– Se eu soubesse que tinha um fragmento da Jóia de Quatro Almas, teria feito o serviço de graça! – Disse um dos bandidos segurando o fragmento que estava com Kagome

Outro segurou Kagome pelo braço e rasgou parte de sua toalha. Como ela resistiu, dando-lhe um golpe baixo, outro se aproximou e bateu-lhe no rosto, derrubando-a no chão. Diante daquela visão, Inu-Yasha encheu-se de ódio e avançou sobre os bandidos. Nem precisou sacar a Tessaiga, suas garras foram suficientes.

Ao virar-se para Kagome, ela estava sentada no chão, tentando cobrir-se com o que sobrou da toalha.

– Kagome, você está bem?

– Por favor, não me olhe, Inu-Yasha...

Inu-Yasha baixou o olhar. Retirou seu casaco de pele de rato, caminhou até Kagome e a cobriu com ele.

– Eu acho que isso é seu... – Inu-Yasha entregou a Kagome o fragmento da Jóia que tomou do bandido. – Você está machucada?

Ela fitou aquele fragmento com os olhos cheios de lágrimas, então, jogou-se nos braços dele.

– Inu-Yasha... Eu tive tanto medo!

– Me desculpe! Eu não devia ter deixado você sozinha naquele lugar!

– Não, eu que expulsei você de lá! Como eu fui burra! Me perdoa!

– Está tudo bem agora... Eu nunca mais vou deixar você... Nunca mais!

Os dois permaneceram abraçados até Kagome se acalmar. Depois, retornaram para a queda d'água, onde ela vestiu-se e seguiram para o acampamento.

Na clareira, Kikyou olhava os corpos dos bandidos.

– Capangas inúteis! Deviam ter acabado com ela logo que tiveram chance... Agora vai ficar mais difícil matá-la. Bem, pelo menos, não foi um desperdício total. – Recolheu as almas dos corpos dos bandidos que contratara, utilizando-se de seus youkais carregadores de almas. – Ela não passa dessa noite!