Narcisa estava sentada no chão do escritório da mansão Malfoy e chorava silenciosamente. Lucio gritava com ela, dizia que ela era a culpada, que ele mataria "aquele garoto estúpido" nem que fosse a última coisa que fizesse na vida. Estava possesso.
Draco abriu a porta. Viu seu pai levantar a mão ameaçadoramente para a mulher encolhida sobre o tapete. Não podia permitir que ele a machucasse. Ela não tinha nada a ver com suas escolhas. Se alguém tinha que sofrer as conseqüências da fúria de Lucio, esse alguém era ele.
Rapidamente, se colocou entre os dois e segurou o braço do pai. Draco nunca o vira tão descontrolado, tão fora de si. Eles se encaravam com ódio nos olhos. Lucio se soltou do filho e se afastou.
-Então voltou? Achei que não era homem suficiente para me enfrentar. Fugir na calada da noite não me parece algo digno de um Malfoy. Mas, o que eu podia esperar de você? Não merece carregar meu nome! - Lucio fazia um esforço sobre-humano para controlar sua raiva.
-Você não merece a família que tem! - Draco gritava, o ódio tomando conta dele - Como ousa levantar a mão para minha mãe? Como pode falar de dignidade?Não voltei por você, voltei por ela!
-Claro, o garotinho mimado não poderia viver sem a mamãezinha para acobertar suas idiotices - Lucio tremia, mas se esforçava para não permitir que seu descontrole transparecesse mais uma vez - Você poderia ter sido muito grande se sua mãe não tivesse lhe estragado.
-Mãe, ele te fez alguma coisa? - Draco abaixara-se para falar com ela.
Com a ajuda do filho, Narcisa se levantou. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, seus cabelos desalinhados, a roupa amassada. Ela tentou se recompor, ajeitou os cabelos enquanto colocava a expressão mais altiva que conseguia. Olhou rapidamente para Lucio e então se virou para Draco.
-É melhor você ir embora - ela disse sem olhar nos seus olhos.
-Não! Eu não vou deixar você aqui! Vem comigo, mãe, por favor.
-Você fez sua escolha, arque com as conseqüências sozinho - ela falava impassível, sem encarar o filho - Cansei de passar a mão na sua cabeça. Cansei de correr para consertar as tolices que você faz. Seu pai está certo. Você foi muito mimado.
Draco abriu e fechou a boca várias vezes, mas não disse nada. Não tinha nada para dizer. Ela estava certa. Ele era mimado, inconseqüente e infantil. Estava na hora de crescer. Não havia mais volta. Sabia desde o início o que ganharia e o que perderia.
-Só queria que você soubesse, mãe, que se tem algo que eu realmente sinto em deixar pra trás é você - ele olhou intensamente para Narcisa, que fechou os olhos e virou o rosto.
-Que cena comovente! - Lucio sorria sarcasticamente enquanto batia palmas - Quase me levaram às lágrimas!
-Atreva-se a tentar machucá-la de novo - Draco virou-se para o pai e trincou os dentes - e você vai saber que existe muito mais dos Malfoy em mim do que você jamais imaginou!
-Eu deveria ter medo das suas ameaças? - Lucio ainda sorria, mas mudou sua expressão - Sinceramente, eu acho que VOCÊ deveria ter medo! Não importa aonde você vá, o que você faça, com quem você esteja. Eu vou te pegar, garoto! Aí sim você vai saber do que um verdadeiro Malfoy é capaz!
Draco acordou assustado. Sentou-se na cama e sentiu o pijama molhado colado em seu peito. Respirava descompassadamente. Olhou à sua volta. Lembrou-se de onde estava e da loucura que estava vivendo. As imagens do escritório da mansão Malfoy voltaram à sua mente. Não entendia o que aquilo significava. Será que fora só um sonho?
Percebeu que estava sozinho na cama. Onde aquela doida tinha se metido? Levantou-se, foi até o banheiro e tomou um banho demorado. Precisava relaxar um pouco, precisava esquecer que não estava em sua casa, com a sua vida, se preparando para ir para o seu escritório. Voltou para o quarto com uma toalha enrolada na cintura. Mal tinha entrado no cômodo ouviu uma leve batida na porta, que se abriu.
-Pai? - um emaranhado de cabelos loiros surgiu timidamente - Você perdeu a hora?
-É, talvez tenha dormido um pouco demais.
-Bom, daqui a pouco a vovó vai chegar pra nos pegar e nós nem tomamos café ainda.
Café? Ele teria que fazer o café? Bom, com certeza eles não tinham elfos domésticos, mas Gina deveria cozinhar e não ele. Ele nunca tinha feito nem uma torrada, que dirá um café da manhã para três crianças!
-Cadê sua mãe? - Draco perguntou seco.
-Ué, ela já foi pro hospital! - o garoto coçou a cabeça - Hoje é sexta, pai. Esqueceu que ela entra mais cedo às sextas!
-Onde estão seus irmãos? - ótimo, teria que ser cozinheira e babá!
-O Michael tá no banheiro e a Rach tá... - um choro estridente ecoou pela casa - Quer dizer, tava dormindo.
Draco revirou os olhos e bufou irritado. Amaldiçoou a maldita hora em que dera ouvidos àquela velha no Beco Diagonal. Tinha que descobrir o que ela tinha feito... Não, deveria se concentrar no seu plano inicial: consertar seu passado usando um vira-tempo. Voltando a si, notou que o garoto a sua frente o olhava estranhamente. Ele parecia assustado com a reação do pai.
-Faça um favor pra mim: acalme a bebê e apresse seu irmão - Draco tentou soar o mais paciente possível - Eu não demoro a me aprontar.
-Tudo bem - o garoto respondeu num fio de voz hesitante e saiu do quarto.
"Deus, o que eu fiz para me merecer isso?". Olhou à sua volta. Parecia que um furacão tinha passado pelo lugar. Abriu o armário e coçou a nuca. Ele devia trabalhar, mas em quê? Não tinha a mínima idéia. Com certeza não era o executivo de sucesso que estava acostumado a ser. Se fosse, não moraria naquela casa e não teria aquelas roupas. Começou a analisar os cabides à sua frente. Algumas calças e camisas, um uniforme de quadribol surrado e várias vestes. "Bom, com certeza eu não sou jogador de quadribol". Decidiu colocar a roupa que lhe pareceu mais apresentável. Já estava saindo do quarto quando notou um pergaminho sobre uma poltrona.
"Ainda não esqueci que você não estava bem ontem. Não adianta fugir, em vou te virar do avesso até descobrir o que você tem. Te encontro no Ministério. Estarei na sua sala na hora do seu almoço.
Te amo
Gina"
""timo, agora ela não vai me dar paz!". Draco já começou a imaginar que teria que encontrar uma boa desculpa para se livrar de Gina. "Bom, pelo menos agora já sei onde trabalho. E até que o Ministério não é tão ruim assim...".
Desceu as escadas e escutou uma voz conhecida. A senhora Weasley conversava com os gêmeos na sala e não parecia muito contente. Os meninos pararam de falar quando viram Draco. Ele percebeu que um deles se encolheu um pouco atrás da avó.
-Bom dia, Draco - ela sorriu, mas não parecia tão amável como antes - Vejo que perdeu a hora...
-É, acho que dormi um pouco além do que devia - ele estava mais que desconfortável com a situação.
-Não tem problema, as crianças tomam café em casa. Onde está a Rach?
Ele se virou para os meninos. E agora, com qual tinha falado? Eles eram idênticos, nenhuma sarda diferente. Como Gina conseguia distingui-los tão bem?
-Ela tá lá no quarto, pai - o garoto saiu de trás da senhora Weasley - Deixei ela brincando no berço.
-Eu vou pegá-la. Pode me ajudar, querido? - a mulher se voltou para o loirinho que tinha acabado de falar.
Draco acompanhou com os olhos os dois saírem da sala. Precisava ficar atento àquele garoto. Ele já tinha percebido que o pai estava diferente e não demoraria a criar problemas se Draco não tomasse cuidado.
-Não liga, não, pai - o gêmeo que tinha ficado na sala começou - O Gabriel é um idiota às vezes. Ele disse que tá te achando esquisito e contou que você acordou meio nervoso. Mas pode deixar que eu vou falar pra ele parar de te encher - ele virou-se para Draco e completou com um sorriso - Hei, pai, quando vai devolver nossas vassouras?
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Aparatou no saguão do Ministério da Magia. Certo, trabalhava ali, mas em qual departamento? Observou as pessoas andando apressadamente. Ao contrário do dia anterior, ninguém o cumprimentou. Ficou parado alguns instantes até que ouviu alguém chamá-lo. Virou para encarar um homem de aparência séria e cabelos vermelhos.
-Malfoy, o que faz parado aqui? - o homem perguntou em um tom quase ríspido.
-Bom dia para você também, Weasley - Draco colocou sua expressão mais cínica.
-Não me venha com gracinhas! - o ruivo ajeitou os óculos sobre o nariz - Você se dá ao luxo de chegar atrasado quando estamos atolados de trabalho! Será que esqueceu que eu não favoreço parentes no meu departamento?
O queixo de Draco caiu. Ele se lembrava daquele Weasley. Tinha sido monitor-chefe em Hogwarts e era incrivelmente chato, metido a importante. Só podia ter entendido errado! Não era possível que ele trabalhava com aquele idiota, pior, que ele fosse subordinado a ele.
Sem ver nenhuma alternativa melhor, Draco seguiu o homem em direção aos elevadores. A cada parada, mais e mais pessoas desciam, mas o ruivo não se mexia. Draco começou a achar que eles trabalhavam dentro do elevador. Depois de passarem pelo Nível dois, somente os dois ainda permaneciam ali. A voz feminina então anunciou "Nível um, Departamento de Administração Ministerial, que inclui a Organização Financeira Ministerial, o Centro de Trocas Cambiais e a Seção de Controle dos Funcionários do Ministério." O ruivo saiu do elevador. Draco acompanhou-o pelo um corredor ladeado por pesadas portas de carvalho.
-A senhorita Gray já deve ter deixado os últimos relatórios na sua sala - eles tinham parado diante de uma das portas - Sinceramente, você terá que fazer milagres para que não precisemos da ajuda de Gringotes esse semestre.
Sem dizer mais nada, o chefe de Draco virou as costas e continuou andando. Ele ainda ficou parado atônito por uns momentos. Passou a mão pelos cabelos nervosamente. "Deus, que pesadelo!". Olhou para a porta à sua frente. Havia uma placa em que estava escrito "Organização Financeira Ministerial". Resolveu entrar antes que tivesse outra surpresa desagradável.
Draco se deparou com um salão amplo dividido em vários cubículos menores. Cerca de vinte pessoas estavam ali. Alguns espiaram disfarçadamente para ele, mas voltaram rapidamente para seus afazeres. Draco foi andando por um corredor entre os cubículos apressadamente. Onde seria sua sala? Notou então que uma mulher vinha em sua direção.
-Senhor Malfoy, graças a Deus! - a mulher estava toda atrapalhada, com inúmeras pastas em seus braços - Tenho milhares de relatórios para o senhor. Estamos cheios de problemas!
A mulher não parava de falar. Andava pelo corredor o mais depressa que conseguia, virando-se para Draco em alguns momentos. Este a seguia, sem deixar de notar suas belas pernas. Apesar do cabelo desarrumado, das roupas um pouco amassadas e do jeito estabanado, ela era interessante. Vinte e poucos anos, alta, rosto fino, olhos azuis. Draco já sorria maliciosamente quando ela abriu uma porta no fim do corredor e ficou esperando que ele entrasse.
Ela fechou a porta e continuou a falar enquanto despejava as pastas sobre uma mesa. Draco não ouvia uma única palavra, apenas pensava que talvez não seria tão ruim assim trabalhar ali... O sorriso malicioso não tinha desaparecido de seu rosto, mas a mulher não parecia notar.
-Com licença, senhor Malfoy - um homem abrira a porta e entrara na sala - Gray, o senhor Weasley quer falar com você imediatamente.
-Obrigada, McNeil, já estou indo - ela se voltou para Draco novamente - Bom, senhor, acho que já lhe passei as informações mais importantes. O restante está nos relatórios. Logo voltarei, se precisar de mim.
Ainda um tanto quanto atrapalhada, a mulher deixou a sala e fechou a porta. Draco ainda sorria, mas não viu graça nenhuma quando se virou para a pilha de pastas sobre as duas mesas de sua sala. "Que emprego maravilhoso, cuidar dos gastos desses trapalhões!".
Sentou-se na mesa e começou a ler os relatórios. Desperdício, gastos excessivos e mal feitos, investimentos errados. Não era possível que ele estivesse no cargo há muito tempo, não poderia ser tão incompetente assim! Sentiu-se aliviado ao ver as assinaturas de outra pessoa nos relatórios do semestre passado. Devia ter sido promovido recentemente. Teria muito que fazer... .........................................................................................................................................................................................
A manhã passou muito rápida. Parecia que ele estava ali há apenas meia hora quando ouviu leves batidas em sua porta.
-Oi - um rosto sorridente emoldurado por cabelos muito vermelhos surgiu - Vamos almoçar?
Draco tinha esquecido completamente do bilhete de Gina. Sem dizer nada, apanhou suas vestes e fez sinal para que ela saísse. Aparataram num pequeno restaurante bruxo ali perto.
-Você parece bem melhor hoje, mas me deixou realmente preocupada.
-Eu já te disse que não foi nada, que eu estou bem - Draco estava irritado com a insistência dela.
-Mesmo assim, quero que você passe no St. Mungus depois do trabalho. Ainda vou estar lá, depois podemos ir juntos pra casa.
-Gina, sinceramente... - Draco ia começar a resmungar, mas ela o interrompeu.
-Não precisa nem começar. Você vai e tá acabado! - Gina disse em tom de quem encerra o assunto.
Draco soltou um muxoxo e se concentrou em sua comida que acabara de chegar. Como aquela ruiva era mandona! Que gênio horrível. Será que ela realmente dirigia o marido daquela forma ou será que ele apenas fingia que fazia suas vontades? De qualquer forma, não tinha idéia de como alguém podia suportá-la por muito tempo.
-Bom, agora que já resolvemos esse assunto, acho que podemos começar a tratar do aniversário dos meninos - ela amaciou a voz se voltando para a comida também - Eles não mereciam, mas mesmo que não façamos nada, meus pais ou meus irmãos vão acabar fazendo.
O loiro levantou os olhos assuntados para Gina, o garfo parado no ar, a boca entreaberta. Aniversário dos meninos!? Não era possível que teria que passar por essa também! A mulher à sua frente, entretanto, pareceu não notar seu assombro e continuou a falar.
-Eu pensei em fazer só uma pequena reunião com a minha família e alguns amiguinhos das crianças, se bem que muitos deles aproveitaram as férias de Natal pra viajar...
-Só a sua família são umas cinqüenta pessoas! - Draco soltara o garfo e falava nervosamente.
-Eu sei, mas...
-Mas!? Não tem mas, Gina - ele olhava indignado para ela - Você realmente acha que seus irmãos e eu podemos ficar no mesmo recinto por mais de dez minutos sem que alguém saia no mínimo estuporado?
-Você não precisa me lembrar do que aconteceu no ano passado! Deus, nunca pensei que você e Rony chegariam ao cúmulo de brigarem por um bolo de caldeirão!
Ficaram em silêncio. Gina comia irritada. Draco sentia-se incomodado com a descoberta de que brigara por comida. "O Weasley deve ter devorado tudo, eu provavelmente só estava defendendo o pouco que sobrara!"
-Bem, o que sugere que façamos? - Gina apoiara o queixo nas mãos cruzadas - Não posso deixar de convidar meus irmãos e tenho certeza que os garotos não vão te perdoar se você sair de casa.
-Vou dizer que tenho que fazer hora extra no escritório. Quando sua família for embora você...
-Hora extra no domingo, Draco? Esqueceu que o aniversário dos gêmeos é daqui a dois dias?
-Ah, é... - depois dessa ele estava sem saída.
-Eu sei que não é fácil pra você ter que ficar perto dos meus irmãos, principalmente do Rony e do Carlinhos, mas eu não posso impedi-los de ver nossos filhos - ela falava como se explicasse alguma coisa a uma criança - Nós já não passamos o Natal e datas do tipo com eles. Você acha que as crianças não sentem falta?
-Você não pode pedir pra que eu ature sua família - ele cruzara os braços diante do peito e a encarava emburrado.
-Eu sei que não - ela soltou um suspiro cansado - Já desisti de fazer isso há alguns anos. Se você não consegue ficar perto dos meus irmãos por mim, faça isso pelo Michael e pelo Gabriel - depois de uma pausa, ela se levantou e continuou - Eu preciso ir.
-Eu também tenho que voltar pro escritório.
-Nos vemos mais tarde no hospital?
Ele assentiu com a cabeça a contragosto e também saiu da mesa. Já caminhava para pagar a conta quando ela segurou seu braço e o encarou.
-Não importa o que eles pensam. Foi você que eu escolhi. È você que eu amo. Nada, nem ninguém vai mudar isso. Draco sentiu o braço queimar onde ela segurava. As pessoas que estavam ali pareciam ter desaparecido. Novamente aqueles grandes círculos castanhos o hipnotizavam, o inebriavam. Sua vontade era ficar admirando os olhos daquela ruiva infinitamente. Quando, entretanto, ela os fechou e fez menção de beijá-lo, Draco saiu de seu transe.
-É melhor você ir ou vai se atrasar - ele disse baixo e hesitante.
-Hã... Claro - ela abriu os olhos e disse sem graça - Até mais tarde.
-Até - Draco disse enquanto a via sair do restaurante. .........................................................................................................................................................................................
Draco acordou com os gritos de Gina. Virou de bruços e colocou o travesseiro na cabeça. Tinha ido dormir tarde. Ficara no hospital sendo examinado até quase dez da noite. Quando sua mulher finalmente se convencera de que ele não tinha doença alguma, seguiram pra casa. Mesmo assim, não teve sossego. Os gêmeos falavam sem parar, contando sobre tudo que tinham feito e principalmente sobre os presentes de Natal atrasados. Mostraram os suéteres tricotados pela avó, as miniaturas de carrinhos trouxas que eram do avô, a montanha de doces comprada por Gui, o livro sobre dragões que Carlinhos trouxe da Romênia, as lupas mágicas que foram presentes de Percy, as camisetas dos Chudley Cannons dadas por Rony. Draco já cochilava sentado quando Gina resolveu mandar todo mundo pra cama.
-Draco, será que você pode levantar e me ajudar? - a ruiva colocara a cabeça dentro do quarto - Gabriel, não se atreva a colocar essa máscara de trasgo na sua irmã de novo! - e saiu apressada pelo corredor.
Ele soltou um muxoxo e apertou o travesseiro contra a cabeça com mais força. Não gostava de ser acordado, muito menos de dormir pouco. Tinha certeza de que ficaria mal-humorado o dia todo!
-Acorda, pai! Acorda! - um dos gêmeos pulava na cama - Acorda, acorda! A mamãe disse que você vai levar a gente no parque!
-Como assim vou levar vocês ao parque!? - Draco se virou e tirou o travesseiro da cabeça.
-Michael Weasley Malfoy! - Gina gritou do outro quarto - O que é essa meleca verde debaixo da sua cama?
-Ih, esqueci! - o garoto deu mais alguns pulos, acertando Draco em um lugar muito dolorido. Ele soltou um urro abafado.
-Você não me respon... - Gina entrou no quarto e se deparou com o marido muito vermelho, com as mãos entre as pernas - O que aconteceu?
-Foi mal, pai, não queria te acertar - o loirinho olhou para o pai e também fez uma careta de dor - Acho que eu vou tomar um banho antes de sair...
-Nada disso! - Gina voltou sua atenção para o menino - Você vai me explicar direitinho o que é aquela coisa nojenta!
Os dois saíram do quarto, Gina histérica arrastando o filho pelo braço. Draco rolou um pouco pela cama enquanto suas "partes baixas" ainda latejavam de dor. Ele já estava conseguindo sentar quando Gina voltou.
-Deus, essas crianças vão me deixar louca! - ela se virou para a cara de dor do marido - O que aconteceu?
-Ainda bem que você está contente com os filhos que tem porque eu acabei de ficar estéril! - Draco caminhava meio curvado para o banheiro, o rosto contraído. Gina o seguiu.
-O Michael realmente te acertou em cheio, não foi? - ela olhava divertida para ele - Deixa eu ver se foi sério ou se você só tá com manha.
-Não tem nada pra você ver aqui! - ele respondeu rapidamente.
-Não seja bobo! - ela já estava ligando o chuveiro - Vamos, tira esse pijama logo.
-Será que eu posso tomar meu banho em paz?
-Assim que eu tiver certeza que o Michael não provocou nenhum dano irreversível... - ela começou a se aproximar dele com um sorriso provocante - ...eu mesma te dou um banho.
-Acho que eu já estou bem grandinho pra você me dar banho! - ele disse se desvencilhando dos braços que se aproximavam de seu peito.
-Qual é o problema, Draco? - ela olhou impaciente para ele, o rosto começando a ficar vermelho - Você tá me evitando desde o Natal!
-Não é nada - ele tentava fazer a expressão mais inocente possível - Só quero tomar meu banho.
-Nada? - ela estava cada vez mais vermelha, a voz se elevando - Como nada? Você não chega perto de mim, não deixa eu te tocar, nem conversar comigo direito você tá conversando! Você tá frio! Tudo bem, eu ando desleixada, ainda tô gordinha, você sabe que eu engordei demais na gravidez da Rach, mas não é motivo pra você me ignorar!
-Mãe!!!!! - eles escutaram um dos gêmeos gritar lá de baixo - Mãe, a Rachel tá babando em tudo!
-Mãe, eu tô com fome! Cadê você?
Gina suspirou e deixou os braços caírem pesadamente ao lado do corpo. Foi em direção à porta. Antes de sair disse sem se virar.
-Depois continuamos essa conversa...
Draco ficou observando ela sair do banheiro. Tirou a roupa e se enfiou debaixo da água que caia. Definitivamente, Gina não estava gorda, o corpo dela era dos mais perfeitos que ele já vira. Ela tinha sim um jeito relaxado, mas absolutamente encantador. Não era alta, não era refinada, não era elegante. Exatamente o oposto das mulheres com que ele geralmente se envolvia. Esse era o problema. Ela não era mais uma mulher estonteante com quem Draco se divertiria. Ela era diferente. Ela o deixava com medo, e ele odiava ter medo.
Terminou seu banho, se vestiu e desceu. Gina estava tomando café com as crianças. Sua cara não era das melhores. Draco se sentou e começou a comer.
-Você leva as crianças pra passear hoje? - ela perguntou, sua voz era calma, porém quase formal - Minha mãe e Mione vão me ajudar com os preparativos pra festa dos meninos.
-Bom, por que você não os leva mais tarde? - Draco lia distraidamente o Profeta Diário enquanto falava - Eu preciso terminar alguns relatórios...
-Se EU vou levá-los, suponho que VOCÊ vai sair para fazer compras, vai cozinhar e deixar tudo pronto pra amanhã, certo? Draco abaixou o jornal para se certificar que o rosto da ruiva estava tão ameaçador quanto a voz. Olhou para os garotos com um sorriso amarelo.
-Então, já estão prontos?
-Quase, pai. Só faltam os casacos.
-Bom, apressem-se.
Os dois subiram correndo as escadas. Gina pegou a pequenina e os seguiu murmurando um "já volto" mal-humorado. É, ele sabia que era ridículo se imaginar em um parque com três crianças, mas com certeza era melhor do que escutar a mulher reclamar de como ele era insensível, frio, blá, blá, blá... .........................................................................................................................................................................................
O parque ficava apenas a algumas quadras. Draco sentou-se em um dos bancos e colocou o carrinho de Rachel ao seu lado. Os garotos, que estiveram andando o caminho todo de uma maneira muito estranha, deram uma desculpa qualquer e se afastaram. Ele não estava gostando nada daquilo. Lembrava-se muito bem dos gêmeos Weasley em seus tempos de Hogwarts. Foi então que algo passou por sua cabeça: ele não se lembrava dos meninos terem mencionado o presente dado pelos gêmeos ruivos. Estavam aprontando, ele tinha certeza.
Esquecendo-se totalmente da bebê, que estava entretida com chocalho que soltava faíscas, Draco foi atrás dos meninos. Quando olhou por entre as árvores, viu um dos loirinhos segurando as duas vassouras que ganharam de Natal enquanto o outro tentava enfiar algo na mochila.
-Sua mãe vai adorar saber que pegaram as vassouras - Draco disse calmamente. Os meninos deram um pulo de susto.
-Você não vai contar pra ela, não é? - já se recuperando do susto, um deles perguntou.
-Por favor, pai - o outro olhava suplicante - Afinal, pra que servem as vassouras se não podemos usá-las?
-Como as trouxeram pra cá? - Draco viu os dois trocarem olhares apreensivos - E não mintam se não quiserem que a situação piore!
-Promete que não conta pra ninguém? Tio Fred e tio Jorge nos fizeram prometer que guardaríamos segredo!
-Prometo - ele estava muito curioso - Como trouxeram?
-Eles nos deram uma capa de invisibilidade de presente de Natal. Trouxemos as vassouras escondidas debaixo dela.
Draco os encarou por um instante. Os garotos tinham olhares apreensivos e nervosos. Ele entedia perfeitamente o que sentiam. Afinal de contas, ele também já tinha sido criança. E que mal poderia ter em fingir que as vassouras nunca tinham saído do sótão?
-Tudo bem, eu não vou dizer nada. Mas com uma condição - o sorriso que os gêmeos começaram a esboçar vacilou - Que vocês deixem eu dar uma voltinha!
Ele dava piruetas no ar, subia e descia rapidamente, quase colidia com as árvores. Há quanto tempo não fazia isso? Era maravilhoso sentir o vento em seu rosto de novo. Coisas tão simples e tão boas...
Desceu diante dos garotos, o cabelo totalmente bagunçado, o rosto vermelho e sorridente. Os gêmeos praticamente pularam em cima dele. Estavam maravilhados com as acrobacias, falavam e gesticulavam ao mesmo tempo. A bebê batia palminhas no carrinho e sorria.
-OK, OK - Draco ainda tentava fazer sua respiração voltar ao normal - Agora quero que vocês mostrem o que sabem.
Os meninos rapidamente subiram nas vassouras e ganharam o céu. Draco se sentou no banco e se virou para a ruivinha que ria e esticava os bracinhos gordos em sua direção. Sorriu involuntariamente e tirou a pequenina do carrinho. Teve receio de machucá-la, mas a felicidade que ele viu no rosto da bebê o encorajou a colocá-la em seu colo.
Rachel era simplesmente fofa. Os fios ruivos que formavam cachinhos nas pontas emolduravam seu rostinho redondo rosado. Os olhinhos cinza transmitiam serenidade e eram quase tão intensos quanto os da mãe. Ela sorria a maior parte do tempo e tentava alcançar tudo que via com as mãozinhas rechonchudas.
Draco observava a menina segurar sua mão curiosamente quando ouviu um dos gêmeos chamar sua atenção. Os garotos tentavam imitar o que o pai tinha feito há pouco. Não conseguiam nem de perto chegar às manobras praticamente perfeitas de Draco, mas tinham jeito pra coisa. Para crianças que estavam começando a voar agora, eram mais que bons. "Serão grandes jogadores de quadribol", ele pensou enquanto via um deles desviar rapidamente de uma árvore sem perder o equilíbrio.
Estava tão absorto olhando os meninos que se esquecera completamente da bebê. Foi somente quando os garotos desceram e começaram a rir que ele voltou sua atenção para seu colo: estava todo babado. Rachel não se contentara em morder os dedos do pai. Tinha melecado suas duas mãos e agora mordia o casaco.
Os gêmeos riram mais ao ver Draco segurar a pequena no ar, levantar rapidamente e olhar para si mesmo com uma expressão de nojo. Precisava urgentemente de um banho. Já começava a sentir uma enorme raiva quando se virou para os meninos. Eles estavam sentados na grama e gargalhavam. Sentiu-se tolo por se deixar irritar por tão pouco. Esboçou um sorriso ao encarar o rostinho rosado que balançava as perninhas sem parar.
-Muito bonito, mocinha - ele dizia fingindo que estava bravo - Agora vamos ter que ir pra casa pra eu me limpar!
-Ah não, pai! - os loirinhos reclamaram em uníssono.
-Ah sim. Além disso, já está quase na hora do almoço.
-Por que você não deixou a Rachel em casa? - um dos garotos disse bicudo.
-É, ela sempre estraga tudo! - o outro completou.
-Bom, vamos fazer um trato: vamos pra casa, eu tomo um banho , vocês comem alguma coisa e voltamos pra cá enquanto essa babona tira uma soneca. Que tal?
-Promete que não vamos demorar?
-Prometo. Podem até deixar as vassouras escondidas no meio das árvores.
Os garotos encontraram um bom lugar para colocar as vassouras e as cobriram com a capa de invisibilidade. Não pararam de pular e falar o caminho inteiro. Fizeram o pai jurar que os ensinaria todas as manobras que sabia. Quando Draco finalmente abriu a porta de casa, sua cabeça já estava latejando. .........................................................................................................................................................................................
Tinham acabado de voltar do parque. O sol já tinha desaparecido quase que completamente. Estava exausto. Passara boa parte da tarde voando. Os poucos momentos em que ficara no chão estava dando instruções para os garotos. Entraram em casa silenciosamente. Os gêmeos seguiram para a cozinha para distrair Gina enquanto Draco guardava as vassouras no sótão. Ele subiu as escadas o mais rápido que pôde.
O lugar estava escuro e empoeirado. Draco tropeçou em algo e bateu a canela. Abafou um urro de dor e disse um palavrão baixo. Não queria que Gina soubesse que ele estava ali. Não seria nada fácil tentar explicar o que ele estava fazendo com as vassouras na mão.
Murmurou "lumus" e a ponta de sua varinha se acendeu. O cômodo estava uma completa bagunça, cheio de móveis e caixas espalhados pelo chão. Colocou as vassouras num canto escondido e começou a dar uma olhada em tudo aquilo à sua volta.
Viu um berço idêntico ao que estava no quarto de Rachel, várias caixas de papelão em volta dele. Uma mesinha quebrada, enfeites de Halloween, livros surrados empilhados. Sorriu ao ver sua velha Nimbus 2001 inclinada sobre um baú vermelho e dourado em que ele leu "Gina".
Tirou sua vassoura de cima do baú e o abriu. Os uniformes de Hogwarts com o símbolo da Grifinoria estavam lá, assim como alguns pergaminhos amarelados e um pequeno pomo quebrado. Draco se abaixou e começou a tirar algumas coisas de lá. No fundo, debaixo das várias lembranças dos tempos de escola de Gina, ele encontrou vários cadernos.
Alguns tinham capas vermelhas, outros, douradas, e alguns ainda tinham as duas cores mescladas. Tirou o primeiro deles e abriu. Diários. Tinha na sua frente todas as informações de que precisava. Abriu todos, procurando pelas datas corretas. Separou o que datava do seu último ano em Hogwarts e os correspondentes aos dois anos depois de sua saída. Já estava guardando tudo de volta quando ouviu Gina chamá-lo. Escondeu os cadernos debaixo da capa de invisibilidade antes de fechar a porta atrás de si. Agora não demoraria a sair daquele mundo maluco.
N/A: Eu sei, eu sei. Demorei pra atualizar esse capitulo e naum mandei quase nenhum e-mail. Quero realmente me desculpar. Tive pouco tempo no PC essa semana (meu namorado tava exigindo mais atenção!) e, como se naum bastasse, tive um bloqueio horrível. Bom, mas a partir de agora naum posso mais me dar ao luxo de demorar tanto pra escrever. TENHO que terminar essa fic até o carnaval, senão soh vou ter folga da facul de novo na Semana Santa. Prometo que vou terminar, gente, nem que eu tenha que parar de ler outras fics, trancar meu irmão no quarto pra q ele saia do computador e ficar sem dormir! Bom, esse capitulo naum ficou tão grande como o outro, mas ainda assim tah bem maior que os primeiros. E aí, o q acharam do Draco com as crianças? Depois de ler, achei que ficou fluffy demais, mas fazer o q? Já disse e repito: essa história tah tendo vida própria, naum tô conseguindo controlá-la!
N/A 2: Gostaria de deixar registrado que se eu aparecer toda estrupiada a culpada provavelmente eh a Gabrielle Delacour! A minha maninha tem me dado petelecos constantes pq naum deixo ela ler enquanto tô escrevendo e tah me ameaçando pra que eu conte a história toda pra ela. Galera, se eu sumir por mais de dez dias, podem acionar a polícia! Ela realmente tah determinada a me machucar!!!! HEHEHEHEHE
N/A 3: Esse capitulo naum esclareceu muita coisa sobre a estranha maneira como o Draco foi parar nesse mundo e o outro tb naum vai ajudar muito. O capitulo 5 e o 6 são dedicados à família Weasley Malfoy e a fazer o Draco se apaixonar por ela. Mesmo assim, vou colocando algumas pistas pra deixarem vcs mais curiosos! Beijos e espero ansiosa as reviews e os comentários! Ah, prometo q vou mandar e-mail pra todo mundo! Até a próxima atualização! : *
