Gemialidades Malfoy

Entrou bufando em sua sala e bateu a porta. Quantos problemas mais poderiam aparecer naquela droga de lugar? Estava surpreso que a notícia de que as finanças do Ministério andavam mal das pernas não tivesse se espalhado. A situação era quase desesperadora e, para piorar, seu chefe não parava de pressioná-lo. Tinha vontade de esganar alguém!

Deixou-se cair pesadamente na cadeira atrás da escrivaninha. Colocou o cotovelo num dos braços da mesma e apoiou a testa. Como se não bastasse os problemas no Ministério, tinha que se preocupar com seu pai louco tentando acabar com sua vida, com uma família cheia de complicações, com aquela guerra maluca e ainda por cima pensar em como arranjar um vira-tempo o mais depressa possível. Sua cabeça estava tão cheia que latejava.

Olhou para o retrato sobre sua mesa. Não tinha reparado nele ainda. Gina sorria para ele enquanto segurava o delicado chapéu que teimava em voar. Os belos olhos castanhos o encaravam felizes. Draco deixou-se perder em pensamentos. Tantos anos e ele ainda se lembrava perfeitamente da visão quase sobrenatural da ruiva naquele campo de quadribol. Ler aqueles diários fez com que as recordações daquela noite se tornassem mais fortes do que nunca.

Não era isso, entretanto, que o incomodava. Depois de tanto tempo, percebeu que aprendera a conviver com aquela imagem, percebeu que já quase aceitava que seria atormentado pela lembrança daquela figura até o fim de seus dias. Definitivamente, não era isso que o incomodava. Não mais.

Era ela que ele não suportava. Uma coisa era ser assombrado por um fantasma, idealizar uma lembrança e procurá-la em outras mulheres de carne e osso. Outra coisa era viver com esse fantasma, ver a idealização ruir, descobrir defeitos e ter certeza de que aquela imagem era real. Tão real que o assustava.

Ela falava alto, se descontrolava com uma facilidade incrível, fazia pirraça, era orgulhosa, tinha uma família imensa e irritante, odiava ser contrariada e tinha que dar sempre a última palavra. Por outro lado, ela sorria com espontaneidade, era carinhosa, estava sempre atenta a tudo à sua volta, cuidava dos filhos com zelo, possuía uma força impressionante mesmo parecendo frágil e indefesa. Mas nada era tão inconstante, e ao mesmo tempo tão fascinante, quanto seu olhar. Sem sombra de dúvidas, aqueles grandes olhos castanhos eram o que melhor poderia definí-la.

Draco não estava mais diante de algo irreal, impalpável. Estava diante de uma mulher cheia de defeitos e qualidades, que acordava despenteada e que teimava em tentar controlar tudo, mas que ainda assim superava em todos os sentidos sua idealização. Ele não pensava mais naquele fantasma, ele não sonhava mais com a irmã caçula do Weasley. Ele procurava por Gina quando cabelos vermelhos lhe chamavam a atenção na rua, procurava pela ruiva irritante que estaria esperando quando ele chegasse em casa.

Ouviu batidas. Sem esperar qualquer resposta, a porta se abriu e a secretária de Draco entrou. Com seu jeito destrambelhado, a senhorita Gray tentava equilibrar uma pilha de pergaminhos enquanto já começava a falar.

-Bom dia, senhor Malfoy. Já encontrei os registros de gastos dos últimos dois anos e...

Mas ele não estava escutando o que ela dizia. Já abria um sorriso malicioso ao encarar a mulher à sua frente. Ora, ele precisava de uma distração até conseguir voltar ao seu mundo, não é? Tinha que dar um jeito de frear a vontade que sentia de agarrar Gina toda vez que estavam sozinhos. O que poderia ser melhor do que uma aventurazinha?

A senhorita Gray ainda falava enquanto tentava, sem sucesso, colocar os pergaminhos sobre uma mesa já abarrotada. Draco se levantou e chegou por trás dela. Passou os braços ao lado do corpo da moça e a ajudou a endireitar a pilha que ameaçava cair. Assustada, ela se virou para ele. Ficaram a poucos centímetros de distância.

-Ah... Obrigado, senhor - ela desviava os olhos nervosa, parecia finalmente ter percebido os olhares que o chefe lançava - Com licença, se não precisa mais de mim, vou até os arquivos terminar de...

-Acho que ainda vou precisar da sua "ajuda" - Draco respondeu provocante.

Ele colocou as mãos na mesa, prendendo-a entre esta e seu corpo. A jovem o fitava assustada, se inclinava o máximo que podia para trás. Subitamente, Draco derrubou vários papéis e a colocou sentada sobre o móvel. Antes que ela pudesse protestar, ele já a beijava. Ela se debateu, mas logo já estava correspondendo. Afinal, quem conseguia resistir a Draco Malfoy?

O beijo começou a evoluir. Ela puxava avidamente as vestes do loiro tentando tirá-las enquanto este já tinha suas mãos debaixo da saia dela. Draco, entretanto, não estava ali, não totalmente. Seus pensamentos se encontravam na noite anterior, na sala de sua casa, nos braços daquela ruiva que tanto o atormentava. Pela primeira vez em sua vida, se sentia mal por estar traindo uma mulher.

Afastou-se dela repentinamente. Apoiou as mãos em sua escrivaninha e manteve a cabeça baixa enquanto esperava sua respiração voltar ao normal. Podia sentir os olhos cheios de dúvidas de sua secretária sobre ele.

-Senhor Malfoy, me desculpe, eu não sei o que deu em mim! - ela começou a falar sem parar de novo. Antes que ela pudesse ter qualquer outra reação, Draco pegou sua varinha (N/A: ignorem o fato de que as varinhas são confiscadas na entrada do Ministério, blz?) e virou-se para a mulher que já tinha se levantado da mesa. Ela parou subitamente ao ver o loiro apontar a varinha e murmurar um feitiço. Pronto, agora ela não se lembraria de nada que ocorrera naquela sala.

-Pode sair agora - ele já tinha se recomposto e falava impassível - E me traga os outros registros até o fim do dia.

-Ah... Claro, senhor - ela olhava confusa para os lados - Com licença.

Com um movimento rápido da varinha, reorganizou os pergaminhos caídos. Colocou uma das pilhas sobre sua mesa. Entraria de cabeça naqueles relatórios e esqueceria ao menos por um momento dos milhares de problemas que o atormentavam. Sentou-se, puxou a primeira pasta e colocou o retrato de Gina dentro de uma das gavetas. Não conseguia encarar aqueles olhos sem se lembrar de que era um canalha, nem que eles estivessem apenas em um retrato. .........................................................................................................................................................................................

-Oi, pai! - os dois loirinhos entraram correndo na sala de Draco.

-Olá, Draco, como está? - a senhora Weasley apareceu em seguida.

Mas o loiro não conseguiu responder ao cumprimento. Os garotos tinham pulado sobre ele e praticamente o sufocavam. A senhora Weasley ria da cena enquanto fechava a porta.

-Hei, monstrinhos, o que estão fazendo aqui? - ele finalmente tinha conseguido colocar os dois meninos sentados sobre a mesa.

-A vovó disse que vinha conversar com você...

-...então a gente veio junto pra te ver!

-Mas acho que não chegamos em boa hora, garotos - a senhora Weasley se aproximou da mesa - Vamos, o pai de vocês está cheio de trabalho.

-Pra falar a verdade, estou no meu horário de almoço - Draco respondeu um tanto quanto intrigado - Tenho um tempo, se for algo realmente urgente.

-Se não estou atrapalhando... - ela disse e se virou para os gêmeos - Por que não vão até a sala do tio Percy enquanto conversamos? Fica no fim do corredor principal.

Os garotos desceram da mesa derrubando várias penas e pastas. Pararam na avó para um último beijo estalado antes de deixarem a sala correndo. Ela sorria enquanto olhava a porta se fechando. Virou-se ainda divertida para Draco.

-Eles me lembram tanto os meus gêmeos...

-Claro, claro... - ele parecia impaciente - Sente-se, por favor. Aconteceu alguma coisa com a bebê?

-Oh, não, não. Ela está ótima. Falei com Gina há pouco e está tudo bem. A Rach parece muito delicada, mas eu sei que é tão forte quanto a mãe. É a Gina que me preocupa.

-Gina? - ele enrugou a testa, mas já sabia do que ela falava - Por que a Gina a preocuparia?

-Gostaria que você não insultasse minha inteligência e minha capacidade de percepção - ela estava séria ao falar - Seja sincero, o que está acontecendo?

-Não sei do que a senhora está falando - Draco colocou sua expressão mais inocente enquanto tentava ganhar tempo.

-Ora, por Deus, Draco! - ele começou a ver a mesma irritação de sua mulher no rosto da senhora Weasley - Conheço meus filhos como a palma da minha mão! Aqueles olhos tristes não são dela, não combinam com ela!

-Senhora Weasley, eu não...

-Quando Gina disse que vocês estavam juntos, eu pensei que era apenas uma paixão infantil, simplesmente uma rebeldia adolescente - ela falava mais baixo, apesar de continuar levemente vermelha - Eu só realmente me dei conta de que era sério quando nós dois conversamos pela primeira vez, quando você me confessou que queria se casar com ela. Você sabe que eu não concordava com esse relacionamento, mas eu aceitei. Eu protegi vocês dois da fúria dos meus filhos, eu convenci meu marido de que vocês realmente mereciam uma chance, eu feri o orgulho das pessoas que mais amo para ver você e minha filha felizes. Não faça com que eu me arrependa de tudo isso, Draco. Continue demonstrando que eu estava certa ao lhe dar um voto de confiança.

Ela desviou o olhar para a janela. Suas mãos tremiam enquanto os lábios estavam crispados. Draco não sabia o que fazer, o que falar. Apenas fitava as mãos sem coragem de encará-la. Sentia-se como um garotinho que levava uma bronca da mãe. Ele não conseguiu dar uma resposta mal-criada para ela, exatamente como não conseguia fazê-lo com Narcisa.

-Eu não vou insistir mais para que você me diga o que está acontecendo - ela voltou a olhar para o genro - Apenas pense muito bem no que você e Gina estão fazendo de suas vidas.

A senhora Weasley já tinha se levantado quando ouviram uma explosão vinda do lado de fora da sala. Os dois correram para a porta. Por um momento, Draco pensou que estava em um campo de guerra. Milhares de labaredas coloridas subiam para o teto e explodiam em cascatas. Rodas formadas por faíscas passavam ameaçadoramente sobre as cabeças das pessoas que soltavam gritinhos e se abaixavam. Um dragão vermelho luminoso emitia ruídos enquanto dava voltas por toda a sala. Rojões ensurdecedores surgiam de todos os cantos e perseguiam uma bruxa franzina e assustada.

-Não os estuporem e nem tentem fazê-los desaparecer! - a senhora Weasley corria entre os cubículos enquanto gritava a plenos pulmões - Fiquem calmos e saiam da sala!

Draco puxou uma prancheta que estava próxima e protegeu o rosto de um foguete que acabara de atingir a parede ao lado. Abaixou-se atrás de uma mesa antes que algo mais explodisse ali por perto. De onde tinha vindo tudo aquilo? A única vez que se lembrava de ter visto uma confusão como aquela fora em Hogwarts, quando os dois Weasley quase explodiram o castelo de uma forma muito parecida.

De repente tudo fez sentido. Os gêmeos! Tinha certeza que aquilo era obra daqueles dois diabinhos! Saiu se arrastado por debaixo das mesas procurando por duas cabecinhas loiras. Olhou em todos os cantos, atrás de todas as cadeiras, dentro de todos os cubículos. Já estava sozinho no local quando teve que se jogar no chão para evitar que um morcego negro o atingisse. Estava quase desistindo de encontrar os garotos quando escutou risadinhas vindas de dentro de um grande armário de madeira próximo dele. Desviou-se de mais algumas faíscas, se levantou e escancarou as portas do móvel.

-Saiam já daí! - ele olhava furioso para os garotos que perdiam o sorriso.

Draco os agarrou pelas golas e os tirou do armário. Empurrou os meninos para o chão e os fez engatinhar até a porta. Ele também engatinhava, mantendo os dois loirinhos debaixo de seu corpo para que nenhum foguete desgovernado os atingisse. Ao chegarem à saída, ele os atirou para fora da sala e os seguiu, trancando a porta atrás de si.

-Michael e Gabriel Weasley Malfoy! - a senhora Weasley gritava enquanto levantava os netos - Eu não acredito no que fizeram!

O corredor estava um tumulto horrível. Além dos funcionários que trabalhavam naquele setor do departamento, uma pequena multidão de curiosos já se formava. Os rostos assustados e sujos de fuligem encaravam temerosos Draco se levantar. Os gêmeos estavam levando uma senhora bronca da avó, porém nem suas carinhas tristes e falsamente arrependidas fizeram a raiva do loiro desaparecer. Se ele estivesse sozinho com aqueles dois, a esta hora eles já estariam pendurados pelos tornozelos ou vomitando lesmas.

-Por Deus, o que está acontecendo aqui? - Percy vinha apressado pelo corredor enquanto ajeitava os óculos.

-Percival Weasley! - a senhora ruiva se virara muito vermelha para o filho - O que um arsenal desses fogos abomináveis da loja dos seus irmãos fazia na sua sala?

-Na minha sala!? - Percy parecia indignado - Como assim na minha sala? Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?

-Receio que eles sejam meus, senhor - um jovem que vinha seguindo o ruivo falou.

-Sikes? - Percy virou-se incrédulo para trás - Estou profundamente decepcionado!

-Desculpe-me, senhor. Eu os comprei agora na hora do almoço para a festa de aniversários da minha sobrinha. Só os trouxe para o escritório por que não queria me atrasar. Novamente, peço desculpas. Só não entendo como os fogos causaram toda essa confusão na Organização Financeira...

-Isso só aconteceu porque algum gênio deixou essas porcarias bem na vista desses dois diabretes disfarçados de meninos de sete anos! - Draco respondeu exasperado.

- Sua atitude de trazer essas coisas - Percy quase cuspiu ao falar - não foi correta, mas você sem dúvida não é o culpado por essa bagunça. Afinal, o mínimo que esperávamos do Malfoy é que ele conseguisse controlar os filhos.

-Ah, cala boca, Weasley! Você tá fazendo do meu dia um inferno desde que cheguei aqui!

-Não fale comigo dessa forma, Malfoy! - Percy ajeitava mais uma vez seus óculos enquanto olhava indignado para Draco - Você deveria me agradecer! Será que eu sou o único que enxerga que esses garotos estão crescendo totalmente sem limites, incapazes de respeitar qualquer forma de autoridade? Eles destroem tudo que tocam, não têm modos, sempre causam confusão. Por Deus, eles são um tormento!

-Percy, cala a bo...

Mas a senhora Weasley não conseguiu terminar a frase. Draco tinha acabado de voar para cima do cunhado. Quem aquele idiota pensava que era para falar assim dos seus filhos? Os dois rolaram pelo chão. O loiro prendeu o outro sob seu corpo e começou a socá-lo. Percy, entretanto, o atingiu no queixo e o derrubou. Mesmo tonto, Draco tentou avançar novamente sobre o ruivo, mas foi segurado por alguém.

-Já chega! - a senhora Weasley acabara de gritar - Que papelão! Parem já com isso! Levem esses dois marmanjos para a sala de Percy enquanto eu resolvo essa bagunça. Gabriel, Michael, fiquem lá com os dois. Aí daquele que ousar aprontar de novo! Isso vale para os quatro! Será que alguém pode chamar Jorge e Fred pra dar um jeito nesses malditos fogos? .........................................................................................................................................................................................

Draco aparatou na sala de sua casa no fim da tarde. Tirou suas vestes pesadas e deixou-se cair numa das poltronas. Estava exausto. Tivera que escutar a senhora Weasley passar um sermão de quase uma hora enquanto encarava a cara de idiota do cunhado. Como se não bastasse, seu setor ficaria interditado até o Ano Novo. Teria que trabalhar em casa enquanto aquelas coisas não parassem de queimar e explodir. Como conseguiria encontrar um vira-tempo se não tinha mais nenhuma desculpa para sair de casa? Só não estava mais irritado porque os gêmeos tinham ido passar mais uma noite na casa dos avós. Se ele tivesse que olhar para aqueles dois nas próximas doze horas, mataria alguém.

-O que você tá fazendo aqui? - Gina acabara de entrar na sala.

-Eu moro aqui - ele respondeu sem olhar para ela.

-Por enquanto... - a voz dela foi áspera.

-Tivemos problemas no escritório - ele suspirou enquanto passava a mão na testa. Não poderia contar a verdade, a senhora Weasley o proibira - Vou trabalhar em casa até sexta-feira.

-O que aconteceu?

-Nada demais, só uma inspeção antipragas de rotina.

Gina olhou desconfiada para o marido, mas não o questionou mais. Já tinha se virado em direção à escada quando Draco voltou a falar.

-Como a bebê está?

-Mais manhosa que o normal, mas nada que não vá passar - ela respondeu enquanto já subia.

Draco já tinha se levantado com seus milhares de relatórios para seguir para o escritório da casa quando ouviu a sineta da porta. Deixou os pergaminhos sobre o sofá e foi atender aborrecido. Só faltava ser um dos simpáticos irmãos Weasley querendo tirar satisfações com ele. Entretanto, não foi nenhum ruivo que ele viu, mas sim uma bruxa velha e feia com uma expressão de raiva no rosto.

-Onde estão aqueles demônios? Não adianta tentar escondê-los, senhor Malfoy! Eu sei que foram eles que me mandaram a bomba de bosta!

Draco olhava atônito para ela. Não era possível que aqueles dois tivessem aprontado de novo! Há poucas horas eles tinham praticamente destruído seu escritório. Como podiam ter tramado mais alguma coisa?

-A senhora deve estar enganada, os garotos estão na casa dos avós.

-Muito bem, isso explica porque foi a coruja dos Weasley que fez a entrega desta vez!

-O que foi, Draco? - Gina descia as escadas - Senhora Mann? Há algo errado?

-Virgínia, deixa que eu resolvo...

-Com toda a certeza, senhora Malfoy. Seus adoráveis filhos me presentearam com mais uma bomba de bosta! Como se não bastasse o banheiro que eles explodiram há poucos dias!

-Que banheiro? - Draco lançou uma expressão de interrogação para Gina, que o fuzilou com o olhar.

-Por mil maldições, senhor Malfoy! Será que o senhor não presta atenção nos seus filhos? Eles são os alunos mais indisciplinados que eu já tive o desprazer de encontrar em toda a minha carreira de diretora! Em menos de quatro meses esses garotos já aprontaram mais que qualquer um durante toda a escola primária! Ou vocês dão um jeito nesses moleques ou eu serei forçada a expulsá-los! Passar bem. - e dizendo isso, a bruxa se virou, subiu em sua vassoura e desapareceu no céu.

Gina passou as mãos sobre o rosto e soltou um suspiro cansado. Entrou e se sentou em um dos degraus da escada. Apoiou os cotovelos sobre o joelho enquanto levava as mãos juntas à cabeça.

-Por favor, me diga que não foram eles os responsáveis pela "inspeção antipragas".

-Se você não quer, eu não digo - Draco fechara a porta e se encostara à parede com os braços cruzados na frente do peito.

-O que foi que eles fizeram dessa vez? Mais bombas de bosta? Os fogos dos meus irmãos? Michael se irritou e explodiu coisas involuntariamente de novo?

-Fogos - ele respondeu simplesmente.

-É, - ela esboçou um sorriso triste - eles realmente gostaram deles. Já é a terceira vez que aprontam com aquelas coisas.

Ficaram em silêncio. Draco a observava de esguelha. Estava pálida e com profundas olheiras. Os olhos tristes também denunciavam seu cansaço. O rosto ainda estava marcado por lágrimas ressecadas e os lábios estavam sem cor. Parecia que acabara de voltar de seu próprio enterro.

-Pare de me olhar pelo canto do olho - ela disse sem encará-lo - Você não precisa fazer com que eu me sinta mais horrível do que estou me sentindo.

-Por que você adora fazer drama? - Draco revirou os olhos e soltou um muxoxo.

-Talvez por que o mundo esteja desabando na minha cabeça - Gina não alterou a voz, parecia não ter forças para isso - Simplesmente porque estou chegando a conclusão que falhei como bruxa, falhei como mãe, falhei como esposa, falhei como mulher. Simplesmente falhei.

Ficaram em silêncio por algum tempo. Gina não tinha movido um único músculo, parecia uma estátua olhando para o nada. Draco encarava seus pés enquanto uma pergunta lhe queimava a língua. Finalmente tomou coragem e deixou-se falar.

-Você se arrepende de alguma coisa?

Mais uma vez, silêncio. Talvez ele não devesse ter tocado nesse assunto, mas a sua curiosidade (será que era só isso mesmo?) falara mais alto. Os diários, a conversa com a sogra e, principalmente, o que sentira naquela tarde despertaram nele uma vontade incontrolável de saber o que ela sentia. Já tinha desistido de obter alguma resposta quando Gina começou a falar ainda com a voz desanimada.

-Teve uma noite, logo que a Rachel nasceu, que eu não conseguia dormir. Já fazia uma hora que eu me revirava na cama e nada do sono. Eu tava tão preocupada... O Ministério tinha acabado de confiscar definitivamente todos os bens da sua família, tínhamos que terminar de pagar a casa, a sua promoção não saia, o meu reajuste de salário só viria em dois meses e tínhamos um bebê não planejado recém-nascido. Comecei a me perguntar como eu estaria se você não tivesse me beijado naquele campo de quadribol, se nós não tivéssemos nos envolvido, se eu simplesmente tivesse aceitado aquela bolsa de estudos no exterior ao invés de me casar com você. Provavelmente eu estaria fora do país, realizada profissionalmente e com uma vida financeira muito confortável. Eu me levantei e sai do quarto antes que te acordasse. Sinceramente, naquele dia eu tive vontade de ter seguido outro caminho...

-Você ainda sente isso? - ele ainda fitava o chão enquanto a escutava.

-Sabe, eu ainda não terminei de contar toda essa história... - ela sorriu debilmente e prosseguiu - Depois que eu saí do quarto, resolvi tomar um pouco de ar. Mas eu nem cheguei a descer as escadas. Parei no quarto dos garotos quando ouvi a voz de um deles. O Gabriel falava no meio de um sonho, pedia mais um sapo de chocolate. Olhei pro Michael e vi que ele sorria adormecido. Fui ver a Rachel e perdi a noção do tempo que fiquei ali, observando ela fazer biquinho e sugar o ar (N/A: eh muito fofo quando um nenê faz isso, naum eh?) enquanto os olhinhos estavam fechados. Voltei pro quarto e te vi resmungando meu nome. Percebi que não importava o que eu tinha deixado pra trás, não importava as chances que eu tinha descartado. Nada era tão bom quanto ver vocês dormindo. Não me arrependo de nenhuma das minhas escolhas, Draco, e isso não vai mudar nunca, independentemente do que acontecer com a gente.

Ele não disse nada. Olhava para baixo com os braços ainda cruzados enquanto se sentia pior do que já se sentira. Ela falava com tanta ternura daquela casa, daquelas crianças, daquela vida. E ele, o que fazia? Tentava desesperadamente voltar para suas mulheres fúteis, para sua mansão confortável, para sua existência vazia. Foi tirado de seus pensamentos por um choro estridente.

-A mamãe já tá indo, filha - Gina se levantou e subia as escadas.

-Espera - Draco saiu de seu transe e foi até ao primeiro degrau - Vai tomar um banho e comer alguma coisa. Eu cuido dela.

-Não, Draco, ela ainda precisa de mim.

-Você mesma disse que ela já tá boa!

-Mas... - ela já ia protestar, mas ele a interrompeu.

-Deixa eu ficar um pouco com a minha filha, Gina. Por favor.

Ela deu-se por vencida e seguiu para o quarto do casal. Draco subiu atrás, mas se dirigiu para o outro quarto. Rachel estava deitada com os bracinhos esticados enquanto chorava. Ele se aproximou, a tirou do berço e se sentou numa poltrona com a pequena no colo. Ainda que desajeitadamente, ele a colocou sobre suas pernas enquanto tentava fazê-la se acalmar.

-Pronto, pronto, manhosa, já te tirei do berço. Você se parece com a sua mãe, sabia? É tão escandalosa quanto ela...

A ruivinha parara de chorar e o fitava atenta ao que ele dizia. Quando Draco parou de falar, ela sorriu e bateu palminhas. Balbuciou sons incompreensíveis enquanto desviava o olhar do rosto do loiro. Agarrou a mão dele e começou a mordê-la.

-Não, não, mocinha! Pode parar! - ele a ergueu no ar diante de seu rosto - Você já me deixou todo babado uma vez, não vai deixar de novo!

Rachel riu novamente e colocou o dedinho indicador dentro da boca. Enquanto balançava as perninhas no ar, esticou a outra mãozinha em direção ao rosto do pai. Draco tentou desviar, mas agora ao dois bracinhos estavam esticados para ele. A bebê começou a emitir outros sons, mas desta vez eles não foram incompreensíveis.

-Pa-pa... Pa-pa...

Draco encarou assustado a pequena que olhava divertida para ele. Abriu um sorriso. Até aquele momento não tinha escutado Rachel pronunciar nada que não fosse seus "dá-dá-dás" e agora ela acabara de falar "papai". Tudo bem, não tinha sido um "papai" muito perfeito, mas ela claramente tinha falado alguma coisa.

Sentiu uma alegria imensa invadí-lo. Aproximou a ruivinha de si e a abraçou. Nem se irritou quando as mãozinhas babadas envolveram seu pescoço. Na verdade, ficar todo melado era irrelevante diante do que acabara de presenciar. .........................................................................................................................................................................................

-Ela dormiu de novo? - Gina entrou no quarto da bebê.

-Acabou de pegar no sono - Draco a colocava cuidadosamente no berço.

-Vou comer alguma coisa. Você quer?

-Não. Fica tranqüila, qualquer coisa eu me mesmo preparo algo.

Ela deu de ombros e seguiu para as escadas. Draco ainda continuou olhando a filha por alguns momentos antes de sair também. Sem rumo, foi em direção à sala. O cômodo não parecia mais tão detestável como antes. Na verdade, era até simpático, aconchegante.

Ele caminhou até a mesa cheia de retratos. Viu-se sorrindo abraçado a uma Gina barriguda, acenando para dois loirinhos que andavam com dificuldade, falsamente emburrado pelo balde de água que acabara de receber da jovem ruiva, segurando abobado um embrulinho branco com uma rala penugem vermelha cobrindo a cabecinha. Viu-se como nunca tinha se visto antes.

Would you tell me how could it be any better than this?

Escutou um prato se quebrando. Colocou o retrato que tinha nas mãos de volta no lugar e seguiu para a cozinha. Parou na porta. Gina estava de costas, as mãos apoiadas na pia, a cabeça baixa e o prato estilhaçado no chão. Ele atravessou o cômodo em direção a ela. Parou há poucos metros da ruiva enquanto a observava. Ela era tão linda! Não tinha o direito de fazê-la sofrer daquela forma. Sem querer pensar mais, ele aproximou-se devagar, a abraçou pela cintura e enterrou seu rosto no pescoço dela.

And how can I stand here with you, and not be moved by you?

-Me perdoa, por favor… - ele sussurrou enquanto apertava o abraço.

Soltando as mãos, Gina deixou o peso do corpo cair e chorou. Chorou compulsivamente. Parecia não ter forças para se manter em pé. Draco a segurou enquanto se abaixava com ela.

-Pára de chorar, por favor - agachado ao lado dela, ele tentava encontrar os olhos castanhos que tanto o fascinavam - Me dói tanto te ver assim!

Cause you're all I want

-Eu não acredito mais em você! - ela disse entre soluços.

-Não, não! Você tem que acreditar em mim! - ele falava desesperado com o rosto dela entre as mãos - Eu te amo, eu te amo tanto...

Olhou fixamente nos olhos dela. Já tinha enganado tantas mulheres com aquelas palavras. "Eu te amo". Pela primeira vez, tinha certeza de que aquela frase, tão mal usada até aquele momento, era verdadeira. Precisava que ela percebesse isso, que ela visse no fundo de seus olhos o quanto ele precisava dela.

You're all I need

Encostou sua testa na dela. "Eu te amo, eu te amo...". Sussurrava, os belos olhos acinzentados fixos nos dela. Sentiu ela enlaçar seu pescoço enquanto dizia em meio às lágrimas "Eu acredito". Abriu um sorriso. Tinha vontade de pular, de gritar, de contar ao mundo como ele estava feliz. Mas mais do que qualquer coisa, tinha vontade de sentir o gosto da boca dela de novo.

You're everything

Beijou-a. Sentiu os lábios trêmulos de Gina se abrirem. Puxou o rosto dela mais para perto do seu. O beijo tinha gosto de lágrimas, mas mesmo assim era a sensação mais maravilhosa que Draco já experimentara em toda a sua vida. Ainda com aqueles lábios quentes entre os seus, ele a pegou no colo e foi em direção à escada. Já tinha perdido muito tempo em sua vida, não queria perder nem mais um minuto.

Everything

N/A: Outro ataque fluffy!!! Daqui a pouco essa fic vai começar a pingar mel! HEHEHEHE. Atendendo a pedidos, Gina e Draco juntos! Pra falar a verdade, eu ia fazer o Draco relutar mais um pouco, a Gina ficar desidratada de tanto chorar e os dois quebrarem o pau mais umas vezes, mas achei que seria muita maldade (além de ter ficado com medo de alguém me matar e eu naum conseguir terminar a fic!). E aí, o que acharam dos gêmeos? Ainda não chegam aos pés do Fred e do Jorge, mas também, eles só têm sete anos! Eu sei q tem muita coisa q eu preciso esclarecer, mas será que ninguém tem mais nenhuma idéia de como o Draco foi parar nesse mundo tão diferente? Bom, no próximo capitulo prometo que vou tentar me centrar mais nesse aspecto da história. Acho q já chega de notas! Ah, galera, estou esperando as reviews pra postar o capitulo 9! Esse final super romântico merece várias, naum merece? Beijos e até mais!!!!

N/A 2: Os trechos q eu usei no fim do capitulo são da música "Everything", do Lifehouse. Ela faz parte da trilha sonora do seriado "Smallville". Se vcs naum conhecem, vale a pena baixar e conferir. Os dois minutos finais da música são excepcionalmente lindos!!!