A Coruja Negra

Abriu os olhos devagar. Encontrou dois círculos castanhos à sua frente. Gina sorria para ele enquanto acariciava seu rosto. Draco sorriu de volta. Começou a correr os dedos delicadamente pelas costas dela. A ruiva se aproximou mais e depositou um leve beijo em seus lábios.

-Te acordei?

-Não, não me acordou - ele suspirou e deu um beijo na ponta do nariz dela.

-O que aconteceu ontem? - ela franziu a testa sem deixar desaparecer o sorriso.

-Como assim?

-"Como assim?"! Você acabou comigo essa noite! Tá certo, você nunca me deu muito sossego, mas dessa vez você se superou!

-Já que você tá reclamando... - Draco fazia um falso bico enquanto seu ego batia no teto.

-Quem disse que eu tô reclamando? - ela se sentou fingindo indignação.

-Ah, não tá? - ele se virara para vê-la melhor e colocara as duas mãos atrás da cabeça.

-Eu adorei! - Gina se curvou sobre ele sorrindo.

-Segundo tempo? - ele ergueu a sobrancelha enquanto sorria malicioso.

Mas Draco mal teve tempo de beijá-la de novo. Um choro manhoso invadiu o quarto. Gina se afastou e olhou divertida para a cara de aborrecimento do marido.

-Desculpa, meu bem, mas você não é o único que precisa de mim...

Ela se levantou e vestiu o robe vinho que estava sobre a poltrona. Antes de sair do quarto ainda lançou um beijinho para ele e sussurrou um "depois a gente continua" provocante.

Draco continuou deitado fitando o teto. Não se lembrava de ter se sentido tão leve como agora. Já tinha se decidido: abandonaria aquela idéia estúpida de "consertar" sua vida. Continuaria com aquela casa, com aquelas crianças, com aquela ruiva. A família dela era horrível, mas até que seria divertido irritar o Weasley de vez em quando. Ele era extremamente competente, não demoraria a subir cada vez mais de cargo. Quem sabe até encontrar uma forma de reaver sua fortuna? Consertaria sua vida, sim, mas aquela vida.

Gina voltou para o quarto com Rachel nos braços. A pequena esfregava os olhinhos sonolentos. Ele se sentou com as pernas flexionadas e os braços sobre os joelhos. Gina colocou a filha sentada entre os dois. Foi então que Draco se lembrou.

-A Rachel não fala ainda, não é?

-Você sabe que não, Draco - ela o encarou intrigada - Ainda vai demorar uns dois meses pra ela começar a falar!

-Tem certeza? - ele a olhava divertido.

-Claro que sim! Os gêmeos tinham quase um ano quando falaram e a Rach acabou de completar dez meses. Por que você tá perguntando isso?

-Como você é precoce, hein, mocinha! - ele se virara para a bebê e brincava com o narizinho dela.

-O que você tá tentando dizer? - ela o encarava com um olhar que mesclava felicidade e surpresa.

-Ela me chamou ontem.

-Como assim "ela te chamou"?

-É, quando você tava tomando banho. Ela falou "papai". Bom, não foi muito perfeito, mas foi um papai.

-Sua traidora! - Gina deitara a ruivinha na cama e fazia cócegas em sua barriga - Depois de todos os quilos que engordei, de todas as fraldas, de todas as noites em claro, você fala "papai" ao invés de "mamãe"!

-Fazer o que se eu sou irresistível? - Draco tinha uma falsa expressão de arrogância.

-Convencido! - ela sorria fingindo raiva - Eu te odeio, sabia!

-Sabia - ele se aproximou e lhe deu um beijo - E eu também te odeio.

Ouviram uma coruja piar do lado de fora da janela. Gina olhou preguiçosa para Draco e fez sinal para que ele fosse apanhar o bilhete. Ele sorriu e apontou para o corpo coberto só pelos lençóis. A ruiva se levantou bufando e caminhou até a ave cada vez mais inquieta.

-O que é? - ele simplesmente perguntou sem desviar os olhos da pequena que engatinhava pela cama.

-Mamãe. Vai trazer os garotos na hora do almoço - ela fechou a cara - Aqueles dois vão se ver comigo!

-Que horas são? - Draco a encarou preocupado enquanto puxava Rachel para longe da beirada da cama.

-Acho que quase dez... - ela respondeu desinteressada.

-Você não vai trabalhar não?

-Tá querendo se livrar de mim, é? - ela colocou as mãos na cintura.

-Não, é que... - ele ficou desconcertado com a resposta dela.

-Tô brincando, amor - ela riu da cara dele - O diretor do hospital me liberou essa semana pra que eu pudesse cuidar da Rach. Vou te atormentar em tempo integral!

-E eu vou adorar... .........................................................................................................................................................................................

A porta do escritório se abriu lentamente.

-Draco? - a senhora Weasley acabara de entrar.

-Pode entrar - ele afastou a cadeira da mesa repleta de pergaminhos e passou as mãos sobre o rosto.

-A Gina já sabe do "acidente" de ontem, não é?

-Senhora Weasley, eu...

-Não, querido, não. Está tudo bem. Agora eu sei que está... - ela abriu um sorriso bondoso para ele - Mas eu acho que você deveria ir até a sala antes que ela azare um daqueles dois. Vou ver a Rach.

Draco ficou alguns minutos sozinho. Simplesmente sorria enquanto pensava em como aquilo era loucura. Uma deliciosa loucura! Acordou de seus devaneios quando Gina deu o primeiro grito. Levantou-se ainda sorrindo e foi ao socorro de seus dois anjinhos. .........................................................................................................................................................................................

Já estavam terminando de comer. Os gêmeos tinham as cabeças baixas e Gina fazia cara de poucos amigos. Draco se divertia com a situação. Sua raiva já tinha passado. Pensando bem, fora até divertido ver seu escritório explodir em luzes coloridas, sem falar na sensação maravilhosa de socar um dos Weasley. Ele sabia, entretanto, que sua mulher não partilhava da mesma opinião, o que explicava os olhares que ela lhe lançava toda vez que ele deixava escapar um sorriso reprimido.

-Já acabamos, mãe - um dos gêmeos falou ressabiado.

-Subam pro quarto - ela respondeu seca - E eu não quero ouvir um pio!

Os meninos se levantaram e foram em direção à escada. Ainda lançaram um último olhar de súplica ao pai, que simplesmente encolheu os ombros como quem diz "fazer o quê?". Eles já tinham fechado a porta do quarto quando Draco começou a falar.

-Não acha que tá sendo muito dura com eles?

-Draco Malfoy, não começa! - ela trincou os dentes.

-Só acho que não é pra tanto!

-Pelo amor de ... - ela já falava alto, mas ele a cortou.

-Não, agora você vai me escutar! - ele endureceu a voz - Não é só você que toma as decisões por aqui!

Ela não respondeu, apenas cruzou os braços como uma menininha emburrada.

-Acho que já tá na hora de você aceitar a personalidade dos nossos filhos - ela ia protestar, mas ele não permitiu - Você realmente acredita que esses castigos servem pra alguma coisa? Quer dizer, eles aprontam, você grita, esperneia, os proíbe de viver por um tempo, eles armam outra e aí começa tudo outra vez... É esse seu conceito de educação?

-O que você sugere que eu faça? - ela ainda estava emburrada - Já que você não faz nada mesmo...

-Reconheça o fato de que você não pode controlar tudo - ele ignorou o último comentário dela - Gina, olha os seus irmãos! Não importa o quanto vocês tenham tentado, vocês não conseguiram mudá-los. Acha que com o Michael e o Gabriel vai ser diferente? Concordo que eles passam dos limites, eu mesmo tive vontade de estuporá-los ontem, mas você realmente deveria se estressar menos.

Ficaram em silêncio. Gina descruzara os braços e brincava com as mãozinhas de Rachel, que estava sentada em sua cadeirinha ao lado da mãe. Draco olhava interessado para seu prato, já arrependido do que dissera. De onde saíra tudo aquilo? Ele, Draco Malfoy, dando uma de pai compreensivo? Quase sorriu com esse pensamento, mas foi do outro lado da mesa que veio uma risada.

-O que foi? - ele olhou intrigado para a ruiva à sua frente.

-É realmente estranho ver que você pode ser mais sensato do que eu - ela o encarava com um olhar divertido.

-É, eu sei - ele também riu.

-Não consigo deixar de pensar como isso não se encaixa ao menino riquinho e mimado que eu conheci em Hogwarts, mesmo esses seus "ataques" sendo tão raros. Se há dez anos alguém me contasse que você poderia dizer coisas como esta, eu acho que morreria de rir!

-Eu era tão ruim assim? - ele endurecera um pouco a expressão.

-Você ainda assim! - ela não deixara de sorrir - Mas foi exatamente por esse menino que eu me apaixonei.

Ela se levantou e foi até ele. Draco já sorria de novo quando ela sentou-se em seu colo e o beijou carinhosamente. Mas ele não queria beijá-la só daquela maneira. Ignorando totalmente os protestos da ruiva, ele já explorava as coxas dela. Gina só conseguiu se livrar dele quando uma outra coruja apareceu na janela.

-É pra você - ela disse entregando o bilhete e ignorando a cara feia dele.

"Malfoy,

Estarei na frente de sua casa as oito da noite. Tenho que lhe dar algumas recomendações. Além disso, não é seguro que você vá sozinho para a Mansão Malfoy. Me espere antes de sair. Até mais.

Remo Lupin"

Draco bufou. Tinha esquecido completamente daquela "excursão" à mansão. Além da sensação desagradável que sentiu ao se imaginar investigando o que fora a sua casa, se incomodou com o recado de Lupin. Ele não era um garotinho, não precisava de escolta! Amassou o pergaminho entre os dedos e fechou a cara.

-O que foi? - Gina se virou para ele com um tom de preocupação na voz e a filha nos braços.

-Lupin - ele respondeu simplesmente.

-Querido, você não acha... - Gina se aproximou e ia passar as mãos pelos cabelos do loiro, mas este se levantou antes que ela pudesse tocá-lo.

-Preciso terminar de ler aqueles relatórios - ele já estava saindo do cômodo - Se precisar de mim, tô no escritório. .........................................................................................................................................................................................

Já estava anoitecendo. Tinha conseguido adiantar boa parte de seu trabalho, mas ainda continuava de mau humor. Não sabia porque, mas estava cada vez mais incomodado com a iminência de entrar novamente naquele lugar mal cuidado e assustador que ele chamara de casa até poucos dias. Estava organizando as pastas quando ouviu batidas na porta.

-Tá aberta.

-Posso entrar? - Gina olhava séria para ele.

Draco fez um aceno afirmativo com a cabeça. Ela entrou e fechou a porta. Continuou parada encarando o loiro.

-Não vai sentar? - ele ainda tinha os olhos nos milhares de pergaminhos à sua frente.

-Tô esperando você me dar atenção - ela tinha os braços cruzados e o olhar irritado.

Ele suspirou e revirou os olhos. Já tinha tanta coisa na cabeça, ainda teria que agüentar os chiliques de Gina? Fechou as últimas pastas, cruzou as mãos sobre a mesa e a encarou.

-Sou todo ouvidos - ele foi levemente sarcástico.

-Já tô acostumada com os seus maus modos! - a ruiva se sentou na cadeira que estava à frente da mesa - Não vim aqui pra dizer pela qüinquagésima vez que você é um grosso!

-Dá pra ir direto ao ponto?

-Não quero que você vá àquele lugar horrível - ela disse calma e firme.

-Quê!? - ele a olhava admirado e incrédulo.

-Isso mesmo que você ouviu - Gina continuou sem se alterar - Vou mandar uma carta ao professor Lupin dizendo que você não vai entrar lá de novo.

-Você só pode tá louca! - Draco empurrou a cadeira bruscamente e deu a volta na mesa - Só eu posso entrar naquela casa, só eu posso vasculhá-la!

-Pra quê tudo isso? - ela também se levantara e agora o encarava - É lógico que o seu pai não deixou nada realmente importante naquele lugar! Ele não é burro, Draco! Acha mesmo que ele vai usar aquela casa enquanto você ainda estiver vivo, enquanto algum Malfoy que lute contra aquele monstro que ele chama de Lord estiver vivo?

-Eu não posso simplesmente não ir, Virginia! - ele estava irritado, andava de um lado para o outro como se estivesse preso em uma jaula - Só eu posso fazer isso, só os Malfoy podem entrar lá!

-Draco, não vá! - ela praticamente implorou - Eu tô com um péssimo pressentimento. E se isso for uma armadilha? E se o seu pai estiver lá te esperando? E se você não voltar?

Gina se sentou no pequeno sofá e deixou seu olhar se perder. Suas mãos tremiam, seu rosto estava lívido. Draco não pôde deixar de compreendê-la. Ele também não tinha um bom pressentimento, ele também tinha medo de não voltar, de não vê-la nunca mais, mas ele precisava ir. Se Lucio estivesse esperando seria a oportunidade perfeita de mandar aquela assombração para o inferno. Mais dia ou menos dia teria que enfrentá-lo.

-Gina, olha pra mim - ele se sentou ao lado dela e ergueu seu queixo - Eu sei que você tá com medo e, pode acreditar, eu também tô. Mas eu preciso ir, eu preciso enfrentá-lo, eu não posso mais permitir que a sombra do Lucio, a sombra do meu pai, continue a nos ameaçar.

Ela não respondeu. Voltou a fitar o chão enquanto mantinha as mãos no colo. Quebrando o silêncio, Draco segurou as mãos da ruiva entre as suas e continuou.

-Se ele estiver lá eu vou acabar com ele, eu te prometo.

-Eu ficaria mais feliz se você simplesmente voltasse são e salvo.

-Isso eu não posso te prometer - ele impediu que ela protestasse - Você sabe que eu não posso. Mas tem algo de que você pode ter certeza: se eu não voltar, se eu morrer lutando com ele, vou satisfeito, vou feliz por saber que vocês finalmente vão estar bem.

-Nós nunca vamos estar bem sem você! - Gina o abraçou com força - Por favor, fica comigo...

-Até o fim da minha vida... - ele respondeu enquanto apertava contra seu peito a ruiva que deixava as primeiras lágrimas caírem.

Ficaram abraçados. Gina soluçava alto. Draco a tinha colocado em seu colo e a embalava docemente. Não queria vê-la daquele jeito, não queria ver seus filhos daquele jeito. "Pelo menos essa noite os pequenos ainda terão sonos tranqüilos". Mal sabia ele o quanto estava enganado. No alto da escada, recolhendo um par de orelhas extensíveis, dois loirinhos idênticos se olhavam assombrados depois de escutarem a conversa dos pais. .........................................................................................................................................................................................

-Olá, Gina - Lupin abriu um sorriso quando a ruiva atendeu a porta.

-Olá, professor - ela respondeu tristemente, os olhos ainda inchados - O Draco tá no escritório, pode ir até lá.

-Oi, meninos, como estão? - ele se virou para os dois garotos sentados ao pé da escada.

-Oi, tio Remo - um deles disse desanimado enquanto o outro olhava fixamente para a parede.

-O que houve com eles? - Lupin cochichou para Gina.

-Nada sério, só tão emburrados porque tão de castigo - ela forçou um sorriso.

Ele deu de ombros e seguiu para o escritório. Bateu na porta e entrou depois de escutar um "Pode entrar" vindo de dentro. Draco acabara de se levantar e passava a mão pelos cabelos. Estendeu a outra para o homem à sua frente.

-Lupin.

-Malfoy. Espero que esteja pronto.

-Estou, pode ficar tranqüilo.

-Ouça, Malfoy, - o ex-professor de DCAT começou - conversamos na última reunião da Ordem sobre os perigos desta missão e gostaria de saber se você refletiu...

-Onde exatamente você quer chegar? - Draco o cortou impaciente.

-Você não precisa fazer isso - ele respondeu sem se alterar diante da rispidez do outro - Quando você estiver lá dentro, vai estar por sua conta. Não poderemos entrar, não poderemos ajudá-lo de nenhuma forma, não poderemos nem ao menos saber o que pode ter acontecido caso você não volte. Vasculhar aquela mansão pode nos trazer boas informações, mas não acredito que encontraremos nada de extraordinário, nada que pague uma vida. Vamos simplesmente esquecer...

-O que você acha que eu sou, Lupin? - Draco falava baixo, porém afiado - Um covarde? Um incapaz? Acha que não vou dar conta? Acha que tenho medo do que possa acontecer?

-Não foi nada disso que eu quis dizer! - Remo soltou um muxoxo irritado.

-Mas foi isso que você disse! Eu não vou desistir, Lupin! Não importa que seja uma armadilha, eu vou entrar naquela casa com ou sem vocês do lado de fora!

-Já que você quer assim... - ele soltou um suspiro cansado dando-se por vencido. .........................................................................................................................................................................................

Já estavam voando há quase vinte minutos, logo estariam diante das grades negras da mansão Malfoy. Gina não tinha ficado sozinha com as crianças. Seus pais, além de Hermione, Jorge e Fred estavam lá também. Draco se sentiu mais tranqüilo. Afinal, para alguma coisa aquela família imensa tinha que servir!

Desceram em frente ao portão alto da entrada principal. Cerca de dez pessoas já estavam ali, entre elas Rony e Harry. Draco sentiu o sangue subir. Sabia que aqueles dois não faziam parte da equipe de Lupin, então o que faziam ali? Provavelmente estavam vigiando seus passos, tentando encontrar alguma coisa para acusá-lo de traidor. Mas ele não daria esse gostinho a eles. Entraria naquela casa e se encontrasse Lucio traria seu corpo como um troféu a qualquer custo.

-Boa noite a todos - Lupin começou - Creio que todos já conhecem o plano, mas vamos relembrar alguns pontos. Malfoy vai entrar, como combinado, e pouco nos restará a fazer. Ficaremos de prontidão para o caso de comensais surgirem. Se o nosso "espião" se deparar com alguém que não seja de sua família dentro da casa, ele saberá que pode autorizar a entrada de outros que não são seus parentes. Nesse caso nos dará um aviso e entraremos. O mais provável, no entanto, é que isso não seja possível, por isso a investigação ficará a cargo do Malfoy. Alguma pergunta?

Como ninguém se manifestou, Lupin se virou para o loiro e fez um aceno com a cabeça acompanhado de um "Boa sorte". Draco subiu na vassoura e voou por cima da grade. Seguiu velozmente em direção à entrada da casa enquanto sentia o coração acelerado.

Parou diante da grande porta de madeira. Ainda estava trancada. Decidiu não tentar abri-la. Subiu novamente na vassoura e foi até a mesma janela do segundo andar que tinha usado para entrar da última vez. Entrou sem problemas. Deixando a vassoura encostada atrás das cortinas rasgadas, Draco olhou novamente o cômodo. Silêncio. Murmurou "lumus" e a ponta de sua varinha se acendeu. Observou castiçais com tocos de velas sobre uma mesa. Com um feitiço, acendeu-as. Não se importava se não estava sendo discreto. Na verdade, ele não queria ser discreto. Queria ser notado, queria que seu pai percebesse que ele estava ali, queria encontrá-lo.

Saiu em direção ao corredor com a varinha empunhada. Acendia todas as velas que encontrava. A cada passo, seu coração se acelerava, seus ouvidos ficavam mais atentos, seus olhos mais concentrados. Procurava não só ouvir e ver, mas também sentir, cheirar, perceber. Aquilo era um jogo, uma caçada em que ele poderia ser a presa ou o predador. Tudo dependia dele mesmo.

Entrou num outro corredor da imensa casa. Viu todos os olhos se virarem em sua direção. Lembrava-se daqueles retratos. Muitos deles tinham sido retirados depois da derrota de Voldemort. Não ficaria bem que fotografias de comensais mortos estivessem expostas após a queda do lado das trevas. Mas como naquele mundo o Lord continuava vivo e ativo, aquela pequena galeria se mantinha intacta.

Draco caminhou cuidadoso analisando aqueles rostos. Eram antepassados, parentes, cônjuges, enfim, pessoas que de alguma forma se relacionavam à sua árvore genealógica. Conhecera alguns daqueles rostos, mas não se lembrava de gostar de nenhum.

Passou diante do retrato de uma mulher. Observou por um momento. Ela tinha os cabelos escuros, um rosto com traços bonitos e olhos que brilhavam de uma forma quase insana. Ela o encarava sem se mover. O loiro sentiu um arrepiou percorrer seu corpo. Aquele rosto era familiar, mas eram os olhos que chamavam sua atenção. A imagem daquele olhar se encontrava muito viva em sua mente para ser apenas uma recordação de tantos anos.

Começou a se aproximar do quadro quando ouviu um barulho abafado. Voltou-se rapidamente para trás e ainda pôde ver as perninhas feias e tortas de Kreacher desaparecerem no outro corredor. Esquecendo-se totalmente da fotografia, Draco resolveu seguir o elfo. Ele provavelmente o levaria a Lucio.

Apesar de velho, Kreacher se movia rapidamente por trás da tapeçaria e das cortinas. O loiro apenas andava rápido, não queria assustar o monstrinho. Chegaram até o corredor que terminava numa passagem secreta para as masmorras "Claro, por que não pensei nisso antes?". Ansioso por seguir até onde Lucio estava, Draco desceu para as masmorras sem mais pensar no elfo. Nem percebeu que o pequeno ainda continuava ali, escondido atrás de uma estátua, observando tudo com um sorriso maldoso.

Assim que viu o homem desaparecer do corredor, Kreacher saiu de seu esconderijo e foi apressado para as escadas. Murmurava algo e dava guinchos abafados de felicidade. Chegando à cozinha, se dirigiu para uma gaiola em que estava uma coruja com um bilhete preso a ela. O elfo pegou o objeto desajeitadamente, o colocou sobre a mesa e abriu a portinhola.

-Você já sabe aonde ir, não é? - ele disse enquanto a coruja já levantava vôo. .........................................................................................................................................................................................

Estavam todos na sala. A senhora Weasley e Hermione tinham acabado de colocar Rachel e Richard para dormir. Fred e Jorge tentavam puxar assunto com os gêmeos, mas estes só lhes davam respostas monossilábicas. Gina estava no sofá recostada sobre o peito do senhor Weasley. Ela tinha o olhar perdido enquanto arranhava o tecido do móvel. Escutou o pai chamá-la.

-Filha, acorda! Não tá ouvindo o Michael te chamar?

-Ah? Desculpa, tô um pouco aérea. Fala, filho...

-Será que você vai ficar muito triste se a gente já for dormir?

-Claro que não, meu bem - Gina se endireitou e abraçou os meninos parados à sua frente - Durmam bem, meus anjinhos.

Os garotos desejaram boa noite a todos e saíram da sala. Gina ficou olhando tristemente para os dois loirinhos cabisbaixos que subiam as escadas.

-Eles estão tão quietos... - a senhora Weasley disse após alguns minutos de silêncio.

-Você tem certeza que eles não sabem de nada, Gina? - Fred se virou para a irmã.

-Tenho, tenho. Eles acham que o Draco tá em mais uma reunião de equipe com o Snape.

-Não sei não, Gina. Já vi você dar castigos muito piores pra esse dois e eles nunca ficaram assim - Jorge olhava desconfiado em direção à escada.

-Gente, parem de encher a Gina! - Hermione fitava os gêmeos com o mesmo olhar reprovador dos tempos em que era monitora em Hogwarts enquanto se ajoelhava diante da amiga - As crianças estão ótimas, a missão deve está correndo super bem e logo todos vão está de volta!

Hermione sorriu para a ruiva e segurou suas mãos. Gina esboçou um sorriso de agradecimento. Não sabia o que faria se tivesse que passar por tudo isso sozinha. Sentia tanto medo, mas precisava ser forte, precisava acreditar no que Hermione dizia. Precisava.

-Então, meninos, como vão as coisas na loja? - o senhor Weasley se virou para os gêmeos com um sorriso amarelo. .........................................................................................................................................................................................

Escondidos sob a capa de invisibilidade, Michael e Gabriel observavam os adultos conversando. Eles se espremiam o máximo possível junto ao corrimão da escada enquanto olhavam atentos para a sala. Apesar dos corações descompassados, tentavam respirar baixo. Queriam descobrir exatamente o que estava acontecendo, queriam entender direito aquela conversa que escutaram, mas, principalmente, queriam ter certeza de que seu pai estava bem.

Gabriel bocejou. Michael lhe deu um cutucão e fez sinal pra que ficasse quieto. Draco tinha saído de casa há mais de uma hora e até agora não tinham nenhuma notícia. Michael sentiu o irmão puxar seu braço. Olhou para o outro que fez sinal para que eles fossem dormir. Já tinha se virado para subir quando Gabriel segurou novamente seu braço e apontou para a sala. .........................................................................................................................................................................................

-E vocês acreditam que ele teve coragem de dizer que era nossa culpa? - Fred dizia divertido.

-Mas é claro que nós não tínhamos nada a ver com isso! - Jorge continuou falsamente indignado.

-Se ele não sabe usar...

Fred, entretanto, não concluiu seu pensamento. Uma bela coruja negra que acabara de pousar do lado de fora da janela chamou a atenção de todos. Gina se levantou e fez menção de se aproximar, porém o senhor Weasley a impediu. Ele foi até a janela e retirou o bilhete da perna da ave, que voou em seguida. Depois de certificar-se de que não havia nenhum encantamento no pergaminho, abriu-o e leu.

-O que aconteceu? - Gina perguntou nervosa ao ver o pai levantar os olhos em sua direção.

-Nada, querida - o senhor Weasley estava levemente pálido, mas forçava uma voz firme - É só um recado do Percy sobre alguns problemas no departam...

-Pai, me dá esse pergaminho! - a ruiva estendeu a mão trêmula em direção a ele.

-Filha, você não acha...

-Não, mãe, eu não acho! - ela não tirou os olhos do pai - O bilhete, por favor!

-Gina, eu não vou te entregar - o senhor Weasley respondeu impassível.

Antes que alguém pudesse impedir, Gina pegou a varinha de Jorge sobre a mesa de centro e gritou "Accio pergaminho" . Hermione tentou impedir que a ruiva pegasse o papel, mas não conseguiu. O senhor Weasley passou as mãos pelo rosto enquanto via a filha ler atônita o conteúdo daquele bilhete.

"Cara nora,

Sei perfeitamente o quanto nosso relacionamento tem deixado a desejar nos últimos anos. Acredite, sinto-me péssimo com isso! Você não imagina todas as noites de sono que perdi me culpando por ser um sogro, um avô e, principalmente, um pai tão relapso. Todavia, creio que chegou a hora de consertar certos erros. Começarei por meu querido filho, que neste momento já se encontra em minha companhia. Ficaria lisonjeado se você e suas adoráveis crianças pudessem estar conosco também, porém sei que agora isso não é possível. Eu serei paciente, saberei esperar até o dia em que conhecerei meus netos. Quanto ao seu amado marido, não se preocupe, ele logo voltará para casa. Aos pedaços, mas voltará.

Carinhosamente,

Lucio Malfoy"

Gina sentiu como se o chão se abrisse. Perdeu o equilíbrio e só não caiu porque Fred a segurou. A senhora Weasley tomou o pergaminho da mão da filha e começou a ler. A ruiva olhava para o nada, a boca entreaberta e sem cor, o rosto extremamente branco. Hermione ajudou-a a sentar enquanto os gêmeos olhavam assustados para o pai.

-Ele o pegou - senhor Weasley abaixou os olhos ao dizer - Lucio pegou Draco. .........................................................................................................................................................................................

Os garotos estavam paralisados. Somente as lágrimas silenciosas começavam a brotar em seus olhos. Como que em transe, Gabriel deu um passo em direção à sala, mas Michael o impediu. Fazendo um sinal de negação com a cabeça, segurou os braços do irmão e o levou para cima. Gabriel tentou se desvencilhar, tentou correr para junto da mãe, mas Michael não permitiu. Quando entraram no quarto e trancaram a porta, Gabriel explodiu.

-Me larga, Michael, eu quero a minha mãe! - o menino chorava compulsivamente enquanto tentava passar pelo irmão.

-Pára, Gabriel, eles vão escutar! - o outro também chorava, mas não saia do caminho.

-Eu não me importo, eu não dou a mínima! - ele gritava em meio às lágrimas - Não importa se ela descobrir sobre a nossa capa, não importa se ela brigar com a gente de novo, não importa se a gente ficar de castigo pelo resto da vida! Eu só quero abraçar ela! Eu só quero o papai de volta!

Gabriel deixou-se cair sentado no tapete e chorou mais. Soluçava alto enquanto olhava para o chão. Michael se abaixou ao lado do irmão e encostou sua cabeça na dele. Passou o braço sobre os ombros do outro enquanto deixava suas lágrimas caírem cada vez mais.

-Eu sei, eu sei. Eu também não me importo mais!

-O que a gente vai fazer agora, Michael?

-Eu não sei, eu não... - o loirinho parou de falar e arregalou os olhos.

-O que foi?

-Gabriel, você lembra do que o papai disse?

-Do que você tá falando? - ele olhava assombrado para o rosto do irmão.

-Hoje, quando ele e a mamãe tavam conversando, ele disse que só os Malfoy podem entrar naquela casa - uma sombra de esperança começava a surgir em sua expressão.

-Você não tá pensando em...

-É claro que eu tô! - Michael se levantou e andava excitado de um lado para o outro.

-Mas a gente nem sabe como chegar lá!

Nesse momento escutaram um pio vindo da janela. A coruja que havia trazido o bilhete de Lucio os encarava com os belos olhos âmbar. Michael abriu o vidro e deixou a ave entrar. Ela pousou na cabeceira de uma das camas e continuou a olhá-los.

-A coruja! A coruja sabe onde fica! - o menino estava cada vez mais entusiasmado.

-Não sei não... - o outro fitava desconfiado o animal negro.

-Não tem outra saída - Michael se virou sério.

-Tudo bem - Gabriel se levantou enquanto soltava um suspiro - vamos buscar as vassouras.

N/A: Gente, eu quero pedir milhões de desculpas pela demora. Essa semana eu tive o PIOR bloqueio de toda a minha vida!!!! Achei que naum ia conseguir escrever mais nada, que não ia conseguir terminar a fic. Mas, graças aos céus, já passou! O capitulo naum ficou muito bom na minha opinião, mas fiquei feliz com o resultado quando levei em consideração que fiquei cinco dias olhando pra tela do PC sem conseguir escrever uma única linha. Acho q devo maiores desculpas ainda por naum ter respondido a nenhuma review. Vcs foram super legais, me escreveram pra caramba e eu naum mandei nenhum recadinho de volta! Podem me xingar, galera!!!! Naum vou prometer q vou responder tudo, mas nas próximas notas vou colocar o nome de todo mundo q tah me incentivando pra q eu continue. Palavra de escoteira! HEHEHEHEHE

N/A 2: Eu tava dando uma olhada em um site sobre HP e vi q tem um jeito de calcular as datas da série. Por causa disso eu vou alterar o capitulo 7. O conteúdo vai continuar o mesmo, soh vou mudar as datas. Se alguém se interessar, dah uma olhadinha!

N/A 3: Tenho um presentinho pra vcs! Eu pedi pra Pat Kovacs, uma das capistas do 3V, desenhar uma capa pra HdF. Ela me mandou essa semana e, galera, vcs naum têm noção de como ficou MARAVILHOSA!!! Sério, tah perfeita! Nem eu tinha imaginado algo q se encaixasse tanto na história. Como o 3V tah fora do ar (tô realmente preocupada com isso...) e o Portal D/G ainda naum colocou no ar, se alguém quiser dar uma olhada, me escreve q eu mando por e-mail. Podem acreditar, vale a pena ver!!!!!

N/A 4: Putz, quatro N/As! Bati meu record! HEHEHE!! Bom, eu disse q nesse capitulo eu ia tirar o foco principal da família Weasley Malfoy, mas naum agüentei e acabei colocando um começou fluffy. Mas depois, momentos de tensão!!!!! E agora? Será q o Lucio vai matar o Draco e começar a perseguir a Gina e as crianças? Soh eu sei! HEHEHEHEHE!!! Vcs já devem ter percebido q apesar de serem gêmeos idênticos, o Michael e o Gabriel têm personalidades diferentes. E aí, será q vcs jah conseguem distingui-los? Prestem atenção nesses detalhezinhos dos dois, vai ser importante no próximo capitulo! Muitos beijos e tô esperando os palpites de vcs, blz?