Sentiu que uma luz fraca começava a atingir seus olhos. Mexeu-se na cama. Todos os músculos de seu corpo latejaram de dor. Apertou as pálpebras. Não queria abri-las, tinha medo do que veria diante de si. Percebeu que alguém acariciava seus cabelos. Gina. Queria tê-la por perto mais uma vez. Uma voz doce invadiu seus ouvidos. Ela estava ali. Toda a apreensão que enchia seu peito desapareceu. Ela estava ali.
"Anjo, agarre-se a mim
Chegue mais perto"
Dedos suaves tocaram seu rosto. Ela estava ali. Estava cantando. Não precisava de mais nada, não precisava de mais ninguém. Lábios macios tocaram os seus. Ela estava ali.
"Não vá
Não me deixe"
Com um pouco de dificuldade, abriu os olhos. Ela estava ali. Sorriu para ele, os lindos olhos castanhos cheios de ternura, as delicadas mãos segurando as suas. Ela estava ali.
-Você é que é o meu anjo.
Lentamente, ele colocou a mão em seu rosto. Ela apertou a bochecha contra a palma que lhe acariciava. Fechou os olhos enquanto sentia aquele toque, enquanto pensava que a tempestade finalmente tinha passado.
-Anjo, agarre-se a mim. Chegue mais perto. Não vá. Não me deixe.
-Eu não vou embora. Eu não vou te deixar - ele esboçou um sorriso ao sussurrar.
-Eu não iria deixar você partir - ela abriu os olhos e devolveu o sorriso.
Olharam-se demoradamente. Não precisavam de palavras. Simplesmente compreendiam-se sem elas. Ainda estavam perdidos um nos olhos do outro quando um gemido próximo os chamou de volta à realidade.
-Desculpa, pai, desculpa... - Michael murmurava no meio do sono.
-Eles estão bem? - Draco viu Gina ir em direção à cama do filho.
-Estão, fica tranqüilo - ela ajeitava as cobertas do menino.
-Mãe? - ele abriu os olhos devagar, mas se sentou assustado - Onde eu tô?
-Calma, Michael - ela tentava fazê-lo se deitar de novo.
-O papai! O papai caiu! Ele entrou na nossa frente e aquela mulher acertou ele! - o menino falava agitado - Foi minha culpa! Mas eu não queria, mamãe, não queria!
-Eu sei, filho... - ela tentou abraçá-lo, mas o garoto se desvencilhou.
-Você não entende! - os olhos do loirinho se encheram de lágrimas - O Gabriel tentou me avisar, mas eu não escutei! Ele machucou o Gabriel, mamãe! Ele machucou o meu irmão!
Mesmo com dificuldades, Draco afastou as cobertas e se levantou. Michael se calou e olhou para o pai enquanto este se sentava ao seu lado fitando-o carinhosamente.
-Me perdoa, pai! - o garoto agarrou a cintura dele e chorou alto.
-Tá tudo bem, filho - Draco depositou um beijo na cabeça do pequeno - Tá tudo bem...
-Não tá, não! Eu sou um burro!
-Michael, olha pra mim - ele afastou o menino e o encarou - Você não é burro. Você só é parecido demais comigo.
-Pai? - Draco viu uma outra cabecinha loira se levantar na cama ao lado - Papai!
Gabriel pulou da cama rápido e se atirou sobre Draco. Michael ainda olhava envergonhado para eles. Com o braço livre, Draco o puxou para junto dele. Ficou abraçado aos gêmeos por um bom tempo.
-Ei, vocês dois - Gina, que até então somente assistia a cena, interveio - Não acham que tão ultrapassando os limites? Eu nem devia tê-los deixado dormir aqui no hospital!
-Tudo isso é ciúme, meu bem? - Draco respondeu divertido.
-Não seja bobo! - ela fingia irritação - Só tô preocupada com você!
-O que vocês acham? - ele olhou para os meninos que tinham acabado de soltá-lo.
-É! Ela tá com ciúme! - Gabriel respondeu marotamente.
-E você, que me diz, Michael? - ele se voltou para o outro.
-Com certeza! - o garoto abriu um sorriso para o pai.
-Então, vamos acabar com esse ciúme!
Sem darem chance para Gina se defender, os três a puxaram para a cama e a abraçaram juntos. Ela tentava sair do meio deles enquanto fazia-se de brava, mas assim que encontrava com os olhos de um deles, desatava a rir. Eles só a deixaram em paz quando a voz da senhora Weasley invadiu a enfermaria.
-Que bagunça é essa? - ela tinha os braços cruzados e um ar severo - Francamente, Gina! Você é uma médi-bruxa e deveria ser a primeira...
-Ora, Molly, se acalme - o senhor Weasley acabara de entrar - O Malfoy já me parece totalmente recuperado.
-Sabe, Arthur, eu esperava um pouco de apoio da sua parte, só pra variar! - ela se virou com os olhos ameaçadoramente apertados para o marido.
-Bom, meninos, o que acham de tomarmos café na Toca? - o senhor Weasley emendou antes que se tornasse o mais novo alvo da irritação de sua mulher.
Draco lançou um olhar divertido para os garotos e fez sinal para que eles fossem com o avô. Os gêmeos sorriram e desceram apressados da cama. Deram beijos rápidos na mãe antes de saírem correndo.
-Obedeçam aos seus avós! - Gina olhou carinhosa para os meninos que já estavam desaparecendo pela porta, mas rapidamente endureceu a expressão e gritou - E não coloquem fogo em nada!
-Não se preocupe, eles não vão se atrever - a senhora Weasley saiu atrás dos garotos ainda com cara de quem estuporaria o primeiro que a contestasse.
-Ela tá nervosa com tudo o que aconteceu - o senhor Weasley disse mais para si mesmo, com a voz cansada.
-Não se preocupa, pai - Gina se levantou e o abraçou - Você conhece a mamãe. Ela é exagerada, mas daqui a pouco passa.
-Ha! Olha quem fala! - Draco riu da cara de indignação dela.
-Acho melhor eu ir antes que ela amarre os gêmeos - o senhor Weasley disfarçou o sorriso diante das bochechas já rosadas da filha.
-A Mione tá com a Rach? - ela mudou de assunto antes que fosse tarde para se controlar.
-Tá sim. Vamos passar para pegá-la daqui a pouco.
-Obrigado, senhor Weasley - Draco disse sinceramente.
Gina o olhou assombrada. Com certeza vê-lo ser cortês com qualquer pessoa de sua família não era algo que ela esperava estar viva para presenciar. Apesar do susto inicial, o senhor Weasley sorriu e acenou com a cabeça. Draco definitivamente não era o homem que ele tinha sonhado para a sua filha, mas até que não era tão mal assim. Deu um leve beijo na testa da ruiva e saiu feliz.
-O que foi isso? - ela olhou espantada depois de se certificar de que seu pai não podia mais ouvir.
-O quê? - ele fez cara de desentendido enquanto voltava para sua cama.
-"Obrigado, senhor Weasley" - ela o imitou - Eu posso contar nos dedos todas as vezes que você disse um obrigado tão verdadeiro!
-Sabe, eu não te entendo - o loiro ainda a fitava divertido - Se eu ignoro a sua família, você reclama. Se eu soco os seus irmãos, você reclama. Se eu tento ser agradável com o seu pai, você também reclama! Afinal, como você quer que eu me comporte?
-Do jeito que você é! - ela disse carinhosamente se inclinando para beijá-lo.
-Ham, ham! Com licença.
O loiro revirou os olhos e ela riu. Viraram-se para ver quem acabara de chegar. A expressão de contentamento da ruiva desapareceu completamente. Ela se levantou rápida, sem graça. Dumbledore apenas sorriu bondosamente para um Draco irritado e uma Gina encabulada.
-Desculpe o incômodo, mas eu realmente preciso trocar algumas palavras com o senhor Malfoy - os pequenos olhos azuis dele cintilavam divertidos.
-Claro, claro, professor - Gina estava quase tão vermelha quanto seus cabelos - Eu vou ver se os gêmeos já foram.
Dizendo isso, ela caminhou apressada para a saída. A enfermaria estava vazia, nenhum outro paciente se encontrava ali. Dumbledore fitou Draco por alguns momentos antes de conjurar uma poltrona e se sentar. O loiro, já esquecendo da interrupção, estava intrigado com a visita, mas não deixava transparecer. Seu olhar continuava impassível.
-Creio que você deve estar um tanto quanto curioso com a minha visita, não é mesmo? - o velho professor juntou as mãos à frente do corpo.
-Um pouco - Draco mentiu.
-Antes de mais nada, Draco... Importa-se se eu chamá-lo por seu primeiro nome?
Ele apenas fez um sinal negativo com a cabeça.
-Muito bem - Dumbledore mostrou-se satisfeito - Como eu ia dizendo, antes de mais nada, gostaria de pedir que fosse muito franco nessa nossa conversa.
-Não entendo onde o senhor quer chegar - o loiro disse já parecendo impaciente.
-Há alguma coisa que você deveria me contar, Draco? - o professor não se abalou diante do tom ríspido do outro.
-O que o senhor está querendo com tudo isso? - ele tinha sim algo que deveria contar, mas não queria fazê-lo. Não mais.
-Uma vida profissional de sucesso, muito dinheiro, fixação por mulheres ruivas. Isso não lhe diz nada?
-Como... Como você pode saber? - Draco deixara sua máscara de indiferença cair e encarava Dumbledore atônito.
-Tomei a liberdade de entrar em sua mente - Dumbledore respondeu simplesmente.
-Você O QUÊ!? - o loiro não acreditava no que ouvia.
-Eu sou um bom observador, Draco. Não foi preciso muito para perceber o seu assombro durante a nossa última reunião da Ordem. Uma rápida passagem por seus pensamentos foi suficiente para constatar que você não era, de certa forma, Draco Malfoy.
-Eu, eu...
-Agora, eu gostaria muito que você se concentrasse e me explicasse tudo o que aconteceu antes de você se encontrar nessa realidade tão diferente - Dumbledore falou firmemente.
-Olha, eu já pensei muito em tudo isso, mas eu cheguei a conclusão que não vale a pena ficar voltando numa vida que, sinceramente, não parece mais ter sentido! - se recuperando do susto, ele falou com tom de quem encerra o assunto.
-Draco, escute bem - a voz dele continuava firme - Não é uma questão de valer a pena ou não, querer ou não, você PRECISA me dizer.
-Não, eu não preciso!
-Você se lembra como era o seu mundo? - Dumbledore prosseguiu como se o outro não tivesse dito nada - Você se lembra de como Voldemort e os comensais agiam?
-Eu nem poderia. O Lord das Trevas estava morto, assim como a maior parte dos comensais
-Exato! Eles não existiam mais! A Guerra já tinha terminado! Vê por que você precisa me dizer o que aconteceu? Estou certo de que tudo isso não passa de um plano de Voldemort e...
-Na verdade, um plano do meu pai - Draco deu um suspiro cansado - Ele e Bellatrix me trouxeram para esse mundo, de alguma forma.
-Draco, como Voldemort foi derrotado? - Dumbledore voltou a um tom mais sereno depois de alguns minutos de silêncio.
-Potter o fez numa batalha. Na última batalha. No fim de julho de 1999.
-Lembro-me dessa noite - ele encarou o espaço - Foi uma das mais duras que já enfrentei. Harry lutou com todas as forças, não vejo como ele poderia ter feito mais.
-Ele teve uma ajuda. Eu revelei a vocês a armadilha que o Lord tinha preparado. Vocês o surpreenderam.
O olhar de Dumbledore se iluminou. Draco sabia que era exatamente nesse ponto que ele queria chegar. Mesmo lutando contra esse pensamento, ele tinha certeza que essa fora a razão que levou Bellatrix a tirá-lo de seu mundo, do mundo onde ele tinha sido o responsável pela queda de Voldemort e pela morte de Lucio.
-Então você entende por que tem que voltar? - Dumbledore perguntou em tom de quem conclui o assunto.
-Eu não sei como fazer isso. Não sei nem como ela me trouxe!
-Meu caro, artifícios mágicos como esse nunca são perfeitos - ele encarava o loiro bondosamente - Não vê o feitiço que havia em sua casa? Lucio realizou um encantamento tão complexo para que somente aqueles que tivessem o sangue dos Malfoy pudessem entrar que simplesmente não percebeu que ao permitir a entrada de Bellatrix ele destruiu totalmente essa proteção!
-E o que isso tem a ver com o feitiço, ou seja lá o que for, que aquela louca usou em mim?
-Na verdade, eu acredito que você tenha sido o maior responsável por isso.
-Como assim? Você tá querendo dizer que eu quis vir para cá?
-Não exatamente, mas esse é o espírito da coisa. Conte-me, sem omitir nenhum detalhe, como você encontrou sua tia, o que conversaram, enfim, tudo o que aconteceu antes de você ser trazido para cá. Talvez as coisas se esclareçam mais.
-Tá bem - Draco soltou um suspiro derrotado - Foi na véspera de Natal, eu estava no Beco Diagonal. Já estava me preparando pra aparatar quando ela me impediu e me convidou para tomar chá.
-E o que você fazia sozinho, no Beco Diagonal, na véspera de Natal? - Dumbledore perguntou ignorando a cara de impaciência do loiro.
-Eu não queria ir pra casa. Não queria ficar naquela mansão enorme sozinho! - ele respondeu um tanto quanto emburrado - Então fui dar umas voltas. Olhei as vitrines, tomei alguma coisa e só.
-Sabe, tem algo que está me intrigando... - o professor tinha um meio sorriso no rosto - Se me lembro bem, você tinha horror aos Weasley e a tudo que os lembrasse, principalmente os cabelos vermelhos. De onde, então, poderia ter surgido essa quase obsessão por mulheres ruivas?
Draco sentiu seu estômago revirar. Não queria tocar nesse assunto. Por algum motivo, sentia que não seria uma boa idéia falar sobre isso. Mas, além de qualquer intuição que pudesse ter, não se sentia nem um pouco à vontade para confessar a Dumbledore que nutrira uma paixão platônica por Gina durante mais de dez anos.
-Na verdade não tem uma explicação muito racional pra...
-Draco, acho que você deveria se lembrar que eu não vou engolir nenhuma mentira ou desculpa esfarrapada - ele tinha um sorriso maroto - Não me obrigue a descobrir tudo por mim mesmo.
-Eu me apaixonei pela Gina! - o loiro falava carrancudo - Na noite da minha formatura, eu a vi no campo de quadribol e me apaixonei.
-E vocês nunca mais se viram depois disso?
-Só uma vez. Na mesma noite em que eu encontrei aquela mulher, no Beco Diagonal.
-Como eu lhe disse, meu caro, você QUIS que o seu mundo mudasse. Bellatrix também é muito boa observadora e excelente na arte de se infiltrar nos pensamentos alheios, receio. Não foi difícil para ela perceber que, apesar de aparentemente feliz, você se ressentia por não ter seguido seu coração. Ela usou essa sua vontade inconsciente de ter agido de outra forma. Sua tia não o trouxe para outra realidade, Draco. Ela MUDOU a sua realidade.
-Mas, como isso é possível? - ele encarava o antigo diretor de Hogwarts boquiaberto.
-Há algumas artimanhas mágicas que causariam espanto até mesmo aos maiores bruxos do mundo - Dumbledore falava com o mesmo tom que costumava se dirigir aos seus alunos - Mas, pode acreditar, Draco, o mais difícil de tudo isso foi descobrir o que você desejava, o que você queria ter feito diferente, o que lhe causava arrependimento. Bellatrix provavelmente o estudou muito antes de chegar a uma razão perfeita, antes de chegar a Gina Weasley.
Ficaram em silêncio. Dumbledore apenas observava o loiro. Draco estava pensativo. Sua cabeça rodava. Precisava digerir tudo aquilo. Era tão irreal, tão inusitado. Quer dizer que suas memórias dos últimos dez anos simplesmente não eram verdadeiras, não tinham acontecido? E o que ele "vivera" naquele mundo? Como poderia ter passado por tudo aquilo e não se lembrar de nada? Mas, no fundo, nada disso era relevante. A única coisa que realmente importava era que ele era feliz ali. Não porque era rico, temido, respeitado ou bem sucedido. Era feliz por um motivo que jamais imaginara que seria: porque tinha uma família.
-Professor? - ele começou receoso - O senhor sabe como desfazer tudo isso?
-Sim, Draco, eu sei - ele deu um suspiro cansado - Da mesma forma como foi feito.
-Quer dizer que... - o loiro deixou uma ponta de contentamento transparecer em sua voz.
-Que você precisa querer que isso seja desfeito.
-Mas eu não quero! - Draco disse como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo.
-Draco, escute com atenção - Dumbledore franziu o cenho - Eu sei que você está feliz. Mais do que uma paixão platônica, você esta vivendo aqui um amor de verdade, não só por Gina, mas pelos seus filhos também. Eu não o culpo, eles são maravilhosos. Mas se você os ama, se você realmente se importa com eles, você precisa voltar. Você precisa livrá-los dos horrores dessa guerra e da ameaça que o seu pai representa.
-Se eu for, eles nunca vão ter existido!
-Se você ficar, eles logo não existirão mais! - o velho professor levantou a voz por um momento, mas rapidamente voltou ao seu tom usual - Acredite no que eu digo, Draco, você não vai conseguir defendê-los. Eu tenho muito mais do que uma intuição para afirmar isso com tanta certeza.
-O que você quer dizer? - apesar do enorme esforço para se manter controlado, o medo que sentia estava presente em sua pergunta.
-Voldemort vai vencer. Nossos exércitos e, principalmente, Harry, não vão suportar por muito tempo - uma expressão cansada invadiu o rosto de Dumbledore - Sinceramente, você é minha última esperança.
Draco abriu e fechou a boca várias vezes. Não era possível! A situação parecia tão controlada! Como poderiam estar à beira de uma derrota irreversível? Como Potter iria se deixar vencer assim, sem mais nem menos? Será que ele nunca faria nada direito? Fitou o rosto do professor mais uma vez. Ele não estava mentindo, podia ver em seus olhos. Sentiu seu coração apertado. Não sabia o que fazer.
-A escolha é sua, Draco - Dumbledore se levantou e fez a poltrona desaparecer - O que depende de mim neste encantamento já estará pronto até hoje à noite, mas é você quem decide. Pense bem.
Fitou o teto enquanto o velho professor deixava a enfermaria. Estava tão feliz! Queria tanto continuar ali, com aquela mulher, com aquelas crianças, com aquela família. Ele não era altruísta! E daí que o Lord das Trevas vencesse? Que o mundo todo explodisse, ele não se importava!
Viu que Gina vinha em sua direção. Ela sorria. Da mesma forma espontânea e verdadeira que seus filhos sorriam. Sentiu uma profunda tristeza. É, ele não era altruísta, ele não se importava com os outros. Mas ela não era os outros, seus filhos não eram os outros. E ele se importava com eles, mas do que consigo mesmo.
-Gina, eu quero ir pra casa - ele disse num fio de voz quando ela veio ajeitar seus travesseiros.
-Eu sei, meu amor - ela aproximou seu rosto do dele - Em alguns dias você vai estar...
-Não! - ele foi um pouco ríspido, mas continuou mais leve - Eu quero ir embora agora.
-Mas, Draco você ainda...
-Não, Gina - ele continuou irredutível - Eu já tô ótimo. Eu só preciso ir pra casa. Você pode cuidar de mim lá mesmo.
-Draco... - ela mordia o lábio inferior nervosamente.
-Eu quero passar a virada do ano com vocês - o loiro a fitou suplicante - Me tira daqui.
-Tá bem! - ela se deu por vencida - Fica aqui quietinho enquanto eu vou pedir pro médi-bruxo que tá cuidando de você te dar alta. .................................................................................................................................................................................................
Estava anoitecendo. O carro do Ministério da Magia estacionou. Estava impaciente. Parecia que tinha saído do hospital há horas. Queria chegar em sua casa logo. Não agüentava mais a mãe de Gina lhe tratando como se ele estivesse à beira da morte.
O senhor Weasley desceu e abriu a porta do banco de trás. Gina saiu e se voltou para o marido. A senhora Weasley, que tinha dado a volta no carro e agora estava ao lado da filha, segurou Draco por um dos braços enquanto ele se levantava. O loiro revirou os olhos.
-Arthur, venha ajudar o Draco! - ela ainda estava um tanto quanto irritada.
-Já estou indo, Molly - ele se aproximou enquanto o carro partia - Estava pedindo ao motorista para que agradecesse a Dumbledore pelo carro.
-Muito bem, mas agora nos ajude aqui.
-Eu sinceramente não acho que preciso ser carregado! - o loiro falava irritado.
-Desista, Draco. Não vamos deixar você ir sozinho até a porta.
Gina ria da cara de indignação do marido, mas seu sorriso desapareceu. Já estavam quase no meio do jardim quando ouviram um grito e o som de algo se quebrando. O senhor Weasley disparou em direção a entrada da casa. As duas mulheres o seguiram, esquecendo-se totalmente do "doente". Draco sentiu sua garganta apertada. Correu (ele realmente já estava bem) para a porta já aberta.
O loiro não conseguiu reprimir a expressão de espanto ao olhar para dentro de sua casa. Fred estava em pé no meio da escada e rebatia uma bolinha peluda que Gabriel acabara de lhe atirar com um bastão de batedor. Michael, atrás do tio, estava pendurado no corrimão tentando alcançar outra bolinha que quicava cada vez mais alto. Jorge, ao lado de Gabriel no primeiro degrau, se concentrava na tarefa de acertar Fred. Hermione, totalmente atrapalhada, segurava Rachel nos braços enquanto tentava livrar Rony de uma das bolinhas que insistia em enfiar a língua no nariz do bruxo. Um choro estridente vinha da sala.
O senhor Weasley correu até o lado da escada e pegou Michael nos braços quando este perdeu o equilíbrio e caiu de onde estava pendurado. Gina apressou-se para segurar um vaso que quase se espatifou no chão quando Gabriel esbarrou nele. A senhora Weasley se colocou entre Jorge e Fred e começou a gritar com eles. Draco foi acudir a filha, que estava praticamente pendurada nos braços de Hermione.
-Me dá ela aqui, Granger.
-Ah, toma, Malfoy - ela estava ocupada demais debruçada sobre o marido, que agora estava caído no chão com a bolinha peluda grudada no rosto.
Rachel passou para o colo do pai enquanto olhava curiosa a bagunça a sua volta. Quando percebeu quem a segurava, a ruivinha bateu as mãozinhas e sorriu. Draco se derreteu diante dos olhinhos brilhantes da pequena.
-Você viu como essa família é louca? - ele riu e desviou o rosto dos dedinhos que tentavam alcançar seu nariz.
-Pa-pa...
-Eu também tava com saudade de você...
Ignorando o verdadeiro campo de batalha que o hall de sua casa tinha se tornado, Draco seguiu para sala com a ruivinha nos braços. Quando entrou no cômodo, tomou consciência do choro sentido que ouvia. Sobre o sofá, esperneando, ele viu um bebê ruivo. O loiro voltou até a porta.
-Hei, tem um garoto esgoelando aqui!
-Meu Deus! Richard! - Hermione jogou uma das bolinhas para cima e pisou em Rony enquanto tentava desesperadamente chegar à sala.
-Ai, Mione!
-Rony, será que você pode levantar daí e nos ajudar a pegar esse malditos pufosos? - Gina parou vermelha e suada diante do irmão.
-Tirem esses bichos daqui! - a senhora Weasley gritou para Fred e Jorge. Bufando, Draco encarou uma Rachel divertida em seus braços. Decidiu levá-la para o escritório antes que alguma daquelas coisinhas peludas os acertasse. Entrou no cômodo e se sentou com a pequena no tapete. Estavam ali há poucos minutos quando dois loirinhos vermelhos e ofegantes entraram e bateram a porta.
-Você viu a cara da vovó? - um deles disse enquanto recuperava o ar.
-Cara, eu pensei que ela fosse transformar o tio Jorge numa lesma quando ele acertou um pufoso na cara do tio Rony de novo!
-Vocês não têm jeito...
Os garotos levaram um susto. Não tinham percebido que o pai estava ali também, estavam preocupados demais em se esconder antes que a bronca da senhora Weasley sobrasse para eles. Deram sorrisinhos amarelos e foram até Draco.
-Oi, pai. Que bom que você já tá em casa! - Gabriel se sentou de frente para ele.
-A gente pensou que você fosse ficar essa noite no hospital... - Michael se juntou ao irmão.
-E então aproveitaram pra jogar quadribol dentro de casa, não é? - ele tentava parecer irritado apesar da imensa vontade de rir - O que eram aquelas coisas peludas?
-Os nossos pufosos, pai! Não lembra que ganhamos de aniversário?
-E os pufosos do Tio Fred e do tio Jorge. Eles trouxeram pra ajudar a gente a treinar.
-É, mas de que adianta treinar se a gente nem pode voar com as nossas vassouras? - Michael olhou indignado para o pai.
Não conseguindo se segurar mais, Draco desatou a rir. Os meninos olhavam intrigados para ele enquanto Rachel estendia os bracinhos querendo colo. Ainda gargalhando, o loiro colocou a pequena sobre suas pernas e se voltou para os gêmeos.
-Vocês não existem! - ele recuperava o fôlego - Esperem até a mãe de vocês terminar de pegar aqueles bichos! Depois dessa vocês só vão voar de novo quando forem maiores de idade.
Os meninos se olharam decepcionados. Michael abaixou os olhos e começou a cutucar o tapete. Gabriel soltou um muxoxo enquanto mexia nas unhas. Draco, ainda com um meio sorriso, observou os garotos. Eram bons meninos, apesar da incrível capacidade de enlouquecer até a pessoa mais paciente e controlada do mundo. Podiam fazer até mesmo Dumbledore arrancar a barba de raiva. Dumbledore. Lembrou-se da conversa com o velho professor. Seu rosto se entristeceu ao pensar que não importava qual decisão tomasse, seus filhos nunca chegariam à maioridade, nunca seriam os grandes jogadores de quadribol que queriam ser.
-Hei, que tristeza é essa? - ele tentou afastar esses pensamentos voltando a sorrir para os loirinhos - Esqueceram que no fim das contas eu sempre consigo dobrar a fera?
Abrindo imensos sorrisos luminosos, os gêmeos se jogaram nos braços do pai, ignorando totalmente a irmã. A pequena, amassada entre os três, pôs-se a chorar. Draco afastou os meninos e fingiu que não viu a cara de impaciência de Michael. Ergueu Rachel no ar, que ainda soluçava.
-Você é realmente muito parecida com a sua mãe, sabia? - a ruivinha já começava a rir de novo - É tão ciumenta quanto ela! .................................................................................................................................................................................................
-Já foram embora? - Draco estava parado na porta da sala com a bebê nos braços.
-Foram - Gina, sentada no sofá, parecia exausta - Mamãe precisa terminar a ceia. Todos vão passar a virada do ano na Toca.
-Você e as crianças poderiam ir - ele acabara de se sentar ao lado dela.
-Como se eu fosse te deixar sozinho! - ela se endireitou e o encarou incrédula - Draco, nossos filhos e eu queremos ficar com você!
-Eu sei - o loiro sorriu - Só falei isso pra escutar o quanto vocês preferem a mim ao invés daquele exercito de cabelos vermelhos que você chama de família.
-Bobo! - ela se aproximou e depositou um beijo em seus lábios - Te amo, sabia?
-Sabia - ele sorriu maliciosamente - Então, será que as crianças vão demorar muito pra dormir?
-Draco! - ela lhe deu um leve tapa no braço dele - Você acabou de sair do hospital!
-Quer que eu mostre como já tô totalmente curado?
Apesar dos protestos da ruiva, ele pôs-se a beijar seu pescoço. Não durou muito, no entanto. Rachel, que até então estava muito interessada em rasgar um pedaço de pergaminho que encontrara no escritório, ameaçou começar a chorar. Draco olhou impaciente para a pequena em seu colo.
-Se você não notou ainda, eu não sou sua propriedade! Vai com a sua mãe. Gina, que apenas ria, esticou as mãos para pegar a filha, mas esta "protestou veementemente" ao sair do colo do pai. A ruiva devolveu a pequena para o marido enquanto abria um sorriso cada vez maior.
-Parece que ela só quer você...
-Ai, Deus! - o loiro segurou Rachel diante de seu rosto - Larga do meu pé, coisinha mimada!
-Não se esqueça de que você é o maior responsável por isso, "senhor Irresistível". Draco voltou a sentar a pequena sobre suas pernas e bufou. Na verdade, ele apenas fingia irritação. Gostava de se sentir assim, gostava de ser importante para aquelas pessoas. Lembrou-se de como Gina e as crianças também eram importantes para ele. Por mais impossível que parecesse, ele tinha que admitir que estava irremediavelmente apaixonado por aquela família.
-Mamãe? - uma cabecinha loira surgiu na porta.
-Tudo bem? - mais uma cabecinha loira apareceu do outro lado do batente.
-Vocês não disseram que iam dormir? - Draco se virou para os meninos ignorando a cara de poucos amigos da mulher.
-É que a gente tá sem sono - Michael entrou ressabiado coçando a nunca.
-A gente quer ficar acordado até o Ano Novo chegar - Gabriel completou. Draco trocou um olhar com Gina, que estava começando a ficar vermelha. Fez cara de cachorro sem dono, pedindo silenciosamente que ela cedesse. Bufando, a ruiva revirou os olhos e deu-se por vencida.
-Tá bom, vocês podem ficar aqui!
Os gêmeos sorriram e correram para abraçar a mãe. Com um movimento de varinha, Draco afastou a mesinha de centro e se sentou no tapete com os filhos e a mulher. Ele não costumava fazer isso. Onde já se viu? Um Malfoy sentar no tapete! Mas, ali, rodeado por aquelas pessoas, ele pensava que nem na poltrona mais confortável do mundo estaria se sentindo tão bem quanto se sentia agora.
Conversaram por um longo tempo. Os garotos contavam suas últimas travessuras na Toca e riam muito alto. Gina se fingia de brava, mas sempre acabava deixando escapar um sorriso reprimido. Draco participava divertido da conversa, só desviando-se do assunto quando Rachel exigia sua atenção. Ele não pôde deixar de notar que toda vez que isso acontecia Michael revirava os olhos exatamente como a mãe. Gabriel, por sua vez, dava de ombros e falava mais alto para abafar os ruídos da irmã.
A meia-noite chegou sem que eles percebessem como o tempo passara rápido. Escutaram os fogos. Os meninos começaram a pular e gritar. Rachel olhou assustada para os lados e agarrou o braço do pai. Gina enlaçou o pescoço de Draco e o beijou carinhosamente em meio a um "feliz Ano Novo". Não havia festa, não havia roupas elegantes, não havia banquete, mas mesmo assim era a melhor virada de ano da vida dele.
Quase uma hora depois, a bebê já estava adormecida no colo da mãe e os gêmeos já começavam a bocejar. Decidindo que já tinha cedido demais, Gina se levantou e mandou os meninos para a cama. Apesar dos resmungos, os garotos seguiram para o quarto enquanto Gina levava a filha para o berço.
Draco ficou ali na sala e perdeu a noção do tempo absorto em seus pensamentos. Olhou a sua volta e sentiu a angustia invadir seu peito. Não sabia o que fazer. Tinha que tomar uma decisão. Ficar e fazê-los sofrer ou ir e não permitir que eles existissem? Soltou um suspiro cansado. Já estava saindo do cômodo quando seus olhos se desviaram para os retratos que ali estavam. Aproximou-se e observou-os mais uma vez. Sorriu tristemente ao encarar os gêmeos aprendendo a andar, Rachel recém-nascida, Gina de trancinhas gargalhando com um balde vazio na mão. Deus, o que faria?
Subiu as escadas lentamente. Entrou no quarto dos garotos. Quase caiu quando tropeçou em um dos brinquedos espalhados pelo chão. Michael estava profundamente adormecido, a boca entreaberta. Draco sorriu e deu um beijo em sua testa. Voltou-se para a cama de Gabriel e abaixou-se para ficar na mesma altura que o rosto do menino. Mexendo-se um pouco, o loirinho abriu os olhos.
-Papai? Que foi?
-Nada, só tô um pouco sem sono - ele forçou um sorriso.
-Hum... - Gabriel se aconchegou no travesseiro e voltou a fechar os olhos - Boa noite, pai.
-Boa noite, meu filho - Draco saiu e fechou a porta.
Seguiu para o outro quarto. Rachel estava deitada de barriga para cima, o rostinho rosado virado para o lado. Ficou observando a pequena dormir tranqüilamente. Acariciou sua bochecha fofa com cuidado para não acordá-la. Apesar da imensa vontade de ficar ali, vendo a bebê sorrir involuntariamente em meio a sonhos, ele se forçou a sair e deixá-la descansar em paz.
Entrou devagar e viu que Gina estava adormecida. O rosto sereno emoldurado pelas mechas vermelhas aneladas lhe dava uma aparência angelical. Cuidadosamente, ele se deitou ao lado dela. Escutava a respiração leve da ruiva, o peito subindo e descendo calmamente. Como poderia suportar vê-la sofrer? Como poderia viver se alguma coisa de ruim acontecesse a ela? Ele seria o único culpado, sabia disso. Não queria ir, ele tinha dito a ela que não iria. Queria apenas continuar ali, zelando pelo sono daquela mulher que ele amava mais do que jamais sonhara que seria possível amar. Mas ele não podia. Para ele a felicidade sempre estava proibida, de alguma forma.
Passou os dedos suavemente pelo queixo dela. Queria decorar cada parte daquela face, cada sarda, cada traço do rosto de Gina. Não queria se esquecer de nada. Não, não se esqueceria. Mesmo que tentasse com todas as forças, ela nunca sairia da sua memória, como não saíra depois que ele a vira na noite de sua formatura. A diferença é que agora ela era mais que real. Precisava dela, sabia disso. Mas mais que qualquer coisa, precisava dela bem, feliz. Iria deixá-la. Não porque era covarde, porque tinha medo do que teria que enfrentar naquele mundo em que as ameaças à sua vida vinham de todos os lados, mas porque não tinha o direito de fazê-la chorar mais uma vez. Iria deixá-la porque queria que ela vivesse, mesmo que longe dele, mesmo que como outra Gina.
N/A: E aí, galera, tudo blz?Bom, eu demorei quase uma semana pra atualizar, mas esse capitulo ficou pronto há mais de três dias. O problema é q eu naum tinha colocado as notas nem terminado de formatar. Tipo, eh carnaval, galera! Eu tô tentando aproveitar ao máximo a minha família e o meu namorado antes de voltar pra Sampa pro começo das minhas aulas. Vcs me perdoam?
N/A 2: Tá aí, todas as explicações q faltavam. Acho q agora ficou tudo mais claro. De qualquer forma, se tiver ficado alguma dúvida ainda, podem me escrever q eu vou ter prazer em explicar. Um aviso: quem curte momentos fluffy, vai se deliciar com o próximo capitulo. Eu ainda naum tenho certeza se vou realmente fazer isso, mas provavelmente vai ser em forma de song ou pelo menos com vários trechos de uma música q eu acho linda (mas eu naum vou falar qual eh, vcs vão ter q esperar pra saber!). Ah, os versos q a Gina canta pro Draco no começo desse capitulo saum de uma musica chamada "Angel", do Gavin Friday e q faz parte da trilha sonora do filme "Romeu e Julieta". O ritmo dela naum eh muito lento, mas esse trechinho da letra se encaixa certinho com os dois, naum acham?
N/A 3: Ei, onde taum os comentários, gente? Poxa, achei q vcs ia me escrever pra falar o q acharam da revelação da identidade da senhora Katherine O`Conell! O capitulo ficou taum previsível assim? Ah, galera, parem de ser preguiçosos e me deixem uma review! Façam uma autora viciada em comments feliz! HEHEHEHEHE!!!!! Bom, tô esperando e resposta de vcs pra postar o capitulo 12, blz? Beijinhos...
