Capítulo 8 – Rede de Complicações
- Não acredito nisto! Estas porcarias trouxas!
Ele deu um chute na parede do elevador.
- Não faz isso! E se o elevador despenca!?
Draco bufou.
- Droga, o que mais falta acontecer?
Ouviram um barulho engraçado.
E as luzes de repente se apagaram.
- Merda! Isto não está acontecendo!
- Calma. Está vendo isto? É um interfone. Agora nós o pegamos, ligamos para a recepção e vemos o que aconteceu.
Ela pegou o fone e o colocou no ouvido. Ficou assim por alguns segundos. Então o colocou no gancho.
- Se funcionasse poderíamos fazer isso... – ela disse, mordendo o lábio inferior.
A ruiva respirou fundo. Escorregou até o chão, onde se sentou.
Draco enfiou sua mão dentro do paletó e tirou de lá sua varinha.
- Lumos.
- Você tem plena consciência de que isso é errado, não tem? – perguntou Gina, a luz da varinha dando mais vida aos seus cabelos flamejantes.
Draco bufou novamente.
- E porquê, Senhora Politicamente-Correta?
- Não comece, Malfoy. Você sabe que não podemos fazer mágica no hotel.
Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, ele de pé com as costas apoiadas na parede e braços cruzados na altura do peito, enquanto ela estava sentada no chão e com os braços em volta dos joelhos, segurando-os perto de si.
Então ele escorregou seu corpo até ao chão também.
Silêncio.
- Sabe, eu tenho nome – ele murmurou olhando para o chão.
Gina levantou a cabeça para olhar para ele. Como ela não disse nada, ele também levantou a cabeça para encará-la e continuou.
- Não gosto de Malfoy, me traz más lembranças. Se pudesse mudava meu sobrenome.
A ruiva continuou encarando-o, surpresa.
- Por que está me dizendo isso?
Ele ignorou a pergunta e continuou como se ela não tivesse dito nada.
- Às vezes penso que não merecia ser um Malfoy. Prender o meu próprio pai? Que tipo de pessoa faria isso? Mas aí eu me pego respondendo... "Um Malfoy".
Gina se mexeu no chão duro, desconfortável com o que havia ouvido. Queria falar algo sobre isso, mas não sabia o quê, ou como.
- Malfoy...
- Draco.
- O.k., Draco – ela olhou para o chão. – Olha, você fez a coisa certa prendendo seu pai. Eu sei que era seu pai, você o amava, mas...
- Não – ele interrompeu. – Eu não o amava. Não amo ninguém.
- Nem nunca amou?
Dessa vez ele olhou bem fundo nos olhos dela. Sabia o que ela queria dizer com aquilo. Se ele não a amara, se era mentira o que ele dizia quando namoravam.
Na verdade nem ele mesmo sabia. Vendo aquela ruiva em sua frente, sabendo de tudo o que já haviam feito e passado juntos, é claro que ele sentia alguma coisa. Só não sabia se era amor. Estava confuso, afinal foram cinco anos! Sabia que ela ainda significava muito para ele, mas não entendia muito sobre isso.
- Não, nunca amei ninguém.
A face dela estava carregada de sentimentos naquela hora, sentimentos difíceis de distingüir, mas se você olhasse bem veria que seus olhos estavam intensamente brilhantes e tristes. Ele sabia que a havia machucado.
- Mas se quer saber – ele acrescentou, - você foi a pessoa que eu cheguei mais perto de amar na minha vida.
Ela sabia que as lágrimas agora estavam lutando com toda força para sair de seus olhos. Era quase impossível segurá-las.
Uma lágrima escorreu de um de seus grandes olhos.
- Mas eu te amei. Te amei muito, Draco.
Mais lágrimas caíram de seus olhos, enquanto ela tentava limpá-las.
Ótimo, realmente ótimo! Era o que ele temia. Era uma das raras situações em que ele não sabia o que fazer. Odiava mulheres chorando, consolá-las realmente não era seu forte.
Mas então, aquela mulher à sua frente não era uma qualquer. Era uma pessoa muito especial para ele, mesmo que odiasse admitir.
Ele foi gatinhando até seu lado, onde se sentou. Tentou limpar uma lágrima teimosa em seu rosto, mas ela virou a face.
- Olha, Virgínia... Gina... você tem que entender que meus sentimentos não são iguais aos seus. Eu não sou capaz de amar...
- Ora, não seja estúpido – ela interrompeu amargamente, virando-se de novo para ele. – Qualquer um é capaz de amar. É a melhor coisa que uma pessoa pode fazer.
Ele ficou em silêncio por um tempo, fitando o chão. Então levantou a cabeça, ainda sem olhá-la.
- Minha vida não tem coisas boas, então não teria uma melhor, não é?
Gina, que já tinha parado de chorar, deu uma leve fungada, olhando-o fixamente.
- Não seja dramático. Na vida de todo o mundo tem que ter uma coisa boa.
- Bem, na minha não tem – retrucou amargamente.
Silêncio de novo.
Quando ela havia aberto a boca para falar alguma coisa, ele interrompeu.
- Tinha. Não tem mais.
Ele voltou a encará-la.
Ficaram assim por segundos, até que ela interrompeu o silêncio.
- E essa coisa seria... ?
Ela até tentou aparentar desinteresse, mas seu coração batia descompassadamente. No fundo, ela sabia a resposta, mas precisava ouvir dos lábios dele.
- Você – ele disse numa voz muito baixa e rouca, mas firme.
Ele podia ouvir o coração dela batendo muito rápido. Mas o dele próprio também estava assim.
- Draco, eu... – ele a interrompeu calmamente, colocando o dedo indicador em seus lábios.
Sua respiração estava pesada, ele podia sentí-la em sua face. Mas a dele também estava.
Ele chegou mais perto. Então seus olhos foram dos olhos para a boca dela. Seus lábios estavam entreabertos e o lábio inferior tremia.
Quando ele voltou os olhos para os dela, viu que estavam fechados. Levou a mão ao seu pescoço, puxando-o levemente para si. Fechou os olhos, a varinha acesa já esquecida no chão.
Podia sentir seus lábios tremendo, seu corpo inteiro tremendo.
Seus lábios finos e frios tocaram os quentes dela, ele abriu levemente a boca...
Mas então a luz piscou. Acendeu, finalmente.
Gina soltou-se dele e abriu os olhos, parecendo alarmada.
O elevador deu um tranco e começou a subir.
A ruiva levantou-se sobressaltada, encarando a porta.
Draco pegou a varinha do chão. Murmurou "Nox" e guardou-a, xingando mentalmente todos os deuses possíveis por sua falta de sorte.
O elevador logo chegou, com outro tranco. A porta se abriu, dando diretamente para o quarto.
***
- Não, tudo bem, foi por pouco tempo. Não, eu entendo, sem problemas. Sim, obrigada.
Gina colocou o telefone no gancho.
Ela havia ligado para a recepção. Lhe disseram que havia dado um problema no sistema elétrico central e que os geradores haviam falhado, mas que tudo estava resolvido.
Ela pegou sua xícara com chá de cima da mesa e sentou-se no sofá.
Na televisão passava o que ela achava ser algum tipo de seriado.
Assistia a um muito bom em seu apartamento em Londres, mas nos Estados Unidos a programação era totalmente diferente.
Ela não estava entendendo nada, mas isso não tinha importância. Ela faria tudo para não ter que olhar para o loiro na poltrona ao lado lendo uma revista qualquer.
- O que disseram? - Ele perguntou sem tirar os olhos da revista.
- Que o sistema elétrico central falhou.
Levou a xícara à sua boca e tomou um pouco do chá.
O loiro levantou os olhos da revista e olhou para ela, mas ela continuou na mesma posição.
- Desprevenidos, esses sangue-ruins.
Ela afirmou levemente com a cabeça, mal percebendo o "sangue-ruins" que ela tanto odiava ouvir, ainda com os olhos na televisão.
Estava tensa. Insegura. Não tinha entendido muito bem o que havia acontecido. Num momento ele falava que nunca a amara, no outro falava que ela havia sido a única coisa boa em sua vida. Ele parecia muito confuso sobre seus sentimentos.
Não que ela não estivesse sobre os dela. Lhe parecia uma rede de complicações e confusões. Tudo era muito incerto.
Então começou a tocar uma musiquinha triste, indicando o fim do seriado.
- Vai assistir alguma coisa? – ela perguntou.
- Não.
Ela desligou a TV pelo controle remoto e se levantou. Deixou a xícara em cima da mesa e já ia para o quarto quando ele agarrou levemente seu braço.
- Espera.
Ela olhou primeiramente para a mão dele em seu braço, então levantou os olhos e encarou-o.
O quê?- Foi verdade o que eu disse.
- Qual parte?
- Todas.
Ela deu um fraco sorriso.
- Que bom.
Como ele não disse mais nada, ela virou-se para o quarto.
- Boa noite.
Ele não respondeu.
Quando ela fechou a porta do quarto, lágrimas começaram a cair de seus olhos de novo. Mas ela não fez nada para pará-las dessa vez.
Não sabia o que pensar, ou o que fazer. Queria beijá-lo mais do que tudo, queria fingir que nada tinha acontecido, que ainda namoravam. Mas era impossível.
Tirou sua roupa e colocou uma camisola de seda. Soltou os cabelos vermelhos.
Então o que havia acontecido na reunião voltou à sua mente. Ela havia se esquecido disso no tempo em que ficaram no elevador.
Havia sido assustador para ela. Por mais corajosa e madura que tivesse se tornado, se sentia vulnerável e fraca de vez em quando. E essa havia sido uma das vezes.
Ela morria de medo de que eles descobrissem quem eles eram realmente e que os matassem, ou pior, torturassem até a morte.
Ela não tinha medo de morrer, mas não queria falhar em seu primeiro trabalho realmente sério. E sabia que faria falta para sua família. Sabia que eles a amavam.
Lavou seu rosto e foi direto para a cama.
Mas não conseguiu dormir. Tudo ainda estava bem gravado em sua mente, muito fresco.
Em um só dia tinha praticado intensamente as maldições imperdoáveis, havia conhecido um homem assustador, tinha visto um homem morrer à sua frente, e havia quase beijado Draco num elevador. Era demais para sua cabeça.
Mesmo assim, ficou por um tempo na cama de olhos fechados tentando esquecer. Uns trinta minutos, calculou.
Então finalmente, não agüentando mais, levantou-se.
Abriu a porta do quarto e olhou para o sofá, esperando encontrar Draco adormecido, mas ele não estava lá.
Ela franziu o cenho. Andou até ao meio da sala e olhou para todos os lados, mas não viu sinal dele.
Já ia abrir a porta para ver se ele estava lá fora quando as cortinas lhe chamaram a atenção. Estavam se movendo de um lado para outro, como se tivesse uma janela aberta atrás delas.
Logo Gina lembrou que tinha uma varanda. Como podia ter se esquecido?! Andou até ela.
Lá estava ele, a cabeça apoiada nas mãos e olhando para baixo.
- O que você está fazendo aqui? – ela perguntou ainda encostada na porta.
Ele virou-se rapidamente.
- Eu é que te pergunto.
Ela suspirou.
- Não conseguia dormir.
Ele franziu o cenho.
- Sua vez – ela disse.
Ele deu um sorriso fraco e um tanto quanto cínico.
- Nunca consigo dormir.
Ela andou até mais perto dele, o vento batendo em seus cabelos e em sua camisola.
Ele não pôde evitar de notar as vestes curtas dela, mas tentava olhar em sua face.
- Sabe, eu estava pensando...
Ela não continuou a frase, ao invés disso chegou ainda mais perto e levantou a manga da blusa dele até onde estava a Marca Negra. Passou dois dedos levemente sobre ela.
O loiro fechou os olhos momentaneamente. Então os abriu de novo, sentindo o olhar dela sobre ele.
- Dói?
- Não mais. Agora passou.
Ele pôde sentir ela estremecer.
- E não tem jeito de tirar depois?
Ele negou com a cabeça.
A ruiva sentiu uma lágrima cair sobre seu rosto.
- O que foi? – ele perguntou assustado pela mudança.
- É que, você vai ficar para sempre com isso. E você não deveria, não merece. Tudo para tentar mais uma vez matar aquele desgraçado.
Ele levou sua mão à sua face e limpou a lágrima.
Ela sorriu fracamente.
- Não tem problema. Vale o sacrifício.
Ela tirou sua mão do braço dele e a levou ao pescoço do loiro, puxando-o. Levou sua boca à dele, enquanto ele colocava suas mãos na cintura dela.
A ruiva abriu a boca levemente, deixando que ele colocasse sua língua dentro.
Ele a empurrou até se encostarem na parede e continuou a beijando. Ele podia sentir a língua dela na dele, suas mãos em seu pescoço. Sentia tudo o que queria sentir há tanto tempo.
Se beijavam como se, de repente, nada havia acontecido e estavam ainda namorando, como em Hogwarts. Como se nada importasse.
E nada importava. Não agora.
N/A: Finalmente! Bom, esse capítulo foi bem cute, mas outros desse tipo não serão muito comuns, então aproveitem ele, deixem muitos reviews e façam uma garota carente e com bloqueio feliz! E aos que mandaram reviews, vocês fizeram da minha vida menos dramática e depressiva, muito obrigada!!
Reviews, pleasee!
