DE VOLTA À CAPELA

CAPÍTULO 8 - DE VOLTA ÀS AULAS

Era primeiro dia de aula e Alex Mancini procurava sua sala. Havia se matriculado nas mesmas aulas dos supostos garotos bullies que havia investigado no Ginásio Taylor naquela última semana. Atrasado, sorriu ao descobrir que sua primeira aula seria de língua inglesa, com a professora substituta, Judith Hoffs. Espiou pela janela da porta da sala e entrou, calmamente, carregando alguns livros e procurou um lugar vazio para sentar, enquanto Hoffs e os demais alunos o observavam.

"Sempre chega atrasado, senhor...?", perguntou Hoffs.

"Throt", disse ele, "Alex Throt".

"Muito bem, senhor Throt", corrigiu ela, "sempre chega atrasado em plena segunda-feira?"

"Sou aluno novo", respondeu ele, sentando-se ao lado de uma garota loira, que lhe sorriu. "É meu primeiro dia e estava procurando pela sala".

"Então, que não se repita", disse ela, então, voltando à leitura de um texto.

Alex se virou para retribuir o sorriso da garota loira, e ao lado dela, viu um sujeito grande que parecia não ter gostado, de modo que ele se voltou imediatamente para os livros que estavam à sua frente e deu uma olhada na mesa do vizinho do outro lado, para ver em que página estavam.

...

Numa outra sala do Ginásio Taylor, Daniel Lachance assistia uma aula de história geral, na mesma turma que Carl Whitfield, irmão da vítima, Clarence Whitfield. O garoto sentava do outro lado da sala e parecia muito isolado. Não participava da aula e parecia completamente alheio à lição. A professora, uma senhora de meia idade e cabelos grisalhos, parecia não se importar, talvez pelo trauma que o garoto estava vivendo, com a perda do irmão.

De repente, quando Lachance começava a se concentrar nos comentários da professora sobre a Guerra Civil Espanhola, percebeu que alguns alunos estava agitados no fndo da sala. Virou-se e só pôde ser um bilhete que era passado de mão em mão, até chegar a Carl. Ele abriu o bilhete, leu-o brevemente e olhando com muita fúria para trás, amassou-o e jogou-o ao chão. Depois, levantou-se, pegou seus livros e saiu da sala, interrompendo a aula, mas sem os protestos da professora. Poucos instanets depois, o sino tocou e todos se levantaram. Mais do que depressa, Lachance caminhou na direção contrária dos colegas que saíam da sala, e fingiu uma conversa com a professora, dizendo como estava interessado em saber mais sobre os conflitos na Espanha do século XIX, olhando para o bilhete amassado jogado ao chão, próximo do lugar em que Carl se sentava.

A professora, muito satisfeita, deu-lhe uma explicação, e quando todos saíram, inclusive a professora, Lachance, que a acompanhou até o corredor, disse ter esquecido um livro na sala e voltou. Caminhou apressado na direção da mesa de Carl e pegou o bilhete amassado ao chão: "Esquisito. Vai acabar como o idiota do seu irmão!", dizia o bilhete.

...

"Este era o Clarence", disse Nancy Whitfield, mostrando à Lisa uma fotografia do filho num churrasco em família. "Era um garoto adorável", completou.

"Tenho certeza disso, Sra. Whitfield", disse ela, concordando.

"Fiquei muito feliz quando o seu capitão me ligou ontem", disse, então, ela, depois de colocar o prota-retratos no lugar em que estava, sobre uma bancada perto da porta, e mostrando a Lisa o caminho para o quarto de Clarence, enquanto subiam as escadas.

"Ele falou a senhora?", perguntou Lisa, surpresa.

"Foi muito gentil", disse a mulher. "Fez algumas perguntas e disse que estava investigando o caso. A princípio, não acreditei, pois já houve outros casos parecidos e a polícia nunca deu importância, até que eu recebi seu telefonema hoje cedo, perguntando se podia vir dar uma olhada no computador do Clarence".

"Sra. Whitfield, não é porque a polícia pareceu não dar importância, que não quria resolver os outros casos", explicou Lisa, um pouco ofendida com o comentário de descaso.

"Tudo bem", disse ela, com um sorriso amargo. "São filhinhos de papai, mesmo. Nunca vão pagar pelo que fizeram com meu filho..."

Lisa ficou quieta, pensando no comentário.

"Sabe quem pode ter feito aquilo com seu filho?", perguntou, então.

"Se soubesse, nem sei o que eu já poderia ter feito...", insinuou ela.

Minutos depois, sozinha, no quarto de Clarence, Lisa deu uma boa olhaa por tudo. Era um quarto de rapaz bastante comum. Não teve irmãos para saber, mas teve muitos namorados. Havia posters de times de futebol e bandas de rock pelas paredes. A cama estava bem arrumada e, na mesa em que ficava o computador, haviam mais alguns retratos de Clarence. Lisa se aproximou e ficou olhando-os por uns instantes. Era um garoto que tinha a vida inteira pela frente, pensou, emocionada. Sentou-se à sua mesa e ligou o computador, e não descansaria até descobrir alguma coisa sobre os e-mails.

...

"Você veio de onde?", perguntou a garota loira que guardava suas coisas no armário ao lado do de Alex. Tinha os cabelos bem ajeitados atrás das orelhas que exibiam um belo e delicado par de brincos em ouro. A garota não devia ter mais de quinze anos.

"Do Ginásio McKenzie", respondeu ele, sorrindo e olhando à volta, para ver o garoto grande que o havia encarado durante a aula não estava por perto.

"Meu nome é Kelly", disse ela, sorridente.

"Oi, Kelly", cumprimentou ele, retribuindo o sorriso. "E o grandalhão que estava ao seu lado?", perguntou, então.

"O Bud?", perguntou ela, um pouco sem jeito. "Ele é meu namorado", respondeu. "Mas estamos sempre terminando e voltando. Sabe como é".

Claro que Alex sabia e, por um instante, ficou pensando o que seu colega Chip estaria fazendo, naquele exato instante, no Segundo Distrito Policial. Provavelmente, atendendo ocorrências. E, certamente, jamais imaginaria que o melhor amigo dele estava disfarçado de aluno ginasial e falando com uma garota bonita e simpática que, anos antes, jamais lhes daria atenção.

"Posso pergunta uma coisa, Kelly?"

"Claro", respondeu ela, animada, provavelmente, esperando um convite para sair ou algo do gênero.

"Eu andei ouvindo umas estórias antes de vir para cá", disse ele, sorrindo, meio que sem saber como entrar no assunto, mas acreditando que aquela garota, na tentativa de se aproximar dele, podia contar alguma coisa: "É verdade que um garoto foi encontrado morto no vestiário?"

Kelly sorriu, visivelmente decepcionada:

"Ninguém quer falar disso", disse ela. "Mas aconteceu", respondeu.

"Sério?", indagou ele, mostrando-se surpreso. "E como foi isso?"

"Olha, faça um favor a si mesmo: esqueça esse assunto", disse ela, dando- lhe as costas.

Insistente, Alex a seguiu pelo corredor:

"O quê foi que eu disse?", perguntou ele, tentando chamar sua atenção, até ver o tal Bud vindo na sua direção.

"Sai fora, seu babaca!", exclamou ele, empurrando-o para longe, e quase fazendo-o cair ao chão.

"Qual é?", indagou ele, que havia pisado no pé de um estudante que estava por perto. Todos abriram espaço, pois uma briga parecia que estava prestes a acontecer. Bud era muito maior do que Alex imaginava. Usava um agasalho do time de futebol, e logo ele também deduziu que o garoto devia ser rápido e forte.

"Bud, por favor!", exclamou Kelly, nervosa. "Vamos embora!", pediu ela, puxando-o pela mão. Por mais que ele parecesse interessado em dar uma surra em Alex, acabou cedendo ao pedido da namorada e, todos voltaram a circular normalmente pelo corredor. Alex ficou olhando-os de longe, estarrecido com o seu primeiro dia de aula.

"Que espetáculo, hein?", perguntou alguém ao seu lado. Alex se virou para ver quem era e viu que era Lachance, que guardava uns livros no armário.

Alex apenas enrugou a testa, e sem dar importância ao colega, foi para a sua próxima aula.

Continua...