DE VOLTA À CAPELA

CAPÍTULO 11 - O VERDADEIRO ASSASSINO

Era final de tarde, e Lachance chegava à casa dos Whitfield, juntamente com Carl. Sem cumprimentar a mãe ou apresentar o colega, mesmo tendo ela o escutado chegar e o chamado até a cozinha, Carl conduziu Daniel até seu quarto. Jogou os livros sobre a cama e pediu ao colega para se sentar onde quisesse. Lachance deu uma olhada geral pelo quarto. Estava uma grande bagunça, com roupas espalhadas pelo chão, e papéis e livros sobre a mesa de estudos. Fez espaço no canto da cama e se sentou, com os livros no colo. Viu uma fotografia de Carl junto com o irmão Clarence, no criado-mudo, e perguntou quem era, embora já soubesse.

Carl, que empurrava algumas roupas para debaixo do armário, olhou para ver ao que ele se referia e virou o porta-retratos para outro lado, abruptamente.

"Seu irmão?", perguntou Lachance, insistente.

"Olha, você veio aqui para conversar ou o quê?", indagou Carl, agressivo, parecendo não ter mais gostado da idéia de ajudá-lo com os estudos.

Lachance ficou mudo, e Carl, parecendo arrependido da grosseria, puxou uma cadeira e se sentou à sua frente.

"Eu nem te conheço, cara", falou ele, ajeitando os óculos. "É claro que você não tinha como saber", explicou ele. "É meu irmão sim", respondeu. "Só que ele está morto".

"Sinto muito", disse Lachance.

Carl estava ofegante, como se quisesse explodir, mas simplesmente olhou para Lachance, e quando uma lágrima rolou pela sua face, disse:

"Não conte a ninguém que me viu chorando".

"Claro que não".

"Eu sei quem foi que matou ele", disse Carl, subitamente, enxugando o rosto.

"Sério?", perguntou Lachance. "E você já contou à polícia?"

"Não iam acreditar", respondeu ele, consternado.

"Por quê não?"

"Ele podia me pegar antes", justificou ele, controvertidamente.

"Quem?", insistiu Lachance, cada vez mais confuso.

Carl parecia muito abalado, e Lachance começava a se preocupar em deixá-lo nervoso o bastante para não querer mais falar coisa alguma, e disse:

"Tudo bem se não quiser falar nada".

Mas Carl coçou o nariz, e parecendo realmente disposto a desabafar com alguém, por mais que fosse com um desconhecido, disse:

"O que eu vou te contar, morre aqui".

Lachance concordou, e Carl revelou:

"Umas três semanas atrás, eu passei mal e fui embora antes. Vi, então, o zelador do colégio, o Sr. Atkins, falando com um cara no estacionamento. Eles estavam trocando alguma coisa. Só depois eu me dei conta que era droga".

"E o sujeito era do colégio?", perguntou Lachance, imaginando se seria um estudante.

"Não", respondeu Carl. "Eu nunca vi o cara antes, e não parecia tão novo".

Os dois ficaram em silêncio por um tempo.

"O Clarence estava tendo problemas com os caras do colégio já fazia um tempão", continuou ele. "O Bud e a turma dele. Eles sempre estão perseguindo alguém. Claro que, toda semana é a vez de um. Essa parece que foi a minha. Aquela era a dele, e tudo se encaixou..."

"Como assim?", indagou Lachance, cada vez mais próximo da verdade.

"O quê eu só percebi depois", disse Carl, entre lágrimas, "é que no dia que eu vi o Sr. Atkins, e ele acabou me vendo, com certeza, é que eu estava usando a jaqueta do Clarence".

"E ele pensou que você fosse o seu irmão", deduziu Lachance.

"Foi tudo muito oportuno", explicou Carl. "Ele estava sendo perseguido pelo Bud e os outros caras, e foi encontrado morto no vestiário masculino pelo próprio Sr. Atkins".

Comovido, Lachance ficou imóvel, sem saber o quê fazer, exceto continuar a ver Carl finalmente chorar a morte do irmão, algo que, até então, ele não conseguira fazer, tamanho havia sido o trauma da perda.

...

Na manhã seguinte, enquanto os alunos chegavam ao Ginásio Taylor, Hanson vinha acompanhado de dois oficiais de polícia uniformizados, e depois de conversar com o diretor, atravassou o extenso corredor, em direção ao zelador Atkins, que arrumava uma lâmpada quebrada no corredor, e ao notar que os policiais que chegavam e caminhavam firmes na sua direção, desceu rapidamente as escadas, e segurando uma chave de fenda, deu uma gravata num aluno, o valentão Bud, segurando a chave de fenda contra o pescoço dele.

"Não se aproximem!", gritou ele. Vários alunos se desesperaram e alguns ficaram imóveis e boquiabertos, e outros corriam para a saída, enquanto os policiais e Hanson sacavam suas armas e pediam que todos se acalmasse, inclusive Atkins, que arrastava Bud contra a parede.

"Abaixe essa chave e vamos conversar", disse Hanson, calmamente, não esperando aquela atitude tão inesperada quanto surpreendente, principalmente, temendo que algum aluno se ferisse.

"Assassino!", gritou, então, Carl Whitfield, que surgiu em meio à pequena multidão de alunos, com um canivete, enfiando a sua lâmina na panturrilha direita do zelador Atkins, que largou Bud e a chave de fenda, instantaneamente, como reação à dor na perna.

Imediatamente, Hanson correu para conter o assassino e os dois policiais deteram Carl, tomando-lhe o canivete. Hanson empurrou Atkins contra a parede e algemando-o, deu voz de prisão:

"James Atkins, você está preso pelo assassinato de Clarence Whitfield. Tem o direito de ficar calado. Tudo o quê disser pode e será usado contra você num Tribunal. Tem direito a um advogado, e se não puder pagar um, o Estado lhe nomeará um defensor público".

"Valeu", sussurrou Bud para Carl, enquanto ainda estava caído ao chão, recuperando-se da forte gravata que levou, fazendo-se ouvir por Carl mesmo em meio àquela confusão, enquanto os dois oficiais também o levavam para fora.

Continua...