Capítulo 1 – O lânguido manuscrito

Noite em Hogwarts. No Salão Principal, a costumeira euforia de "fim se sexta feira" se fazia notar. Na mesa dos funcionários, a mesma felicidade era percebida, e a cena era perfeitamente harmoniosa, exceto por um estranho detalhe: três cadeiras vazias indicavam a ausência de professores.

Num corredor distante, na altura da sala de feitiços, vozes sussurradas misturavam-se ao som uivante do vento forte daquela noite.

- Não podemos mais esconder, Albus, logo irão notar. O que diremos na segunda- feira?

- Minerva, recebi notícias dele esta manhã. Uma coruja do Norte.

A professora calou-se. Parecia surpresa demais para argumentar. Então disse apenas :

- E então?

- Vamos voltar ao Salão. Vá ao meu escritório ao término do jantar. Falarei aos alunos agora.

Ela acentiu com a cabeça e ambos puseram-se a descer as escadas silenciosamente.

***

Já novamente na Mesa Principal, o diretor ergueu-se imponente.

- Tenho um triste aviso para dar-lhes, bons alunos. Tentamos ao máximo esconder esse fato, mas vemos que agora isso tornou-se impossível. - houve uma pausa – Infelizmente, e sem sabermos como e por que...lidamos agora com o desaparecimento de um de nossos professores.

Sussurros curiosos encheram o lugar.

- Creio que as aulas de Poções deverão ser adiadas por um tempo. Snape
desapareceu.

Quem ouvisse de fora, pensaria que no mínimo uma bomba explodira no Salão da escola, porque os gritos de "viva!" foram ensurdecedores.

Dumbledore sentou-se, desolado, sem ao menos notar o olhar perdido de uma das alunas na mesa da Grifinória.

***

Mais tarde, a porta da sala do diretor se abria.

- Sente-se Minerva.

A mulher obedeceu prontamente.

- Creio que deva contar-lhe tudo sem demora. Aqui está o manuscrito endereçado a mim, por Severus.

O diretor desenrolou um pequeno pergaminho e começou a ler devagar as palavras que se seguem.

Londres, 27 de Junho

Dumbledore,

Sinto muito. É o que tenho a lhe dizer. Eu realmente não queria ter desaparecido sem notícias. Foi mais um impulso.

Não voltarei. Mesmo por que, não poderia. Sinto que desfaleço. Minhas forças se esvaem de meu corpo com uma mortal facilidade, noite após noite. No fim de tudo, não sei o que acontecerá comigo.

Morrerei? não sei.

Retornarei com uma nova vida? Também não é de meu conhecimento.

Essa criatura suga minhas energias de tal forma que, por Merlin, sinto meu quarto invadido e seu doce beijo em minha garganta, mas nada faço.

Por quê? Eu a amo Albus. Sim...

Estranho essas palavras melosas virem de alguém como eu, um.... como era mesmo? Um tirano cruel. Não era assim que me chamavam? Pois bem, é estranho, mas é a verdade.

Darei minha vida por ela, ou mesmo a ela. Não me importo mais, ao menos farei algum bom uso dessa carcaça inútil em que vivo.

Sinceras desculpas. Agradeço por tudo que fez por mim Albus. Você foi mais que um amigo, foi o mentor de minha recuperação, de minha volta para a magia branca.

Decaí mais uma vez. Não é culpa sua nem de ninguém mais, eu sou o culpado mais uma vez.

Obrigado por tudo,

S.S.

Dumbledore, embora já tivesse lido o manuscrito outras vezes antes, terminou a leitura quase em sussurros, devido ao aperto que sentia no peito.

A palavras. Merlin, tão fortemente impressas no pergaminho, com uma caligrafia fraca, tortuosa.

Um silêncio aterrador caiu sobre os professores em seguida.

Pouco depois, Minerva quebrou-o, perguntando em um murmuro:

- Mas por quê?

- Vou lhe contar toda a história agora.

Tudo teve início quando Severus teve o infortúnio de conhecer uma mulher... linda.... Sim, mas diabólica.

- Quem?

Ele hesitou por um instante.

- Seu nome era... Katrina.

- Katrina? Aquela Katrina?

- Ela mesma. Deixe-me explicar.