Continuação de Harry Potter e a Passagem Para Érevan. Harry está no sexto ano e agora com dezesseis anos aquele que enfrentou Você-Sabe-Quem diversas vezes tem pela frente o seu maior desafio: reconquistar Gina Weasley. Em meio a isso Voldemort lança mão de novos e poderosos aliados para destruir o mundo bruxo. Algo lendário ressurge. E parece que desta vez a guerra vai começar. Reencontros, aventura, romance, suspense e acima de tudo muita magia. É o que o nosso querido bruxinho vai encarar com a ajuda de velhos e novos amigos nesse novo ano que se inicia em Hogwarts.

Disclaimer: Alguns personagens, lugares e citações pertencem a J.K. Rowling. Essa estória não possui fins lucrativos.

Dedicatória: Gostaria de dedicar essa fic à minha mãe, a quem eu admiro muito, à minha tia Rê, que curte Harry Potter como eu, aos meus cinco sobrinhos, fofuras da minha vida, e às minhas amigas de todas as horas, Anna Maria e Gisele. Não posso deixar de dedicar à minha beta-alfa-amiga-coruja-reader, Pichi, que realmente me deu a maior força e que revisou detalhada e minuciosamente cada palavra e letra (valeu por tudo Pichitinha!) e para a tilida Mile também. Dedico também àqueles que me mandaram e-mails, resenhas e que, de alguma forma, me encorajaram e continuam encorajando a escrever. E, é claro, que ao amor da minha vida, por que sem ele eu não seria nada (Te amo Alie!). Muito obrigada mesmo gente.

N/A: Aconselho quem for ler esta fic que leia a anterior antes pois facilitará o entendimento da estória. Essa é a segunda fic de uma série de três. Espero que vocês gostem e, principalmente, que mandem as opiniões, resenhas, críticas, sugestões...

Capítulo Um - O Melhor Presente de Aniversário

Eram sete horas da manhã. Ela abriu os olhos, inchados e vermelhos. Não tinha dormido nem quatro horas àquela noite. Toda vez que conseguia pegar no sono tinha o mesmo sonho. Nele um rapaz de cabelos negros e olhos profundamente verdes a olhava cheio de amor, a princípio sorrindo. Então estendia os braços em sua direção, para tocá-la, abraçá-la, e ela recuava cada vez mais, até não ter mais para onde ir. A expressão do seu olhar mudava então e ele começava a chorar. As lágrimas escorriam e, aos poucos, iam mudando de cor, escurecendo até ficarem de uma cor vermelha intensa. Ele estava chorando sangue. Ela o olhava também chorando, desesperada, tentando ajudá-lo, mas era tarde demais. Antes que pudesse fazer alguma coisa ele começava a pegar fogo, bem à sua frente, ainda a olhando com tristeza, até virar cinzas. Era nessa hora que ela sempre acordava, chorando, assustada e ofegante.

Gina Weasley não suportava mais ver Harry Potter se consumindo em chamas em seus sonhos. Isso a estava enlouquecendo. Dormir era quase uma tortura agora, era apenas uma questão de esperar o instante em que teria mais um sonho horroroso daqueles. Era desesperador vê-lo arder de forma tão terrível, noite após noite. Estava tendo outros pesadelos recorrentes, todos com ele. Harry sempre estava no início bem e sereno, tentando de alguma forma voltar para ela, tocá-la, abraçá-la, mas invariavelmente acabava, de uma forma ou de outra, pegando fogo e virando nada mais que um montinho de pó.

Gina ainda continuou na cama por alguns minutos. Sua colega de quarto, Fleur Delacour, ainda não tinha sequer retornado ao dormitório para dormir. Estava sozinha no quarto das duas quando viu novamente o vulto branco na janela.

- Edwiges! Você de novo? - ela abriu a janela e a coruja branca de Harry, parecendo extremamente cansada, pousou na escrivaninha de Gina. A menina lhe trouxe um pires com biscoitos e água mas sequer tocou na carta que tinha pendurada na patinha. - Deus! Será que ele não vai desistir nunca? - disse, fazendo carinho na cabeça da coruja. A pobrezinha estava ficando exausta de fazer tantas viagens da Inglaterra para a França e de volta para a Inglaterra. - Quantas cartas você me trouxe esse mês? - ela fez as contas nos dedos. - Quinze - recapitulou. - Ele só pode estar ficando louco... Não tem dó de você, Edwiges? - a coruja soltou um pio baixinho, parecia concordar com Gina. A menina sorriu para a coruja e abriu a janela, para que tivesse liberdade de sair na hora em que já estivesse descansada.

Edwiges ainda piou alto e fixou os grandes olhos em Gina, tentando fazer com que tirasse a carta da sua pata para que pelo menos retornasse um pouco mais leve para casa. A menina então se aproximou, estava realmente com pena da pobrezinha da coruja, ela voltaria novamente com a correspondência e não tinha culpa da inconseqüência do seu dono.

Gina estava lutando contra si mesma para livrar a bichinha daquele peso. Mas quando se aproximou mais, os dedos quase tocando a carta, viu a caligrafia dele. Em letras douradas o nome do remetente. Abaixo seu nome. E estremeceu quando leu o que estava escrito embaixo de tudo.

"De: Harry Potter

Para: Virgínia Weasley

Com todo o meu amor!"

Não conseguiu sequer tocar a carta. O que leu tinha feito com que seu coração disparasse. Agora mal conseguia respirar. Mesmo depois de meses seguidos recebendo de volta cada carta que mandava, intocada, ele ainda a amava da mesma forma. Ela sabia que ele não tinha desistido e que possivelmente não o faria nunca. Mandava pelo menos duas corujas por semana, o que já havia totalizado sessenta e três corujas em sete meses, já que Gina estava na França desde janeiro, quando tinha sofrido o acidente com a vassoura. Ela tinha abandonado o ano letivo no recesso de fim de ano e terminado o quarto ano em Beauxbatons.

- Sinto muito Edwiges - disse Gina, sentindo-se culpada. - Você devia pedir demissão. Ele enlouqueceu - a coruja, percebendo que a garota não retiraria a carta que estava pendurada, tomou mais um grande gole d'água para criar coragem e alçou vôo. Gina observou a coruja se afastando até se tornar um pontinho minúsculo, sumindo no céu azul.

"Ele vai acabar matando a coitadinha de exaustão", pensou tristemente. Fleur entrou no quarto no instante seguinte.

- Bonjur! - disse para Gina.

- Você quer dizer bonsoir, não é? Você passou a noite toda na biblioteca de novo! Nossa! Fleur, como você agüenta ficar tantos dias sem dormir?

- Gina, eu tenho que estudarrr, non é? - Gina ficava impressionada com a disposição de Fleur. A garota era mais aficcionada por livros que Hermione.

- Mas toda noite? - perguntou, indignada.

- Eu funciono melhorrr de madrrugada. Agorra eu vou tirrar um cochilo. Afinal, nós estamos de férrias.

- "timo - Gina tinha novamente acordado mais cedo do que devia. Na realidade nem tinha dormido direito. Sentou na escrivaninha, para escrever uma carta para sua mãe.

Era a única pessoa com quem se correspondia. Nem mesmo Rony ou Hermione recebiam corujas suas. Ela não queria ter que pedir a eles que não mostrassem as cartas a Harry. Sabia que a amizade do trio era muito especial para esconderem algo assim dele.

Mas não agüentava de saudades deles e sua mãe mandava, sempre que podia, notícias dos irmãos e de Hermione. Proibira à mãe de mandar qualquer notícia sobre Harry. Não queria sentir mais falta dele do que já estava sentindo e nem ser tentada a se corresponder com ele. Molly havia respeitado sua vontade, embora soubesse do sofrimento da filha e de Harry. Ela estava ciente de que se colocasse alguma informação sobre o rapaz nas cartas não receberia mais correspondências da filha.

"Queridos papai e mamãe,

Eu estou sendo muito bem tratada aqui em Beauxbatons. Madame Maxime é um amor de pessoa e tem me ajudado muito com o meu francês. Fleur também é muito boa para mim e está tentando falar sem sotaque, imaginem só... Eu estou gostando muito da escola mas ainda sinto falta de Hogwarts. Eu sei que as aulas devem estar começando por lá no próximo mês, como aqui, e eu gostaria de poder visitá-los antes disso. Eu pensei em pegar o trem para a Inglaterra daqui duas semanas. Não quero ficar um ano inteiro sem ver vocês e os meus irmãos.

Espero que vocês acertem os detalhes da minha viagem no mais absoluto sigilo. Eu preciso ter certeza de que NINGUÉM vai saber que eu estarei aí ou então perderei a confiança e não irei mais visitá-los.

Eu amo muito vocês. Perdoem-me por estarem passando por tudo isso.

Dêem um beijo nos meninos e em Hermione.

Da sua filha, Gina."

Ela foi olhar a data no calendário, para poder colocar na carta, e percebeu que era o dia 31 de julho, aniversário de Harry. Congelou, não conseguiu escrever mais nada e depois de entregar a carta para que sua coruja, Francis, entregasse começou a chorar.

Seria o primeiro aniversário de Harry que não lhe mandaria nada. Seria, também, a primeira vez que ele poderia dar uma festa na sua própria casa e ela não estaria lá para vê-lo sorrir, para abraçá-lo e dividir a alegria desse momento tão esperado. Não poderia dizer a ele o quanto ainda o amava e o quanto estava sofrendo por estar longe dele, morrendo aos poucos a cada dia.

Sua mãe recebeu a carta algumas horas depois, Rony estava em casa com Hermione, comemorando o aniversário de um ano de namoro, e sorriu ao ver Francis batendo no vidro da janela. Ele pôde ver a alegria da mãe ao abrir a carta. Molly então reuniu todos na sala e avisou da visita que a menina faria. Preveniu que deveriam guardar tudo no mais absoluto segredo e que, infelizmente, essa era a condição para a menina voltar a visitá-los nas próximas férias. Não se deteve em detalhes mas avisou que a menina chegaria no final da semana seguinte e que todos deveriam estar em casa para recebê-la.

A Sra. Weasley ficou um tanto quanto triste. Percy seria o único que não estaria lá. De vez em quando mandava uma coruja para a mãe, para dizer que estava bem mas era só. Nunca perguntava pelo pai. Às vezes mandava lembranças aos irmãos mas era sempre frio e seco nas cartas.

Molly queria deixar tudo arrumado, sabia que Rony e Hermione passariam o resto da semana na casa de Harry. Allana daria uma festa para ele naquele dia e, depois, os dois permaneceriam na casa do amigo por alguns dias. Ela tinha deixado bem claro que deveriam retornar antes do final da semana seguinte e, infelizmente, Harry não poderia sequer imaginar que Gina estaria n'A Toca, visitando a família. Isso a deixava muito infeliz, sabia que a filha amava muito o menino e vice-versa, também estava muito penalizada por Harry, de quem gostava como um filho.

Rony e Hermione, depois de ouvir as repetidas recomendações de Molly sobre a visita secreta de Gina, subiram para o segundo andar. Rony ainda não tinha entregado a Hermione o presente que havia comprado para ela pelo aniversário de namoro dos dois. A menina já havia dado o seu, um uniforme de goleiro profissional do Chudley Cannons. Tinha sido dificílimo conseguir e o namorado tinha simplesmente adorado o presente.

Subiram correndo, de mãos dadas. Rony estava muito ansioso, logo teriam de ir para a casa de Harry. Logicamente queriam desfrutar alguns momentos a sós antes disso. Entraram no quarto de Rony e ele pediu que ela sentasse e fechasse os olhos. Hermione se sentou na beira da cama dele, muito desconfiada, mas obedeceu.

- Anda logo Ron! Já estou morta de curiosidade. Quanto suspense - a menina mordia os lábios, ansiosa.

- Calma Mione, eu acho que vai valer a pena. Calma - ele estava muito nervoso e tentava se concentrar. Estava com a varinha em punho e parecia ter uma caixinha preta, bem pequena, na outra mão.

Quando Hermione abriu os olhos Rony ergueu a varinha na direção da caixa e sussurrou:

- Vingardium Leviosa! - para surpresa de Mione de dentro da caixinha um lindo anel saiu levitando. Rony guiou o anel com a varinha, direcionando-o, até que ele entrasse suavemente no dedo da menina.

Hermione estava impressionada. Admirava o anel, agora em seu dedo, e Rony, orgulhoso por acertar o feitiço, sorriu.

- Agora o nosso namoro é oficial. Este é um anel de compromisso - a menina deu um grande sorriso e correu para abraçar o namorado.

- Rony, que coisa mais linda! Foi tão romântico - o garoto ruborizou até as orelhas.

- Eu queria te impressionar... Pelo jeito consegui - ela passou os braços em volta do pescoço dele e, sorrindo maliciosamente, respondeu.

- Eu vou te mostrar o quanto eu fiquei impressionada - beijou apaixonadamente o menino que, em poucos segundos, retribuía com vontade.

Ficaram ainda algum tempo namorando. Até que Molly gritou que deveriam se arrumar para sair. Juntaram as coisas que levariam para a casa do amigo e, antes de descerem, Hermione ainda disse:

- Eu fico tão triste - Rony ficou espantado.

- Pelo quê, Mione?

- Pelo Harry. Pela Gina. Eu sei que ela gostaria de estar lá hoje. E eu sei também que ele deve estar muito infeliz, mesmo estando agora na casa da madrinha.

- Eu sei mas nós não podemos fazer nada. A Gina mesma preferiu assim. É uma questão de segurança - ele parecia mais conformado que a namorada. - Eu também não gosto das coisas assim. Sinto falta da minha irmãzinha... E do Harry... - Rony sabia que o amigo nunca mais tinha sido o mesmo depois da partida de sua irmã.

- Eu também Ron. Eu sinto falta dos dois. Eu não suporto vê-lo assim... - ela tinha os olhos cheios de lágrimas.

- Eu também mas temos que nos controlar, sermos fortes por ele. Hoje é o aniversário dele e nós temos que estar lá para apoiá-lo - o menino tentava parecer convincente.

- Eu gostaria de poder fazer alguma coisa a respeito dis... - Rony a cortou bruscamente.

- NÃO! Não, Hermione! Nem pense nisso. Não comece a ter idéias. Não podemos nos meter nesse assunto. Ou mamãe vai me matar. A Gina nunca mais poria os pés aqui em casa. Já pensou a confusão? - Mione concordou com a cabeça mas tinha algo em mente.

Após terminar toda a arrumação entraram um a um na lareira, pegaram um punhado de Pó de Flu e foram parar no meio da sala de Allana, cobertos de fuligem.

Ela foi recebendo um de cada vez, os Weasley e Hermione. Harry assistia um tanto quanto divertido os amigos saindo de dentro da lareira. Bem no fundo nutria uma fraca esperança de que Gina pudesse vir com eles, como surpresa. Afinal era seu aniversário mas ela, obviamente, não foi.

A festa estava muito bem arrumada e mesmo Sirius conseguiu dar uma escapadinha e pôde vir abraçar o afilhado, que ficou contente em vê-lo. O padrinho também queria ficar um pouco a sós com Allana. Ele sentia muito sua falta, agora que sabia que estava viva e bem. Harry ficou feliz, pelo menos o padrinho podia desfrutar um pouco da companhia de quem amava. Ele percebeu quando Sirius subiu para o andar de cima, discretamente, levando sua madrinha pelas mãos. Permaneceram algum tempo lá em cima depois desceram para a festa, ambos com sorrisos nos rostos.

O garoto estava fazendo dezesseis anos mas não estava nem um pouco animado com isso. Tentou forçar uma expressão alegre na hora dos parabéns, para agradar os amigos, mas estava arrasado por dentro. Edwiges tinha retornado para a casa durante a madrugada com a carta que havia escrito para Gina. Novamente a garota não tinha sequer aberto o envelope, o lacre estava intacto. Ele tentou mandar uma nova carta pela manhã mas a coruja branca lhe bicou os dedos, fazendo com que mandasse a nova carta por uma das corujas de Hogwarts, que sempre vinham trazer cartas e documentos de outros professores para Arabella ou mesmo cartas da professora Figg para a filha.

Ele não conseguiu aproveitar o aniversário direito, tinha tido um sonho revelador naquela noite, sabia que tinha deixado clara a única chance que teria com Gina. Precisava que ela lesse aquela carta que havia escrito de manhã, na qual contava o sonho. Ela tinha que saber que, segundo seu sonho, poderiam voltar a ficar juntos. Mas como poderia fazer com que ela soubesse disso se nem mesmo abria seus envelopes? Ele chegou a pensar em mandar um berrador mas não adiantaria, a carta explodiria antes e ela não leria.

Teria que apelar para Hermione. A amiga, inteligente e astuta como era, deveria pensar em algum outro jeito. Mas sabia que teria que falar com ela sozinho, sem que Rony soubesse. De noite, quando todos estivessem dormindo. Tentaria inventar alguma solução junto com a amiga, tinha certeza de que ela o ajudaria.

Quando a festa finalmente terminou e todos foram embora Harry ficou a sós com os dois amigos. Eles conversaram um pouco. Jogaram algumas partidas de Snap Explosivo e depois Rony desafiou Harry para uma partida de Xadrez de Bruxo, novamente derrotando o amigo. Enquanto isso Hermione lia o "Interminável Livro de Aritmancia",  seu favorito desde o ano anterior.

Já era bem tarde quando acompanharam Hermione até o quarto de hóspedes e foram dormir. Harry ofereceu sua cama para o amigo e preferiu dormir em um colchonete, no chão. Rony rapidamente dormiu enquanto Harry fingia dormir também. Assim que percebeu que o menino dormia profundamente levantou na ponta dos pés e foi até o quarto de hóspedes. Sentiu-se um tanto culpado por estar fazendo isso escondido mas não tinha outra maneira. Entrou sorrateiramente no quarto, parou ao lado da cabeceira de Hermione, sacudindo a amiga de levinho.

- Mione, acorda - a garota abriu os olhos e o olhou, surpresa.

- Harry? Já é de manhã? – seus olhos estavam entreabertos de sono.

- Não Mione. Fala baixo - não queria que Rony a escutasse.

- O que houve, Harry? Você está bem? - ele olhou para a amiga com os olhos vermelhos, cheios de lágrimas. Ela nunca o tinha visto assim. Ele sacudiu a cabeça negativamente.

- Ela não responde as minhas corujas...

- Eu sei disso Harry.  Eu sinto muito, eu... - ela não sabia o que fazer para consolá-lo.

- Eu me sinto tão vazio sem ela, sabe? Morto... - Hermione olhava para ele com tristeza. - Ela me completa, Mione. É como se eu não tivesse mais os braços, as pernas, o coração... Eu a amo tanto que dói... - as lágrimas escorriam por rosto agora. Hermione estava com o coração partido de ver o amigo daquele jeito.

- Eu não sei o que dizer, Harry... - também acabaria chorando a qualquer momento, a voz já estava ficando embargada.

- Eu preciso dela, é como oxigênio para mim. Eu nunca pensei que pudesse me sentir tão mal... Eu já tentei de tudo. Até mesmo Edwiges se recusa a entregar minhas cartas. Eu nem posso censurá-la por isso - disse, mudando o tom. - Sobrecarreguei muito a pobrezinha. Ela é esperta, sabe que Gina nem mesmo abre os envelopes.

- Harry... Eu sinto muito mesmo por isso... Queria poder fazer alguma coisa - Mione estava com muita pena dos amigos. Sabia que Gina o amava da mesma forma. Tinha visto a expressão dela quando partiu no trem para a França, estava aos prantos, mal conseguia falar.

- Só me dê notícias dela... - disse subitamente. - Me diga, Mione, qualquer coisa. Ela está bem? Eu sei que você sabe de algo. Eu preciso falar com ela... Às vezes eu entro em pânico, acho que ela já me esqueceu... Outras vezes eu posso quase senti-la, tocá-la... Como se a ligação que nós temos fizesse uma ponte entre nós... Mas logo essa sensação passa e vem de novo o vazio... - Hermione olhava atenta para ele, ponderava em silêncio se deveria ou não abrir mão do segredo dos Weasley. - Eu tive um sonho, Mione. Um sonho que anula o que ela teve ano passado. Eu sei que podemos ficar juntos agora, sem risco para nenhum de nós dois. Mas ela precisa me dar uma chance, me ouvir... Só uma chance...

Ele agora soluçava, Hermione se aproximou, Harry estava sentado no tapete, chorando como um garotinho, nem parecia um rapaz de dezesseis anos. Ela se sentou no chão ao seu lado e ele colocou a cabeça no colo da amiga, que afagou ternamente os seus cabelos. Hermione tinha decidido arriscar, afinal o sonho do amigo era um forte indício de que não seria uma perda de tempo.

- Harry... - disse, decidida, levantando o queixo do amigo. - Eu ainda não te dei seu presente de aniversário - ela suspirou fundo, tomando coragem. - Mas é algo pelo qual vou pagar muito caro, você vai precisar fingir que eu não te dei isso, tudo bem? - o garoto não tinha entendido nada mas concordou com a cabeça. - Você jura?

- Juro... O que é? - agora estava curioso, os olhos arregalados.

Ela entregou nas mãos dele um livro pesado e grosso, de feitiços e poções. Ele olhou, estranhando. Um livro usado? Aquilo não era um presente tão caro assim e ele não era lá muito fã de livros. Ela olhou dentro de seus olhos verdes indagadores, adivinhando o que tinha pensado.

- Esse não é o presente, Harry - disse rapidamente; ele continuou olhando curioso para a amiga. - Esse é - rabiscou rapidamente, sem caprichar na letra, algo em uma folha de papel. Entregou a Harry.

- "13 de agosto, 16:00h"? O que é isso, Hermione?

- É uma data e um horário... - ela ainda hesitou. - De um certo trem, Paris-Londres, para ser mais exata - os olhos do garoto cintilaram como não tinham feito em meses, abraçou a amiga com força.

- É o que eu estou pensando? Ela vem mesmo? - mal podia acreditar.

- Vem. Mas Rony e nem os Weasley podem sonhar que eu te contei isso. Pelo amor de Deus, Harry. Finja estar triste... - disse, olhando para a evidente felicidade estampada no rosto do garoto agora. - Eu estou pondo tudo a perder...

- Eu vou tentar. Mas no momento é impossível, de repente é como se eu fosse explodir... Tenho vontade de gritar, de dançar - ele levantou Mione do chão com um puxão e a rodou pela cintura. Tinha um lindo sorriso no rosto.

- Tudo bem Harry! Agora você está definitivamente me assustando - ela brincou com o amigo.

- Desculpe, Mione, mas eu não ficava excitado assim desde o dia em que eu beijei a Gina na enfermaria e... - Mione ficou constrangida e mesmo o menino corou, percebendo que o que tinha dito, tinha soado mal. - Você entende o que eu quero dizer... - disse com um sorrisinho amarelo. Ela fingiu que ele não tinha dito nada.

- Você não deve guardar isso, Harry - ela pegou o papelzinho com o dia e a hora da chegada de Gina da mão dele. - Alguém poderia encontrar esse papel e desconfiar - apontou a varinha para o papelzinho e disse. - Lacarnum Infflamare! - o papel queimou até virar pó.

- Eu ainda vou precisar dar um jeito de encontrar com ela, Hermione. Não vou poder simplesmente invadir A Toca... - agora estava mais comedido e tentava raciocinar em cima da situação.

- Eu já pensei nisso também... Todos vão sair no dia 14, a Sra. Weasley quer comprar algumas coisas para Gina e os gêmeos vão com ela. O Sr. Weasley vai estar no Ministério e eu e Rony ficaremos a sós com Gina. Você pode ir voando de vassoura para lá. Se houver algum imprevisto te mando uma coruja. Mas eu duvido muito que isso aconteça, Gina fez questão de que a mãe planejasse tudo muito direitinho. Ela não queria correr o mínimo risco de encon... - parou de falar, sabia que mesmo o amigo sabendo que a menina o amava, não gostaria muito de ouvir que a condição de Gina era que não tivesse a menor possibilidade de vê-lo.

- Eu não imaginava... Ela está com tanto medo assim de mim? - fez uma expressão de tristeza e pesar.

- Não Harry! Não de você. Ela nunca sentiria isso... Ela está com medo dela mesma, do que ela sente por você... É muito maior e mais forte que ela.

- Se você diz... Mas como eu vou fazer para ela me ouvir?

- Aí entra este livro. Eu o trouxe porque imaginei que se eu te desse realmente o seu presente nós precisaríamos de algum feitiço ou poção para você poder convencê-la ou mesmo para acalmar os ânimos do Rony, sei lá... Mas agora, com essa sua história de sonho, a coisa muda.

- Como assim?

- Nós temos que procurar algum feitiço que a faça acreditar no seu sonho. Ela tem que comprovar que você fala a verdade, que não é apenas uma artimanha para tê-la de volta. Afinal, ela sabe que você faria qualquer coisa para isso, até inventar um sonho - ele concordou. - Eu vou pesquisar com você todos os dias depois que o Rony for dormir. Mas, Harry, ele não pode nem sonhar com o que estamos fazendo. Senão eu vou perder a confiança dele para sempre.

- É claro Mione. Eu também não quero perder o meu amigo - ele sorriu enquanto ela se encaminhava para a cama. - Mione! Você é mesmo brilhante! - disse da porta e voltou rápido até a amiga, dando-lhe um abraço apertado. - Muito obrigado! Eu nunca vou poder agradecer o bastante - ela sorriu. Ver o brilho nos olhos verdes do amigo de novo já era agradecimento suficiente. - Foi o melhor presente que eu já ganhei em toda a minha vida - ele emendou e voltou para o seu quarto, para dormir a primeira noite tranqüila em meses.

Como combinaram, Harry continuou a fingir que estava bastante deprimido e todas as noites pesquisavam no livro de feitiços. O livro era imenso e não tinha índice, as letrinhas eram minúsculas e praticamente ilegíveis, de tão apagadas que estavam as páginas eram amareladas e manchadas. Era um livro extremamente velho, mofado e usado.

Descobriram depois de quatro dias finalmente um feitiço que poderia ser associado a uma poção. Mas era necessária uma parte do corpo da pessoa, o que deixou Hermione desanimada por alguns segundos.

- Droga! Agora complicou... Onde nós vamos arranjar algum pedaço da Gina - era uma poção similar à Polissuco. - Nós não temos nem unhas nem cabelos dela aqui.

Harry sorriu, puxando do pescoço uma corrente e mostrando a Hermione a trancinha de Gina ali pendurada. Mesmo sem saber a própria Gina tinha deixado a solução em suas mãos. Era somente isso que faltava.

Na véspera de ir embora Mione o ajudou com a poção e lhe desejou boa sorte. Dentro de alguns dias ele iria até A Toca e teria a última chance de recuperar seu bem mais precioso, o amor da sua vida. Teria a derradeira chance de reconquistar Virgínia Weasley.