Capítulo Dois - Transmissão de Pensamento

Harry voava apressado para A Toca. Sabia, segundo Hermione, que Gina não ficaria muito tempo sozinha com ela e Rony. Mesmo assim tinha a intenção de convencer o amigo a deixá-lo vê-la. Era claro que nenhum outro Weasley daria essa chance de se aproximar da menina, ela tinha sido muito contundente quanto às suas exigências: só visitaria a família se Harry Potter sequer sonhasse que estava ali. Ele então não poderia perder aquela oportunidade única.

Enquanto voava em sua Firebolt Thunder Power 3000 pensava em como conseguiria convencer Rony a deixá-lo subir para vê-la. Sabia que o amigo confiava nele. Porém, como todo Weasley, Rony colocava a família em primeiro lugar e talvez não quisesse entrar em atrito com os pais e os irmãos. Claro, haveria sempre a possibilidade dele estuporar o amigo mas isso seria extremamente desagradável e só em último caso o faria. Esperava contar com a ajuda e diplomacia de Hermione, que estaria lá também.

Quando finalmente pousou reviu mentalmente todos os passos do "Feitiço Conectivus": a combinação da poção ligante feita por Mione - a qual ele já havia tomado - e o encantamento que deveria proferir quando estivesse com Gina. Assim, pretendia conectar a sua mente à dela para que pudesse enxergar, literalmente, seus pensamentos.

Ele se encaminhou decidido para a porta e, estando destrancada como Mione havia combinado, entrou na casa. Tão logo chegou na sala Rony, que estava no sofá, abraçado a Hermione, levantou-se e foi até ele, muito nervoso.

- Harry! O que você está fazendo aqui? - já estava ficando vermelho como um pimentão e falava entre os dentes, tentando disfarçar a angústia que sentia. - Não era para você estar aqui! Não hoje!

- Ron, você sabe muito bem o que eu estou fazendo aqui... Eu sei que ela está em casa - Harry disse calmamente, com a maior categoria do mundo. - Eu vim vê-la. E vou vê-la!

- Como você... - ele nem completou o que ia dizer, era mais importante evitar uma catástrofe do que saber como ela tinha acontecido. - Não Harry! Eu não posso permitir. Sinto muito, meus pais me matariam... Gina nos fez prometer... Se eu deixar você subir minha mãe não vai me perdoar. Nem minha irmã. Ela disse que se algum de nós fizesse isso nunca mais poria os pés em casa de novo - Rony estava com os olhos arregalados e falava baixo, para que a irmã caçula não ouvisse, lá de cima, o que acontecia.

- Rony, você sabe o quanto eu prezo a sua amizade. Você é o meu melhor amigo, um irmão para mim. Considero a sua família como minha... Mas você precisa me ajudar. Não pode se negar a me salvar...

- Harry, você sabe que eu faria qualquer coisa para salvar a sua vid... - Harry interrompeu Rony bruscamente.

- Sua irmã, Rony. Ela a minha vida! - olhava para o amigo, tentando fazê-lo entender. Não queria ter que forçar Rony a deixá-lo subir. Mione, que até então assistia calada, resolveu intervir.

- Ron, acredite nele! Ao final disso tudo tenho certeza de que a Gina vai até te agradecer. Você precisa dar esta última chance a eles. Afinal, Harry nunca pôde ao menos se despedir dela - estava também muito calma e decidida. Rony, que a conhecia muito bem, percebeu que era cúmplice de Harry naquilo. Corou de raiva, até a raiz dos cabelos.

- Mione, você sabia o tempo todo? Como? Você mentiu? Por quê? - estava confuso e magoado. Seus melhores amigos, sua namorada? Mentindo para ele? Mione abaixou a cabeça.

- Ron - agora era Harry quem falava em defesa da amiga. - Ela não mentiu. Apenas omitiu. Ela foi só a amiga à qual eu pude recorrer para me ajudar. Eu sabia que, se contássemos para você, você jamais permitiria o encontro, como nós estamos vendo agora, não é verdade? - Rony olhava, desconfiado, de Harry para Mione, ainda não estava suficientemente convencido. - Eu preciso falar com ela, Ron. Eu não tive nem chance de dizer nada... Ela apenas partiu. Só deixou um bilhete, uma mecha de cabelo... Nunca respondeu minhas corujas... Eu sequer pude dizer adeus – o amigo parecia estar amolecendo. - Rony, deixa eu te fazer uma pergunta: o que você faria se ficasse meses sem ver a Mione e seu melhor amigo lhe impedisse de vê-la, pelo menos uma última vez que fosse? - Harry olhava sério para o amigo agora.

- É, meu amor! - Hermione complementou a última cartada. - E se fosse comigo? O que você faria por mim? - agora tinham achado o argumento perfeito.

Por mais que Rony temesse a fúria dos pais e da irmã sabia fazer valer uma amizade, com certeza não suportaria ficar muito tempo longe de Mione. Ele não tinha como impedir Harry de ver a sua irmã.

- Está bem, você pode subir! Vocês dois estão certos... Eu não sei o que deu em mim... Nem como você não me estuporou de uma vez, logo... - Harry sorriu, satisfeito, abraçou o amigo, lançando um olhar agradecido a Hermione.

- Ron, eu prefiro desse jeito, com você permitindo, de qualquer forma. Assim você passa a fazer parte do plano. Mas saiba que eu te estuporaria se você continuasse me impedindo - disse, rindo. - Agora deixa eu subir, eu sei que a parte mais difícil ainda está por vir - acrescentou, apontando, desanimado, o teto com o olhar.

Mione e Rony se abraçaram e olharam para o amigo com expressão de solidariedade. Sabiam que Harry travaria uma batalha com a mais teimosa dos Weasley. Seria muito pior do que as aulas de Trato com Criaturas Mágicas de Hagrid.

Ele subiu as escadas, rápido mas em silêncio, estava muito ansioso. Quando parou na porta do quarto de Gina lembrou da vez que a havia encontrado naquele mesmo corredor, de noite, quando ela adivinhara o medo que tinha sentido em seu sonho. Lembrou do jogo de quadribol no quintal, da dupla imbatível que formavam, pressentindo os movimentos um do outro. Lembrou também do rosto dela, contorcido em dor e mesmo assim olhando serena para ele, quase morta em seus braços. Tremeu neste instante. Foi o momento em que descobriu que a amava mais do que tudo na vida. Visualizou o beijo depois, sentindo novamente o corpo tremer, mas desta vez de saudade.  Então veio a dúvida à sua cabeça: será que ela ainda o amava? Ela não o via há meses...

Tolice! É claro que ela o amava. Eles eram almas gêmeas. Isso não se esquece, não se pode lutar contra. Então, com tudo isso em mente, respirou fundo, confiante, e bateu na porta.

- Entre Mione!

Gina estava absolutamente certa de que era a amiga, chamando-a para o lanche da tarde. Qual foi a surpresa quando, ao invés de Hermione, Harry tinha acabado de entrar no quarto. Ela, que folheava o seu antigo diário, deixou-o cair imediatamente no chão, fazendo um grande estrondo.

Ficaram alguns instantes apenas se olhando, em choque. Não conseguiam dizer nada. A emoção de estarem finalmente se vendo, após tanto tempo, era maior que a capacidade de se comunicar. Ambos tinham os olhos cheios de lágrimas. Ela então se moveu, lentamente, e depois correu. Ia, com certeza, sair porta afora. Mas Harry, com um rápido reflexo, já empunhava a varinha e a impediu, lançando um feitiço na porta, para trancá-la.

- Selamorra! - a porta agora estava selada, lacrada. Nem mesmo um aríete poderia arrombá-la. Em seguida, antes que ela se desse conta, murmurou. - Accio varinha da Gina! – tinha a posse dessa. Agora ela não poderia desenfeitiçar a porta, nem fugir. Gina olhou assustada para ele, que finalmente falou, calmamente. - Você não vai escapar, Gina. Só vai sair quando eu tiver terminado. Aí, se você ainda quiser, eu abro a porta e prometo que você não irá me ver. Nunca mais! - enfatizou, sério.

Ela se assustou tanto com a atitude quanto com seu tom mas o que a fez tremer mesmo por dentro foram as duas últimas palavras: "nunca mais". Ela mesma não compreendia como havia suportado todos esses meses sem contato algum com ele. Só ela sabia o suplício que tinha sido não ler nenhuma das várias corujas que mandara. Chegava a ter dó de Edwiges, que voava todo o percurso até a França para ganhar apenas água e biscoitinhos. A própria coruja branca de Harry já havia desistido de fazer a viagem até Beauxbatons, bicando seus dedos. A última carta havia sido enviada por uma coruja de Hogwarts. Mas Gina nunca abriu nenhuma. Nem conseguia tocar nelas, temia sentir o cheiro gostoso dele, impregnado no pergaminho, sua caligrafia, dizendo o quanto a amava. Tinha medo de ser convencida. Tudo poderia enfeitiçá-la, fazê-la retornar, desistir. Mas ainda não tinha passado pela sua cabeça que poderia não ver Harry Potter nunca mais.

- Por favor Harry! Eu imploro... Não faça isso! Deixe-me ir, antes que seja tarde demais - ela olhava o tempo todo para o chão. Tinha medo de encará-lo. Nunca pareceria suficientemente convincente para ele. Harry "leria", fácil e claramente, em seus olhos que tudo que mais queria na vida estava ali. Naquele quarto, naquele momento, à sua frente. Não conseguia acreditar que ele estava realmente tão próximo. - Como você fez isso? Como você soube que eu estava aqui? Eu vou matar o Rony...

- Ele não tem culpa. Mas isso não vem ao caso. Eu daria um jeito, de qualquer forma. Eu te disse que era apenas temporário. Eu acho que demorou até tempo demais... - ele agora estava se aproximando lentamente, Gina andava para trás a cada passo dele, como em seus sonhos. Até que ela se viu encurralada, encostada na parede do quarto. Mas desta vez ele não ardeu em chamas.

- Harry - disse, a voz miúda. Agora olhava, pela primeira vez, em seus olhos. Tinha medo, pedia clemência com o olhar. Ele continuou a olhá-la. Mas mesmo estando determinado não queria forçá-la a nada. Queria que se sentisse segura na sua presença. Nunca imaginou que ela poderia olhar para ele com tanto medo estampado na face.

- Gina - ele olhou para ela e aproximou a mão esquerda de seu rosto, num impulso, estava quase tocando-a. Ela estava congelada, acompanhou em pânico o movimento dele apenas com os olhos. Esperava, apavorada, o momento em que sucumbiria a ele, ao seu toque, mais uma vez. Harry olhou dentro dos olhos dela, parando o movimento já a milímetros da pele quente e macia. - Confie em mim! Não tenha medo, eu não vou te tocar... - disse calmamente. - Por mais que eu queira... Por mais que seja o que eu mais tenha desejado e sonhado todos esses meses... Eu só quero te mostrar algo. Depois vou embora. Você sabe, eu jamais faria algo...

- Que pudesse me magoar... - Gina completou. Não queria que ele se magoasse também. - Eu me lembro. Eu sei disso Harry. Mas é que te ver bem na minha frente e não poder te tocar dói muito. Mais do que qualquer outra coisa que eu já tenha passado na vida. Mais do que eu posso suportar...

Aquela era a confirmação. Ela ainda o amava, do mesmo jeito de antes, talvez ainda mais. Da mesma forma que ele a amava, incondicionalmente.

- E você não precisa me provar nada para eu acreditar em você. Eu confio em você... O que você quer me mostrar? - ela agora respirava fundo, tomando coragem para falar.

- Eu quero te mostrar a verdade. O meu sonho. Nosso sonho, já que o meu é a continuação do seu - ele continuava com a mão a milímetros do lado direito do rosto dela, olhando-a muito sério e compenetrado.

- E como você vai fazer isso? - ela estava, apesar das circunstâncias, muito curiosa com a atitude ousada dele.

- Um feitiço... E uma poção. Hermione me ajudou... Eu já tomei a poção. Agora vou precisar dizer um encantamento e manter minha mão aqui, próxima à sua têmpora.

- Meu Deus! Até a Mione fez parte disso? O que vai acontecer? O que eu tenho que fazer?

- Eu vou conectar a sua mente à minha. Vou te transmitir meus pensamentos. E você vai reviver o meu sonho... Eu te trouxe uma continuação... Eu não sei como vai ser. Mas você tem confiar em mim e relaxar.

- Nossa! Agora sim, estou muito relaxada, depois dessa explicação... - Gina estava sendo sarcástica. Harry olhou desapontado para ela. - Está bem! Eu confio totalmente em você, afinal de contas. Você já fez isso antes? - ele nem respondeu, apenas olhou firme para ela, levantando as sobrancelhas.

Era óbvio que não tinha feito nada assim em toda a sua vida. Consultou Gina com um gesto, para saber se já poderia executar o encantamento.

- Estou pronta! – ela acenou com a cabeça, soltando o ar pela boca, para relaxar.

Harry apontou a varinha para ela e, mantendo a mão esquerda na posição de antes, sussurrou.

- Mens Conectare! - ela sentiu os olhos pesados e os fechou.

Havia calor emanando da mão dele e logo Gina estava inconsciente. Embora continuasse ali, de pé, dormia agora. Viu um borrão que se tornava cada vez mais nítido. Ela começava a sonhar.

Estava no mesmo quarto escuro de seu sonho, via-se segurando a filha no colo mas agora não sentia mais o medo que sentira antes e sim ódio. Estava atenta, varinha em punho, pronta para matar ou morrer. Segurando a mão dela própria e mantendo a ela e a filha atrás de si. "Minha nossa!", pensou. Estava revivendo o mesmo pesadelo mas da perspectiva de Harry agora. Ela via e sentia tudo como se fosse ele próprio.

Mantinha a varinha ainda em punho quando se viu dizendo: "Gina, tire a Hannah daqui. Agora". Mas Gina não se retirou e, com um clarão verde, o contato das mãos foi perdido.

Agora ela via a continuação da cena, como em seu sonho, só que era apenas expectadora. Ela própria, agarrada à filha, abaixava no chão e murmurava "Lumus!". Novamente a cena de Harry, morto, o desespero. Novo clarão verde. Mas ao invés de não ver mais nada ela pôde continuar assistindo.

A filha, Hannah, tinha sobrevivido. Chorava agora. Sozinha. O pai e a mãe estatelados lado a lado no chão. Quando aquele homem terrível de cabelos platinados se aproximou Gina pôde reconhecer que era Lúcio Malfoy.

"Ora, ora!", dizia ele, voltando os olhos frios e cinzentos para a pequena Hannah. "Quem diria? A história se repete. Seus pais acabaram com meu Mestre. Agora eu acabei com eles", ele ria enquanto falava. "Aconteceu o mesmo com seu papai quando ele era bebê. Mas nem tudo se repetirá, você não será uma órfã como ele. Você vai acompanhá-los. A vingança é tão doce", ele levantou a varinha para matar o bebê.

Hannah olhou nos olhos dele. Seus olhos verdes faiscaram e ela começou a chorar. Um choro insuportável para ele, que cobriu os ouvidos. Um vórtice de energia entrava pela boca do bebê durante o choro e Lúcio tremia. Em alguns segundos Hannah estava brilhando como se emitisse luz própria. E Lúcio foi sendo petrificado, contaminando-se pela luz, até que se partiu em pedacinhos minúsculos, que se evaporaram no ar.

Hannah olhou para os pais e sorriu. Um sorriso de amor, de carinho, de vitória. E a sua luz se espalhou por sobre eles, como uma chuva dourada, em espirais... E foi o que bastou. No mesmo instante Harry e Gina abriram os olhos, como se estivessem acordando. Olharam-se e viram a luz que saía da filha, agora se extinguindo aos poucos, até ficar igual a qualquer outro bebê. Nesse momento, quando os três se abraçaram, o sonho acabou.

Gina abriu os olhos e encontrou os de Harry. Ambos sorriam, tinham lágrimas correndo pelas faces e sabiam por quê: sua filha era muito especial. Tinha, dentro de si, luz suficiente para acabar com todas as trevas. Para devolvê-los de volta à vida. E aquela luz era fruto do amor deles. Ela só poderia existir se eles se amassem, se concretizassem esse amor e gerassem aquele bebê.

Gina fechou os olhos e com a mão direita fez com que a mão de Harry, suspensa ainda a milímetros de seu rosto, a tocasse. Como ela havia ansiado por aquele toque, senti-lo de novo. Ele enfiou os dedos por entre seus cabelos. Ela virou o rosto para a direita e beijou-lhe a palma da mão. Harry mantinha também os olhos fechados, queria apurar o que sentia. Mal podia acreditar que seu plano tinha funcionado. Ela continuou beijando a face interna do braço dele até que não resistiu mais e o abraçou com força, pendurando-se no pescoço dele.

Gina podia sentir o coração dele batendo rápido, junto ao seu. Podia sentir o cheiro dele. E quando encostou de leve nos lábios dele com os seus pôde sentir o gosto. Ela agora experimentava, de novo, o que era felicidade. Sentia-se inteira novamente, completa. Depois de meses de tortura sem aquela sensação maravilhosa de plenitude. Quanta saudade havia sentido dele.

Harry a segurou pela cintura e a puxou para mais perto. Como havia sonhado com aquele momento, passava as mãos pelos cabelos vermelhos dela enquanto Gina se equilibrava, na pontinha dos pés, abraçada ao seu pescoço. Eles não perceberam mas estavam andando para trás, afastando-se cada vez mais da parede que ela estivera encostada antes.

Andaram alguns passos, sem parar de se beijar, quando Harry esbarrou em algo que o fez parar. Havia batido com a parte de trás da perna na cama de Gina, que continuava a beijá-lo, e ele se sentou na beirada.

Gina agora estava de pé, em frente a ele, passando as mãos por entre seus cabelos negros e bagunçados e, mesmo assim, não conseguia parar de beijá-lo. Ela se sentou em seu colo, enlaçando com as pernas à sua cintura. Colocou as duas mãos espalmadas em seus ombros, Harry foi lentamente se inclinando. Agora, era a vez dele ceder, voluntariamente, ao beijo dela.

Ele já estava praticamente deitado na cama. Gina, ajoelhada por cima dele, já havia passado uma perna para cada lado de seu corpo e agora beijava seu pescoço. Ele não conseguia mais pensar em nada. Estava difícil suportar aquilo e manter a razão. Sabia aonde aquilo poderia levá-los mas tinha certeza de que aquele não era, ainda, o momento certo. Sabiam que não poderiam continuar. Chegariam a um ponto em que não seriam mais capazes de parar.

Pararam de repente, antes fosse tarde demais. Suspiraram fundo, olharam-se e riram da situação. Gina calmamente tirou as pernas de volta dele e deitou ao seu lado, virando a cabeça para ele, para conversar. Ele sorriu, tirou os óculos - que estavam embaçados - e os limpou na própria camisa, colocando-os de volta para vê-la direito. Gina riu de novo, estava embaraçada com o que tinha acontecido. As bochechas pareciam duas maçãs maduras e os cabelos ruivos estavam tão despenteados quanto os dele. Harry então falou, tentando quebrar o constrangimento.

- Gina, eu te amo. Mais que tudo! E eu gostaria de te perguntar uma coisa... Eu sei que a essa altura pode parecer meio desnecessário... Mas eu gostaria de fazer isso de maneira apropriada - ele olhava para ela muito compenetrado agora.

- Pode falar, o que é? – disse, olhando-o, embevecida, os olhos castanhos brilhando.

Ele se levantou da cama bruscamente, num salto. Ela se assustou e se sentou. Harry ajoelhou aos seus pés e, segurando sua mão direita na dele, beijando-a delicadamente, disse solenemente.

- Virgínia Weasley, você daria a honra de ser minha namorada? - ela sorriu, olhando para baixo, dentro dos olhos dele. Gina tinha os olhos marejados agora. Tinha esperado muito tempo para poder viver aquele amor por inteiro.

- Nada poderia me fazer mais feliz, Harry Potter! - agora as lágrimas escorriam livremente por sua face ruborizada.

Ele então a abraçou, ajoelhado ainda no chão, enlaçando sua cintura com os braços e ouviu seu coração batendo acelerado. E eles se beijaram mas de maneira terna desta vez. Ela fez um gesto com a cabeça e deu a mão a ele, para que se deitasse ao seu lado de novo. Harry, com a mão entrelaçada à sua, obedeceu. Estavam deitados agora frente a frente. Ele brincava com os cabelos ruivos, colocando-os para trás da sua orelha enquanto Gina parecia se afogar no verde dos olhos dele. Ainda estavam muito afogueados, ofegantes e desalinhados. Harry finalmente disse, depois de permanecerem alguns minutos em silêncio, apenas se olhando.

- A essa altura seu irmão e Mione devem estar preocupados conosco. Mas se descermos as escadas nesse estado é capaz de eles acharem que travamos uma luta ou duelo quase até a morte e acabamos trocando uns tapas ou coisa assim... - ele riu com vontade agora. Ter Gina deitada ao seu lado, daquela maneira era maravilhoso, como um sonho. Agora estavam juntos de novo. Eram oficialmente namorados. E ficariam assim para sempre.

- Dos males o menor... - ela deu um sorrisinho irônico. - Antes pensarem isso do que meu irmão saber o que quase aconteceu e te dar uns tapas... - agora ela zombava, rindo, de Harry. - Se bem que eu acho que ele faria bem mais que isso, seria apenas o mínimo que ele faria.

- Virgínia Weasley!  - Harry se fazia de ofendido. - Como se você, Srta. Weasley, tivesse sido obrigada a fazer alguma coisa aqui... - ele sorria marotamente agora.

- De certa forma eu fui - o sorriso sumiu automaticamente do rosto do garoto e ele ficou sério, preocupado com o comentário, não esperava que dissesse aquilo. Não queria que achasse que seria capaz de forçá-la a fazer algo que não estivesse preparada ainda. Não queria que se sentisse assim. - Calma meu amor! - disse, rindo, percebendo o que tinha passado pela mente dele. - Eu quis dizer, nós fomos! Nós dois! Você há de convir que tantos meses de saudade são bem difíceis de se compensar... - disse, piscando para ele, que sorriu aliviado e lhe fez cócegas, Gina mudou de posição, rindo muito.

Agora estava debruçada em seu peito, deitada sobre sua barriga, olhando-o nos olhos. Ela ria maliciosamente para Harry, subindo e descendo no compasso da sua respiração, alisando em sua testa dele a famosa cicatriz em forma de raio. Ele poderia diferenciar o toque dela do de qualquer outra pessoa no mundo. Mesmo estando de olhos fechados.

- Meu Deus! Como eu te amo! Não sei como eu consegui permanecer tanto tempo sem você  - Harry olhava dentro dos olhos de Gina enquanto falava.

- Eu também... Fico assustada com a intensidade do que eu sinto por você... Não agüentaria ficar um só dia mais longe de você!

- Isso significa que você vai ficar aqui? - perguntou ansiosamente enquanto ela desenhava com a pontinha do dedo coraçõezinhos imaginários sobre seu peito. Gina começou a falar, a princípio sem olhá-lo.

- Isso significa que eu tomei uma decisão fácil e acertada... - ele ficou atento, esperando-a terminar. - Eu vou deixar o intercâmbio em Beauxbatons - disse, olhando decidida para ele. - E voltar para Hogwarts. Para casa, para a Inglaterra - ele sorriu. - Para o amor da minha vida... Para você, Harry Potter! - ele então a puxou bruscamente para cima e a beijou apaixonadamente. Nunca tinham sido mais felizes em toda a vida.

Foram interrompidos por batidas à porta. Era Hermione, que tinha subido para ver se estava tudo bem. Rony havia insistido que ela fizesse isso, temia pela integridade física do amigo. Sabia do que um Weasley contrariado e furioso era capaz.

- Gina, Harry! Está tudo bem aí? - Mione agora olhava curiosa para a porta, lacrada magicamente. Ela pôde ouvir os dois responderem lá de dentro, as vozes abafadas.

- Está sim Mione! - gritou Gina, rindo um pouco. - Já vamos descer para lanchar. E avise ao Rony para pôr mais um prato na mesa e mais uma cama no quarto dele. O Harry vai ficar - continuou com um lindo sorriso. - Para sempre - sussurrou para que apenas o garoto pudesse ouvir.

- É Mione! Deu tudo certo, você é um gênio, o encantamento funcionou - Harry disse, provando para a amiga que estava vivo e bem.

Mione, do lado de fora, deu um sorriso enorme. Disse "É isso aí!", gritou para Rony enquanto descia correndo as escadas.

- Ron, ele está inteiro e passando muito bem! Deu tudo certo! O feliz casalzinho já vai descer. Teremos mais um para o lanche e você mais um para dividir o quarto hoje. Aliás, precisamos comemorar. Vamos abrir umas cervejas amanteigadas.

Rony sorriu, aliviado. Realmente tinham que comemorar. Não só tinha ajudado o melhor amigo como também a irmã a reencontrar a felicidade. Apesar de ter contrariado toda a família Weasley, sobreviveria para contar a história.