Harry ainda estava atordoado demais para pensar em alguma coisa. Todos andavam de um lado para o outro, falando alto e ao mesmo tempo. Arabella conversava com Arthur, Molly e Allana; falava ainda mais rápido do que de costume, parecia estar dando alguma espécie de instrução para eles. Ele ficou fora da conversa mas podia observar, pelo semblante desanimado da madrinha, que as notícias não eram lá muito animadoras. Harry e os outros Weasley aguardavam calados que os adultos terminassem. Mesmo Gui, Carlinhos e Percy estavam preocupados e ouviam em silêncio o que os outros falavam. Quando Arabella acabou de falar com os outros adultos eles se voltaram para os garotos.
- Vou explicar o que aconteceu mas vou ser breve. Dumbledore me instruiu a buscar Harry e Allana. Eu devia trazê-los imediatamente para cá. Arthur já estava sabendo de parte da história - ela tomou fôlego e continuou a falar depressa. - Azkaban está vazia. Isso foi denunciado por uma coruja anônima que foi enviada ao Ministério. Mas já foi confirmado. Deve ter acontecido durante a madrugada. Não há mais ninguém naquela prisão. O pior é que os dementadores sumiram, não se sabe ainda como mas é certo que tem dedo de Você-Sabe-Quem aí. Ou mesmo de seus Comensais da Morte.
- Não se sabe como eles fugiram? - perguntou Harry. Gina e Rony se entreolharam, assustados.
- Não. Mas isso não vem ao caso, Harry. O importante não é como nem por quê, mas para onde eles foram - os meninos fizeram uma expressão apavorada. - É, é isso mesmo que vocês entenderam. Eu tive que tirar vocês de casa porque seria um alvo muito fácil para os dementadores. Dumbledore acha que eles vão vasculhar cada canto do país para tentar pegar você, Harry - o menino sentiu o sangue gelar nas veias. Sabia o que significava estar frente a frente com um dementador. - Você é ainda muito importante para Você-Sabe-Quem.
- Então eu não devia ter vindo para cá - disse, tomando coragem. - Eu não quero pôr os Weasley em risco - Gina procurou instintivamente a mão dele, entrelaçando-a à sua.
- Você não está pondo ninguém em risco, Harry - disse Arthur.
- É, querido. Estamos bem protegidos aqui - emendou Molly, tentando acalmar o garoto. - A Toca é cercada por feitiços protetores.
- Sim. Mas por pouco tempo - completou Arabella. - Logo os feitiços que cercam a Toca, protegendo-a, não serão mais capazes de impedir que invadam a propriedade. É por isso que Dumbledore ordenou que todos fosse levados a Hogwarts ainda esta noite. Serão feitos dois feitiços Fidelius para proteger tanto a minha casa quanto a de vocês. Teremos que aprontar tudo antes do início do ano letivo, enquanto o castelo está vazio. Se tudo correr bem vocês poderão retornar para casa domingo á noite - os Weasley se entreolharam e concordaram. - Vocês devem arrumar as suas coisas agora. O mais rápido que conseguirem. Os dementadores podem sentir a presença daqueles que procuram e não sabemos quão longe podem estar daqui. Temos que sair bem depressa.
Os minutos seguintes foram uma grande correria. Os Weasley se trombando pelas escadas, juntando sacolas, malas, malões, gaiolas, aos tropeções. Tudo o que poderiam precisar nos dois dias em que ficariam em Hogwarts. Além disso, Gina, Rony e Harry permaneceriam na escola para o ano letivo e levariam todo o material escolar.
Quando já estava tudo devidamente arrumado Arabella entregou para Harry uma bota enlameada. Ele sentiu o mundo sumir dos seus pés e num instante estava no Salão Principal de Hogwarts, agora extremamente vazio e na penumbra. Esperando por ele estavam Dumbledore, a professora McGonagall, Hagrid e os três gigantes: Vasta, Colossus e Miúdo.
Antes que Harry pudesse falar alguma coisa os Weasley "pipocaram", um a um, chegando também na escola. Gina, depois Rony, Fred, Jorge, Percy, Carlinhos, Gui, Allana, Molly, Arthur e, por fim, a própria Arabella. Foi nesse instante que Dumbledore veio até eles, recebê-los.
- Sejam bem-vindos. É uma pena que essa não seja uma hora feliz. Mas mesmo assim me alegro em ver que todos estão bem – disse, olhando com os olhos azuis vivos por cima dos pequenos óculos de meia-lua dentro dos olhos de cada um deles.
- Está tudo em ordem diretor - disse Arabella. - Eu expliquei o que tinha acontecido mas acho que eles ainda devem estar bem confusos. Principalmente sobre o que diz respeito a segurança - ela não mencionou o feitiço Fidelius na presença dos gigantes pois sabia que era extremamente confidencial.
O feitiço era estritamente controlado pelo Ministério e não podia ser feito sem autorização do mesmo. Moody já tinha assinado os documentos de liberação, permitindo a realização dos dois feitiços, mas faltava ainda que decidissem quem seria o fiel de cada segredo. Teriam que ser duas pessoas da mais absoluta confiança. Alguém que não fosse facilmente encontrado e de quem não pudesse se suspeitar. Alguém que pudesse passar facilmente despercebido e incógnito. Mas isso seria decidido um pouco mais tarde. Primeiro todos deveriam ser devidamente acomodados.
Dumbledore pediu para que os gigantes instalassem os Weasley na Torre Sul, onde ficava a ala hospitalar. Havia algumas enfermarias desativadas com camas disponíveis para todos. Harry e Allana poderiam ser acomodados junto com eles.
Depois de todos estarem devidamente acomodados Dumbledore requisitou uma breve reunião, antes que fossem iniciados os procedimentos de execução do feitiço Fidelius. Restava ainda uma questão importante a ser resolvida: segunda-feira seria o primeiro dia de aulas e como explicariam a ausência de Harry, Rony e Gina no Expresso de Hogwarts, uma vez que estes já se encontravam no castelo? Obviamente, não era nem um pouco prudente que os meninos fosse enviados para a estação King's Cross, já que seria o primeiro lugar em que Harry seria procurado. Era muito conveniente para as forças inimigas um local e hora marcados em que estaria o famoso Harry Potter e seus amigos. Mas, da mesma forma, não poderiam perder o trem. Os outros alunos achariam muito estranho o fato de Harry e os dois Weasley mais novos já estarem na escola quando chegassem para a Cerimônia de Seleção. Rony, que até então não tinha se manifestado, fez, nervoso, uma pergunta que fugia um pouco do assunto a Dumbledore.
- Professor, me desculpe, mas e a Hermione? Ela está bem? - Dumbledore riu.
- Sim, Sr. Weasley, está. A Srta. Granger não corre nenhum perigo.
- Mas por quê? Como? - perguntou, um tanto quanto preocupado ainda.
- Por que Harry nunca esteve na casa dela. Os dementadores não podem sentir a presença dele lá então ela está segura. Eles estão procurando especificamente por ele, não são criaturas inteligentes, apenas seguem instintos - Harry se sentiu um pouco mal com a resposta do diretor mas sabia que não era sua culpa o que estava acontecendo.
- Então Hermione está segura - afirmou Harry. - Mas nós ainda temos que bolar um jeito de estarmos em dois lugares ao mesmo tempo na segunda-feira – continuou, desanimado.
- Eu gostaria que Hermione estivesse aqui, Harry - disse Rony, sussurrando. - Ela saberia o que fazer... - mas neste instante Harry deu um sorriso enigmático. Um sorriso que significava que sabia algo que os outros não sabiam.
- Hermione, Ron. Ela nos tirou dessa encrenca. E nem precisou estar aqui para isso.
Rony a princípio fez uma cara de que não tinha entendido absolutamente nada. Mas então a sua expressão foi se transformando, até que estava sorrindo tanto ou mais que Harry.
- É Harry. Mione... Minha namorada é um gênio - Harry riu e se virou para o diretor, que ainda discutia com o resto das pessoas uma maneira de solucionar aquele impasse.
- Professor Dumbledore - começou Harry. - E se nós estivéssemos no trem mas não fôssemos realmente nós? Os dementadores não teriam como sentir a minha presença dessa forma, não é mesmo? - Dumbledore se virou para ele, erguendo a mão para que os outros fizessem silêncio.
- Sim Harry. Eles não poderiam. Mas o que você propõe exatamente? - o diretor tinha os olhos azuis cintilantes agora. Os Weasley olhavam curiosos para ele.
- Poção Polissuco - disse com simplicidade.
- Hum - Dumbledore parou por alguns instantes. Arthur então perguntou.
- Mas isso vai dar certo, Dumbledore? Não é arriscado? - a esposa olhou para ele com a expressão de que pensava o mesmo. Gui, Carlinhos e Percy se entreolharam com expressões idênticas.
- Pode funcionar - concluiu o diretor.
- Mas onde nós vamos arrumar três pessoas de confiança para se passarem por vocês três? - perguntou Molly, curiosa. Harry sorriu nessa hora e olhou para trás do diretor, exatamente onde estavam de pé Miúdo, Colossus e Vasta. Rony abafou uma gargalhada e os gêmeos não fizeram questão de segurar o riso. O diretor abriu um sorriso.
- Então nós faremos isso. Está resolvido. Vasta, Colossus e Miúdo se passarão por Gina, Rony e Harry no Expresso de Hogwarts depois de amanhã. Isto é, se eles concordarem - mas os três responderam em conjunto um sonoro "é claro que concordamos".
Ele chamou Hagrid e pediu que pegasse um frasco de Poção Polissuco no armário de Snape nas Masmorras, onde os meninos tinham aulas de Poções. Depois deveria levar os gigantes para a Torre Sul, onde explicaria o que seria feito posteriormente. A professora Mcgonagall os acompanhou, levando as chaves duplicatas do armário de Snape para poder pegar todo o material necessário.
Depois que Hagrid se retirou com os três gigantes e a professora McGonagall, Dumbledore se dirigiu a Arabella.
- Minha velha amiga, agora nós teremos que tomar uma decisão muito importante. Teremos que decidir em quem vamos confiar a segurança de Harry e dos Weasley - todos se entreolharam. - Não poderemos cometer nenhum erro dessa vez ou poremos o futuro do mundo mágico em risco. É imperativo que nada, absolutamente nada, aconteça com Harry e tampouco com os Weasley. Custe o que custar, nós devemos protegê-los - prosseguiu, olhando enigmaticamente dentro dos olhos de Harry e depois olhando da mesma forma para Gina.
- Então nós temos que arrumar dois fiéis de segredo que sejam estritamente de confiança e que os defendam com a própria vida se necessário - disse Arabella.
- Exatamente - continuou Dumbledore. - Eu imagino que... - mas ele foi interrompido por Allana.
- Eu e Sirius - disse simplesmente. - Podemos nos disfarçar em animais e passamos despercebidos. Poucos sabem que eu retornei e Sirius ainda está foragido. É perfeito - continuou a argumentar, sob os olhares sérios dos outros. - Nós daríamos as nossas vidas por Harry. E, evidentemente, pelos Weasley também. Nós juramos a Lílian e Tiago que estaríamos ao lado do filho deles quando Harry precisasse. E essa hora chegou.
Ela olhou dentro dos olhos de Harry e antes que ele pudesse se opor àquilo ela o abraçou com os olhos marejados e disse.
- Eu não tenho filhos, Harry. Perdi muitos anos da minha vida. Sirius também. Não me impeça de fazer isso. Não quero que os nossos anos perdidos tenham sido em vão. Eu jurei para sua mãe que faria por você o mesmo que ela faria. E ela deu a vida por você. E se precisar eu farei a mesma coisa. Sei que Sirius também o fará. Ele o teria feito há quinze anos pelos seus pais. Então não nos tire o direito de reparar os erros do passado. Nós amamos você como se você fosse nosso próprio filho.
Harry retribuiu o abraço da madrinha e, emocionado, concordou com a cabeça. Concordava que ela e Sirius fizessem o feitiço e, embora estivesse se sentindo extremamente ansioso e preocupado, era a primeira vez que ouvia palavras que uma mãe fala para um filho. Então Dumbledore os interrompeu, olhando satisfeito para Allana.
- Eu não imagino duas pessoas melhores para fazer isso - olhou para Arabella, que estava com uma expressão apreensiva no rosto. - Nós não podemos impedi-los, minha amiga. Uma escolha do coração é mais sábia que uma da razão. Se nós soubéssemos disso no passado muitas desgraças teriam sido evitadas. Talvez os Potter ainda estivesse conosco e Sirius e Allana não teriam passado o que passaram todos esses anos. E nem você, Arabella.
O diretor se referia à troca do fiel do segredo dos Potter e a toda a tragédia que se seguiu à traição de Pedro Pettigrew, aos anos que Sirius passou em Azkaban e ao sumiço de Allana. Arabella forçou um sorriso, concordando com o amigo.
Dumbledore então fez algo que espantou a todos. Ele assobiou, para estranhamento geral. Mas em alguns minutos tudo ficou explicado. Fawkes entrou voando graciosamente e, planando por sobre a cabeça de todos, pousou nos ombros do velho diretor, soltando um chiado melodioso em direção a Harry.
- Olá Fawkes - disse Harry, sorrindo enquanto o diretor colocava uma carta enfeitiçada endereçada a Sirius na patinha da Fênix.
- Vá Fawkes - disse Dumbledore. - Entregue essa carta nas mãos de Sirius. E volte. Podermos precisar de você aqui.
Tão logo o diretor disse essas palavras o pássaro ergueu as asas e alçou vôo. Entregaria a carta nas mãos de Sirius mas Gina tinha ficado intrigada.
- Professor, como o senhor sabe que não vão interceptar Fawkes? - Dumbledore sorriu.
- Minha querida Srta. Weasley, aquela carta só poderá ser tocada pelas mãos de Sirius e lida por seus olhos. Fawkes é uma fênix e é o pássaro mais confiável para esse tipo de correspondência confidencial. Ele pode voar sem ser visto e se mãos erradas tentarem tocá-lo, ou mesmo o envelope, ele se consumirá em chamas, evitando que alguém intercepte a ele ou à carta - Gina arregalou os olhos, impressionada.
- Então ele morre - concluiu Rony. - É uma missão suicida? - o diretor olhou para ele e para os outros Weasley, que até então continuavam em silêncio.
- Como eu disse, Fawkes é uma fênix e não morre, Sr. Weasley - ele sorriu, divertido, para Rony. - Ele queima e depois renasce das próprias cinzas - concluiu, olhando sereno para Harry. - Agora vocês devem se retirar. Vão para a Torre Sul descansar. Mais tarde eu irei até lá para acertamos com Hagrid e os outros os detalhes de segunda-feira. Eu, Arabella e Allana vamos esperar por Sirius. Ele não deve tardar muito a chegar. A carta que enviei servirá como uma chave de portal. Assim que os detalhes do feitiço Fidelius estiverem prontos eu os chamarei. O feitiço deve ser realizado amanhã, ao cair da tarde.
Com essas palavras Harry e os Weasley se retiraram para os aposentos reservados a eles. Estavam muito cansados e ainda teriam que esperar pelos gigantes. Mas Harry, mesmo tendo permitido que Allana e Sirius fossem os fiéis dos segredos, ficou um tanto quanto preocupado. Não gostaria que nada acontecesse aos padrinhos. Estava ainda pensando sobre isso quando finalmente chegaram à Torre Sul.
A enfermaria desativada tinha sido preparada para eles e tinha agora no centro uma grande mesa, coberta de travessas cheias de comida e algumas garrafas de suco de abóbora e cervejas amanteigadas. E, embora todos estivessem ainda muito nervosos com o que estava acontecendo, sentaram-se para comer e conversar um pouco.
O Sr. e a Sra. Weasley, bem como os Weasley maiores, começaram a falar sobre tudo o que tinha acontecido, e sobre o que ainda aconteceria. Os meninos mais velhos estavam mais curiosos sobre o paradeiro dos dementadores e sobre a fuga em massa de Azkaban, Harry, Rony e Gina estavam um tanto quanto preocupados com a reação de Hermione ao falar com seus "sósias" na segunda-feira. Sabiam que a amiga acharia o comportamento deles muito estranho e poderia pôr tudo a perder.
- Harry, eu acho que o maior problema vai ser a Mione – disse Rony. - Ela vai perceber que nós não somos nós. E, bem... Eu não vou gostar que ela se pendure no pescoço do Colossus achando que ele sou eu - Harry olhou para ele e ergueu as sobrancelhas, como se estivesse falando um grande absurdo.
- Ron, isso não é hora para ter ciúmes. Tem muitas coisas piores para a gente se preocupar agora e... - mas Rony cortou o amigo.
- É, mas você não ia achar nada legal se fosse a Gina agarrando outro. Mesmo que ela pensasse que era você. Ou você não se importaria? - deu um sorriso amarelo e a menina corou um pouco.
- Tá Ron. Eu ia me importar – disse, abaixando a cabeça depois de olhar dentro dos olhos de Gina. - Mas isso não vem ao caso agora.
- A questão é que a Mione vai perceber, Ron, ela é muito inteligente – disse, encerrando o assunto.
- Temos que prevenir os três gigantes, ela pode colocar tudo a perder - Gina acenou a cabeça, concordando com o namorado.
- No mínimo ela chamaria um dos monitores chefes ou mesmo um professor se desconfiasse de algo estranho. Talvez lançasse um feitiço estuporante nos três - os dois garotos fizeram uma expressão que significava "se não agirmos os gigantes não vão nem ter chance" para Gina.
- É Harry, mas de certa forma vai ser engraçado, é como se nós estivéssemos fazendo uma dupla chegada a Hogwarts. Já pensou? Nós e nós mesmos? Ou nós mesmos e nós, sei lá... - disse Rony, rindo da situação absurda que seria criada no primeiro dia de aula.
Enquanto eles falavam Hagrid retornou com os outros. A professora McGonagall trazia o frasco da Poção Polissuco e dentro de poucos minutos Dumbledore chegou no aposento, acompanhado de Arabella, Allana e Sirius. O último largou a mão de Allana e se adiantou até Harry, abraçando o afilhado com força, bagunçando ainda mais o cabelo do garoto com a mão. Harry retribuiu o abraço e então Dumbledore começou a falar.
- Está tudo pronto. Agora nós vamos precisar de alguns fios de cabelo de vocês três - ele apontou para Harry, Gina e Rony, que prontamente arrancaram alguns fios e entregaram ao diretor.
A professora McGonagall separou um pouco da poção em três frascos, cada um estava preso a uma corrente de ouro. Ela colocou os cabelos de cada um nos frascos. A essência de Harry borbulhou e tomou uma coloração prateada, a de Gina saiu uma fumaça rosa e ficou totalmente transparente, a de Rony fez um chiado engraçado e ficou de um azul real profundo. Por fim, a professora entregou cada frasco a um gigante, que colocaram as correntes no pescoço. Deveriam tomar um gole da poção a cada hora, para garantir que se manteriam como os três meninos. O diretor os enviaria por uma chave de portal para A Toca junto com os Weasley após a realização do feitiço Fidelius, domingo à noite, da onde partiriam de manhã para a estação, como os verdadeiros Harry, Rony e Gina fariam.
Depois que os gigantes e a professora McGonagall se retiraram Dumbledore se virou para os Weasley e explicou que estaria juntamente com Sirius, Allana e Arabella, preparando tudo para a realização do feitiço. Era um ritual complicado e envolvia uma série de cuidados. Também preveniu a todos que deveriam descansar e que após a realização do feitiço a casa deles, bem como a de Arabella, seriam quase tão seguras quanto Hogwarts. Com isso ele se retirou, sendo seguido pelos outros.
Harry estava demorando muito a dormir. Todos os outros Weasley já estavam roncando. Até mesmo Rony. Ele ficou ainda rolando na cama por um bom tempo, até que desistiu. Toda a agitação do fim da noite tinha feito com o que restava do sono fosse embora de vez. Ele se levantou, devagar, da cama em que estava deitado e se esgueirou porta afora. Ele não reparou mas Gina ainda não tinha dormido. Estava apenas com os olhos fechados, os quais abriu bruscamente quando não sentiu mais a presença de Harry no quarto. Ela sentou na cama e viu a dele vazia. Então reparou, na penumbra, que a porta da enfermaria estava encostada. Rapidamente ficou de pé, e saiu atrás dele.
Gina seguiu pelos corredores silenciosos e escuros, não tinha idéia de para onde ele tivesse ido, resolveu se guiar pelo instinto. Fechou os olhos e respirou fundo. Sentiu uma sensação de bem estar invadindo todo seu corpo e virou então para a direita. Não tinha andado muito quando avistou a sombra de Harry, um pouco à sua frente. Ele estava descendo as escadas, para o andar de baixo. Ela continuou seguindo-o de longe. Não correu até ele ou o chamou, para não fazer barulho e denunciar que estavam fora da cama àquela hora da noite. Apenas continuou andando atrás dele. Viu quando ele saiu pela porta principal, para os jardins da escola. Achou engraçado passear livremente pelos corredores vazios e quietos, sem ter que se preocupar com Filch ou Madame Nor-r-ra. Desceu a grande escadaria e, afastando um pouco uma das bandeiras da porta - que rangeu baixinho - alcançou o jardim. Harry estava a alguns passos dela, andando devagar, olhando para o céu. Foi então que ela percebeu que ele estava com a sua Firebolt Thunder Power 3000 apoiada nos ombros. Gina se aproximou lentamente dele e tocou no seu ombro de leve. Harry se virou e, sorrindo, disse para ela.
- Eu imaginei quanto tempo você demoraria pra chegar aqui depois de dar pela minha falta. Quanto tempo demorou pra você perceber que eu tinha saído? - ela sorriu de volta.
- Eu senti imediatamente. Mas se você sabia que eu estava te seguindo, por que não me esperou? - ela fez uma expressão curiosa.
- Por que se eu parasse perto de você lá dentro eu não ia conseguir me segurar... Teria que beijar você ali mesmo. Não conseguiria chegar até aqui fora, pra fazer uma coisa que eu estava morrendo de vontade de fazer. E que só podia ser feita ao ar livre - ela se espantou.
- E o que você estava morrendo tanto de vontade de fazer que te impediu de me dar um beijo, Harry? - ela imprimiu um certo ressentimento nas suas palavras. Harry iluminou os olhos verdes para ela, com um lindo sorriso.
- Isso – disse, tirando a vassoura dos ombros, colocando-a entre as pernas e esticando a mão para Gina. Ela sorriu, curiosa. - Vem - ela ainda hesitou, apreensiva. - Por favor, Gina. Eu quero voar com você. Eu seguro você bem nos meus braços - ela respirou fundo e se posicionou à sua frente, Harry segurou firme a cintura dela com a mão esquerda, apoiando a outra mão na vassoura. Ele então deu um impulso com os pés e os dois ficaram a um metro do chão.
Gina entrelaçou a sua mão direita na mão esquerda dele, para se segurar, e apoiou outra na vassoura. Eles voariam à duas mãos, coordenadamente. Ela e ele guiando juntos. Gina se encostou no peito de Harry e colou seu rosto no dele. Ainda estavam voando devagar e baixinho. Mas ela se sentiu mais encorajada e segura do que nunca. Então sussurrou baixinho no ouvido dele.
- Me leva para o céu, Harry. Agora! - ele sentiu um arrepio percorrer a espinha e apanhou bruscamente os lábios dela com os seus, agarrando-a mais forte ainda pela cintura. A mão direita dela apertou a dele.
Enquanto o beijo ia se tornando mais intenso a altitude e velocidade aumentava, agora o vento fresco da noite passava rápido por eles e sobrevoavam os terrenos de Hogwarts e o lago. A lua refletia uma luz prateada na superfície da água, tornando-a cintilante. Eles não pararam de se beijar, a sensação de liberdade era cada vez maior. Era como se estivesse simplesmente voando sozinhos, sem precisarem da vassoura. Suspiravam enquanto se beijavam, mal conseguiam respirar, as línguas se tocavam lentamente. Tinham soltado as mãos da vassoura e agora estavam agarrados um ao outro, seguros na Firebolt apenas pelas pernas. Harry havia movido instintivamente a sua mão direita para a barriga dela, acariciando suavemente a sua pele quente e macia por debaixo do pijama. Gina, como ele, estava experimentando uma sensação indescritível de prazer com tudo aquilo. Ele nunca a havia tocado daquela forma antes. Por fim, ela falou, ainda sem desgrudar seus lábios dos dele.
- Eu não sei se realmente me importo... Mas acho que podemos bater se continuarmos a voar às cegas, desse jeito. Ou mesmo morrer - ele olhou dentro dos olhos dela e sorriu, voltando à razão, concordando. Então reassumiram o controle da vassoura e passaram apenas curtir o vôo. O vento por entre os cabelos, a noite estrelada e clara.
Ainda voaram por uma hora, abraçados, conversando. Harry disse a Gina que estava preocupado com ela e a família Weasley, que não gostaria que nada daquilo estivesse acontecendo. Mas ela muito sabiamente disse a ele que de certa forma era como se após quinze anos o desejo de seus pais estivesse finalmente prevalecendo e Sirius pudesse desempenhar o papel dele naquela história toda e que para o padrinho aquilo seria muito importante. Harry concordou.
Voltaram muito mais relaxados e felizes. De mãos dadas entraram de volta no castelo. Harry ia com a vassoura nos ombros e curtiram, conversando baixinho, despreocupados, o caminho de volta até a enfermaria em que dormiriam. Harry acompanhou Gina e a beijou novamente, desejando boa noite. Quando ele se virou para ir também se deitar ela o deteve, segurando-o pela mão. Ele se virou para ela e Gina fez um gesto com a mão, chamando-o para perto, para que pudesse falar algo em seu ouvido. Harry olhou em volta, checando se os outros estavam mesmo dormindo, e se inclinou para ela. Ela corou mas disse, num fio de doce de voz, no ouvido dele.
- Você sabe... Não precisa da sua Firebolt para me fazer voar. Você acabou de fazer isso de novo. Com seu beijo - o garoto corou mas ficou feliz com o elogio, deu uma nova conferida no estado de consciência do resto da família Weasley e, estando todos roncando, conduziu Gina a mais outro "vôo" daqueles.
- Eu te amo Gina Weasley - disse antes de soltá-la do seu abraço.
- Eu também te amo, Harry Potter. Para sempre - então ele foi dormir, bem mais calmo agora mas ainda assim ansioso. No dia seguinte ele finalmente descobriria tudo sobre o famoso feitiço Fidelius de proteção. Aquele que fora a perdição dos seus pais e que agora deveria ser a sua salvação.
