Pela manhã Harry, Rony, Gina e Hermione se encontraram na sala comunal e desceram para tomar o café da manhã. Gina teria aula de Poções e os outros de Transformações. A menina estava muito aborrecida, o professor Snape tinha uma implicância enorme com ela, quase tão grande quanto a que tinha com Harry Potter. Ela tinha certeza de que agora que os dois eram namorados a tendência era que Snape se tornasse praticamente insuportável.
- Eu acho que agora eu estou perdida - disse, desconsolada. - O seboso não vai largar do meu pé - Harry sorriu para ela e brincou, tentando animá-la.
- Quer terminar o nosso namoro, então? - disse de cabeça baixa, fingindo decepção. - Eu estava pensado que escoltá-la até as masmorras sempre seria suficiente, porque você sabe, eu faria qualquer coisa para te proteger do Snape mas... - ela colocou os dedos suavemente sobre seus lábios, impedindo-o de terminar a frase.
- Nunca! Nunca diga isso. Nem brincando, Harry - o garoto riu e, aproveitando que a mão dela estava encostada em seus lábios, deu um beijinho de leve.
Exatamente nesse instante entrava pela porta Draco Malfoy e o resto dos alunos da Sonserina. Ele fez uma cara de nojo para Harry e se sentou para tomar o café resmungando alto que quase tinha perdido o apetite. Harry virou o pescoço para olhar para ele e Gina, segurando o queixo do namorado, o fez virar de volta para ela.
- Não liga para o Malfoy, Harry.
- É Harry, aquele lá está é com inveja de você - disse Rony, sendo imediatamente reprimido por um olhar de Mione.
- Inveja? – perguntou Harry, curioso.
- É, porque você tem uma namorada e ele não, tem amigos e ele não, joga quadribol muito bem e ele não... - concluiu Mione, franzindo a testa para o namorado.
Rony entendeu que ela não queria que Harry achasse que Draco podia estar interessado especificamente em Gina ou isso poderia fazer com que o amigo fosse imediatamente até a mesa da Sonserina tomar satisfações com o outro garoto. Então Rony emendou, fazendo graça.
- Você tem cérebro e ele não... - Gina fechou a cara quando Rony falou isso. Ainda nutria uma certa gratidão por Draco e não gostava de agressões gratuitas de ambos os lados. Mas ninguém percebeu. Nem mesmo Harry. Todos estavam muito ocupados, rindo de Rony.
Ainda estavam sentados na mesa quando Harry começou a olhar para cima, ansioso. Rony e Hermione perceberam que estava esperando o reembolso coruja com o presente que encomendara para Gina. Em alguns minutos várias corujas, de todas as cores e tamanhos, entraram voando no Salão Principal. Harry sorriu ao avistar uma grande coruja cinzenta carregando um pacote maior que os outros. A coruja deu um mergulho e depositou o pacote nas mãos de uma Gina muito surpresa. A garota ficou alguns segundos ainda em choque, segurando o pacote nas mãos. Os outros se entreolharam e houve um burburinho geral no Salão, que já estava agora praticamente vazio. Mione quebrou o silêncio, piscando para Harry e Rony.
- Abre Gina. Vamos ver o que é - a menina então foi rasgando o pacote e quando viu o que era não pôde se conter de felicidade.
- Minha nossa! É uma vassoura! Uma Quick Queen 500. Que linda... Mas quem será que mandou? Papai e mamãe não fariam uma loucura dessas... - ela agora revirava o pacote, em busca de um cartão, mas não encontrou nenhum.
Já estava começando a achar que tinha sido algum engano quando a coruja branca de Harry veio voando calmamente até ela e entregou um pequeno envelope dourado nas mãos de Gina, que fez um carinho na cabeça de Edwiges, a ave piou contente para a menina.
"Te amo!
H.P."
Gina deu um sorriso enorme para Harry e foi até ele, abraçá-lo em agradecimento.
- É linda Harry. Adorei! Mas você não devia ter feito isso. Deve ter sido muito caro e... - foi a vez de ele interrompe-la com um suave beijo nos lábios.
- Se você se sentir melhor assim não pense no presente como um simples mimo. Pense como um investimento para o time. Afinal não preciso nem comentar que você é a nova artilheira da Grifinória. O que me lembra... – continuou, voltando-se para Rony. - O fato de que o time está novamente desfalcado, e muito. Precisamos de dois batedores e de dois novos artilheiros. Parece que vamos ter que trabalhar muito para montar o time esse ano - Rony e Gina concordaram com a cabeça.
Eles se levantaram e foram para a aula. Rony e Hermione seguiram para a sala da professora McGonagall mas Harry acompanhou Gina até a sala de Poções, como tinha prometido, antes de seguir para a sua aula. Quando chegou de mãos dadas com ela à porta da sala Snape apertou os olhos, raiva cintilando nos olhos negros. Harry olhou com desprezo para o professor e, dando um beijo de leve nos lábios de Gina, se virou para ir para a sua aula. Nesse momento os lábios de Snape se crisparam e o professor gritou, lá do fundo da sala.
- Vinte pontos menos para Grifinória - Harry voltou. Não tinha imaginado qual seria o motivo daquilo mas Snape explicou prontamente. - Eu não permito demonstrações explicitas de afeição nas minhas aulas, Sr. Potter e Srta. Weasley - os dois olharam furiosos para Snape e, antes que Harry retrucasse, Gina olhou nos olhos dele para que deixasse para lá. Acabariam pegando uma detenção. Tinha sido uma má idéia os dois aparecerem juntos ali. Não fariam mais isso. Harry então se apressou para a aula de Transformações.
Quando ele entrou na sala Rony o chamou discretamente. Tinha guardado um lugar ao lado de Neville Longbottom. Harry sentou e imediatamente a professora iniciou a aula. Era uma aula teórica sobre animagia e, ao longo da mesma, o conteúdo prático acabou se tornando importante e a professora se transformou várias vezes de humana para gato e de gato para humana. Os alunos ainda se espantavam quando ela fazia aquilo, mesmo sabendo desde o primeiro ano que a diretora da Grifinória era um animago. Estava tentando demonstrar que a escolha do animal não pode ser aleatória, o animal deve apresentar algumas peculiaridades do bruxo. Parecia não se cansar de falar, aparentemente o assunto a fascinava tanto quanto aos próprios alunos. Rony se inclinou para Harry e perguntou baixinho.
- Você acha que os marotos se preocuparam com isso, Harry? - mas o garoto fez um gesto com a mão, para que Rony esperasse o final da aula. Estava interessado no assunto.
A professora McGonagall ainda se transformou mais duas vezes até que deu por encerrada a aula, pedindo aos alunos uma dissertação de um metro e meio sobre animagia. Alguns ficaram indignados com o tamanho da tarefa mas a professora explicou que poderiam incluir gravuras se quisessem, o que sossegou imensamente aqueles com os ânimos mais exaltados. Ao final da aula Harry se aproximou da mesa da professora. Gostaria de saber mais sobre o assunto.
- Professora, eu posso fazer uma pergunta? - ela sorriu para o menino.
- Eu imaginei que o Sr. gostaria tirar algumas dúvidas, Sr. Potter. Então separei esse livro aqui para o senhor. Peço apenas que me devolva ao final do ano letivo. Talvez ele possa responder melhor as suas perguntas do que eu mesma - ela entregou a ele um volume de capa preta de couro com o título quase apagado: "Animagia Milenar Aplicada". Harry deu um sorriso enquanto colocava o livro na sua pasta. - Você pode tirar as suas dúvidas conforme for lendo o livro - a professora acrescentou. Ele agradeceu e foi encontrar Rony e Mione, que o estavam aguardando no corredor para irem para a aula de Trato com Criaturas Mágicas.
- O que você falou com a professora McGonagall, Harry? - perguntou Mione, academicamente interessada.
- Ela me emprestou um livro sobre animagia. Depois vamos dar uma olhada lá na sala comunal - Rony sorriu.
- Será que ele ensina como se tornar animago? Eu ficaria ótimo como um leão. Adoraria assustar os idiotas da Sonserina - Mione sacudiu a cabeça.
- Você não ouviu o que a McGonagall disse? A pessoa tem que possuir características em comum com o animal.
- E..? - perguntou para a namorada. Harry deu um sorriso, sabia o que Mione responderia.
- Francamente Ron! Um leão? A única semelhança entre você é a juba ruiva do rei dos animais - Harry abafou um risinho e Rony ficou decepcionado. Ainda ia argumentar mas já estavam em frente à cabana de Hagrid, que parecia muito ansioso para dar um recado aos alunos.
- Bom dia para todos.
- Bom dia! - responderam desanimadamente alguns alunos.
- Eu, infelizmente, não poderei dar aula para vocês hoje - os alunos da Sonserina e mesmo alguns da Grifinória esboçaram sorrisos. - Mas - emendou antes que os alunos começassem a se retirar - eu serei substituído pelos meus ilustres colegas aqui - apontou para os três outros gigantes, que coraram. Draco fez uma cara de desgosto tão exagerada que pareceu que o café da manhã não tinha caído bem no seu estômago.
Depois do breve discurso do ex-guarda-caça os outros gigantes iniciaram uma divisão dos alunos para aquela aula. Harry, Rony e Hermione ficaram curiosos com o motivo que Hagrid tinha para não dar aquela aula. Repararam quando o gigante saiu da sua cabana com os cabelos toscamente emplastrados para trás, com alguma espécie de resina fixante, e uma gravata borboleta simplesmente horrível. Imaginaram que o assunto que o amigo ia tratar era muito especial.
Enquanto imaginavam no que Hagrid poderia estar envolvido os outros gigantes tinham dividido a turma em duplas e, para infelicidade de Harry, Draco Malfoy havia sobrado, exatamente como ele. Ele respirou fundo e se virou para o garoto, torcendo para que a tarefa que os gigantes tinham programado para a aula terminasse logo. A tarefa era pentear lesmas do pântano.
Os alunos estavam se perguntando qual seria a utilidade daquilo quando Colossus segurou uma das lesmas - que mais parecia um caramujo, com um tufo de cabelos no lugar da concha. Miúdo deu uma breve explicação de que as lesmas deveriam ser penteadas para desembaraçar os pêlos e assim permitir uma visão adequada para os animaizinhos. Se ficassem com a visão bloqueada invadiriam as plantações e o castelo e não saberiam mais onde o seu habitat de origem, o pântano, ficava. Alguns alunos riram da explicação absurda mas Harry só gostaria de que a aula acabasse o mais rápido possível para se ver livre da companhia desagradável de Malfoy. Vasta então demonstrou, auxiliada por Colossus, como preceder, um dos alunos segurando a lesma e o outro um pente de dentes largos, os alunos começaram a imitá-los. Harry segurou firme a lesma para que o outro garoto a penteasse, tentava não olhar para a cara do sonserino. Rony e Mione mal conseguiam dar cabo da tarefa de tão preocupados que estavam com a situação do amigo. Draco parecia estar mais provocativo do que nunca e não fez questão alguma de manter o silêncio.
- E aí Potter? Se exibindo para a namoradinha, não é? - Harry ignorou. - Você acha mesmo que pode comprar a afeição da garota com uma vassourinha idiota? - Harry bufou, estava começando a se sentir estranho, como se fosse enjoar. Apertou a lesma do pântano nas mãos. Draco sorriu, vendo o bicho colocar a língua para fora enquanto penteava o tufo de pêlos na cabeça do animal. - É claro que seria mais eficiente que você mandasse alguma comida para aquela família de pobretões dela - agora Harry tinha praticamente esmagado a lesma nas mãos. Estava definitivamente com uma sensação estranha. Rony e Mione nem estavam mais prestando atenção no que faziam, Rony estava "penteando" o braço de Hermione enquanto ela já tinha soltado a lesma no chão que, enxergando apenas com um dos olhos, já que estava semipenteada, tentava rumar mesmo caolha para o pântano, fugindo daquela dupla de loucos. - Vai ficar calado, Potter? Não vai dizer nada para defender sua namoradinha? - Harry abriu a mão, deixando lesma apenas apoiada na palma. Tinha começado a ouvir um zumbido, daqueles como quando se está em silêncio absoluto. - Eu não sei o que aquela garota viu em você... Ela me pareceu saber muito bem o que queria no ano passado, quando foi comigo ao baile - Harry olhou com ódio para Malfoy. Suas insinuações tinham conseguido tirá-lo do sério. Ele sentiu um enorme calor subindo dentro de si.
POF! A lesma explodiu sozinha na mão de Harry, sujando Draco de uma gosma preta grudenta, viscosa e fedorenta. Harry se assustou e o outro garoto ainda o desafiou enquanto Rony e Hermione agora corriam para perto dos dois.
- Você precisava ver, Potter, quando ela tentou me beijar então - Draco falou baixinho no ouvido de Harry.
Mas aquela última frase tinha sido demais para Harry, que franziu a testa, tentando controlar o ódio que sentia mas era tarde demais. Todas as outras lesmas explodiram em seqüência, como pequenas bombinhas de bosta, espalhando um terrível fedor. Harry se sentiu culpado mas ainda esboçou uma última reação: deu um soco bem no meio da cara de Draco. Afinal, se ele pegaria detenção por ter assassinado, sem querer, todas as lesmas do pântano que pelo menos fizesse algo que valesse à pena.
Draco caiu de costas e Rony e Hermione, que tinham se assustado com a explosão das lesmas, não conseguiram impedir que Harry nocauteasse Malfoy. Vasta se aproximou deles, coberta de gosma de lesma, e disse tristemente.
- Infelizmente vou ter que retirar vinte pontos da Grifinória. E os dois vão cumprir detenção. Afinal, eu imagino que o Sr. Potter aqui não tenha simplesmente atacado o Sr. Malfoy à toa - Hermione ainda tentou argumentar mas ficou com medo que a situação se tornasse ainda pior. Então a aula simplesmente acabou. Afinal, não havia sobrado nenhuma lesma para contar a história. Miúdo sugeriu que os meninos se lavassem antes do almoço e das aulas da tarde.
Harry se retirou seguido por Rony e Hermione, sem dar uma palavra sequer. Os amigos imaginaram que o que quer que Draco tivesse dito tinha sido por demais perturbador ou ele não teria agido como agiu. "Escoltaram" o garoto até a sala comunal e, depois que estavam devidamente limpos e trocados, desceram para o almoço. Harry ainda continuava calado. Nem mesmo Rony havia tido coragem de perguntar o que Malfoy tinha dito.
Quando entraram no Salão Principal Rony não pôde deixar de notar, para sua satisfação, que Draco estava sentado na extremidade da mesa da Sonserina com um chumaço de algodão enfiado no nariz. Provavelmente Harry tinha quebrado o nariz arrogante do garoto.
"Bem feito!" pensou, embora ainda estivesse curioso com o que Draco tinha dito ao amigo. Mione também estava calada. O único momento em que ela disse alguma coisa foi quando Gina entrou pela porta principal. Ela acenou, chamando a amiga.
- Gina, estamos aqui - a menina veio andando alegremente na direção deles mas foi mudando a sua expressão quando olhou nos olhos de Harry, que até então tinha permanecido de cabeça baixa, só levantando quando Mione chamou a garota.
Gina olhou dentro dos olhos verdes de Harry e viu que alguma coisa tinha acontecido. Ele simplesmente olhou para elam dirigiu o olhar vagamente à mesa da Sonserina e de volta para ela. Gina engoliu em seco quando, sendo guiada pelo olhar de Harry, viu o nariz quebrado de Draco. Com certeza tinha sido ele que tinha feito aquilo. Continuou a andar na direção dos amigos mas agora sua expressão era de extrema aflição. Ela se sentou em frente a Harry e iniciaram algo que para eles foi tão natural quanto estranho e imperceptível para os outros.
Começaram a conversar apenas com o olhar, sem que pronunciassem uma só palavra. Rony e Mione não perceberam o que estava acontecendo, apenas observavam a mudança de expressão no olhar de cada um além dos gestos que faziam com estranhamento. Parecia que estavam conversando em uma outra língua ou estavam perdidos em uma dimensão diferente.
"O que foi, Harry?", disse Gina, apenas olhando pra ele.
"Por que voc não me diz?", ele respondeu, fechando os olhos.
Ela pôde ver mentalmente, exatamente como um filme, a cena que ele e Malfoy tinham feito na aula dos três gigantes. Gina abaixou a cabeça, balançando-a negativamente. Os outros continuavam a olhar de rabo de olho, estranhando o comportamento deles. Mione franziu a testa para Rony, que deu de ombros. Continuaram calados, fingindo que almoçavam tranqüilamente, tentando ignorar o que Harry e Gina faziam, que por sua vez continuaram a conversa silenciosa.
"O que você quer saber exatamente, Harry?", ela o olhou, ansiosa mas decidida. Ele ergueu a sobrancelha para ela e Gina viu apenas os lábios de Draco se movendo e o som amplificado da voz dele, ecoando na sua cabeça: "Você precisava ver, Potter, quando ela tentou me beijar então". Ela arregalou os olhos para Harry, que a olhou com uma expressão indecifrável. Harry nunca tinha olhado daquela forma para ela. Então Gina entendeu o que ele estava sentindo.
"Ciúmes... Você está com ciúmes? Ciúmes do Malfoy?", Harry abaixou a cabeça, bufando. Nunca tinha sentido aquele sentimento daquela forma, tão pura, selvagem, destrutiva até. Afinal tinha matado algumas dezenas de lesmas apenas com a estranha sensação que tinha sentido no fundo do estômago. Harry não sabia que o que tinha sentido pudesse ser tão forte e poderoso. Ela sorriu e esticou a mão para ele.
"Eu teria te contado", ela disse, tocando sua mão. "Mas não sabia se você acreditaria e depois do que descobrimos sobre a sua mãe e Snape...", ele puxou a mão, fugindo do toque. Os olhos verdes se encheram d'água e ela adivinhou uma mágoa profunda neles. Harry agora achava que ela realmente tinha tido algo com Draco e não tinha dito nada a ele.
Mas antes que ele se levantasse, evitando chorar na frente de todos, ela deu um soco na mesa, o que chamou não só a atenção dele como de todos os outros. Gina então segurou a mão dele com força e olhou decidida em seus olhos.
"Eu não queria fazer isso", ela disse em silêncio. "Mas você não me dá outra escolha", ela fez com que os olhos verdes dele se fixassem profundamente no poço escuro e misterioso dos olhos castanhos dela, perdendo-se ali.
Harry via agora, como ela tinha visto, um pequeno filme das memórias. Ele a viu n'A Toca, no ano anterior falar sozinha enquanto Hermione dormia: "Como é que a gente faz... Quando a outra pessoa sequer nota que a gente existe?", bruscamente, Gina piscou e uma nova cena surgiu.
Estava sozinha com ele no quarto de Rony. Harry viu quando ela se inclinou e tocou os lábios nos dele enquanto dormia. Novamente a cena mudou.
Ele pôde observar Rony falando: "...Harry... Ficou lá, junto com a apanhadora da Corvinal...". Depois viu Gina e Mione conversando no dormitório feminino: "Ah! Mione...", ela abraçou-se à amiga, soluçando. As vozes ecoavam como se estivessem saindo das profundezas da mente dela. As imagens às vezes eram desfocadas.
As cenas se passavam rapidamente na cabeça de Harry, era como se estivesse vendo um resumo de tudo o que Gina tinha passado e sentido durante o ano anterior. Mas ela ainda queria mostrar uma cena para ele. Apertava a mão dele com força, evitando que desprendesse o olhar dela.
Harry viu Gina e Mione de novo, a namorada muito nervosa: "Não vou suportar... Tudo menos isso...", dizia a ruiva.
"Harry?... Só se comporta como um perfeito idiota quando o assunto é...", Mione parecia tentar acalmá-la.
"Cho Chang...", Gina completou.
"É a outra componente do nosso grupo...", ele viu a expressão de derrota em seu olhar.
A partir daí ele apenas ouvia frases soltas e rápidas, ela parecia estar ansiosa para conduzi-lo a um ponto específico. "O jeito que ele olha para ela... É insuportável... Eu o amo desde a primeira vez que eu o vi... Nunca me olhou dessa forma... Nunca vai..." "É claro que eu aceito ir ao baile de inverno com você, Harry...", era a voz fina e arrastada de Cho Chang falando agora.
"Ele tem medo do que nós podemos ter juntos... Eu sempre só vi Harry Potter na minha frente...", Gina falava rápido, seguida por Mione.
"Está na hora de você começar a olhar para os lados...", então houve uma pane. Ficou tudo escuro e em silêncio. Ele começou a ouvir uma respiração rápida, ofegante, um choro, cada vez mais próximo. Até que ele viu. Gina e Draco sentados na beira do lago. Ela mostraria a cena inteira para ele.
"Eu queria poder esquecer isso tudo... Esquecer que ele existe... Mas não... A tonta tem que ficar com ciúmes, tem que ficar babando, correndo atrás dele... Eu quero esquecer, Draco... Eu juro que eu quero... Eu sei que eu posso lutar contra isso... Eu posso... Eu preciso esquecer...", ela chorava copiosamente. "Isso está acabando comigo... Você pode me ajudar?", ele a viu se aproximando de Draco para beijá-lo mas não era um ato de paixão, não havia amor algum ali e sim desespero. Ele continuou a ver até o final, quando Draco se afastou dela, agora as lágrimas escorriam dos seus olhos verdes e ele nem se importava.
"Você ama a ele, não a mim...", ouviu Malfoy dizer. "Eu não poderia deixar você mentir para você mesma...", completou.
Por fim, Gina respondeu, conformada: "Obrigada! Eu não vou esquecer o que você fez...", agora tinha terminado de mostrar a ele o que queria.
Os olhos dela estavam cheios de uma ternura imensa e as lágrimas desciam livremente. Mas não eram lágrimas de mágoa ou de tristeza e sim lágrimas impregnadas do mais profundo amor por ele. Gina tinha certeza de que tinha conseguido fazê-lo compreender a dimensão do que sentia. Harry finalmente tinha entendido perfeitamente o que se passava dentro dela.
Ele se levantou do banco, sem tirar os olhos dela, e, dando a volta na mesa, foi até Gina. Ele se aproximou e a abraçou na frente de todos os alunos da escola. Rony e Hermione continuavam com a mesma cara de bobos de antes, não tinham entendido como que permanecer cerca de vinte minutos em silêncio de mãos dadas poderia ter modificado tanto a atitude dos dois. Eles não tinham ouvido a conversa, tampouco alguém. Nem eles próprios haviam se dado conta do grau de cumplicidade que possuíam para ter conseguido fazer aquilo.
- Me perdoe Gina - ele sussurrou em seu ouvido. Ela sorriu e lhe deu um beijo, instintivamente. Depois corou diante dos aplausos que arrancaram da mesa da Grifinória, que batia palmas e assobiava, de brincadeira, enquanto Harry retribuía o beijo, levantando-a parcialmente do chão. Rony era o único que protestava.
- Respeito aí gente! Ela é minha irmã... Silêncio Simas. Dino cala a boca! Neville, nem se atreva a jogar esse guardanapo amassado neles... - Mione apenas ria, satisfeita que tinha acabado tudo bem.
Draco olhou enojado para a cena e empurrou o próprio prato para longe, dessa vez tinha perdido completamente o apetite, quebrado o nariz e, mais tarde, ainda teria que cumprir detenção. Definitivamente aquele não seria um bom dia.
