Capítulo Dez - Uma Porta Que Se Abre

- Rabicho! - uma voz aguda e fria ecoou nas paredes de pedra cobertas de limo.

- S-sim Mestre! O que o senhor deseja? - ele veio prontamente, a cabeça baixa, a voz trêmula e receosa. Sabia que se o Mestre estivesse de mau humor ou mesmo entediado acabaria sendo torturado novamente, para seu entretenimento. Mas o homem parecia sorrir. Os olhos oblíquos de serpente brilhavam perversamente.

- Eles descobriram, Rabicho. Finalmente! Abriram a porta e agora eu posso entrar. E eu vou entrar. E quando eu entrar... Vou destruir todos eles - começou a gargalhar. Cada vez mais alto, as gargalhadas reverberando nas paredes de pedra, deixando um som úmido no ar.

Harry abriu os olhos. A cicatriz latejava. Instintivamente levou a mão à testa. Hermione foi a única que percebeu. Rony também estava dormindo na aula do professor Binns. Não estava nem um pouco interessante ouvir a história da Bruxa Morgana contada pela voz monótona e sonífera do velho professor fantasma. Hermione era a única que estava "consciente" durante a aula então pôde notar perfeitamente quando Harry abriu os olhos bruscamente, emitindo um gemido fraco de dor.

- O que houve? - ela disse em tom normal, o professor era quase surdo e nunca prestava atenção aos alunos, que praticamente utilizavam a aula de História da Magia para reporem o sono perdido.

- Nada - mentiu.

- Harry! Eu vi quando você passou a mão na cicatriz. Você sonhou com Você-Sabe-Quem? - a última palavra disse num sussurro.

- Que coisa Hermione - resmungou. - Não foi nada. Eu não posso ficar com dor de cabeça? É isso, pronto. Satisfeita?

- Não. Mas quando você quiser falar sobre isso sabe que pode procurar a mim ou ao Rony - disse o nome do namorado um pouco alto e Rony ressonou.

- Ah! Mãe, depois eu arrumo... - Harry e Mione sorriram. Ela ergueu a sobrancelha. Rony estava dormindo profundamente. Ela mudou a expressão e virou para Harry.

- Talvez você prefira contar a Gina - o garoto arregalou os olhos e se denunciou.

- Não se atreva a falar pra Gina que eu tive esse sonho ou... - era tarde demais. Mione tinha conseguido o que queria. Ele tinha se revelado e agora teria que contar tudo. - Droga, Mione! Como é que você faz essas coisas? - a amiga sorriu.

- Pensando, Harry. Pensando - ele não pôde deixar de sorrir.

- Está bem. Eu vou contar para vocês – disse, olhando divertido para Rony, que babava, de boca aberta, na carteira. - Mas não agora e muito menos aqui. E proíbo vocês de dizerem uma palavra sequer disso a Gina. Ela se impressiona muito com sonhos - Mione sorriu. Sabia que Harry tinha verdadeiro pânico de Gina ir novamente embora. Tinha certeza de que ele não suportaria perder a garota novamente.

- Está bem - concordou. - Hoje à noite. Depois do jantar. Gina sempre faz os deveres a essa hora na biblioteca. E até lá - ela deu um cutucão em Rony, que soltou um grunhido intelegível.

- Esse aí já vai estar de volta ao mundo dos vivos - brincou Harry.

A aula se arrastou ainda por uma hora. Parecia que o impalpável professor estava caprichando nos detalhes sobre a árvore genealógica da Bruxa Morgana. Por fim, após recitar os infinitos descendentes da feiticeira, ele terminou a aula. Teve que berrar para acordar todos os alunos. Mione sorriu e ela e Harry saíram arrastando um Rony muito mal humorado por ter sido acordado na melhor parte de um sonho. Harry e Mione nem se atreveram a perguntar do que se tratava diante da expressão aborrecida do garoto.

Caminharam apressadamente até a sala comunal. Chegando lá encontraram Gina, estava animada. Tinha tido aula de Estudo dos Trouxas e porque agora conhecia bem como o mundo trouxa funcionava havia recuperado os vinte pontos que ela e Harry haviam perdido para a Grifinória com o beijo nas masmorras. Tinha respondido a todas as perguntas da professora e foi muito elogiada. Agora entendia uma das razões que Mione tinha para fazer a matéria. Era uma garantia de pontos incrível para quem tinha conhecimentos trouxas.

Harry disfarçou bem a preocupação que sentia, assim como Hermione. Rony não precisou se preocupar em disfarçar e, porque estava furioso ainda por conta do professor Binns, chamou toda a atenção de Gina para si.

- O que houve com você, Ron? - Mione respondeu diante da expressão antipática do garoto.

- Ele foi "acordado" na aula. Um "absurdo", não é, Gina? - a garota riu.

- Vamos jantar então - disse Harry, tentando apressar os outros. Agora estava ansioso para contar o sonho para os dois amigos.

Harry pegou a mão de Gina e saiu apressado pelos corredores. Estava apreensivo mas tentava esconder o sentimento. Hermione vinha arrastando um Rony muito carrancudo. O ânimo do rapaz só melhorou quando entraram no Salão Principal e sentiu o cheiro delicioso da torta de carne. Foi aí que abriu um sorriso.

- Benditos elfos domésticos – disse, sobre uma expressão de protesto de Hermione. Mas ela acabou sorrindo, era melhor assim. Pelo menos agora estava mais alegre.

Discutiram animadamente durante o jantar. Gina contou como tinha respondido às perguntas e os outros, por sua vez, também contaram sobre as aulas que tiveram. Ainda estavam comendo a sobremesa quando Cho Chang veio até a mesa. Ela estava trazendo a ordem de detenção de Harry para que Hermione, monitora da Grifinória, entregasse ao menino. O outro monitor chefe tinha ido entregar pessoalmente a Draco. Afinal, esse era monitor.

- Aqui está Granger - disse secamente. - Entregue ao Potter por favor.

- Claro - Hermione disse, educadamente, embora estivesse segurando o riso.

A apanhadora da Corvinal saiu de cabeça baixa. Não dirigiu nenhum olhar sequer a Harry, que a esta altura tinha colocado o braço por cima dos ombros de uma Gina muito satisfeita. Quando a garota já estava distante Gina e Mione começaram a rir. Contaram o incidente na loja de vestidos e Harry e Rony ficaram impressionados com o espírito vingativo feminino.

- Ora, vocês não imaginam o tipo de "Jezebel" que anda por aí - disse Hermione, muito séria.

- É, nós temos que nos defender... - concordou Gina.

- Minha nossa! - disse Rony. - Ainda bem que eu nunca me interessei por nenhuma outra garota e... - nesse instante o rosto de Rony se transformou. Ele olhou para a porta do Salão, fixamente. O queixo caído, os olhos arregalados, a expressão abobalhada.

- Ron! - Mione chamou o garoto. - Rony! - continuou sem resposta. - Ronald Weasley! - berrou mas ele continuou estático, bem como mais da metade de todos os garotos do Salão.

- Fleur! - gritou Gina, correndo para abraçar a amiga. A garota tinha acabado de adentrar no Salão, sacudindo os cabelos louros prateados. Hagrid vinha logo atrás, toscamente arrumado, de braços dados com Madame Maxime.

Agora Harry tinha compreendido por que Hagrid não tinha podido dar a aula no dia anterior. Ele provavelmente tinha ido buscar a diretora de Beauxbatons, por algum motivo, provavelmente a pedido de Dumbledore. Hermione não podia acreditar. Após dois anos Rony ainda se encantava facilmente com a menina, que era parente de veelas. Hermione pegou um copo, encheu calmamente de água gelada e jogou no rosto do namorado. Até Harry se assustou com a atitude dela.

- Hey! - disse, secando o rosto com o guardanapo. - Por que você fez isso?

- Para te acordar, antes que você resolvesse ter algum "sonho bom" com essa garota aí - Harry deu um sorriso amarelo enquanto Gina retornava para perto.

- 'Per'aí, Mione. O meu sonho não era o que você está pensando... - fez cara de ofendido.

- O que foi? - perguntou Gina, vendo o irmão encharcado até os ossos.

- Pergunta para o assanhado do seu irmão aí – disse, muito aborrecida. Gina deu um sorriso enquanto Fleur se aproximava para cumprimentá-los.

Rony ensaiou a expressão boba de novo mas Mione ameaçou jogar um novo copo d'água nele. Fleur se virou para eles.

- Olá parra todos. Olá, Arrrry. Olá, Herrrmione, Rrrrronald - Mione olhou para a garota, fuzilando-a com o olhar. Gina e Harry foram os únicos a perceber e o último prontamente segurou a mão estendida da francezinha, evitando que Rony o fizesse. O que seria razão para um assassinato, àquela altura.

- Olá Fleur - disse educadamente. - Obrigado por ter tomado conta da minha Gina lá em Beauxbatons – a namorada corou e a outra menina deu um sorriso, um tanto quanto triste, quando Harry mencionou a escola.

- É clarrrro que não foi nenhum prrrroblema. Ela até me ensinou a falarrr sem sotaque. Mas eu desaprrrrendi tudo - eles riram e Fleur pediu licença para ir até a mesa dos professores. Dumbledore parecia querer dar um recado a todos.

O diretor se levantou e, erguendo a mão, fez com que todos no Salão se calassem. Hagrid tinha uma expressão abatida e agora que Hermione tinha cessado a cena de ciúmes. Harry e os outros perceberam que Madame Maxime parecia estar com os olhos marejados. Muito triste, Dumbledore começou a falar.

- Eu não tenho boas notícias para vocês. Madame Maxime e Fleur Delacour vieram da França para ajudar a nossa escola. A Srta. Delacour está formada e treinando para ser Auror. Por isso está aqui - houve um certo burburinho por conta disso. Gina entendeu afinal por que Fleur tinha passado as férias inteiras estudando tanto. - Beauxbatons foi destruída - houve um rebuliço geral e o diretor esperou que cessasse para explicar melhor. - Foi um ataque. Possivelmente dementadores liderados por Comensais. E, infelizmente, gigantes - os três amigos de Harry abaixaram a cabeça. Miúdo fez uma expressão indignada. - Uma facção de gigantes desfavorável à paz com os humanos – completou. - Destruíram a escola aparentemente em represália ao apoio que Madame Maxime ofereceu à reconciliação entre os dois povos - Harry cerrou os punhos. Gina percebeu a raiva contida que ele sentia e, mesmo sem mover os lábios, disse, telepaticamente.

"Não fique assim. Não suporto vê-lo desse jeito", Harry sorriu. Era muito natural aquele novo tipo de comunicação que partilhavam.

- Desculpe - ele falou, baixinho. - Mas é que quando eu penso que você poderia estar lá... - ele prosseguiu, alisando de leve a mão dela, que retribuiu o carinho.

- Mas acontece que eu estou aqui. Com você - ela completou, entrelaçando os dedos delicados nos dele.

- Não houve nenhuma morte. Eles pareciam estar procurando alguma coisa ou alguém. Apenas destruíram a escola. Vai demorar um bom tempo mas nós ajudaremos a reconstruí-la. Hagrid já se mostrou disposto a embarcar para a França, para analisar os prejuízos. Até lá, Madame Maxime será nossa hóspede. Agora devemos nos unir. Os alunos de Beauxbatons foram transferidos para outras escolas, talvez alguns venham estudar em Hogwarts. Por isso é possível que haja uma Cerimônia de Seleção extraordinária para esses alunos. É só.

Os alunos recomeçaram a falar e a comer. Mas a maioria não tinha mais apetite. Gina pediu licença aos três para ir conversar com Fleur, Harry e os outros correram para a sala comunal. Tinham ficado muito abalados com toda aquela história mas Harry ainda queria aproveitar a oportunidade para contar aos amigos sobre o sonho.

Depois que contou Rony e Hermione ficaram curiosos. Afinal, de que tipo de porta Voldemort poderia estar falando? Rony levantou uma hipótese.

- Harry, você acha que Você-Sabe-Quem tem como entrar aqui, em Hogwarts? - fez uma expressão de pânico.

- Não Ron. Acho que não. Senão ele já tinha entrado - Hermione crispou os lábios, pensativa.

- E se ele estivesse pretendendo criar um portal dimensional para entrar aqui? Não - ela mesma desistiu da idéia.

- Muito improvável - Harry suspirou, desanimado. Não tinha sido um sonho muito revelador. Talvez nem mesmo tivesse sentido.

- Harry, talvez se eu pesquisasse na biblioteca... - Rony cortou a namorada com um sorriso maroto no canto dos lábios.

- Caramba Mione. Não tem nada ainda para você se basear e você já quer correr para os livros?

- Ah Rony! É o que eu faço, ora. E depois, ler ajuda muito a pensar, a ter idéias. – disse, ressentida, mas Rony lhe deu um sorriso, indicando que estava brincando.

Enquanto ainda tentavam imaginar o que o sonho significava Gina retornou à sala comunal. Ela tinha conversado um pouco com Fleur e descobriu que os ataques haviam começado nos dormitórios dos alunos. Tinham sido lançados vários feitiços incendiários e se a escola não possuísse um perfeito sistema mágico antifogo muitos alunos poderiam ter saído gravemente feridos ou mesmo mortos. A própria Fleur disse que foi uma sorte estar passando a noite na biblioteca ou teria sido queimada viva. O quarto dividira com Gina havia praticamente explodido. A menina contou tudo aos amigos mas estava curiosa para saber o assunto que conversavam antes. Harry desconversou.

- Falávamos sobre a minha detenção - ele abriu o envelope e fez uma cara desanimada. - Ah! Não! - leu o papel e virou o mesmo para os amigos. - Espero que a detenção do Malfoy seja pior... Eu vou ter que limpar o banheiro da Murta amanhã - Rony deu uma risada.

- Parece que nem Filch se atreve a entrar mais lá, Harry. A sua sorte é que a Murta tem uma quedinha por você - Harry sacudiu a cabeça, indignado.

- Cale a boca Ron. - disse Gina.

- Cuidado maninha. E se a Murta resolver matar o Harry de susto? Ela está doidinha para dividir aquele boxe com você, meu amigo - Mione olhou séria para ele mas logo os quatro riram.

Estava tarde e subiram para dormir. Despediram-se com um beijo e cada um foi para seu dormitório. Harry e Rony ainda especularam um bom tempo sobre o sonho mas, não conseguindo uma teoria lógica sobre o assunto, acabaram caindo no sono depois de esgotarem as possibilidades que puderam imaginar. As meninas tinham se despedido e cada uma foi para o seu respectivo dormitório.

Gina foi lavar o rosto e escovar os dentes. Trocou as vestes pela camisola e deitou na cama. Estava com muito sono e dormiu logo, bem antes dos outros. Mal tinha deitado na cama e começou a sonhar.

Estava em uma sala escura. O cheiro era insuportável. Uma mistura de podridão e esgoto. As paredes eram de pedra e o ambiente era úmido mas, mesmo assim, sufocante. Ela viu alguém sentado em uma cadeira com um espaldar alto. Não dava para ver quem era. Então ouviu aquela voz. Aquela voz sinistra que tanto temia. Tom Riddle.

- Ande seu imprestável - ele falava para alguém que parecia estar praticamente ajoelhado aos seus pés.

- Me perdoe Mestre. Eu não sabia - o homem estava com o rosto voltado para o chão e Gina não podia reconhecer quem ele era.

- Você não merece viver - disse a voz aguda, ecoando nas paredes mofadas.

- Clemência, Mestre, clemência - o homem agora erguia as duas mãos, em súplica, acima da própria cabeça.

- Eu não conheço essa palavra. Rabicho! – gritou e prontamente foi atendido pelo criado.

- Chamou, Milorde? – disse o terceiro, curvando-se.

- Chamei sim, seu estúpido. Traga Nagini aqui - o outro saiu e retornou rapidamente com um cesto de vime, o qual destampou a um sinal de seu Mestre.

De dentro do cesto saiu uma cobra imensa, com uns quatro metros de comprimento. O homem, que ainda se encontrava prostrado aos pés de Voldemort, estremeceu. Tom começou a falar de modo estranho. Gina imaginou que estava falando na língua das cobras. A cobra pareceu sibilar em resposta e se dirigiu para o homem, que ainda estava de joelhos no chão. Gina continuava sem poder ver o rosto dele mas ainda o ouviu dizer.

- Piedade, Mestre. Não me mate - rastejava agora, agarrado aos pés de Tom Riddle.

- Matar você? - disse Voldemort friamente. - Eu não sujaria minhas mãos com uma escória como você. Mas Nagini está faminta e precisa se divertir um pouco - deu uma gargalhada sinistra, que fez com que Gina estremecesse, seu sangue congelou nas veias.

O homem ficou aterrorizado, a cobra simplesmente se moveu rapidamente e enrolou o corpo nele, quebrando-lhe todos os ossos. O homem gritava e chorava enquanto Nagini o apertava como um boneco de pano. Quando não se mexia mais a cobra o arrastou para longe. Gina continuou sem poder ver o rosto do homem, embora tivesse achado a sua voz familiar. Quando a cobra estava cansada o suficiente Voldemort gritou para Rabicho.

- Leve essa coisa daqui. Nagini tem um gosto aguçado. Se negou a devorá-lo. Ela vai guardar o apetite para um prato especial. Bem mais tenro. Nagini está guardando o apetite para devorar Harry Potter - Gina deu um berro, acordando de súbito.

- HAAARRY! - ela deu um pulo da cama. As colegas de quarto se assustaram quando ela saiu porta afora.

Gina desceu as escadas correndo. Sentou encolhidinha no sofá da sala comunal vazia. Estava ofegante. Tremia. As pernas dobradas, envolvidas pelos dois braços, o joelho encostado no queixo. Ela começou a tentar se acalmar. Balançava para frente e para trás, como que se embalando. Mas não estava tendo muito sucesso com aquilo.

Ficou com medo de chamar Hermione. Também não queria alarmar Rony e muito menos Harry. Aquilo tudo podia, e devia, ser fruto do medo que tinha sentido do que houvera na escola de Fleur. Sabia que se estivesse ainda em Beauxbatons provavelmente estaria morta. Não teria sobrevivido a explosão do quarto.

Não sabia o que pensar e começou a chorar baixinho. Como quando era pequena e tinha pesadelos n'A Toca. Nunca acordava ninguém. De manhã seus pais simplesmente a encontravam dormindo, encolhidinha em um canto do quarto, enrolada em um cobertor. Começou a pensar que talvez tivesse sido uma boa idéia ter descido enrolada no seu. Estava sentindo frio agora e o fogo fraco da lareira não a estava aquecendo o suficiente.

Ela se encolheu mais e então sentiu algo quente envolvê-la. Não teve tempo de gritar pois Harry, na mesma hora que enrolou o cobertor, falou.

- Tudo bem, tudo bem. Sou eu. Eu estou aqui - ela o abraçou pela cintura, ainda sentada. Ele sentou ao seu lado, puxando o cobertor para envolver os dois. - Pesadelo? - falou calmamente. Ela sacudiu a cabeça afirmativamente.

- Como é que você sabia?

- Por que eu estava lá.

- Como? - ela arregalou os olhos.

- Eu tive o mesmo sonho Virgínia - ela estranhou o modo que ele a chamou.

- Você teve o mesmo sonho que eu? - disse, ainda incrédula.

- Sim minha querida. Exatamente.

- Mas por quê, Harry? - ele colocou o braço em volta dela e a apertou.

- Por que nós somos um, Virgínia. Onde você estiver eu estarei – Gina estava começando a ficar assustada. Ele apertou os braços em volta dela. Tinha um brilho estranho nos olhos verdes.

- Harry, você está me assustando. Pare - ela tentou se levantar mas ele a segurou firme.

- Você está com medo de mim, Virgínia? - ela olhou assustada para ele.

- N-não - a voz dela tremeu. Ele segurou os dois braços dela com força, imobilizando-a, os olhos refletindo uma malícia irreconhecível para ela.

- Você não me sssoou convinssscente o bastante – disse, sibilante, aproximando o rosto do dela. Ele se inclinou aos poucos para beijá-la. Gina estava imobilizada. Sentia muito medo agora.

Ele foi se aproximando cada vez mais, os olhos verdes estavam cada vez mais oblíquos, a voz foi se tornando sibilante, asquerosa. Ela viu a língua dele já bífida quando falou a última frase.

- Você vai ssser minha, Virgínia - ele colocou as duas mãos no pescoço dela, apertando-o. - Cusssste o que cussstar - ela gritou.

- Seus olhos, sua voz... Você não é o Harry. Você é... - mas ela foi interrompida no mesmo instante. O verdadeiro Harry tinha descido as escadas.

- Voldemort, largue-a. Agora - o outro se virou para ele, ainda meio "Harry" meio serpente. A língua bífida e os olhos oblíquos vermelhos agora eram bem nítidos. Dava para ver perfeitamente que não tinha a cicatriz em forma de raio na testa.

- Por hora é ssssó, Potter - e ele se desfez em uma nuvem de fumaça verde, desaparecendo por completo. Harry se virou para Gina.

- Você está bem? Me desculpe por não ter chegado antes. Demorei um pouco a dormir - ele esticou a mão para ela, que hesitou. Ele balançou a cabeça, acalmando-a, e levantou a franja despenteada, mostrando a famosa cicatriz. - Sou eu. Eu te amo! - ela correu para os braços dele no mesmo instante. Agora não tinha mais dúvidas.

- Harry! - ela o abraçou forte.

- Está tudo bem, estou aqui - ela ergueu os olhos marejados para ele e encostou de leve os lábios nos dele.

Nesse momento tanto ela quanto Harry abriram os olhos em seus quartos. Eles tinham realmente tido o mesmo sonho estranho, ainda que Harry só tivesse acompanhado a menina na parte final deste. Só restava a eles descobrir o porquê.