De manhã, quando desceram para a sala comunal, Gina e Harry evitaram comentar o sonho. Ambos achavam que, na realidade, o sonho não tinha sido partilhado pelos dois. E, obviamente, nenhum deles teve coragem de perguntar para o outro para comprovar o que estavam pensando.
Rony e Mione desceram apressados. Teriam aula de Poções e Snape odiava atrasos. Tomaram o café rapidamente. Gina iria para a aula de Transformações, então pôde tomar o seu café com mais calma, o que foi ótimo para ela. Tinha dormido muito mal e, além disso, pretendia conversar um pouco mais com Fleur, que estava sentada na mesa dos professores. O trio se despediu dela e saiu apressado para as masmorras.
Quando os três entraram na sala do professor Snape ele olhou com desprezo para Harry e o rapaz se sentou em uma bancada no fundo da sala, para evitar maiores confrontos. Afinal no momento o que menos precisava era perder mais pontos para a Grifinória. Rony e Mione se sentaram ao seu lado, solidários ao amigo. Snape apertou os olhos e iniciou a aula.
Estava ensinando aos alunos como preparar uma poção atordoante. Era algo muito útil em uma guerra e Dumbledore havia sugerido que os professores tentassem direcionar, na medida do possível, os conteúdos das aulas para algo que pudesse servir aos alunos em situação de perigo.
Snape explicava detalhadamente como se devia picar as raízes de escumilha e macerar cuidadosamente com folhas secas de dilenia, aferventando-as por dez minutos antes de acrescentar as Ampulárias Cornuarietis. Foi quando Neville acidentalmente deixou cair as suas ampulárias, que eram caramujos de concha amarela, dentro do caldeirão enquanto observava os belos tons de amarelo do animal, arruinando toda a sua poção atordoante, que emitiu um chiado fraco. O professor olhou com raiva para o garoto.
- Sr. Longbottom! Quantas vezes eu já falei para o senhor que não deve fazer nada que eu não ordene? - os olhos negros de Snape cintilavam de ódio.
- E-eu... Eu só estava, estava - Neville estava tão pálido que era possível enxergar as suas veias sob a pele. Hermione ficou penalizada com amigo. Harry e Rony também. Mas Snape não parecia estar muito preocupado com o estado do garoto.
- Sr. Longbottom, a sua única chance de não perder os dez pontos que eu pretendo descontar da sua casa é que o senhor prepare uma poção atordoante perfeita sozinho, bem na minha frente - o garoto engoliu em seco, olhou para os colegas e se encaminhou até a mesa do professor, como quem anda até a forca.
Ele ficou atrás da mesa, de frente para o professor, que estava de costas para a turma. Snape o encarava de forma cruel e desafiadora.
- Vamos lá Longbottom, rápido com isso. Não tenho o dia todo - o menino olhou desanimado para a mesa.
Havia diversos tipos de raízes, separadas em frascos de vidro. Vários agrupamentos de folhas secas espalhados, amarrados com pedaços de linha branca. Ele olhou hesitante para um frasco, contendo raiz de Guevilha Anã, seria aquele o ingrediente da poção? Eram todos iguais. Ele respirou fundo e olhou para frente. Mione tinha erguido o mais alto que podia um pedaço de pergaminho escrito com letra apressada: "Quinto frasco da direita para a esquerda". Neville quase sorriu mas se conteve, olhando para a mesa.
"Um, dois... Cinco", contou mentalmente os frascos da direita para a esquerda de Hermione.
Já ia pegando o frasco selecionado quando Mione fez um gesto, rodava os dedos, indicando que era a direita dele e não dela, ele ergueu as sobrancelhas e pegou o quinto frasco do outro lado. Ela respirou fundo. Snape mantinha o olhar de raposa velha para o garoto. Mione continuou a ajudá-lo. Ele ainda não sabia o que fazer. Rony resolveu contribuir também. Segurou o canivete na mão e gesticulou para o menino, indicando que deveria cortar as raízes. Neville começou a picar, nervoso, as raízes. Snape fez uma expressão de decepção.
- Isso mesmo, Nev - disse Rony baixinho, apoiando o amigo.
Mas só tinha executado a terça parte da tarefa. Ele ergueu de novo o rosto, encontrando os olhos frios do professor de Poções, mas enxergou atrás dele Harry, Rony e Hermione segurando as folhas secas de Dilenia para que o garoto as reconhecesse. Ele sacudiu a cabeça e pegou o bolinho de folhas amarradas na pontinha da mesa. Retirou algumas e Harry indicou o que devia ser feito, esfregando as folhas que segurava uma na outra, macerando-as. Neville fez o mesmo. Snape crispou os lábios, que ficaram pálidos de tanto que apertou.
Agora só faltava a Ampulária. Segurou o caramujo e já ia colocando no caldeirão, sob um olhar vitorioso de Snape. Mas parou o que ia fazer, mesmo sem notar que não só os três amigos como os outros alunos da Grifinória acenavam que deveria esperar antes de colocar o caramujo na poção. Tinha conseguido se lembrar sozinho que ainda não podia acrescentar o bichinho. Ele olhou para o professor e disse, sorrindo timidamente.
- Eu tenho que esperar agora professor. Dez minutos - Snape franziu a testa. Mas, mesmo bufando, mandou que o garoto se sentasse.
Draco e os outros sonserinos estavam revoltados com o que tinha acontecido. Malfoy estava prestes a erguer a mão, em protesto, quando o professor se voltou para a turma, um sorriso maldoso nos lábios enquanto acompanhava Neville com o olhar até o garoto se sentar, entre apertos de mão e tapinhas nas costas dos colegas, em seu lugar. Quando finalmente se sentou Draco ergueu a mão.
- Sim Sr. Malfoy? - ele olhou divertido para Draco.
- Professor, eu não acredito que o senhor não vai retirar os dez pontos dele - Harry franziu a testa para Malfoy. - Ele trapaceou...
- Não - respondeu o professor. - Eu não vou retirar os dez pontos do Sr. Longbottom - Hermione olhou de Harry para Rony, surpresa com a atitude benevolente do professor. - Eu vou retirar trinta pontos, dez para cada um de vocês que ajudou o Sr. Longbottom a trapacear. Sr. Potter, Sr. Weasley e Srta. Granger - os três abaixaram as cabeças. Tinha sido bom demais para ser verdade. Sorrindo, Snape encerrou a aula sob risadinhas abafadas dos sonserinos.
Saíram o mais rápido que puderam da masmorra. Toda aquela tensão tinha sido em vão. Mas pelo menos, Mione argumentou, Neville tinha se lembrado da última parte sozinho. Rumaram para o Salão Principal, roxos de fome. Tinham tido dois tempos seguidos de Poções e agora só o que poderia refazê-los era almoçar.
Quando chegaram lá encontraram Gina. Ela tinha acabado a aula bem antes dos amigos e tinha um recado da professora McGonagall para Harry.
- Oi - ela disse, animada, mas se conteve ao ver o semblante dos amigos. - O que foi que houve? - Harry em alguns segundos enviou a cena para a mente dela, viu rapidamente o que tinha acontecido na aula de Poções.
- Ah! - disse, entendendo o motivo da insatisfação do três. Rony e Mione acharam aquilo estranho mas não deram importância. Estavam também muito chateados. Ela começou a falar. - Harry, McGonagall me pediu para avisar você que já pode iniciar as inscrições para o time de quadribol. Mas ela sugere que você espere os alunos franceses chegarem. Ela ouviu dizer que eles jogam muito bem e seriam uma grande força para o nosso time se pudéssemos escolher entre aqueles que vierem temporariamente para a Grifinória. Eu concordo com ela - Harry respondeu sem emoção, olhando friamente para ela enquanto cortava o pedaço de frango no seu prato.
- Você concorda? Sério? Eu pensei que eu era o capitão do time - ela olhou para ele estranhando o seu comportamento. Rony quase engasgou com o suco.
- Harry! - Mione falou.
- O que houve com você? Não precisava responder assim - Rony emendou, tossindo, recuperando-se do engasgo.
- É... Ninguém está te obrigando a fazer nada... - Gina respirou fundo. Abaixou a cabeça e passaram o resto do almoço em um silêncio muito incômodo.
Quando acabaram Harry se levantou depressa e saiu andando na frente, sem ao menos esperar os amigos. Mas Rony o chamou antes que saísse porta afora.
- Hey, espera - eles se aproximaram, Harry tinha parado ao chamado de Rony. - Temos tempo livre agora. Vamos jogar uma partida de Snap Explosivo? - Harry meneou a cabeça.
- Tenho que cumprir detenção agora. Estou indo buscar os apetrechos de limpeza com Filch e vou para o banheiro da Murta Que Geme - disse, desanimado.
- Quer ouvir algo animador então? - disse Rony. - Simas me disse, que uma garota da Sonserina disse para uma colega dele do quinto ano da Corvinal que a detenção do Malfoy é lavar pratos na cozinha, sob supervisão de Dobby - Harry sorriu.
- Dobby vai a-ca-bar com ele - disse Mione. - Ele vai sentir na pele o que é ser um elfo doméstico - ela já ia começar com o seu discurso pronto do F.A.L.E. mas Harry encerrou o assunto.
- Está bem gente, então eu vou indo - disse em tom monótono.
"Harry", Gina o chamou de novo, mentalmente. "Foi alguma coisa que eu disse?", ele sacudiu a cabeça negativamente, sem entender, o brilho de sempre no olhar parecia estar de volta.
Ele esticou a mão para ela, carinhosamente, mas Gina não aceitou. Olhou ressentida para ele e virou às costas dizendo apenas "boa sorte na limpeza". Rony olhou para Hermione enquanto Harry se dirigia para o lado oposto de Gina, ambos cabisbaixos. Os dois não tinham entendido absolutamente nada mas alguma coisa estava errada.
Harry entrou no velho conhecido banheiro do primeiro andar munido de balde, esponja e esfregão. Devia limpar o chão e esfregar cada privada e pia. Assim que entrou ouviu os gemidos de Murta. Respirou fundo e resolveu cumprimentar a fantasma.
- Er... Murta? - o som abafado do choro parou instantaneamente.
- É você, Harry? - ela atravessou o boxe, sorrindo.
- É... - disse, sem jeito. - Você não se importa que eu faça a limpeza do seu banheiro, não é mesmo? - a fantasma corou, assumindo um tom prateado.
- Claro que não... - Você quis vir limpar o meu banheiro, Harry? - ela deu uma risadinha nervosa, que ecoou pelas paredes de azulejos. Harry não sabia o que era mais irritante, o choro ou a risada da garota.
- Eu... - pensou depressa. Não podia responder que não ou a fantasma começaria a soluçar, ou pior, inundaria o banheiro, aumentando o trabalho. - Eu posso começar a limpeza? - optou por não responder. Mas Murta estava tão vidrada por tê-lo ali que nem reparou que tinha ignorado a sua pergunta. Ela sacudiu a cabeça afirmativamente e ele começou a limpar os boxes. Quanto mais rápido fizesse mais rápido sairia de lá. Ainda queria conversar com Gina, teria que procurá-la depois de terminar o serviço. Não entendia por que ela tinha ficado tão triste com ele após o almoço.
- Harry! - disse a fantasma, forçando uma voz doce, interrompendo os pensamentos e a tarefa do rapaz.
- Sim Murta? - ele teve que se controlar para não bufar. O calor estava insuportável ali e já estava começando a suar.
- Eu te ajudaria, sabe? Mas eu não posso... - ela soluçou baixinho e já ia começar a chorar quando Harry a interrompeu.
- Não, está ótimo, sua companhia já ajuda - mentiu, evitando que Murta começasse a chorar convulsivamente. Ela teria corado muito se estivesse viva mas resolveu retribuir as palavras gentis de Harry.
- Sabe, as pessoas trabalham melhor com música - Harry tinha até medo do que ela queria dizer com aquilo. Foi quando começou a cantar desafinadamente, com uma voz aguda e deprimente. Parecia uma gralha.
Harry respirou fundo. Ainda ficaria pelo menos duas horas ali. Talvez fossem melhor os gemidos e o choro, a detenção não poderia ser pior, pensou. Mas só achava isso porque não sabia como Malfoy estava se saindo na sua tarefa.
Draco tinha saído furioso do Salão Principal e ido direto para a cozinha da escola. Quando chegou lá ficou completamente infeliz ao ver que quem supervisionaria sua detenção era Dobby, o ex-elfo doméstico de sua família. O elfo olhou para a cara dele com uma expressão de satisfação que só experimentava no Natal ou em qualquer outra ocasião em que recebia roupas novas.
- Bem, senhor Malfoy está encrencado, senhor, muito encrencado - Dobby ria, segurando as orelhas.
- Cale essa boca, coisa estúpida - respondeu Draco, sem medir as conseqüências dos próprios atos. Dobby tinha um brilho estranho no olhar.
- Não deve falar assim com Dobby, não senhor, menino Malfoy. Não mesmo - Dobby balançou os braços sobre a cabeça e em apenas um segundo um comprido avental cor de rosa de bolinha amarelas estava vestindo Draco. O garoto não teve nem tempo de se manifestar. Dobby o empurrou contra uma das pias com uma enorme pilha de pratos. - Pode começar, ex-amo Malfoy. O senhor tem muito que fazer aqui, Dobby tem ordens para manter o senhor na linha - o garoto bufou mas Dobby franziu a testa, amendrontando-o. Não podia fazer nada ou pegaria outra detenção ou, o que seria pior, perderia pontos para a Sonserina. Só lhe restou obedecer e começar a lavar a enorme pilha de pratos.
Quando finalmente terminou, uma hora depois, começou a desamarrar o laço do horrível avental - que só tinha percebido que usava agora. Mas Dobby veio correndo e, guinchando, empurrou-o para a outra extremidade da cozinha.
- Não, não, não, não, não... - disse o elfo repetidas vezes. - O senhor ainda não está liberado, não senhor, não está. Dobby tem que mantê-lo mais uma hora ocupado. Vamos. Dobby vai mostrar os tanques de arear panelas - Draco respirou fundo. Não tinha idéia do que era arear uma panela mas quando viu uma fileira inteira de tanques cobertos de panelas e vários elfos domésticos as esfregando arduamente entendeu do que se tratava o serviço. - Venha, ex-senhor de Dobby, Dobby separou as panelas de mingau, para o senhor arear - Draco olhou enojado para as dezenas de panelas cobertas de um grude amarelo esbranquiçado. Depois observou as próprias mãos delicadas e imaginou que sairia dali coberto de calos. Desanimado, pegou uma esponja metálica e começou a imitar o que os outros elfos faziam. Dobby sorriu, satisfeito. - Quando acabar Dobby talvez libere senhor Malfoy para ir - ainda acrescentou com um sorriso maroto. - Harry Potter vai gostar de saber que o senhor ficou muito bem neste avental - Draco emburrou a cara mas não fez nenhum comentário. Sabia que custaria a ele provavelmente ter que arear as panelas do tanque ao lado. Depois de mais uma hora de tortura ele saiu bufando da cozinha.
Andava depressa pelos corredores, olhando para os dedos calejados e imaginando se alguém o tinha visto sair da cozinha. Foi quando viu um vulto sentado em uma das salas de aula vazias. Passaria direto mas alguma coisa fez com que voltasse. Parou na porta da sala e viu que o vulto era de uma menina, cabelos de fogo. Ela chorava. Ele tossiu, entrando na sala, e ela se virou.
- Ah! É você? - ela disse, fungando.
- Weasley? - disse, estranhando a presença dela ali. Ela não disse mais nada. Ele se aproximou. - De novo chorando? - da última vez que eles tinham conversado, no ano anterior, ela também estava chorando.
- É o que parece, né? - ela disse com um certo tom aborrecido. Gina não tinha achado nada legal a atitude dele com Harry. Mas também estava tão chateada com o namorado que não pôde cobrar de Draco alguma satisfação pelo que ele tinha feito.
- O que parece... - repetiu, intrigado. - Engraçado... Nem sempre as coisas são o que parecem ser – completou, sorrindo com o canto dos lábios. Gina ergueu o olhar para ele, curiosa.
- O que você quer dizer com isso? - ele olhou no fundo dos olhos castanhos dela.
O olhar cinzento e frio a deixou tão tensa que ela abaixou a cabeça. Ele segurou delicadamente seu queixo, erguendo-o com a mão, forçando-a a encará-lo. Ela se sentiu incomodada com aquele toque e retirou a mão fria de Draco de seu rosto, segurando-a na sua, abaixando-a. Percebeu que a mão dele estava machucada e áspera, como resultado da detenção. Draco reteve a mão de Gina na sua. Nesse exato instante Harry, que já tinha acabado de limpar o banheiro de Murta e agora estava procurando Gina pelo castelo, passou no corredor do lado de fora da sala e notou que havia alguém ali. Ele se aproximou o suficiente para não ser visto mas não pôde evitar que Draco percebesse a sua presença, embora não tivesse deixado transparecer isso. Malfoy apenas continuou a conversa, como se o outro garoto não estivesse assistindo escondido.
- Você quer mesmo que eu diga, Gina? - disse o primeiro nome dela, enfatizando-o de propósito, e ela puxou a mão bruscamente do toque dele, imaginando que não gostaria de ouvir o que tinha para falar.
- Não, eu não quero que você diga - estava realmente ficando perturbada com aquela conversa.
- Mas eu vou dizer assim mesmo – disse, levantando apenas uma sobrancelha. Malícia pura brilhando nos olhos acinzentados. - Seu namoro com o Potter - cuspiu o nome de Harry, como se fosse um insulto - Perfeito... - ela segurou a respiração, temendo o final da frase. - Não é assim tão perfeito como todos pensam, não é? - ela sentiu subitamente uma raiva incontrolável. Afinal, mesmo estando profundamente magoada com Harry quem Malfoy pensava que era para falar sobre o relacionamento de tal forma?
- Como você ousa? - ela perguntou, erguendo-se da cadeira em que estava sentada, investindo contra o garoto. Ele a segurou pelos dois punhos, evitando o tapa que ela daria nele. Harry ainda assistia a cena, indeciso agora se deveria entrar e intervir. Mas, ao mesmo tempo, estava curioso, queria saber qual seria o desfecho daquela conversa. - Me solta Malfoy - disse secamente. Draco apertou os olhos para ela, novamente desafiando aqueles olhos castanhos a encontrarem os seus, mas dessa vez ela não hesitou. Olhou fixamente para ele, que estudou o olhar dela por alguns instantes. - Me solta agora! - exigiu. Ele sorriu, parecia satisfeito. Soltou os punhos dela e disse, baixinho, de costas, já se encaminhando para a porta.
- Como se você realmente quisesse... - ela sacudiu a cabeça, sem entender o que queria dizer.
- Quisesse o quê, Malfoy? - ele olhou para a porta e viu Harry se encolher, evitando ser visto, respondeu calmamente.
- Que eu a soltasse... - saiu, deixando a frase no ar. Ela ficou furiosa e ainda gritou.
- EU TE DESPREZO, DRACO MALFOY! - sentiu como se os pulmões fossem explodir de tão alto que berrou. Depois se encolheu na cadeira, soluçando. Falou baixinho. - Eu te desprezo mas você está certo sobre o meu namoro... - disse para si mesma. Harry ouviu e foi nesse momento que entrou na sala.
Gina se assustou. Harry estava ali de pé, olhando para ela. Os olhos verdes repletos de uma tristeza imensa. Ele fechou a porta atrás de si. Ela suspirou, sabia que tinha ouvido o que tinha acabado de falar mas preferia imaginar que não tinha conseguido ouvir.
Estava magoada com ele mas não queria que Harry também ficasse. Ele se aproximou dela, devagar. Ela abaixou a cabeça. Tinha certeza absoluta agora, só de olhar para ele, que tinha ouvido pelo menos a última frase.
Harry estava agora exatamente à sua frente e ergueu seu rosto da mesma forma que Draco havia feito antes mas a mão dele estava quente. Ele ficou alguns segundos parado, esperando que o olhar de Gina encontrasse o dele, esperando que ela criasse coragem suficiente para isso.
- Você acha mesmo isso? Que o nosso namoro não é perfeito? - ela suspirou fundo. Sabia que ele perguntaria aquilo.
- Não é isso... Foi o seu jeito na hora do almoço. Simplesmente... - ele a cortou.
- Eu não sei o que está havendo, Gina. Só sei que sinto muito por você está assim - ela se surpreendeu com as palavras dele. Imaginou que fosse cobrá-la e não a consolar daquele jeito. - De alguma forma sinto que a culpa é minha - afirmou. Ela ia dizer que não era mas não conseguiu. Acabou confirmando para ele com a cabeça. - Eu não quero te fazer sofrer. Nunca. Eu te amo, eu... - mas já tinha sido o suficiente para ela.
- Eu também te amo, Harry. Tanto que dói - disse, colocando a mão sobre o coração.
Ela abraçou Harry com força, agarrando-se a ele. Era como se estivesse emergindo do fundo de um poço de águas escuras para respirar de novo. Ele retribuiu o abraço e o abismo que existia entre os dois desapareceu por completo. Gina ainda estava quente pela raiva que tinha sentido de Malfoy antes. Harry sentiu o calor dela invadir o seu corpo e de repente não era mais capaz de respirar, de pensar, de fazer mais nada... Seu mundo agora parecia estar reduzido a ela. A garota sentiu a mesma coisa.
Ele então segurou o rosto dela com a mão, delicadamente, e pressionou, gentilmente a princípio e depois com força, os lábios nos dela. Gina sentiu a sala girar e o apertou mais. Ele a beijava de uma forma insana, como se o mundo fosse acabar a qualquer momento e não pudessem perder um segundo sequer. Ela foi andando para trás. Harry continuava a beijá-la, agora tinha descido as mãos para a cintura dela e começava a procurar alguma abertura nas suas vestes, para senti-la mais próxima de si, tocando a sua pele.
Ela caminhou de costas até encostar na mesa do professor. Ele a segurou pela cintura e a levantou do chão, colocando-a sentada, sem parar o que fazia. Agora estava beijando o pescoço dela e o hálito quente dele a deixava arrepiada, completamente louca. Ele olhou nos olhos dela, como que a consultando se deviam continuar, e ela deitou na mesa, puxando-o para si pela gravata em resposta. Abriu, desajeitada, os primeiros botões da camisa dele, alisando o peito descoberto com as mãos delicadas. Harry respirou fundo. Sabia, em alguma parte do seu cérebro imerso em hormônios, que estava fazendo uma loucura. Podia imaginar quantos pontos os dois perderiam para Grifinória se fossem pegos daquele jeito, em cima da mesa de um professor, dentro de uma sala de aula. Provavelmente seriam expulsos da escola. Mas não estava conseguindo realmente se importar com isso naquele momento.
Tinha acabado de encontrar uma fresta nas vestes de Gina e agora a acariciava por debaixo das roupas, a mão passeando livremente pela pele macia e quente dela. Ela nunca tinha experimentado algo como aquilo, nem ele. Ele estava com o corpo todo encostado nela, pressionando-o contra ela, e Gina sentia o quanto Harry estava excitado. Ela mesma não estava obtendo muito sucesso na briga que travava contra o próprio desejo. Gemeu baixinho no ouvido dele.
A sua porção racional gritava incessantemente para ela parar mas fingia não ouvir. Ele agora parecia estar se acalmando da explosão inicial, beijava-a devagar, com calma, a língua dele roçando suavemente na sua. Mas transmitia tanta paixão que ela estava começando a ficar ansiosa com tudo aquilo.
De repente ele parou. Deitou ao seu lado, ocupando o escasso espaço que sobrara na mesa. Respirou fundo, soltando o ar pela boca, parecia aliviado. Estava trêmulo. Olhou sem graça para ela. Gina estava com o cabelo todo bagunçado e muito corada. As bochechas incandescentes, os olhos castanhos em brasa, os lábios rubros como duas pétalas de rosa vermelha. Os dois ainda permaneceram se olhando por alguns segundos, ambos ofegantes e suados.
Quando conseguiram normalizar a respiração e as batidas cardíacas começaram a rir descontroladamente. Tinham se dado conta do tamanho da "loucura" que tinham feito. Gina se arrumou da melhor forma que pôde. Colocou a blusa para dentro da saia, abotoando as vestes, e ajeitou a sua gravata. Depois arrumou a de Harry, sorrindo para ele após fechar os botões da camisa do rapaz. Ela estava com muito calor ainda e prenderia os cabelos mas Harry apontou, com um sorriso maroto nos lábios, para o pescoço dela, onde uma pequena mancha roxa denunciava o "crime". Depois teriam que procurar um feitiço para disfarçar aquilo, antes que Hermione, ou pior, antes que Rony notasse. Ela soltou os cabelos, arrumando-os por sobre os ombros.
- Quantos pontos será que Snape nos tiraria por isso? – Harry disse, rindo e oferecendo a mão para ela, para que descesse da mesa. Dessa vez Gina aceitou.
- Não sei... Mas suponho que tenha valido à pena arriscar... - disse, piscando para ele que, mesmo corando, respondeu com um sorriso.
- É, valeu... - deu um suave beijo nela, abraçou-a pela cintura e, certificando-se de que não havia ninguém no corredor, saiu com ela porta afora.
Eles foram direto para o Salão Principal para o jantar. Afinal não convinha que sua ausência fosse notada por ninguém. Já tinham corrido todos os riscos que podiam naquele dia com saldo para um ano inteiro.
