Capítulo Quinze – Nem Tudo Que É Lógico É "bvio

Pela manhã Harry afixou no mural da sala comunal o comunicado sobre as vagas disponíveis no time e o horário dos testes. Pretendia começar ainda aquela semana. Já estavam no início de novembro e sabia que a abertura do campeonato seria um pouco antes do Natal. Os alunos ficaram muito empolgados com a possibilidade de conseguir entrar para o time, inclusive os três alunos novos, vindos de Beauxbatons.

Depois de tomarem café da manhã Harry, Rony e Hermione foram para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas e Gina tinha aula de vôo com Madame Hooch. Harry pediu a ela para aproveitar e analisar as habilidades de vôo dos colegas, seria interessante para uma futura escolha dos membros do time. Ela sorriu, concordando, e cada um foi para a sua aula.

Arabella iniciou a aula pedindo para que os alunos abrissem o livro texto no apêndice. Eles acharam estranho mas obedeceram. A professora sorriu ao ver as expressões curiosas lendo as frases de famosos pensadores trouxas. Ela sugeriu que algumas frases fossem lidas em voz alta, para que pudesse iniciar a discussão do tema da aula. A Sra. Figg perguntou quem poderia fazer a gentileza de começar a leitura. Hermione obviamente ergueu a mão.

- Pode começar Srta. Granger. Cinco pontos para a Grifinória pela sua disposição em ajudar - Rony e Harry sorriram, Malfoy bufou. Arabella percebeu e dissem voltando-se para ele. - Sr. Malfoy, o senhor será o próximo, sim? - ele amarrou a cara mais ainda mas forçou um sorriso para a professora. Como odiava aquela mulher. Harry e os outros grifinórios sorriram enquanto Hermione iniciava a leitura, muito satisfeita.

- "O Elogio da Matemática" - ela parou de ler, ergueu a mão para a professora. - Arabella, matemática não é uma matéria trouxa? - a professora sorriu.

- A matemática é universal, querida, os trouxas ensinam matemática nas suas escolas mas ela está presente nas vidas de todos nós. É a importância das bases desta matéria que eu quero mostrar a vocês. O pensamento lógico, por exemplo, é muito útil tanto para os bruxos como para os trouxas - Hermione deu um sorrisinho. Achava as aulas de Arabella fascinantes. - Prossiga, Srta. Granger - Hermione voltou à leitura, compenetrada. Eram algumas frases.

- "As leis da natureza nada mais são que pensamentos matemáticos de Deus", Kepler. "Pela certeza indubitável de suas conclusões constitui a matemática o ideal da Ciência", Bacon. "Nota-se, entre os matemáticos, uma imaginação assombrosa... Repetimos: havia mais imaginação na cabeça de Arquimedes que na de Homero", Voltaire.

Arabella interrompeu a menina. Já tinha sido o suficiente para ela iniciar a aula. Ela se voltou para a turma e começou a explicar os objetivos do curso de Defesa Contra as Artes das Trevas daquele ano.

- Queridos, eu quero passar para vocês a importância do raciocínio. Ele pode ser a diferença entre vida e morte em uma guerra. Principalmente se você for responsável pela vida de outras pessoas - ela fixou os olhos em Harry, que engoliu em seco. Ele também estava consciente das suas responsabilidades. - As frases que a Srta. Granger leu com perfeição são de famosos pensadores trouxas. Mas o pensamento não escolhe se você é trouxa ou bruxo. É universal. Por isso nós vamos aproveitar o que pudermos desse inconsciente coletivo e aprender a achar uma lógica nos nossos problemas cotidianos - os alunos se entreolharam. - Agora vou pedir para o senhor Malfoy iniciar a leitura de um problema matemático que na realidade servirá para ilustrar como é útil o pensamento lógico. Depois de lido o problema eu vou pedir que vocês tentem encontrar a solução. O aluno que descobrir primeiro ganhará pontos para a sua casa e um saquinho de Feijõezinhos de Todos os Sabores - os alunos sorriram enquanto Malfoy se ajeitava na carteira, pigarreando, para começar logo a ler e se livrar da incômoda tarefa.

- "Havia 21 vasos de vinho, sendo 7 cheios, 7 meio-cheios e 7 vazios. Eles deveriam ser divididos entre 3 vendedores que queriam dividi-los igualmente de maneira que cada um ficasse com a mesma quantidade de vinho e o mesmo número de vasos" – ele leu monotonamente, a professora o interrompeu.

- Agora quero que vocês pensem por alguns minutos como fariam para dividir esses vasos.

Crabbe e Goyle afundaram, desanimados, nas carteiras, Rony fez uma careta para Harry e os dois começaram a rabiscar algumas idéias no papel. Hermione ficou muito empolgada, Pegou a pena e começou a avaliar se a solução que tinha pensado funcionaria. Draco pareceu entediado com o problema mas como a professora estava olhando atentamente para ele começou a fingir que estava pensando sobre o mesmo mas acabou realmente encontrando uma possível solução.

Depois de alguns minutos Draco e Hermione levantaram as mãos. Parecia que os dois tinham encontrado uma resposta. Rony e Harry ficaram felizes. Tinham certeza de que a solução da amiga estava certa e renderia novos pontos para a Grifinória. A professora pediu para os dois se aproximarem da mesa dela. Ela conferiria a solução de ambos. Pegou primeiro o pergaminho da mão de Hermione e o colocou sobre a mesa. Leu a solução da menina, escrita com letra caprichada:

"O primeiro recebe 3 cheios, 1 meio-cheio e outro vazio

O segundo recebe 2 cheios, 2 meio-cheios e 2 vazios

O terceiro recebe 2 cheios, 2 meio-cheios e 2 vazios"

A garota deu um sorrisinho vitorioso quando a professora disse que estava correto e viu que o papel de Draco estava diferente do dela, logo ela tinha ganhado sozinha o prêmio. Mas Arabella examinou o que o garoto havia escrito de qualquer jeito em letras de forma:

"O primeiro recebe 1 cheio, 5 meio-cheios e 1 vazio

O segundo recebe 3 cheios, 1 meio-cheio e 3 vazios

O terceiro recebe 3 cheios, 1 meio-cheio e 3 vazios"

Arabella leu atentamente a solução de Draco. O garoto tinha uma expressão de profundo desdém no olhar. Ficou parado, encarando Hermione de cima a baixo enquanto a professora lia. Por fim, Arabella deu um sorriso enigmático e se virou para a turma.

- Parece que temos um empate – disse, satisfeita. - Duas brilhantes soluções. Muito bem, Srta. Granger, Sr. Malfoy. Vinte pontos para a Grifinória e para a Sonserina - Hermione olhou aborrecida para o garoto e ele deu um sorrisinho cínico com o canto dos lábios.

Arabella dividiu os feijõezinhos entre os dois e eles se sentaram. A aula tinha chegado ao fim. A professora ficou de ótimo humor e não passou tarefas extras. Ela queria que as tarefas fossem feitas em aula, para aumentar a interação da turma com a matéria.

Na hora do almoço Gina contou aos amigos que a aula de vôo tinha sido ótima e que a menina francesa, Anne Marie voava bem rápido e era ágil. Tinha tido aulas junto com a turma do quarto ano e Dênis Creevey, irmão de Colin, também pareceu promissor para ela, sendo alto e forte. Harry sorriu. Rony ficou animado. Se os dois fossem realmente bons poderiam fortalecer o time.

Nas semanas que se seguiram Harry, Rony e Gina ficaram extremamente ocupados nas horas vagas, inscrevendo os alunos interessados nas vagas para o time de quadribol. Parecia que o processo de seleção seria bem mais complexo do que o do ano anterior. Primeiro que eram quatro vagas a serem preenchidas e segundo, os dois batedores seriam bem difíceis de se encontrar, era uma posição muito arriscada no jogo. Tinham uma tarefa trabalhosa pela frente. A escolha dos jogadores começaria no dia seguinte. Harry tinha reservado o campo de quadribol o sábado inteiro para isso.

Hermione, por sua vez, havia se tornado obcecada pelas crises de Harry. Tinha passado exaustivas horas pesquisando qualquer coisa sobre memória, possessão, exorcismo e comportamento humano. Até com Madame Pomfrey tinha ido falar, para descobrir uma forma de tirar dúvidas com uma medi-bruxa. A enfermeira foi muito gentil com ela e pegou emprestado alguns livros de medicina bruxa para Hermione. Mas, mesmo assim, não estava obtendo grandes progressos.

O sábado foi o primeiro dia que Hermione esqueceu dos livros e acompanhou os amigos para assistir a escolha dos novos jogadores. Harry estava nervoso. E se não conseguissem preencher as vagas adequadamente? Rony também estava preocupado, afinal ele ficaria a maior parte do dia montado na sua Nimbus 2001, defendendo os aros de lances livres de pretensos artilheiros.

Os três acharam melhor que fosse decidido primeiro quem ocuparia as posições de batedores. Seria mais conveniente para que os candidatos a artilheiros pudessem ser testados na presença dos balaços. E, para isso, era fundamental a presença dos batedores. Aqueles que queriam ocupar essa posição teriam que rebater os balaços três vezes seguidas, passando-os através dos três aros de gol. Quem conseguisse fazer isso mais vezes e melhor ficava no time. Os candidatos eram dois meninos do sétimo ano, Dênis Creevey do quarto e uma garota e um garoto da turma de Gina. Depois de várias rebatidas ficou decidido que Dênis e um dos meninos do sétimo ano, Edward Newton, seriam os novos batedores. Dênis e Ed, como acabou sendo chamado, agora poderiam auxiliar na escolha dos outros dois artilheiros.

Como no ano anterior, a decisão ficaria por conta de lances livres. Os candidatos para ocupar as duas vagas na artilharia da Grifinória eram duas garotas do quarto ano, Anne Marie, a aluna francesa da turma de Gina, quatro garotos do terceiro ano que eram tão franzinos que Rony achou que seriam confundidos com as vassouras nos vestiários e, para surpresa de todos, Simas Finnigan, amigo de Harry e Rony.

Antes de começarem os testes Harry fez um rápido discurso, agradecendo a inscrição de todos e elogiando antecipadamente cada um. Por fim, cada um montou na sua vassoura e foi iniciada a seleção.

Por duas horas seguidas Rony ficou defendendo os aros. Era um ótimo goleiro então os pretensos artilheiros tiveram dificuldades em marcar pontos. Os dois batedores rebatiam os balaços na direção dos oito candidatos e, ao final desse tempo, Harry já havia decidido. Ficava a garota francesa e Simas, para imensa felicidade do último. Agora o time estava completo. Mas a tarefa mais difícil ainda estava por vir. Teriam que trabalhar duro, treinando todos os dias pela manhã, pois o jogo de abertura seria pouco antes do Natal, contra a Corvinal. Até lá o time teria que estar muito bem afinado entre si. Antes de deixarem o campo Harry parabenizou os vencedores e explicou que imediatamente reservaria o campo para as seis horas da manhã todos os dias. Treinariam ainda com o dia amanhecendo. Os jogadores não pareceram muito desanimados com isso, menos Rony, que fez a careta mais desanimada que conseguiu, arrancando risos do resto do time.

Conforme Harry havia combinado, o time treinou exaustivamente. Estava chegando o inverno e jogaram debaixo de chuva, neblina. Às vezes o sol ainda não tinha nascido e treinavam mesmo assim mas apesar de estarem quase no limite da exaustão estavam se saindo admiravelmente bem. Hermione, por sua vez, continuava a pesquisar incessantemente sobre a amnésia de Harry, embora o garoto não tivesse tido mais nenhum ataque.

O mês de novembro pareceu voar e logo chegaram às vésperas do jogo. No dia do último treino Harry tentou passar o máximo de confiança que pôde, fazendo um discurso emocionado.

- Gente, eu só quero dizer a vocês que estão todos de parabéns. Treinaram duro e trabalharam muito bem. Eu não sei quanto a vocês mas estou muito satisfeito com o desempenho de todos. Espero que amanhã nós possamos mostrar aos adversários e para Hogwarts inteira do que é feito o novo time da Grifinória – berrou, entusiasmado, a última frase, arrancando palmas e gritinhos do time.

No dia seguinte, como sempre, Harry não quis se alimentar. A partida seria pouco depois do café da manhã e achou que seria extremamente inconveniente vomitar em campo. Gina e Rony também não conseguiram comer. Hermione estava nervosa também, com os três em campo ela não teria com quem se consolar. Rony havia sugerido que assistisse ao jogo com Hagrid e Madame Maxime mas os dois tinham partido para a França, iniciar o processo de reconstrução de Beauxbatons. Gina ainda deu a idéia de que Hermione ficasse na arquibancada dos professores, junto com Fleur, mas a amiga amarrou a cara só de ouvir o nome da descendente de veelas e Gina nem insistiu. Sabia que por mais que Fleur fosse uma ótima pessoa Mione tinha seus motivos para não simpatizar nada com ela. Então Hermione resolveu assistir junto com Neville e Dino, que estavam entusiasmadíssimos por Simas estar no time.

Quando os dois times saíram, voando dos vestiários, foram aplaudidíssimos. As duas torcidas agitaram bandeirinhas com as cores das duas casas, gritando loucamente. O time da Corvinal também tinha algumas novas aquisições. Um dos batedores, o goleiro e um artilheiro. Mas nenhum deles era aluno novo.

Como sempre, Madame Hooch mandou que os dois capitães apertassem as mãos. Harry e Cho voaram até a professora e fizeram o gesto mecanicamente, sem sequer olhar um para o outro. Gina ficou satisfeita, embora, mesmo assim, estivesse desejando que um balaço partisse a cara da outra garota no meio.

Madame Hooch apitou e o jogo começou. Grifinória tinha a posse da goles e Gina e os outros artilheiros estavam se saindo muito bem. Os batedores novos, especialmente Dênis, eram muito ágeis e agressivos na medida certa. Rebatiam os balaços na direção dos artilheiros da Corvinal com muita destreza. Harry e Cho varriam o campo com os olhos em busca do pomo.

O jogo já estava 40 a 0 para Grifinória. Lino Jordan parecia estar enlouquecendo enquanto narrava o jogo. A professora McGonagall já tinha chamado a atenção do garoto duas vezes mas ele não parecia estar dando muita atenção e demonstrava o favoritismo fervoroso pelo time da sua casa. Mesmo formado, Lino havia conseguido autorização para narrar os jogos da escola e esperava futuramente entrar para a liga profissional e ser comentarista da Copa Mundial de Quadribol.

- E Gina Weasley passa a goles com perfeição para Anne Marie. Muito boa essa, Gina. E Anne vai em direção aos aros. Vai, vai garota, marca essa. E ela marca. Mercy, Anne Marie! - berrou a plenos pulmões. Até a professora McGonagall riu mas o repreendeu logo em seguida.

Grifinória estava ganhando de lavada e Cho começava a ficar nervosa com o desempenho do seu time. Harry apertava os olhos verdes, tentando ver se avistava o pomo de ouro, mas não parecia estar em parte alguma. A apanhadora da Corvinal também não fazia idéia de onde poderia estar o pomo. Ela temia que Harry o avistasse antes, afinal a vassoura dele era bem mais rápida que a sua Atlas 5987. Mas não foi nem Harry e nem Cho que avistaram o pomo primeiro. Foi Gina. Ela tinha acabado de passar a goles para Simas quando avistou o pequeno cometinha dourado próximo a pequena área. Não podia gritar para Harry ou chamaria a atenção da outra apanhadora, então lhe ocorreu uma única coisa.

"Harry!", ela se concentrou, chamando-o mentalmente. O garoto levou um susto, e quase caiu da vassoura. "O pomo. Eu estou no encalço dele", ela prosseguiu calmamente. "Estou seguindo-o.Venha buscá-lo", ela virou a sua Quick Queen 500 e foi desajeitadamente na direção da bolinha dourada, tentando disfarçar. Harry aprumou a visão e avistou Gina voando na extremidade oposta do campo. Apertou os olhos e viu o pomo. Em cinco segundos estava do lado da namorada. Ele sorriu para ela quando fechou a pequena esfera dourada na mão direita.

Imediatamente Madame Hooch apitou. Lino Jordan parecia estar em surto enquanto gritava, admirado:

- Harry Potter ganha 150 pontos para Grifinória! Grifinória Ganhou 210 a 50!

A torcida da Grifinória enlouqueceu. Hermione deu um beijo estalado na bochecha de Neville, quase o derrubando no chão, e Dino gritava a plenos pulmões. O time da Grifinória foi dar a volta no campo, para comemorar. Harry voava ao lado de Gina, sorrindo para ela, segurando o pomo na mão direita, agitando-o para a torcida. Ela também sorria, o coração parecia que sairia pela boca de tanta emoção. Ele olhou dentro dos olhos dela e disse, sem emitir nenhum som.

"Nós formamos uma bela dupla", ela sorriu e ia responder mas ele fechou a cara na mesma hora e emendou uma estranha frase antes de mergulhar a vassoura violentamente para o chão. "Mas eu não sou idiota, podia ter achado o pomo sem você..."

Gina olhou, assustada, ele se afastar montado na vassoura. Ela mergulhou na direção oposta. Não pôde conter as lágrimas, Hermione percebeu quando ela sobrevoou a arquibancada devagar, a cabeça baixa. Alguma coisa estava realmente errada, pensou Mione enquanto corria para o vestiário, ao encontro da amiga.

Quando Hermione chegou lá Gina estava inconsolável. Harry não tinha sequer ido ao vestiário para confraternizar com o resto do time. Ele tinha mergulhado sua Firebolt, pousado do lado de fora do campo de quadribol e subido direto para o castelo. Rony, que tinha acabado de se trocar, foi encontrar a irmã e a namorada. Hermione gesticulou com a cabeça, indicando a Rony que não dissesse nada, devido a expressão animada do namorado. Aquele não era o momento de celebrar a vitória.

Os três saíram do vestiário. Gina ainda estava com o uniforme do time, chorava baixinho. Entrou com Rony e Hermione na sala comunal, Harry estava sentado no sofá em frente à lareira. Ele se levantou sorrindo quando viu os amigos, como se não tivesse acontecido nada de mais.

- Onde vocês se meteram? Vamos comemorar! Se não fosse a Gina... - ele olhou para a garota, que chorava ainda, e sua expressão mudou totalmente, ficou preocupado. - Gina, o que você... - mas ela não esperou ele terminar a frase. Subiu as escadas correndo para o dormitório. Hermione foi atrás dela. Rony seguiu a namorada e Harry foi por último.

Quando chegaram lá Mione já estava conversando com a garota. Os dois garotos bateram na porta, preocupados. Mione veio atender.

- Mione... - começou Rony.

- O que foi que houve com ela? - completou Harry, assustado, tentando abrir caminho entre os dois.

- Nós podemos entrar? - Rony perguntou, nervoso. Mione olhou para dentro, consultando Gina. Ela sacudiu a cabeça. Rony entrou, Harry já ia entrando quando ouviu a voz abafada e chorosa de Gina.

- O Harry não - Mione olhou penalizada para o amigo, que tinha decepção e preocupação estampadas no rosto. Ela deu um sorriso amarelo.

- Harry, daqui a pouco nós conversamos - ela olhou para dentro do quarto, indicando a delicadeza da situação. - Me desculpe. Com licença - e fechou a porta, deixando um Harry atônito e excluído do lado de fora.

Ele ainda ficou alguns minutos ali, parado, passando a mão na porta, na esperança de que tivesse sido um engano, de que a qualquer momento os três abrissem e o chamassem para entrar. Por fim desistiu. Decidiu descer as escadas e fingir que estava tomando parte das comemorações, embora sentisse um vazio imenso lhe preencher todo o coração.

Enquanto isso, dentro do quarto, Rony e Hermione tentavam ao máximo acalmar os ânimos de Gina. A menina chorava sem parar, abraçada a Hermione. Rony fazia carinho na cabeça da irmã caçula, desconcertado. Não sabia o que fazer para consolá-la.

- Calma Gina - Mione disse. - Calma. Nós temos que conversar com você - olhou para Rony, indicando que talvez devessem contar para Gina que Harry havia sonhado com Você-Sabe-Quem. Rony se sentou na beirada da cama. - Gina – começou, ainda sem ter certeza se deveria ou não contar tudo à amiga. Não queria trair a confiança de Harry mas sabia que ela e Rony eram a única chance de reconciliação dos dois. - O Harry não está bem, Gina. Ele está tendo problemas. Mas não é culpa dele. Ele tem tido ataques, tem agido estranho e não se lembra depois. Deve ter alguma explicação lógica, é óbvio. Eu e Rony estamos tentando encontrar uma solução. Mas nós temos que ser pacientes com ele - Gina ergueu os olhos vermelhos para ela.

- Eu sei disso. Eu não estou chorando pela grosseria. Eu sei que não é culpa dele. Eu estou chorando porque cada vez que ele faz isso eu sinto como se eu o tivesse perdido. E por uns momentos ele realmente não está lá, Mione. Eu posso ver nos olhos dele. Eu tenho medo que ele se vá para sempre - disse, entre soluços.

- Eu não acho que isso vá acontecer, Gina - disse Mione, procurando apoio em Rony, encorajando-o a dizer algo.

- E-eu também não irmãzinha – disse, desajeitado. Mione o censurou com o olhar. Será que não poderia parecer mais convincente? - Quero dizer - ele firmou a voz, pigarreando. - É claro que isso não vai acontecer. Nós não vamos permitir isso. Ele é nosso amigo e vamos resolver tudo. A gente sempre resolve tudo e... - Mione fez uma careta para ele. Agora estava exagerando. "Caramba! ", pensou. "Ela não se decide mesmo... Eu apóio, ou não apóio a minha irmã?", Mione completou, cortando o pensamento do namorado.

- Gina, ele está lá fora, destruído. Você precisava ver a carinha dele quando eu fechei a porta. Eu só o vi arrasado assim quando disse a ele que você tinha ido embora para a França - a garota olhou para Hermione.

Ela estava tão mal quanto Harry mas sabia, que, afinal de contas, ele devia estar se sentindo pior e acima de tudo isolado. Ela pensou por alguns instantes e pediu a Rony e Hermione que chamassem Harry para entrar. Os dois trocaram um sorriso discreto e saíram do quarto. Pelo menos tinham convencido Gina sem precisar falar dos sonhos de Harry.

Harry viu lá de baixo quando os dois saíram do quarto de Gina. Ele olhou para os dois, que discretamente acenaram para que ele subisse e entrasse. Rinha ficado todo o tempo alheio à confusão que estava a sala comunal. Gritaria, cerveja amanteigada, doces, até mesmo fogos Filibusteiro tinham sido soltos no recinto. Ele sentiu o coração disparar e subiu as escadas correndo. Estava com a mesma ansiedade que tinha sentido n'A Toca antes de reconquistar Gina de volta. Olhou para os dois amigos antes de entrar no quarto da garota.

Assim que entrou e viu a expressão arrasada da namorada, os olhos vermelhos e inchados, sentiu um nó apertando sua garganta. Ela tentou sorrir para ele mas não conseguiu. As lágrimas escorriam sem querer dos olhos castanhos. Ele próprio não sabia como estava conseguindo segurar o choro. Ela ficou alguns segundos parada, perdida em um enorme conflito. Não sabia se abraçava Harry, aplacando toda a dor que sentia, ou se batia nele, descontando todo o medo de perdê-lo que a tinha feito passar. Mas, como ela sabia de algum modo que não era culpa dele, ficou com a primeira opção. Ela correu ao seu encontro dele e o envolveu nos braços. Ele sentiu o coração disparar mas não cedeu à tentação de retribuir ao abraço. Simplesmente a afastou delicadamente e disse, olhando dentro dos olhos dela.

- Eu não mereço você. Você merece alguém que não te faça sofrer. Que não te faça passar por isso - ela olhou com raiva para ele.

- Como você pode dizer uma coisa dessas para mim? – disse, revoltada.

- Eu não sei o que está havendo Gina. Só sei que estou cansado de te fazer sofrer. Você pensa que foi fácil para mim decidir isso enquanto pensava sozinho lá embaixo? - disse, passando as mãos pelos cabelos em desespero.

- E aí você toma sozinho a decisão de que é melhor terminar tudo, como se eu não fosse capaz de decidir, de opinar... - ela falou ironicamente.

- Eu só quis mostrar consideração e... - ela o cortou imediatamente.

- Consideração? E da onde você tirou a idéia de que ser absolutamente egoísta é ter consideração, Harry James Potter? - ele poderia ter rido ao ouvi-la chamando-o pelo nome todo se não estivessem tendo a primeira briga.

- Egoísta? Eu? Gina, eu com certeza não estou sendo egoísta ou não estaria sugerindo essa solução quando ficar com você é só o que eu quero nessa vida - ela o olhou, séria.

- Então por que você simplesmente não fica, Harry? É isso que eu estou te oferecendo. Ajuda. Vamos descobrir o que está havendo e vamos pôr um fim nisso. De uma vez por todas - ele se aproximou dela, concordando.

- Me desculpe. Eu só estou assustado - disse, respirando fundo.

- Eu também estou mas vamos parar isso - respondeu, indo de encontro a ele.

- Mas tem que ser logo Gina - disse, abraçando a garota. - Eu estou ficando fora de mim cada vez mais tempo. Eu não sei como vim parar na sala comunal. Eu até troquei de roupa e sequer me lembro de ter tomado banho. São vinte minutos de "blackout", no mínimo - calculou. - Tenho medo de não conseguir voltar – disse, apertando-a contra si.

- Você sempre vai conseguir voltar para mim Harry. Sempre – Gina respondeu, confiante, mas ela mesma já não tinha mais tanta certeza disso.