Capítulo Dezesseis – A Gota D'Água

O mês de dezembro passava depressa e o frio estava começando a chegar. Os treinos do time de quadribol agora eram mais espaçados devido às manhã chuvosas e extremamente frias que se tornaram quase uma constante no início do mês. Os alunos andavam agasalhados, com luvas e cachecóis pelos corredores. Até mesmo as aulas de Herbologia sofreram atraso devido ao mau tempo. A professora Sprout preferia sempre dar aulas em dias ensolarados e isso estava se tornando muito raro. A única atividade que tinha conseguido efetuar com as turmas tinha sido a cobertura da mudas jovens com uma espécie de plástico protetor, caso a temperatura ficasse muito baixa.

Quando foi chegando próximo ao Natal os diretores das casas passaram uma lista para que os monitores assinalassem os alunos que ficariam na escola para as festividades de fim de ano e o tradicional Baile de Inverno. Muitos alunos ficariam, principalmente aqueles do quarto ano em diante, mais devido ao Baile do que às festas. Harry, Gina, Hermione e Rony ficariam para o Natal e o Baile mas estavam pensando em passar o ano novo n'A Toca, o que provavelmente deixaria o resto da família Weasley muito feliz.

Na manhã de Natal Rony foi o primeiro a acordar. Ele acordou Harry e os dois foram correndo chamar Gina e Hermione para que abrirem os presentes. Os quatro desceram de pijamas as escadas e pegaram os vários pacotes na árvore da sala comunal.

Rony riu a valer de Harry e Gina quando viu que sua mãe tinha mandado o mesmo suéter com metade de um coração, a letra "G" bordada no de Harry e "H" no de Gina. Ele e Hermione haviam recebido o mesmo presente no ano anterior. Gina havia comprado para Harry um novo par de luvas de couro para o quadribol só que eram especiais, havia pedido para Carlinhos mandar, via coruja, luvas de couro de dragão, muito mais resistentes. Harry adorou. Rony e Hermione deram de presente a Harry e Gina cópias de uma fotografia dos quatro juntos durante os passeios no mundo trouxa em dois porta retratos muito bonitos. Os dois adoraram. Rony deu a Hermione um livro imenso que havia encomendado ao pai, "Problemas de Lógica", para ela ter o que fazer enquanto treinavam quadribol, durante as férias n'A Toca. Ela amou o presente e em retribuição deu a ele um kit de manutenção de vassouras mais moderno do que havia dado a Harry no terceiro ano.

Depois de abrir o presente de Dobby - cachecóis extremamente compridos que havia feito para os quatro - e separar o presente que haviam comprado para o elfo doméstico - um conjunto de moldes para que finalmente pudesse costurar direito - Harry chamou Gina para entregar o seu presente a ela. Os dois se afastaram de Rony e Hermione e ele entregou à namorada uma correntinha de ouro com um coração pendurado. Ela achou lindo.

- Abra - disse, apontando para o coração. Dentro havia uma foto dele. A foto sorria, mandava um beijo e corava loucamente. Ela adorou o presente.

- Harry, que coisa mais linda - ele ficou feliz que ela tivesse gostado.

Os quatro passaram o dia conversando e se divertindo. Como ainda não tinha nevado aquele ano o professor Flitwick congelou magicamente o lago para que os alunos pudesse tentar patinar. Era muito engraçado ficar assistindo aos tombos que a maioria dos alunos, desacostumados a patinar, levava.

Hermione sabia patinar no gelo pois era filha de trouxas. Harry também sabia pois era obrigado a patinar com Duda todos os natais para que o primo tivesse quem empurrar de cara no gelo, fora dessa forma que Harry quebrara a ponte dos óculos.

Os dois passaram a tarde tentando ensinar Rony e Gina a patinar. Rony não estava obtendo muito sucesso pois sua teimosia atrapalhava muito mais do que sua falta de habilidade.

- Me solta Mione, eu já sei, eu já aprendi - ele disse todas as vezes antes de cair de joelhos no gelo escorregadio. Já estava totalmente ensopado. Hermione apenas sacudia a cabeça e tornava a levantar o namorado, que minutos depois tombava de novo.

Gina estava obtendo maiores progressos. Como ela era leve Harry patinava atrás da namorada, apoiando-a com uma mão de cada lado da sua cintura. A princípio ela patinava de braços abertos, para tentar manter o equilíbrio, mas depois fazia isso por pura diversão.

- Parece que estou voando Harry - ela sorria, sentindo o vento passar por entre os cabelos soltos.

Permaneceram patinando desse jeito por um bom tempo, até a menina pegar o jeito. Depois Harry deu um giro nela, virando-a de frente para ele. Agora ela patinava de costas, olhando para o namorado.

- Esse é um dos melhores natais Harry - disse, quase gritando.

- É o melhor - disse, convicto, levantando a menina do chão subitamente e rodando-a até os dois caírem, rindo muito.

Ao final da tarde os quatro, totalmente ensopados, começaram a se arrumar para a ceia e o Baile de Inverno. O tempo estava começando a nublar e parecia que a noite de Natal seria extremamente chuvosa e fria.

Os meninos se aprontaram bem mais rápido do que as garotas, como sempre. Harry usava uma veste de gala totalmente preta, o que tinha deixado o rapaz com uma aparência elegante e mais velha. Rony usava a mesma veste do ano anterior mas estava também muito bonito. Os dois estavam ansiosos esperando pelas namoradas. Neville já tinha descido, acompanhado de uma garota da turma de Gina. Simas e Dino também, com Lilá e Parvati, respectivamente. Até o casalzinho francês, Anne Marie e Philip Marceu, já tinha ido alegramente para o Baile.

Rony e Harry já estavam começando a desanimar quando ouviram o barulho de saltos delicados descendo as escadas. Era a primeira vez que as duas garotas usavam salto alto. Tinha sido idéia de Hermione enfeitiçar os sapatos para que ficassem mais altos e as duas estavam andando ainda um pouco desajeitadas em cima deles. Quando chegaram lá em baixo deixaram os dois garotos de boca aberta. Gina estava com o vestido de veludo preto e os cabelos presos em um coque, apenas alguns fios soltos na frente, no colo pendia o coração de ouro com a foto de Harry dentro. Hermione estava toda de branco, os cabelos magicamente alisados, soltos, o que combinava com a saia esvoaçante do vestido "tomara-que-caia". Rony foi o primeiro a falar alguma coisa.

- Caramba! Vocês estão mais altas ou o quê? - Hermione fez uma careta para o namorado, que levou um cutucão de Harry nas costelas. - Ai! - ele olhou para Harry, que fuzilou o amigo com o olhar. - Vocês estão lindas! – disse, ainda alisando o lugar do cutucão. - Essa doeu Harry – acrescentou baixinho, só para o amigo, estendendo o braço para Hermione.

Harry esticou a mão para Gina, e a garota deu um passo à frente. Ele passou a mão pelas costas da namorada, só então reparando no decote em "U" do vestido dela.

- Gina! - disse, engolindo em seco. Ela sorriu. Tinha conseguido provocar o efeito desejado com o seu figurino. Os quatro então desceram para o Salão Principal.

Quando chegaram no Salão estava arrumado magnificamente, as mesinhas para quatro pessoas adornadas de castiçais altos, que deixavam uma penumbra romântica em volta. O teto parecia ter sido magicamente enfeitiçado para simular o céu estrelado de uma noite de lua cheia, já que naquela noite uma tempestade violenta estava se armando. Já podiam ouvir os roncos dos trovões lá fora, mesmo com a música altíssima.

Dumbledore havia contratado um grupo de Rock Bruxo, "Os Heremitas Estuporantes", que tocavam todos os gêneros de música muito bem. Estavam tocando uma canção muito animada quando os quatro entraram no Salão. Passaram as vistas pela multidão e encontraram uma mesa próxima a de Neville e dos outros garotos. Eles se sentaram ali. Harry e Rony foram buscar ponche e depois ficaram conversando um pouco com os outros amigos. Harry percebeu que Gina sacudia os pés no ritmo da música, batendo com os saltos finos de levinho no chão. Ocorreu a ele que talvez ela quisesse dançar.

- Vamos? - ele disse ficando de pé, estendendo a mão para a namorada. Ela abriu um lindo sorriso.

- Eu achei que você não ia perguntar nunca - disse, pegando na mão dele e se encaminhando para a pista de dança.

- Que lindinho - disse Hermione, arrancando uma careta de Rony.

- Fala sério Mione! - a garota amarrou a cara, sapateando nervosa sob a mesa. Ele achou por bem arrastá-la para a pista de dança antes que ficasse mais furiosa. - Vem - disse, oferecendo o braço para a menina. Ela até esqueceu do comentário anterior do namorado e agarrou o braço dele, sorrindo satisfeita.

Quando chegaram no meio da pista o conjunto começou a tocar uma música lenta. Gina sorriu para o namorado, como tinha esperado por aquele momento. Começaram a dançar suavemente. Harry não era lá um exímio dançarino mas até que estava se saindo bem. Gina não cabia em si de tanta felicidade. Não conseguia parar de sorrir um só minuto. Estava ficando até com cãibra no queixo. Harry reparou, enquanto dançava com Gina, recostada em seu ombro, que a menina já tinha suspirado fundo várias vezes seguidas.

- Assim você vai roubar todo o meu oxigênio - ele brincou. Ela fez uma careta, desencostando o rosto do ombro de Harry.

- Uma garota não pode mais suspirar de felicidade? - ele riu, colocando um fio de cabelo vermelho da garota para trás da orelha. Sacudiu a cabeça e roçou os lábios no ouvido dela, falando com a voz rouca.

- Você entendeu mal. Não foi bem o que eu quis dizer - ela ergueu as sobrancelhas, surpresa.

- E o que você quis dizer então, Harry? – disse, sussurrando.

- Que você me faz perder o fôlego, Gina - os olhos dela brilharam e ela corou levemente. - E me deixa louco - acrescentou com um olhar maroto, aumentando o tom de vermelho da face da namorada.

- Bem... - ela disse, desconcertada. - Eu sou, você sabe... Sua - ele apertou a garota, deu um beijo de leve no ombro dela e encostou o rosto de Gina no seu, satisfeito. Subiu a mão pelas costas nuas dela, arrepiando a menina e acariciando sua nuca. Ele respirou fundo e, criando coragem, disse baixinho.

- Tem uma coisa que não me sai da cabeça.

- E o que é, Harry? - ele deu um sorrisinho malicioso e afastou o rosto do dela, encontrando os olhos castanhos curiosos com os seus.

Em uma questão de segundos ele enviou à mente dela as imagens dos dois se beijando loucamente em cima da mesa do professor, os corpos colados um no outro, no início do ano. Ela corou e ia responder ao garoto mas ele de repente parecia ter ficado alheio ao mundo. Os olhos verdes estavam completamente inexpressivos. Era como se estivesse em uma espécie de transe.

Ele ainda mantinha a mão direita na nuca de Gina e começou a travar uma feroz luta interior para não apertar o pescoço dela. A mão estava apoiada firmemente por trás da nuca dela e agora tentava a todo custo não ceder aos fortes impulsos de estrangular a namorada.

Harry sentia duas vontades opostas, brigando dentro de si. A sua própria e uma outra, que insistia para que ele apertasse o pescoço de quem mais amava no mundo. Fechou os olhos com força. Não conseguiria controlar aqueles impulsos por muito tempo. Tinha que ir para longe de Gina. Senão poderia acabar machucando a menina, até a mesmo matando. Precisava soltá-la. Sabia que tinha feito alguma pergunta a ela mas não se lembrava o que tinha sido.

Então, como que resistindo à Maldição Imperius, soltou a namorada, deixando-a sozinha na pista de dança.

- Harry, Harry - ela chamou o garoto. Ele não parecia estar ouvindo o que ela dizia. - Você está bem? – disse, indo atrás dele. Ele olhou para ela.

"Não Gina. Não venha atrás de mim. Agora não", pensou, apavorado. Não conseguiria se conter por muito tempo. Rony e Hermione tinham reparado agora no que estava acontecendo e acompanharam com o olhar para onde os dois estavam indo, para perto da porta de saída.

Harry apertava os olhos com a mão, sacudia a cabeça, tentando voltar a si. Gina deu um passo para frente, na direção dele. Mas a única coisa que ele conseguiu fazer foi esticar a mão espalmada para frente e disse, a voz arrastada, com extrema dificuldade, como se estivesse afundando em um poço de areia movediça. Estava começando, de novo, a desaparecer.

- Não Gina. Fique - e ele saiu pelo corredor.

Rony e Hermione agora tinham decidido seguir os dois. Gina ainda não tinha desistido de ir atrás de Harry. Ele estava apavorado. Sabia que dentro de poucos minutos não teria forças para poupar a vida dela. Então avistou com dificuldade os vulto de duas pessoas se aproximando dos dois para entrar no Salão. A primeira delas era Cho Chang. Harry não teve dúvidas. Precisava que Gina fugisse dali naquele momento. Então fez algo que nunca imaginou que faria, agarrou o braço da apanhadora da Corvinal e a encostou na parede.

- Harry! - a garota se espantou com a atitude dele. Olhou para o lado e avistou Gina, atônita, a alguns metros dos dois. Cho deu um sorrisinho vitorioso. Não interessava o que estava acontecendo, tinha que aproveitar a oportunidade para tripudiar em cima de Gina Weasley.

Ela colocou os dois braços em volta do pescoço de Harry, que mantinha os braços apoiados na parede, um de cada lado do rosto dela. Gina arregalou os olhos, engoliu em seco. Harry ainda sacudia a cabeça e apertava os olhos com força, tentando voltar a si, tentando que o desejo de espremer o pescoço de Virgínia Weasley saísse dos seus pensamentos. Ele não queria fazer o que estava prestes a fazer. Ele então, não conseguindo fazer os pensamentos desaparecerem, foi lentamente se inclinando com uma expressão de absoluto desgosto na direção dos lábios de Cho, que já estava de olhos fechados, pronta para ser beijada por Harry Potter. Foi quando a outra pessoa que estava chegando ao salão se aproximou mais. Era Draco Malfoy.

Ele olhou atentamente para a cena: Gina com os olhos arregalados e cheios de lágrimas na porta do Salão Principal. Cho de olhos fechados e com um biquinho nos lábios, os braços em volta de Harry. O último com uma expressão de nojo, inclinando para beijar os lábios da setimanista da Corvinal e, por fim, Rony e Hermione, que por conta dos sapatos altos só tinha conseguido chegar naquele minuto à entrada do baile. Draco percebeu que alguma coisa estava errada. Olhou a expressão desesperada de Gina e não teve dúvidas.

- POTTER! - gritou, fazendo com que Harry abrisse os olhos e se virasse para ele. Cho ainda continuou de olhos fechados, os braços em volta do garoto. Malfoy arrancou Harry dos braços da garota com um simples safanão.

- Hey! - reclamou a apanhadora da Corvinal. - Que hora para interromper é essa, Malfoy? – completou, aborrecida.

- Em se tratando de você, Chang, qualquer hora do dia - disse com desprezo.

- O que você está insinuando? - perguntou, ofendida, enquanto Draco mantinha um Harry atordoado seguro pelo colarinho.

- Insinuando? Eu estou afirmando que você uma Jezebel de quinta categoria. Uma desclassificada. Agora suma daqui - a garota saiu correndo com muita raiva. - Agora, Potter... - ele olhou com raiva para Harry, que agora parecia estar começando a voltar ao normal.

- Ahn? Malfoy? O quê? Eu... - mas ele não pode completar a frase e agradecer. Draco enfiou um soco no meio da cara de Harry que, além de derrubá-lo no chão, acordou-o de vez.

- Harry! - gritaram Rony e Hermione, apavorados, e correram para ajudar o amigo. Gina ainda estava em choque.

- Vamos! - disse Draco, arrastando a garota dali pelo braço.

Ela foi sendo rebocada por Malfoy pelos corredores. Ele parecia fulo da vida. Gina nunca o tinha visto daquele jeito. Ele resmungava palavras sem sentido.

- ... Não dá valor ao que tem... - ela entendia algumas partes. - ...Se eu soubesse não tinha desistido do plano do meu pai... - repetia algumas vezes a mesma coisa. - ...Aquele idiota patético... - ela estava começando a perceber que ele estava falando de Harry.

Até que ele parou. Tinham chegado até um pátio interno, o teto de vidro, e Gina pôde perceber que a tempestade já tinha começado. Raios cortavam o céu e a chuva escorria violentamente pelo vidro. Ele sentou a garota em um banco e, após ficar alguns segundos a encarando com os olhos cinzentos inquisidores, resolveu falar.

- Por que se submeter a isso, Weasley? - disse, passando a mão nervosamente pelos cabelos platinados.

- Draco... - ela não percebeu mas tinha chamado o garoto pelo primeiro nome. - Eu... Eu am... - ela foi interrompida.

- NÃO! - disse, quase gritando. Mas corrigiu o tom de voz logo em seguida, vendo que tinha assustado a garota. - Não me diga que o ama. Por que isso te tornaria idiota demais aos meus olhos. Eu não suportaria uma decepção dessas - ela olhou espantada para o garoto.

- Draco... Eu juro... Eu... - não sabia o que dizer para o garoto. Draco ajoelhou em frente a ela. Segurou as duas mãos da menina, que estavam sob seu colo, entre as dele e a garota olhou naqueles olhos cinzentos atormentados. As mãos dele estavam frias e trêmulas. Ela engoliu em seco. O olhar dele faiscava de modo perturbador.

- Eu repito o que disse ano passado - ele falou após uma pausa demorada. - Eu ficaria muito feliz mesmo... Gina - completou com muito custo, chamando-a pelo nome. Ela tentou sorrir.

- Draco... Eu não - ele expirou o ar com força.

- Eu sei que não. Eu sei. Mas acho que eu poderia suportar isso. Eu suporto coisas bem piores - ela tocou o rosto dele de modo carinhoso.

- Faço minhas as suas palavras. Eu ficaria muito feliz mesmo mas... - ele a interrompeu, levantando bruscamente.

- Mas você ama o idiota do Potter. Eu sei disso – disse, resignado. - Mas a questão é: o que o Potter sente por você, Gina. Ele te ama? - a garota ia responder mas ele ainda não tinha terminado. - Porque se eu fosse capaz de ler mentes eu juro que... - ela levantou de um salto quando ele disse essa frase.

- O que você disse? - ele fez uma expressão irritada.

- Eu disse: eu juro que... - ela o cortou, rápido.

- Não, não... Antes disso - ele torceu os lábios.

- Sobre eu ler mentes? - ela iluminou os olhos castanhos.

- É isso! - disse, sorrindo, abaixou e tirou os sapatos altos, atirando-os para longe. - Você é um gênio, Malfoy - disse, dando um beijo estalado na bochecha do garoto, e saiu correndo. Antes que ela desaparecesse ele ainda gritou.

- Hey! Weasley! - ela reduziu a velocidade e se virou para ouvir o que ele queria falar. - Eu posso me acostumar com isso - disse, levando a mão ao rosto, no local que ela havia beijado. Ela sorriu para ele e continuou a correr.

Gina correu pelos corredores vazios até chegar ao ponto que Harry tinha levado o soco. O baile parecia já ter acabado e não havia nem sinal dele nem de Rony e Hermione. Ela foi direto para a Torre da Grifinória. Entrou pela sala comunal, que estava vazia. Pelo visto os alunos já tinham ido dormir. Ela já ia subindo as escadas quando viu Hermione e Rony, sentados no sofá, na penumbra. Mione estava chorando.

- O que está acontecendo? Cadê o Harry? - perguntou, ansiosa.

- Ele não está com você? - perguntou Rony, desanimado.

- O que você acha, Ron? – disse, nervosa. - Mione? Onde ele está? Eu preciso falar uma coisa para ele. Eu sei por que ele está estranho eu descobri, é... - mas Hermione fungou em resposta.

- Ele foi embora Gina - a garota sacudiu a cabeça.

- Como? Não é possível... Com essa chuva? - ela não compreendia.

- Rony não quer acreditar. Mas ele vai fazer alguma besteira. Estava com aquele olhar decidido. Não conseguimos impedi-lo. Ele disse que não poderia viver com o que estava acontecendo. Que era horrível. Ele não sabia como parar... - Gina gritou.

- MAS EU SEI! - ela olhou para os dois. - ONDE ELE ESTÁ? - Hermione sacudiu a cabeça. Rony olhou pela janela. Os raios cortavam o céu e o barulho da chuva e dos trovões abafavam os gritos de Gina.

- Lá fora, se eu o conheço bem... - o irmão disse, inconformado.

- Era só isso que eu precisava saber – a menina respondeu, segurando a barra do vestido e saindo pelo buraco do retrato. Hermione e Rony ficaram em choque por um minuto ou dois mas logo correram atrás dela.

Gina corria como uma louca pelos corredores, segurando o vestido para não tropeçar. Rony e Hermione não sabiam como acompanhá-la. Ela estava muito à frente. Ela desceu a escadaria principal aos saltos e abriu a porta da entrada. A chuva de vento entrou gelada, molhado o tapete do hall de entrada. Ela não se preocupou em fechar as bandeiras da porta. Começou a correr insanamente pelo jardim. Ela já estava encharcada e a chuva era tão forte e estava tão escuro que não podia ver quase nada à sua frente. Ela parou então, o coque do seu cabelo já estava totalmente desfeito. Olhava para o nada ao redor. Começou a chorar. O frio era tanto que sua respiração provocava uma nuvem de vapor à frente da boca e nariz. Não conseguia pensar em nada enquanto colocava a mão sobre os olhos, tentando enxergar alguma coisa com a claridade dos raios.

- Harry! - gritou a plenos pulmões. - Harry, Harry, Harry... - começou a gritar até ficar rouca.

Rony e Hermione tinham acabado de chegar na porta principal. Olharam para fora, a chuva formava uma cortina. Rony tirou o paletó da veste de gala e colocou sobre os ombros de Hermione, que finalmente tinha conseguido se livrar dos saltos altos.

- Onde eles estão Ron? - perguntou, preocupada.

- Eu não sei mas vamos tentar achá-los - ele sacou a varinha, Mione fez o mesmo.

- Lumus! - disseram juntos e as pontas das duas varinhas acenderam.

- Vamos com cuidado - ele disse, segurando a mão da garota enquanto olhavam para os lados, à procura de algum sinal de Harry ou Gina.

Enquanto isso a menina tentava se acalmar para sentir onde Harry podia estar. Fechou os olhos. Sentia que a qualquer momento poderia congelar, o corpo doía de frio. A chuva estava gelada e parecia vir de todas as direções. Parou e virou para cima. Respirou fundo uma vez. A chuva bateu fria em seu rosto e ela sentiu o contraste entre essa e as suas lágrimas quentes. Conseguiu acalmar a respiração ofegante e se concentrou em Harry, apertando o coração de ouro com a foto que pendia em seu pescoço. Esquecendo de que estava encharda, com frio e com os pés descalços e machucados.

Depois de um minuto parada ela sentiu como se alguma coisa a atraísse para o lado esquerdo. Respirou fundo, levantou a ponta da saia, deu um nó e começou a caminha naquela direção. Para a Floresta Proibida.

Rony e Hermione, que também estavam encharcados, não conseguiam ver nada. Hermione começou a tossir violentamente. Rony ficou preocupado que ela ficasse doente e se encaminhou para uma construção à frente. Era a cabana de Hagrid. Ele bateu mas estava vazia. Hagrid tinha ido para a França com Madame Maxime. Então apontou a varinha para a porta.

- Alorromora! - a porta se abriu e ele empurrou Hermione para dentro. A garota tossia e espirrava agora. Ele fechou a porta e a única luz era a da varinha dos dois e dos raios lá fora. - Incendio! - disse, apontando a varinha para a lareira, que se acendeu na mesma hora.

Colocou Hermione sentada em frente ao fogo e começou a procurar algo para secá-la. Também estava congelando mas sua maior preocupação era a menina. Acabou achando uma manta de pele de carneiro imensa e enrolou na namorada. Pegou um cobertor de lã esfarrapado e se enrolou. Ficou alguns segundos olhando para ela. Ela tremia e as lágrimas escorriam pela face pálida.

- Acha que eles estão mortos? – disse, a voz fraca, enquanto batia queixo.

- Não. Eles não estão. Não pense nisso agora - ele mesmo não conseguia imaginar um outro destino para os dois mas alguém tinha que manter a calma.

Rony olhou em volta e encontrou uma garrafa de conhaque. Levantou, buscou a garrafa e a entregou para Hermione, para que ela se aquecesse. A menina tomou um gole, fazendo uma careta, mas se sentiu melhor. Ele fez o mesmo. Ela deu mais um espirro.

- Você tem que tirar essas roupas molhadas. Anda, eu vou me virar. Você fica enrolada com a pele de carneiro - Hermione obedeceu ao namorado e ficou enroscada em frente ao fogo. Ele deu outro gole no conhaque e se levantou.

- Aonde você vai? - ela perguntou, assustada.

- Procurar a minha irmã. - disse, desanimado.

- Rony, é suicídio. Eu não posso deixar você sair assim, sozinho. Não sabemos onde eles estão. E, depois, algo me diz que eles vão ficar bem sem a nossa ajuda - o garoto olhou para ela e forçou um sorriso.

- Eu também não quero deixar você, Mione. Mas é a minha irmã - ele começou a tossir.

- É, e morrer de pneumonia não vai ajudar a Gina em nada. Anda, tira essas roupas molhadas e se enrola no cobertor. Vamos tomar conhaque em frente ao fogo até essa tempestade passar - ela disse, puxando o garoto pela mão.

Rony sabia que ela estava certa e fez o que Hermione mandou. Depois de alguns minutos os dois estavam em frente a lareira, sentindo-se um pouco mais aquecidos mas ainda extremamente preocupados com os dois amigos. Hermione de vez em quando suspirava profundamente, principalmente quando os trovões rugiam do lado de fora.

- Eles estão bem Mione – disse, abraçando a menina. Ela olhou para ele, tentando sorrir.

- Eu quero acreditar nisso – disse, encostando no peito dele. O garoto sentiu o coração disparar.

- Eu também... – respondeu, segurando a pontinha do queixo dela. Ele se inclinou e os lábios dele encontraram os lábios entreabertos dela. Ela retribuiu ao beijo de forma entusiasmada. Ele afastou um pouco o rosto e olhou dentro dos olhos dela. - Mione? - perguntou de uma forma tão doce que ela não resistiu. Apenas sacudiu a cabeça afirmativamente.

Rony então a abraçou por debaixo do cobertor, sentindo a pele quente dela contra a sua. Ela estava tremendo e ele novamente olhou nos olhos dela, para ter certeza de que ela realmente queria. Ela sorriu para ele, os olhos afogueados.

- Eu te amo! - ela disse, apertando o garoto contra si enquanto deitava no tapete, ainda enroscada pela pele de carneiro, confirmando sua resposta.

Rony deitou por cima dela, beijando-a carinhosamente. Os dois se entregaram pela primeira vez ao amor, amando-se intensamente enquanto a tempestade castigava do lado de fora. Depois ficaram abraçados, sorrindo. Rony falou primeiro.

- Você está bem? - ela sorriu, ainda estava refazendo o compasso da respiração.

- Estou. Só uma coisa está me incomodando... - ele arregalou os olhos para ela.

- O quê? - ela riu, colocando a mão sobre os lábios dele.

- Eu me sinto mal por estar tão bem aqui com você e nós sequer sabermos como a Gina e o Harry estão - Rony suspirou, aliviado, mas concordou.

- É, e eu imagino onde esses dois se meteram... - disse, abraçando Hermione e a aninhando nos seus braços. Em alguns minutos os dois adormeceram, embalados pelo som da chuva lá fora.

Enquanto isso Gina já tinha se embrenhado pela Floresta Proibida, a procura de Harry. Ela não precisou ir muito longe. O garoto estava recostado em um tronco de árvore logo na entrada. Caído no chão. Ela correu até ele.

- Harry! - disse, preocupada. Ele olhou para ela com o olhar perdido. Gina abaixou perto dele. - O que você está fazendo aqui?

- Eu torci o pé. Ai! Droga... - ela quase sorriu. Bendita torção, Gina pensou.

- O que você está fazendo? - perguntou de novo. Ele olhou aborrecido para ela.

- Eu já disse, torci... - ela o cortou.

- Não! - ela disse, irritada. - Eu quero saber o que você pensou que estava fazendo, fugindo assim. Onde você estava indo? - ela estava quase berrando por causa do barulho da chuva.

- Eu não sei Gina... Para longe de você? – respondeu, sentindo dor, segurando o tornozelo.

- E por quê? - ela disse, sentando-se à sua frente. Ele parecia aborrecido mas não podia se mexer por conta do pé machucado.

- Eu pensei que tinha ficado claro para você quando você saiu com o Malfoy... – disse, ressentido. Ela sorriu e tentou fazer um carinho no rosto dele mas Harry se esquivou. - Vá embora Gina. Só me deixe aqui tá? – disse, quase implorando.

- E por que eu faria isso após arruinar todo o meu vestido? - disse, torcendo a barra do vestido de veludo e deixando a lama escorrer.

- Porque eu estou ficando louco e você corre perigo perto de mim - ela sacudiu a cabeça. Gina não sabia do que tinha se passado com ele. Aquela tinha sido a gota d'água para ele.

- Você não está louco, Harry. Só tem uns ataques e esquece mas... - ele cortou a namorada.

- Matar você não seria uma loucura? - ela se assustou quando ele disse isso, chegando para trás. Ele se corrigiu. - Não agora. Antes. Dessa vez eu me lembrei. Eu me lembro dessa parte. Você tem idéia de como foi horrível? Eu sei que eu teria te matado, Gina. Minha força de vontade não é tão forte assim. Foi pior do que a Maldição Imperius. - a garota olhou séria para ele.

- E mesmo assim você resistiu... - completou.

- Eu queria - ele disse, gritando desesperado. - Mas ao mesmo tempo não queria, não podia... Droga, Gina, você é a minha vida... - ela sorriu, comovida.

- Foi por isso que você agarrou a Cho... - ele fez uma careta de nojo e dor ao mesmo tempo.

- É, eu queria tirar você dali. Tinha que dar um jeito de você sair de perto. Foi o melhor que eu pude arranjar. Embora tenha preferido mil vezes levar aquele soco do Malfoy - ele tentou rir mas o frio estava piorando a cada minuto o pé, que estava agora muito inchado.

- Harry, eu sei por que você está tendo os ataques - ele arregalou os olhos para ela.

- Sabe? Ai! - ele se ajeitou e permitiu que ela apoiasse o pé dele em cima da perna dela.

- Cada vez que você conversa mentalmente comigo você muda. Mas só acontece quando é você quem usa a telepatia. Quando eu uso nada acontece. Eu reparei isso depois de uma coisa que o Dra... Digo, que o Malfoy falou - Harry sorriu de modo cínico.

- Que bom que aquele lá serviu para alguma coisa. Ai! - ele se mexeu e o pé latejou. Ela fez uma careta e apoiou o pé dele. - O que o idiota disse? – perguntou, curioso mas em tom monótono.

- Ele disse que queria poder ler mentes para saber se você me amava realmente - respondeu calmamente e Harry ficou pasmo.

- Como ele ousa, eu vou... - ela cortou a frase, colocando a mão sobre os lábios de Harry.

- Mas eu sei que você me ama. Eu não preciso ler a sua mente para isso. Basta olhar dentro dos seus olhos. Dá para ler o seu coração através deles - ele deu um sorriso amarelo. - E o que importa é que o que ele disse me chamou atenção. Nós não podemos usar a telepatia. Temos só que descobrir por quê... Mas acho que vai ficar fácil para a Mione pesquisar agora - ele olhou para ela, concordando. - Você ainda vai querer ficar aqui? - perguntou de modo displicente.

- Ahn? - ele ainda não tinha pensado como sairia dali.

- Eu suponho que você não queira passar a noite aqui, congelando até morrer. Nós, com certeza, pegaremos uma pneumonia dupla se ficarmos na Floresta - ele olhou para ela, que ainda tinha uma dúvida. - Eu só quero saber se estamos bem? - ele passou a mão direita no rosto dela e Gina segurou, beijando a palma encharcada dele. Depois ele encostou a própria testa na dela, puxando-a pela nuca, olhou a menina nos olhos e encontrou os lábios dela num rápido beijo.

- Isso responde a sua pergunta? - disse, sorrindo ternamente.

- Digamos que eu aceito isso como um sim - ela disse, puxando a varinha de Harry das vestes dele, sorridente, e apontando para o pé machucado.

- Aquiles Reparum! - um fio de luz azul saiu da ponta da varinha. Ele mexeu o pé para os lados, estava ótimo. Não sentia nenhum pouco de dor. Gina estendeu a mão para Harry, ficando de pé.

- Vamos! - falou com urgência. - Estou congelando aqui - Harry olhou para ela um tanto quanto chocado enquanto Gina se abrigava debaixo da capa dele.

- Você, você podia ter curado meu pé esse tempo todo? - ela riu.

- É claro que eu podia. Eu pretendo ser medi-bruxa, esqueceu? Mas eu tinha que ter certeza de que você voltaria comigo e não se embrenharia mato adentro... E depois, você mereceu, por quase ter beijado a idiota da Chang - ele riu.

- Eu pensei que quase ter beijado a idiota da Chang já tinha sido castigo o suficiente - os dois riram e saíram da Floresta abraçados.

Chovia um pouco menos agora mas ainda estava muito frio. Os dois saíram da Floresta e percorreram a sua orla. Harry sugeriu que se abrigassem na cabana de Hagrid mas a fumaça que saía da chaminé indicou a Gina que deveriam procurar outro abrigo. Então acabaram entrando no castelo pela porta da cozinha. Dobby ficou alegre em receber Harry Potter e a "Wheezy" dele para um chá quente com biscoitos. Passaram um bom tempo em uma animada conversa com o elfo, que tinha adorado o presente de Natal. Quando saíram, já secos e de estômago cheio, Dobby ainda gritou.

- Harry Potter, senhor, traga a Srta. sua Wheezy mais vezes para ver Dobby. Dobby adora Wheezys - os dois riram e se esgueiraram até a Torre da Grifinória. Agora estava tudo bem entre eles, só restava descobrir o porquê de Harry não poder usar a telepatia. Mas ele ainda tinha uma dúvida.

- Gina - perguntou enquanto caminhavam de mãos dadas. - Eu me lembro de ter te feito uma pergunta quando estava em transe ou sei lá o quê... – disse, curioso.

- É fez... Você me perguntou onde estava o Sirius - ela respondeu. Ele arregalou os olhos.

- E você respondeu?

- Respondi, sim, por quê? - ele olhou, desconfiado, mas não imaginou que tivesse algum problema naquilo.

- Por nada - disse enquanto ela dizia a senha para a Mulher Gorda e os dois entravam na sala comunal.