Com a proximidade do final do ano letivo Dumbledore começou a organizar com o resto da Ordem da Fênix os preparativos para o julgamento de Sirius, que continuava escondido na Casa dos Gritos, em Hogsmeade. Estava morando com Allana e ninguém visitava os dois para que não corressem riscos. Fazia algum tempo que Harry não via os padrinhos. Não via os dois desde a noite de Ano Novo.
Finalmente o Ministério faria um julgamento justo para Sirius. Snape já tinha indicado a Alastor os nomes que não poderiam constar no júri e obtido autorização para utilizar o Veritasserum.
Harry e os outros não sabiam ainda sobre a proximidade do julgamento. Dumbledore tinha preferido contar quando faltassem poucos dias para a realização. Chamara o menino em sua sala para informar exatamente isso. Harry deixou os amigos na sala comunal e foi até a gárgula que guardava a sala do diretor.
- Lima azeda - disse a senha. A professora McGonagall o tinha informado antes. A gárgula girou e revelou a passagem para a sala de Dumbledore. Entrou, viu Fawkes dormindo no poleiro e sorriu.
- Olá Harry - o diretor disse calmamente. Fawkes deu um pio fraquinho, acordando com a voz do dono.
- Olá professor. Bom dia Fawkes - Harry disse à fênix enquanto a ave voava para o ombro do Diretor. Ela piou solenemente.
- Você deve estar se perguntando por que eu o chamei aqui, não é mesmo? - Harry acenou positivamente com a cabeça. - Eu tenho uma notícia animadora para você Harry - disse com calma. O menino arregalou os olhos.
- É.. É sobre Sirius? - hesitou ao perguntar, Dumbledore sorriu.
- Eu imaginei que você imaginaria o assunto da conversa - Harry abriu um sorriso e levantou, entusiasmado, da cadeira. - Ainda não é a boa notícia que você esperava ouvir mas já é um começo.
- É sobre o julgamento? - Dumbledore acenou a cabeça de leve.
- Será no fim do ano letivo. No final do mês - Harry engoliu em seco e se largou sentado na cadeira. Dumbledore deu um sorriso condescendente. - É para você ficar animado. Nós não estamos deixando Sirius abandonado à própria sorte. Temos todo um planejamento e creio que seremos bem sucedidos - Harry sacudiu a cabeça.
- Eu quero que você fique a par da situação. E tenha otimismo Harry - o rapaz parecia ainda incomodado. - E, antes que você fique se perguntando, eu não creio que Sirius seja novamente mandado para a prisão. O nome dele está limpo no mundo trouxa e a prisão bruxa, bom, você sabe muito bem o que aconteceu. Então creio que sairá tudo a contento. Agora você pode ir - Harry se despediu e saiu. Estava ansioso para contar as novidades aos outros.
Foi praticamente correndo até a sala comunal. Assim que entrou encontrou os outros três esperando, ansiosos. Não sabiam se voltaria com boas ou más notícias.
- Calma - disse antes de qualquer coisa. Os outros relaxaram. Ele se apertou no sofá entre Rony e Gina. Mione escorregou para o chão, ficando encostada nas pernas de Rony. - É sobre Snuffles - disse baixinho, verificando se alguém estava prestando atenção na conversa deles. Os outros arregalaram os olhos.
- E...? - Rony gesticulou, ansioso, para que Harry prosseguisse.
- O julgamento será no final do mês. Mas acho que Dumbledore, mesmo tendo me contado isso, ainda está me escondeu alguma coisa. Algo grande - os outros ficaram apreensivos.
- Vai correr tudo bem Harry - disse Gina, apertando a mão do namorado. Ele sorriu, e levou a mão dela aos lábios, dando um suave beijo.
- É o que eu espero - respondeu, encarando os amigos. - Esse mês vai demorar uma eternidade para passar - suspirou, jogando a cabeça para trás, desanimado. Gina encostou a cabeça no ombro dele e Harry escorregou, apoiando a têmpora nela.
O mês passou bem mais rápido do que Harry tinha imaginado. Logo chegou o final do ano letivo. Hagrid, que já havia retornado da França, levou de volta os alunos franceses, junto com Fleur Delacour, para felicidade de Hermione. Ela ainda não conseguia suportar a francesinha parente de veelas, por mais que Gina tentasse conciliar as duas. Harry e os outros ainda permaneceriam mais uma semana em Hogwarts mas não estavam assistindo mais às aulas. A maioria dos alunos já tinha ido embora para as suas casas.
Chegou o dia do julgamento de Sirius. Não era permitido que nenhuma pessoa que não estivesse envolvida no caso assistisse. Nem mesmo Dumbledore e o resto da Ordem poderiam estar presentes. Apenas os bruxos do júri, o Ministro da Magia e eventuais testemunhas poderiam participar.
Sirius foi levado até o Ministério por Remo. Ele pediu que Allana permanecesse na Casa dos Gritos. Não queria que ela se deslocasse desnecessariamente até o Ministério e ela concordou.
Harry ficou sentado na sala comunal, em frente à lareira. Parecia em choque. Rony, Gina e Hermione ficaram ao lado dele em silêncio. Sabiam que aquele momento seria difícil suportar. A ansiedade era enorme.
Assim que Sirius entrou no Ministério foi conduzido ao salão onde seria feito o julgamento. Ficou alguns minutos sozinho em uma sala. Pareceu uma eternidade. Depois uma das portas da sala se abriu e um bruxo todo vestido de roxo com uma estrela dourada na manga das vestes entrou e o conduziu até o Salão.
O Salão era redondo, com grandes janelas de vidro, pesadas cortinas também roxas. Aquela, aliás, era a cor predominante no recinto. Praticamente todos os bruxos usavam essa cor, cada um tinha um determinado número de estrelas na manga, variando de um a dez, de acordo com a função exercida. O tapete que cobria todo o chão era de um azul real profundo, com alguns desenhos e emblemas roxos e dourados. Algo como uma balança e o brasão do Ministério da Magia, sobrepostos a um caldeirão. A mesa, em "U", era enorme e atrás dela, todos os bruxos do júri estavam dispostos um ao lado do outro. Moody se sentava no centro e, no meio do semi-círculo de bruxos, um pequeno púlpito para o réu, no caso Sirius. Ele se aproximou e os bruxos perguntaram a ele se poderiam iniciar o interrogatório. Assentiu, após trocar um olhar apreensivo com Alastor.
- Muito bem Sr. Black - disse o ministro. - Começaremos com perguntas simples. E se não estivermos satisfeitos ministraremos o Veritasserum ao senhor – Sirius fez uma expressão de ofendido, como havia combinado com o resto da Ordem.
- Eu vou ser submetido à poção da verdade? - disse em tom contrariado. - Eu não sei se concordo - Alastor olhou apoiadoramente para ele. Estava fazendo uma perfeita encenação. Os bruxos do júri se entreolharam. Com certeza agora exigiriam o Veritasserum. E era exatamente isso que Sirius queria.
- O senhor está sob custódia, Sr. Black, e, como tal, deve obedecer às ordens desse julgamento ou será condenado sumariamente por desacato à autoridade deste tribunal – Sirius acenou, contrariado, com a cabeça. Era ótimo em dissimular.
- Está bem, eu só não acho isso realmente necessário - disse, sério. Alguns bruxos comentaram sua atitude. Agora estava garantido o uso da poção da verdade. Sirius poderia dar uma gargalhada se isso não fosse estragar a perfeita encenação. Um bruxo também de roupa roxa e 7 estrelas douradas na manga se aproximou dele. Presumiu que fosse o interrogador oficial do Ministério.
- Como o senhor se declara em relação às mortes de doze trouxas e do bruxo Pedro Pettigrew?
- Inocente - disse com veemência.
- E em relação às mortes de Tiago e Lílian Potter? – Sirius hesitou. Sentia culpa mas não tinha sido o assassino.
- Inocente - disse com a voz trêmula. O interrogador não pareceu muito satisfeito.
- Sr. Black, eu gostaria que o senhor relatasse os acontecimentos da noite de 31 de outubro de 16 anos atrás – Sirius suspirou. Odiava lembrar daquela noite mas não tinha outro jeito.
- Eu estava na casa da minha namorada, Allana Figg. Nós ficamos algum tempo juntos. Eu não sei exatamente quanto tempo. Mas eu ainda tinha um compromisso. Eu tinha prometido a Tiago e Lílian que iria até o esconderijo de Pedro Pettigrew naquela noite, verificar se ele estava bem. Ele tinha sido feito o fiel do segredo deles no feitiço Fidelius. Eu me recusei a ser o fiel na última hora, achava que seria muito óbvio para Voldemort e seus seguidores. Foi o maior erro da minha vida... Quando eu cheguei no esconderijo de Pedro me assustei. Ele não estava e o esconderijo não tinha nenhum sinal de luta. Isso me apavorou – fez uma pausa, respirando profundamente. - Peguei a minha moto e voei para Godric's Hollow, para a casa dos Potter, o mais rápido que pude. Mas quando eu cheguei lá já era tarde demais - abaixou a cabeça, passou nervosamente as mãos por entre os cabelos. Ainda era difícil se lembrar da cena. - A casa estava totalmente destruída, Tiago e Lílian mortos e o pequeno Harry chorava, em meio ao caos - ergueu os olhos azuis, brilhantes de lágrimas, para o bruxo interrogador. - Depois eu peguei o menino no colo, tentando acalentá-lo. Então Rúbeo Hagrid chegou e disse que Dumbledore não permitiria que eu ficasse com Harry, mesmo sendo meu por direito. Eu não me conformei com isso mas, naquele momento, estava mais preocupado em vingar os meus melhores amigos, precisava fazer o responsável pagar caro por aquilo. Precisava por as mãos em Pedro Pettigrew. Mas ele foi mais esperto. Simulou a própria morte na frente de uma rua inteira de trouxas, explodindo parte dela, matando 12 pessoas e escapando como um rato que é pelos esgotos. Eu fui preso e enviado a Azkaban. Mas agora eu posso finalmente contar essa história e tentar me livrar desses fantasmas - o interrogador assentiu com a cabeça. Tinha sido o suficiente.
- E como o Sr. escapou da prisão? – Sirius respirou fundo. Já esperava que aquilo fosse ser perguntado.
- Eu sou um animago - disse, sério. Houve um burburinho no recinto. - Sei que exerci e estou exercendo isso ilegalmente mas pretendo me registrar no Ministério. Pedro também é um animago não registrado - preferiu não mencionar Tiago, não queria manchar a memória do amigo. - Usei a minha forma animaga para amenizar os efeitos dos dementadores e quando tive chance passei por eles. Minha determinação de pôr as mãos em Pedro era maior do que a angústia instilada por aquelas criaturas. E a certeza de ser inocente me fez permanecer são naquele inferno - os jurados se entreolharam.
- Muito bem, e o Sr. queria fazer exatamente o que com Pedro Pettigrew quando o encontrasse? – Sirius encarou o bruxo nos olhos.
- Eu pretendia matá-lo. Ele matou os meus melhores amigos e condenou a todos que eu amo a anos de escuridão - alguns jurados se espantaram com a sinceridade de Sirius. - Mas não pude fazer isso quando a oportunidade se apresentou.
- E por que o senhor não o matou? - o interrogador fez uma expressão intrigada. Ele deu um sorriso, orgulhoso.
- Harry. Harry Potter. Ele disse uma coisa. Ele decidiu poupá-lo. Disse que não queria que o melhor amigo de seu pai se tornasse um assassino. Pedro deveria ir para Azkaban. Tiago não faria diferente. O filho dele foi sensato, exatamente como o pai era - sorriu ao se lembrar do afilhado. - Foi a primeira vez que eu experimentei sentir orgulho, que Tiago me permita isso, como pai na minha vida - terminou com a voz impregnada de saudade. O interrogador o olhou bem.
- Certo Sr. Black. Agora eu me retirarei com os meus colegas e deliberaremos por alguns minutos. Decidiremos se devemos ou não ministrar o Veritasserum ao senhor – Sirius acenou com a cabeça.
Os homens de roxo saíram por uma das portas do salão mas retornaram rapidamente. Ele viu quando o interrogador depositou um frasco verde lacrado em frente ao Ministro da Magia. Alastor segurou o frasco. Ele o ergueu na frente de todos, e quebrou o lacre, mostrando que não havia sido fraudado. Era o Veritasserum. Sirius tomaria a poção da verdade. Ele entregou o frasco na mão do interrogador. Sirius fez uma falsa expressão consternada. Por dentro estava gritando de alívio.
- Sr. Black, não foi preciso muita deliberação. Decidimos por unanimidade ministrar-lhe o Veritasserum. - ele esticou o frasco para Sirius. - Devo alertá-lo que não é nada agradável o efeito desta poção. É doloroso e difícil. Mas é uma exigência da promotoria da Magia – Sirius engoliu em seco e segurou o frasco entre os dedos.
- Devo beber agora?
- Quando preferir. Tem alguns minutos se quiser – Sirius sacudiu a cabeça negativamente.
- Obrigado. Não será necessário - e, com isso, entornou a poção garganta abaixo. O líquido queimou sua língua e fez com que seu estômago se retorcesse em protesto. Dentro de poucos segundos sentia um fogo correndo pelas suas veias e a vontade própria se extinguindo. Estava completamente exposto. Revelaria qualquer coisa que lhe perguntassem. O peito parecia estar sendo aberto à faca. Segurou na borda do púlpito com força. Os nós dos dedos ficaram brancos e sentou, pela primeira vez, na cadeira atrás de si. O inspetor se aproximou.
- Não se preocupe. Será bem rápido - olhou para Alastor, consultando-o se poderia fazer a primeira pergunta. O ministro concordou. Sirius suava copiosamente e tinha uma expressão de dor estampada no rosto pálido. - Sr. Black, o senhor foi responsável pela morte de doze trouxas e de Pedro Pettigrew?
- NÃO! – Sirius disse com a voz firme. - Pedro está vivo mas eu não matei trouxa nenhum. Ele matou - o inspetor acenou com a cabeça.
- Muito bem. E o senhor foi o responsável pelas mortes de Tiago e Lílian Potter? – Sirius deu um gemido profundo.
- SIM! - gritou. A surpresa foi geral. Nem mesmo Moody esperava que dissesse aquilo.
- O senhor quer dizer que matou Tiago e Lílian Potter? - perguntou, satisfeito.
- NÃO! – Sirius disse com convicção, levantando-se de súbito da cadeira. O interrogador começou a duvidar da poção.
- Explique-se Sr. Black - disse, irritado. Sirius colocou a mão no peito e, tomando fôlego, disse uma das coisas mais íntimas que ele tinha guardada dentro de si.
- Eu me culpo pelas mortes. Eu amava Tiago e Lílian como meus irmãos e não fui o fiel do segredo, por isso estão mortos. Eles me pediram e eu sugeri outra pessoa. Se tivesse sido eu Voldemort poderia ter me virado do avesso que eu nunca diria nada. Preferia morrer a entregar os meus melhores amigos. Eu amava aquela família - deixava as lágrimas rolarem pela face, não podia controlar. - Harry é meu afilhado. Eu o amo como a um filho. Agora eu tenho certeza absoluta disso. Nunca quereria que ele ficasse órfão, nunca - ele se deixou cair sentado, pesadamente, ofegando, a mão no peito.
Tinha sido suficiente. Estava clara sua inocência. Algumas bruxas do júri estavam visivelmente comovidas com o testemunho emocionado de Sirius. O interrogador terminou o efeito da poção, oferecendo um gole de um líquido claro e doce. Sirius bebeu de um gole só e sentiu um torpor invadir o corpo. O líquido anestesiou sua garganta e amenizou as dores que sentia, relaxando-o profundamente. Poderia dormir por horas a fio se não estivesse tão ansioso pelo veredicto. O interrogador se retirou da sala novamente. O júri o acompanhou. Após cerca de uma hora Moody foi chamado. Saiu pela mesma porta e retornou dois minutos depois com um envelope roxo nas mãos. Ele se dirigiu ao réu.
- Sirius Black, de pé por favor. Eu vou dar o veredicto – Sirius ficou em pé e sentiu o sangue gelar. - Esse ilustre tribunal considera o réu Sirius Black inocente de todas as suas acusações. Como compensação pelos anos preso injustamente na prisão bruxa de Azkaban lhe será paga uma pensão vitalícia de mil galeões de ouro anuais. A mesma será mantida até a sua terceira geração de descendentes. Muito obrigado a todos - Moody completou e sorriu para o amigo. - Pode ir, Sr. Black. O senhor é um homem livre – Sirius não podia acreditar. Poderia chorar, gritar. Estava em choque.
Alastor então desceu do seu lugar e trouxe uma caixa roxa, pequena. Sirius imaginou o que tinha dentro dela. Ele se aproximou e abriu a caixa. Ali estava sua varinha. Tinha sido obrigado a entregar a varinha e estava proibido de exercer magia até então. Alastor pegou a varinha e a entregou na mão de Sirius. Como acontecia com um jovem bruxo, faíscas douradas surgiram em volta do homem. Era como se a varinha saudasse o dono após tantos anos separados. Abriu um sorriso e quebrou totalmente o protocolo, abraçando Moody. Não pôde se conter. Agora estava livre, com o nome limpo. Finalmente poderia ter sua família, ao lado de Harry e Allana.
Quando Sirius saiu do salão ficou impressionado com a quantidade de rostos conhecidos que encontrou. Foi imediatamente abraçado por Remo e Arabella. Dumbledore sorria, feliz, e Mundungo estava com lágrimas nos olhos. Havia um repórter do Profeta Diário mas Sirius não queria dar uma entrevista naquele momento. Queria correr para Hogsmeade e surpreender Allana. Dumbledore sabia disso e tratou de livrar Sirius da confusão, conseguindo uma sala vazia para que pudesse desaparatar para Hogsmeade.
Harry estava desesperado de tanta ansiedade. Já tinha roído todas as unhas em frente à lareira do salão comunal. Hermione, Rony e Gina estavam em silêncio absoluto. Foi quando ouviram um barulho estranho. A lareira crepitou e emitiu algumas faíscas coloridas. Harry engoliu em seco, procurou involuntariamente a mão de Gina, apertando-a com força. A cabeça de Arthur Weasley apareceu por entre as chamas. Ele sorriu para os meninos.
- Acabou Harry. Ele está livre - Harry sentiu um arrepio percorrer o corpo. Poderia gritar mas não fez isso. Abraçou Gina e chorou convulsivamente. Nunca tinha se sentido daquela maneira. Hermione e Rony também estavam emocionados.
- Obrigada papai - disse Gina, por cima do ombro de Harry. Ele sorriu e saiu. Sabia que Harry estava curioso para saber os detalhes mas não podia contar tudo naquele momento.
Harry ficou abraçado à namorada por alguns minutos, depois abraçou Rony e Hermione - os quatro estavam muitos felizes. Finalmente agora a família de Harry estaria completa para sempre. Ele, Allana e Sírius.
Sirius aparatou em Hogsmeade e foi direto para uma loja de flores. Comprou um imenso buquê de rosas vermelhas para Allana e tirou do bolso o velho anel que tinha sido de sua mãe. Finalmente tinha chegado a hora de entregar aquele anel a ela. Ele o tinha mantido guardado por todo aquele tempo com Remo. Não queria oferecer um futuro incerto, vazio e sem perspectivas a Allana. Ele a amava demais para isso.
Sirius foi andando contente pela rua. Assoviava, cumprimentava as pessoas, que, mesmo um pouco assustadas, retribuíam. Em breve não assustaria mais ninguém, então estava se divertindo com os últimos momentos de "terrível fora da lei".
Entrou na rua da Casa dos Gritos. Estava um cheiro pútrido no ar. Olhou para trás, e viu que a fossa, do outro lado da rua, tinha transbordado. Prendeu a respiração e atravessou a rua, entrando pelo portão da frente, como homem pela primeira vez e não como o cão. Caminhou lentamente pelo jardim e abriu a porta de casa.
- Allana? - ela desceu as escadas com dificuldade. A barriga já estava imensa e não poderia disfarçar mais a gravidez com roupas largas e casacos pesados.
- Sirius! - ela veio o mais rápido que pôde e encontrou os lábios dele entreabertos, num beijo apaixonado.
- Estou livre meu amor - ela sorriu, lágrimas desciam pelas bochechas coradas. - Livre para você, livre para nós três - disse, ajoelhando no chão e beijando a barriga saliente enquanto o bebê chutava com força. - Livre para isso - disse, estendendo o anel para ela. Allana arregalou os olhos.
- Sirius! - disse, surpresa. Ele ficou de pé e colocou o anel em seu dedo.
- Se você aceitar esse cachorro velho, é claro - ela abriu um lindo sorriso.
- É claro que eu aceito. Quem diria que eu poria uma coleira em Sirius Black – disse, dando um beijo de leve nos lábios dele. Sirius sorriu.
- Vamos. Vamos até Hogwarts, agora podemos contar tudo aos outros. Vamos aproveitar o fim da tarde e caminhar pelo vilarejo até lá. Não precisamos mais usar a velha passagem - subiu as escadas correndo e trouxe uma capa para Allana, colocando-a sobre os ombros da sua agora noiva.
Assim que abriu a porta o cheiro de esgoto invadiu a casa. Mas não foi isso que fez com que ele arregalasse os olhos. O pequeno portão branco do jardim estava estraçalhado, bem como o muro e todas as plantas. Um exército de dementadores avançava rapidamente na direção deles. Allana conteve um grito enquanto ele a colocava para trás de si. Pensou na noite do aniversário de dezesseis anos de Harry, a noite em que haviam concebido o bebê. E, erguendo a varinha gritou:
- Expecto Patronum! - um jorro prateado saiu da ponta da varinha e algo muito parecido com um enorme cão avançou para os dementadores, dispersando parte deles, que retornou para o esgoto. Mas muitos ainda estavam de pé. Sirius sentiu uma tontura, uma fraqueza. Fechou violentamente a porta, embora soubesse que aquilo não deteria os dementadores por mais de um minuto. Apontou a varinha para um pesado armário e disse, enérgico. - Mobillus! - o armário se moveu sozinho, colocando-se em frente à porta. Allana olhou apavorada para ele e ergueu a própria varinha. Ela lutaria junto com ele. Sirius sacudiu a cabeça negativamente, olhando para a barriga dela. Allana passou a mão pelo ventre saliente.
- Sirius... - ela sussurrou, imaginando o que poderia acontecer com o bebê. Ele olhou para ela enquanto a porta era reduzida a escombros e os vidros das janelas do primeiro andar eram quebrados.
- A passagem... É a nossa única chance... - subiu as escadas correndo, sem olhar para trás. Sabia que a esta altura os dementadores já estavam dentro da casa. Tinha muito pouco tempo para tentar salvar Allana e o filho.
Correu com ela pelo estreito corredor, guiando-a até a passagem do Salgueiro Lutador. Colocou Allana à frente e começou a correr de costas pela passagem. Já podia ver alguns dementadores na extremidade oposta. Estava preocupado em chegar o mais rápido possível aos terrenos de Hogwarts. Já podiam enxergar a claridade avermelhada do pôr do sol, do lado de fora do túnel. Mas os dementadores estavam em seus calcanhares.
- VAI LANA! EU VOU ATRASÁ-LOS - ela segurou a mão dele, apavorada, mas ela escorregou.
- SIRIUS, NÃO! - gritou, desesperada. - NÃO ME DEIXE AQUI! - ele voltou correndo. Lançava o feitiço "Expecto patronum" seguidas vezes mas eram muitos dementadores e já estava começando a sucumbir. Estava cada vez mais difícil lembrar dos momentos felizes, de Allana e o bebê, da sua libertação. Estava vendo a imagem de Tiago e Lílian mortos cada vez mais nítida na sua mente.
- Eu nunca vou te deixar Lana. Eu amo vocês! - disse, tentando passar alguma segurança para ela. Mas sabia que não sairia mais dali. Ele beijou a cabeça dela e alisou a barriga, sentindo a bebê se mexer por um breve momento. - Saia daqui meu amor. Eu estarei logo atrás de você - disse, tentando parecer convincente, e ela sacudiu a cabeça.
Allana se esgueirou pela passagem e saiu para os terrenos de Hogwarts. Do lado de fora o céu vermelho do pôr do sol da primavera tingia os jardins da escola e o lago de múltiplos tons de carmim. Ela se afastou um pouco, esperando que ele saísse. Mas Sirius sabia que não poderia fazer isso, apenas gritou.
- LANA, ME PERDOE! - ela tentou correr de volta à passagem, sabia o que ele faria. Sirius apontou a varinha para a saída e gritou. – Concrectus Sellare! - a passagem desabou com um estrondo e foi totalmente selada, como que por concreto. Allana caiu de joelhos sobre a mesma. Tentou proferir um contra-feitiço mas não sabia como.
- NÃO! NÃO! SÍRIUS! NÃO, POR QUÊ VOCÊ FEZ ISSO COMIGO? DESGRAÇADO! NÃO ME DEIXA SOZINHA! NÃO ME DEIXA... - ela chorava, esmurrando inutilmente o chão, a varinha em punho. Sabia que tinha perdido o amor da sua vida para sempre. Foi então ela sentiu uma forte pontada na barriga. Algo quente escorreu por suas pernas. Sangue e líquido. O bebê estava nascendo.
Allana colocou a mão sobre a barriga, que estava dura como uma melancia. Aquilo então era o trabalho de parto. Começou a sentir cólicas fortes e se curvou. Ainda chorava mas não conseguia pensar em mais nada além da dor que sentia. Ficou ali, encolhida, praticamente desmaiada.
Acordou depois de algum tempo. Dumbledore e Arabella a haviam levado para dentro, estavam voltando do Ministério da Magia quando a encontraram caída no chão. Ela não soube exatamente o quanto permaneceu ali pois quando abriu os olhos já estava na enfermaria. Teria sido melhor que não tivesse acordado, a dor lancinante lembrou-a imediatamente de tudo que tinha acontecido. Estava ganhando um filho e tinha perdido Sirius. Ela gemeu. Arabella passou uma compressa úmida na testa dela. Ela não estava nada bem.
Madame Pomfrey saiu por alguns minutos de trás do biombo que tinha sido colocado no meio da enfermaria para isolar Allana. A enfermeira chamou Arabella para que pudesse explicar a situação para ela e Dumbledore, que estava aguardando do lado de fora.
- Ela não está nada bem diretor. Algo fez com que o bebê se precipitasse. E creio que esse parto demorará muito tempo. Eu não sei como ela está resistindo. Perdeu uma grande quantidade de sangue - Arabella suspirou fundo. Algumas lágrimas escorreram do rosto da velha bruxa.
- Eu não sabia que ela estava grávida Alvo. Por que os filhos teimam em pregar este tipo de susto nos pais? - Dumbledore colocou as mãos em seus ombros.
- Ela é forte Bella. Vai resistir. Tenha fé - ele foi interrompido por um súbito grito de Allana.
- SIRIUS! SIRIUS! NÃO FAÇA ISSO, NÃO FAÇA... - o diretor olhou para Arabella. Ainda não lhes tinha ocorrido o que poderia ter acontecido com Sirius Black.
