Sirius só se virou depois de verificar que a passagem estava absolutamente bloqueada. Estava encurralado, cercado por nove dementadores. Sentiu-se terrivelmente mal. A imagem de Tiago e Lílian mortos estava se tornando muito vívida em sua mente. Podia ouvir claramente o chorinho agudo e assustado de Harry ainda bebê, sentado entre os escombros. Com o objetivo de escapar dali, transformou-se automaticamente no enorme cão negro.
Já tinha conseguido se esquivar dos dementadores e estava começando a acreditar que conseguiria fugir para as ruas quando foi impedido.
- Estupefaça! - um jorro vermelho o atingiu em cheio no peito e ele caiu no chão, desacordado. Lúcio Malfoy tinha acabado de nocauteá-lo. McNair e os Lestrange, que tinham fugido de Azkaban, conduzido os dementadores até Voldemort, também estavam presentes no ataque. - Mobilicorpus! - disse Lúcio, apontando a varinha para o cão negro desmaiado. Ele o colocou em uma carruagem sombria, puxada por dois cavalos feitos de fumaça cinzenta, olhos vermelhos de fogo. Com certeza eram criaturas produzidas por poderosa magia negra. Enquanto isso os dementadores retornaram aos esgotos, seu esconderijo desde a fuga de Azkaban.
A carruagem partiu na mesma hora, deixando o vilarejo de Hogsmeade rapidamente para trás. Atravessou uma boa parte de campos cultivados e finalmente chegou ao que parecia ser uma plantação de milho, totalmente devastada. Um moinho quebrado, ao lado de um córrego seco, era parte do cenário decadente. Um celeiro em ruínas era o ponto central da paisagem deprimente. A carruagem adentrou no local, parando bem no meio, em uma parte que ainda tinha algumas telhas recobrindo o teto. Lúcio e os outros Comensais retiraram o cão negro do bagageiro e o jogaram no chão, como se fosse um trapo qualquer. McNair abriu um alçapão metálico no chão, a porta para o velho silo de armazenar sementes, e Lúcio chutou o cachorro lá para baixo. Sirius atingiu o chão com um baque surdo. Não produziu nenhum gemido.
- Ele está morto? - perguntou a Bellatrix, Sra. Lestrange, uma bela mulher de cabelos e olhos negros. Tinha um brilho cruel e curioso no olhar.
- Não, minha querida – Rodolphus, o marido, respondeu prontamente. - Ainda não. Milorde ainda poderá se divertir com ele. Muito - os outros riram enquanto McNair lacrava magicamente a porta metálica do alçapão.
- Vamos! - ordenou Lúcio. - Temos que avisar Milorde que está tudo sobre controle. O idiota estava exatamente onde ele disse que estaria. Ficará feliz em saber que temos Black preparado para o "interrogatório" - eles riram e desaparataram. Encontrariam Voldemort para dar a boa notícia.
Depois de algum tempo Sirius acordou. Deu um ganido de dor e, verificando que não havia nenhum dementador por perto, voltou à sua forma humana. Olhou em volta. Não tinha muita claridade. Havia alguns furos no teto de madeira corroída e podre, que permitiam que os últimos raios de sol revelassem que ele estava em uma sala redonda, de paredes metálicas, com aproximadamente cinco metros de diâmetro. As dores e os hematomas na lateral do corpo indicavam as costelas fraturadas na queda de três metros até o chão. Uma pequena escada de degraus feitos de barras de ferro levavam ao alçapão selado. Não conseguiria sair por ali. Não estava com sua varinha. Ele era novamente um prisioneiro. Mas, dessa vez, sabia o que estava por vir. Na melhor das hipóteses seria esquecido ali, para morrer de fome e sede. Contudo, imaginava que havia um destino bem pior e mais cruel. Encostou na parede fria de metal, descansaria enquanto pudesse. Só gostaria de saber como estavam Allana e o bebê.
Allana gritou a plenos pulmões. Parecia estar em alguma espécie de transe ou delírio. Ela via Sirius sozinho, no escuro da passagem do Salgueiro Lutador. Totalmente encurralado. Um dementador se aproximava dele e, erguendo-o pelos ombros, proferia-lhe o beijo. Ela via repetidas vezes a imagem de Sirius recebendo o beijo do dementador. A alma sendo expurgada pela boca, deixando um corpo sem vida para trás. Ela se sentou na cama de repente. Os olhos fixos no nada.
- NÃO, NÃO... A passagem para Hogwarts... Ainda há tempo... - ela erguia a mão, como se estivesse segurando a própria varinha. – Expecto Patronum! Expecto Patronum! - Dumbledore e Arabella assistiam à cena, preocupados. Ela parecia estar revivendo o que tinha acontecido. - Não consigo Sirius. Não consigo pensar em algo feliz. Me perdoe, me perdoe. Eu falhei com você - chorava convulsivamente.
Dumbledore olhou para Arabella. Teria que mandar investigar a Casa dos Gritos. Ela e Sirius tinham sido, obviamente, atacados. Ele se retirou apressado da enfermaria. Mandaria Remo investigar imediatamente o que tinha acontecido. Ainda ouviu Allana gritar do corredor.
- Não Sirius! Você me deixou, desgraçado, maldito... Eu te amo! - estava completamente fora de si. Provavelmente muito traumatizada.
Arabella ficou ao lado da filha, enxugando-lhe as lágrimas e segurando-lhe a mão gelada. De vez em quando enxugava o suor que escorria da testa de Allana com uma compressa. Madame Pomfrey parecia apavorada.
- Vamos Papoula - Arabella disse de forma a encorajá-la. - Vamos ajudar a minha filha a dar à luz meu neto ou neta - a outra bruxa concordou. Deu um grande gole de poção analgésica para Allana e algumas gotas de um tônico calmante.
Algo não estava definitivamente bem. Allana estava pálida e fria. Não suportaria aquilo por muito tempo. Suas forças se esgotavam pouco a pouco. Papoula avaliou a situação e deu-lhe uma grande quantidade de poção revigorante. Allana recuperou o tom rosado dos lábios e abriu os olhos. Parece que agora poderia ao menos cooperar.
- Cooperar - disse uma voz fria e aguda. - Eu vou lhe ensinar a fazer isso. Voldemort estava na frente de Sirius. Tinha ido até o cativeiro que os Comensais haviam preparado para Black e agora tentava dissuadi-lo, em vão, a trair o segredo de Harry e dos Weasley. – Crucio! - Voldemort disse rindo, divertindo-se de ver um homem feito se contorcer como uma minhoca num anzol.
Sirius abafou um grito de dor. Queria morrer. Havia vários Comensais assistindo a cena. Entre eles Sirius reconheceu Snape. Pôde apreciar o brilho de satisfação no olhar escuro de Severo quando foi atingido pela primeira dose da Maldição Cruciatus. Voldemort crispou o punho, girando a varinha na mão.
- Vamos lá Black. Eu só preciso que me entregue aquele pirralho insolente - tinha liberado o prisioneiro por alguns instantes e Sirius ofegava como um louco, a mão sobre o peito. Respirou fundo e virou o cão negro. Tentou atacar o Lord das Trevas mas não seria assim tão fácil. Voldemort virou a varinha para ele, divertindo-se com a ousadia. – Mutare! - uma luz azul atingiu Sirius e bateu com o rosto, já humano, na parede metálica, cortando-se em uma saliência. Ele se virou para Voldemort. O rosto coberto de sangue do supercílio aberto. - Idiota. Metido a valente. Como Potter... Tiago não implorou, Black. Mas acho que você imploraria. Me diga onde mora Harry Potter! - apontou a varinha para o peito de Sirius. – Imperio! - Sirius sentiu uma leveza. Como se tudo fugisse da sua mente mas não deixou algo muito importante lhe escapar: Harry, Allana, o bebê. Não entregaria a própria família a Voldemort. Nunca. - Onde ele mora. É uma ordem! Diga. DIGA!
Voldemort sibilava. Estava prestes a estrangular Sirius. Snape assistia à cena sem demonstrar nenhuma emoção. Sirius ouviu a voz de Allana ecoando baixinho no fundo da sua mente: "Em breve teremos uma família completa. Eu, você, Harry e...", ela sorriu para ele, colocando a mão na barriga. Ele a beijou apaixonadamente. "Não o deixe tirar isso de voc", ouviu a própria voz dizer na sua cabeça. "Não deixe."
- ONDE ELE ESTÁ, BLACK? - Sirius ainda ouvia a própria voz, abafando as ordens de Voldemort. "Não diga, não deixe". Ele sorriu. "Não vou dizer", pensou. O pensamento foi crescendo, tomando forma.
- NÃO VOU DIZER! - berrou com todo o fôlego que lhe restava nos pulmões. A voz saiu rouca e furiosa, como os gritos de um urso. Voldemort se irritou. - Não vou dizer. Nunca. - disse, calmo. - Não... - foi interrompido.
- Crucio!
- NÃO! - Allana gritava. - Está me rasgando. Está me partindo ao meio - berrava enquanto fazia força para que o bebê saísse de dentro de si. Madame Pomfrey e Arabella ajudavam como podiam mas o bebê estava com dificuldades para sair.
Papoula deu uma dose de poção anestésica para Allana inalar. Ela pareceu mais entorpecida, relaxada. Arabella enxugou o suor da filha e molhou seus lábios com um pouco de água fresca. Neste instante Dumbledore entrou na enfermaria. Arabella deixou a filha por conta da enfermeira e foi falar com ele.
- Como foi lá em Hogsmeade, Alvo? - perguntou, preocupada. Ele estendeu a varinha de Black para ela. Tinha sido feita uma busca pelo vilarejo, liderada por Remo Lupin e vários bruxos do Ministério, inclusive Gui e Carlinhos Weasley.
- A Casa dos Gritos está destruída. Encontramos isso lá, caído no chão - apontou para a varinha na mão de Arabella. - Nem sinal de Sirius, Bella - ela olhou para a filha. Sentiu pena do que a moça passaria dali por diante. O diretor pareceu adivinhar os pensamentos dela.
- Ainda há uma esperança. Ele pode ter sido feito prisioneiro. E não se esqueça de que temos alguém da nossa confiança infiltrado entre eles - Arabella olhou de novo para a filha, que parecia começar a sentir uma nova sucessão de contrações.
- Harry já sabe? - perguntou em tom grave. Dumbledore sacudiu a cabeça.
- Tomei providências para que ele venha até a minha sala. Contarei tudo a ele pessoalmente. É o mínimo que podemos fazer agora. É hora de ele saber sobre a Ordem da Fênix - disse, antes de se retirar. Sabia que Allana precisava da mãe naquele momento.
Harry estava na sala comunal, feliz como se fosse a véspera de Natal. Fazia planos mirabolantes e divertidos para as próximas férias. Estava ansioso para ver a cara do padrinho no cinema. Pretendia aprender a jogar futebol e depois ensinar a Sirius. Gina e Rony riam da imitação dele, fingindo chutar uma bola para um gol invisível. Foi quando Hermione passou pelo buraco do retrato. Minutos antes tinha sido chamada pela professora McGonagall e agora tinha uma expressão chocada estampada no rosto. Aproximou-se dos três e disse em voz baixa.
- Harry, Dumbledore pediu que fosse ao seu escritório. A senha é a mesma - abaixou a cabeça, evitando olhar para o amigo. Gina e Rony se entreolharam, Harry abraçou os dois, dizendo em um sussurro inaudível para Hermione.
- Aposto que Sirius está lá. Ele deve querer me pregar uma peça. Por isso Mione está com essa cara, fingindo tristeza - piscou para os dois e saiu correndo pelo buraco.
Harry não poderia estar mais enganado. Assim que saiu Mione contou o que tinha acontecido aos outros. Ficaram completamente chocados. Os três decidiram esperar por Harry na porta da enfermaria. Além de estarem tristes estavam preocupados com Allana e sabiam que o amigo precisaria deles assim que soubesse do que tinha acontecido.
- Não é justo! - disse Rony, indignado. - Agora que ele ia finalmente conseguir ter a família que sempre sonhou - Gina tentava conter as lágrimas em vão mas precisava se manter forte. Ser forte por Harry. Por mais difícil que isso fosse. - E Allana está tendo um bebê! Bem que eu estava achando Bichento muito gordo... - Mione concordou enquanto caminhavam apressados pelo corredor.
Quando Harry chegou na sala do diretor estranhou não encontrar Sirius e Allana esperando por ele. Ao invés disso estava em frente a um Remo Lupin absolutamente arrasado, a expressão consternada. Parecia ter chorado bastante. Definitivamente se era uma peça que estavam tentando pregar nele agora estavam realmente conseguindo. Já estavam indo longe demais até. Olhou para Dumbledore, com atenção, procurando a verdade em seus olhos, e teve a certeza de que alguma coisa séria tinha, de fato, acontecido.
- Professor, o que houve? - disse com a voz hesitante, criando coragem para perguntar. Remo se adiantou, colocando as mãos no seu ombro.
- Harry... - suspirou. - Não sei por onde começar - disse, a voz embargada.
Harry se sentou. Sentiu uma fisgada no estômago. Dumbledore intercedeu, um olhar absolutamente opaco por cima dos óculos de meia-lua.
- Houve um ataque Harry. Dementadores. Atacaram a Casa do Gritos - Harry arregalou os olhos. Sentiu a dor no fundo do estômago aumentar. Levantou bruscamente da cadeira.
- Sirius e Allana? - perguntou com um fio de voz. Começou a respirar depressa, ansioso pelo que imaginava que ouviria como resposta. Tinha certeza de que tinha perdido os pais pela segunda vez. Dumbledore ergueu a mão para ele, para que não tomasse conclusões precipitadas.
- Allana está na enfermaria nesse momento. Tendo um filho - Harry se espantou. - E Sirius... - prosseguiu, esticando a varinha do padrinho para Harry. Remo deixou um filete de lágrimas escorrer pelo rosto.
- Está morto - Harry completou, os olhos verdes vidrados, rasos de lágrimas, que não permitiu que caíssem. Havia muita raiva contida naquele olhar. - O que eu devo fazer? - perguntou com a frieza e a objetividade de um adulto antes que Dumbledore pudesse prosseguir. O diretor olhou para ele com os olhos faiscantes. Harry estava, com certeza, pronto para ingressar na Ordem da Fênix.
- Harry, nós ainda não sabemos o que houve com o seu padrinho. A Casa dos Gritos estava destruída, porém vazia - disse, sério. Harry olhou para ele com a realidade do que pensava ter acontecido com Sirius estampada no olhar.
- Provavelmente está morto, não é, professor? Eu não quero ser poupado dessa vez - Dumbledore assentiu com a cabeça.
- Provavelmente. Você mesmo disse. Mas o que é provável não é uma certeza. E mesmo o mais sábio dos homens seria um tolo se não conservasse dentro de si uma boa dose de esperança - Harry concordou com a cabeça mas parecia preferir não nutrir tal sentimento no momento. Estava doendo demais para isso. Continuou encarando o diretor.
- O senhor parece ter ainda algo a me dizer - Dumbledore sorriu.
- De fato, eu tenho - disse calmamente.
Então o diretor explicou tudo sobre a Ordem da Fênix e como havia surgido na hora mais nefasta para o mundo bruxo, combatendo os Comensais da Morte e Voldemort no passado. Como havia ressurgido naquele ano, como um reflexo dos novos acontecimentos. Contou sobre os bruxos que faziam parte dela e como a lealdade entre eles estava acima de rixas pessoais e das próprias opiniões. Harry ouvia atentamente. Por fim, quando Dumbledore terminou, virou-se para ele.
- Eu creio que chegou o momento de você assumir a sua posição de direito na Ordem, Harry. Você ainda não é um bruxo formado mas tem a maturidade suficiente, como eu imaginei que teria - Harry rodou a varinha de Sirius entre os dedos.
- O lugar de Sirius? - perguntou, resignado. Dumbledore sacudiu a cabeça negativamente.
- Não Harry. Seu lugar. O lugar de seu pai, antes de você. Um lugar que é seu, por direito e merecimento – o garoto permaneceu em silêncio por alguns minutos. Mais uma nova informação desconhecida sobre o pai lhe tinha sido revelada.
- Será uma honra para mim - disse finalmente. Dumbledore mostrou um brilho diferente no olhar. - Mas eu queria poder ver Allana agora, se for possível. Ela já deve saber do que houve, eu suponho - Dumbledore e Remo se entreolharam.
- Ela não está muito bem Harry - o diretor disse em tom calmo. Harry engoliu em seco. Seria demais para ele perder os dois no mesmo dia. Respirou fundo.
- Mesmo assim eu quero ir até lá. Sirius gostaria que eu ficasse ao lado dela, no lugar dele. E eu também - Dumbledore estava espantado com a bravura que aquele garoto de dezesseis anos estava demonstrando. Embora o diretor soubesse que, em algum momento, toda aquela carapaça ruiria e ele desabaria.
Quando Harry chegou na ala hospitalar encontrou os três amigos esperando por ele. Não disse uma só palavra, apenas abraçou os três juntos, em silêncio. Permaneceram assim por alguns instantes. Quando finalmente se soltaram Harry parecia menos abatido, como se o abraço conjunto de três, das pessoas que mais amava no mundo, lhe tivesse devolvido as forças para continuar. Não tinha derramado ainda nenhuma lágrima sequer. Gina e os outros também conseguiram segurar a emoção naquele momento. Os gritos de Allana começaram a ser ouvidos do lado de fora e Harry, dando uma última olhada para os amigos, entrou na enfermaria. Olhou para a madrinha. Parecia exausta. Ela o encarou com o olhar febril. Tentou esboçar um sorriso.
- Tiago? - ela disse surpresa, desconcertando Harry. - Isso significa que eu estou morta? - o afilhado sacudiu a cabeça negativamente.
- Não Allana. Sou eu, Harry - disse, olhando confuso para Arabella, aproximando-se da madrinha. Ele lhe tomou a mão direita. - Você não morreu.
"Não morri?", Sirius se perguntou, enquanto se recuperava da forte dor que tinha sentido com a última investida de Voldemort. "Mas que droga!", ele pensava. "Quanto tempo uma pessoa pode durar desse jeito?", ansiava pela morte agora. Sabia que o Lord das Trevas daria algum jeito para que contasse onde estava Harry. Esperava estar morto antes que pudessem espremer a informação dele. Quanto tempo mais poderia resistir?
- Você vai resistir! - Harry disse com firmeza, apertando a mão da madrinha. - Vamos lá - ele olhou para Arabella, que segurava a outra mão. A moça olhou de um para o outro e sacudiu a cabeça. Ela mordeu os lábios e apertou forte a mão dos dois.
- AH! - gritava enquanto fazia força para expulsar o bebê. - Está me arrebentando... - dizia enquanto Madame Pomfrey tentava amparar o bebê, que estava vindo de pés.
- Mais um pouco - a enfermeira disse.
- Mais um pouco? - Voldemort perguntou a Sirius, rodando a varinha na mão. Sabia que o homem não resistiria por muito mais tempo de tortura. Ninguém sobrevivia tanto tempo à Maldição Cruciatus. Diante do silêncio de Sirius resolveu deixar o prisioneiro "descansar" por alguns instantes. Em breve retornaria com algo melhor e mais eficiente. Havia pedido que Snape providenciasse um pouco de poção da verdade. Embora soubesse que se Sirius a tomasse naquele momento provavelmente não resistiria e morreria, estava muito fraco.
- Aproveite os seus patéticos últimos minutos neste mundo Black. Em breve poderá sentir o gosto amargo do Veritasserum. E será a última coisa que vai sentir na vida. Severo gostará de lhe proporcionar esses últimos momentos inesquecivelmente agradáveis, não é Severo? - perguntou sem desviar o olhar do prisioneiro. Snape olhou com um ódio identificável dentro dos olhos de Sirius quando o encarou, após procurar onde estava.
- Com certeza Milorde. Nada me dará mais prazer - respondeu com uma notável sinceridade na voz. Sirius se sentiu estranhamente reconfortado. Tinha acabado de ter uma idéia.
- Alguma idéia de quanto mais tempo isso vai durar, Papoula? - Arabella perguntou preocupada enquanto via a palidez de Allana se intensificar.
- Está quase lá - Harry arregalou os olhos. - Quase... - ela disse. As pernas e o pequeno quadril já tinham saído.
- Sirius! Eu quero o Sirius! - Allana gritava.
- Sirius Black! - uma voz anasalada e desagradável o acordou de um sono sem sonhos. Severo Snape estava à sua frente. Tinha se adiantado aos outros Comensais e agora estava sozinho com o prisioneiro. Sirius se virou da melhor maneira que pôde para olhar nos olhos negros e impiedosos de Snape.
- Eu imaginei que você viria aqui. Para se vangloriar antes de fazer o servicinho sujo para seu mestre. Garanto que não será difícil fingir satisfação em me aplicar o Veritasserum - disse, sério.
- Eu não vou negar que vê-lo nessas condições não me parece engraçado. O grande e esperto Sirius Black, preso como um cãozinho assustado - Black soltou algo parecido com um rosnado mas era uma gargalhada.
- Você é patético Snape. Tão patético quanto parecia na época da escola. Correndo atrás da Lílian daquela maneira humilhante, vergonhosa, ridícula... - estava entrando agora em terreno perigoso. - Ou você acha que eu e Tiago nunca notamos que você era perdidamente apaixonado por ela? - Snape crispou os lábios. Os olhos azuis de Sirius cintilaram como duas safiras, o professor de Poções estava caindo como um patinho na armadilha que ele estava armando. - Ainda penso como ela conseguiu namorar você... - completou em tom jocoso. - Eu sempre soube o verdadeiro motivo de você odiar tanto o Tiago. Ele sempre foi melhor que você. Sempre teve tudo o que você queria, quadribol, talento, amigos... - deu uma pausa cruel. - E Lílian - disse, sorrindo satisfeito. - Eu só não imaginaria que você seria infantil o suficiente para transferir esse ódio para o filho dele - Severo apertou os olhos. Sirius estava conseguindo tirá-lo do sério. Esperava que se fizesse isso Snape o mataria antes que pudesse dizer alguma coisa sobre o afilhado. - Está certo, Harry é igual ao pai - emendou. - Mas ele não é Tiago - Snape se abaixou e ficou cara a cara com Sirius. "dio cintilava em seus olhos. - Eu nunca imaginei que você seria tolo o suficiente para trair a Ordem por causa de uma rixa antiga Snape. Seus sentimentos infantis traíram a Ordem. Você continua o mesmo seboso de sempre - Snape o encarou por alguns minutos.
- Eu não traí e nem vou trair a Ordem, se é o que está pensando Black - Sirius se espantou.
- Não? Então o que está fazendo aqui senão se divertindo às minhas custas e me preparando para o imenso prazer de me enfiarem o Veritasserum goela abaixo, de novo - enfatizou. - E eu jogar a minha família no fogo do INFERNO? - berrou a última palavra. Snape riu.
- Eu vim para me certificar de que corra tudo de acordo com os interesses da Ordem. Foi o que Dumbledore me pediu. Ele previu que isso poderia acontecer - Sirius se assustou.
- Ele previu? - ele riu. - Nada escapa a ele... - olhou divertido para o professor de Poções. - E o que você vai fazer para isso? Lutar contra todos os Comensais? Nem que eu tivesse a minha varinha aqui nós daríamos conta deles. Vai matar o Lord das Trevas? - disse, rindo, segurando as costelas quebradas. Snape deu um sorrisinho cínico e satisfeito.
- Não - respondeu com simplicidade. - Eu vou providenciar a sua morte - disse com uma imensa satisfação no olhar. Sirius conseguiria o que tanto queria afinal.
Afinal, um chorinho fraco e abafado se ouviu na enfermaria. Allana suspirou, aliviada. Arabella e Harry se entreolharam felizes.
- É uma menina! - Madame Pomfrey disse enquanto prestava os primeiros cuidados à criança e a enrolava em um pano limpo. Entregou a menina a Allana, que chorava de felicidade.
- Olá Lílian - disse, beijando a cabecinha da filha. - Essa é a sua avó - disse, sorrindo enquanto a mãe se aproximava mais. - E este é seu... - consultou Harry com olhar e ele acenou com a cabeça. - Seu irmão - prosseguiu, satisfeita. Harry segurou a minúscula e frágil mãozinha da irmã e se sentiu invadido por uma ternura imensa.
Realmente gostaria que Sirius estivesse ali, com eles. Então percebeu que estava chorando. Chorando de alegria pela irmã ter nascido. Chorando de alívio por Allana estar bem, chorando de saudade de Sirius e chorando de ódio. "dio porque agora não só ele era órfão como sua irmã.
Ele se retirou da enfermaria. Allana precisava descansar e ele precisava ficar sozinho. Agora começaria a assimilar tudo o que tinha acontecido. Passou chorando pelos amigos. Eles se entreolharam e avaliaram o que fariam. Por fim decidiram com olhares que Gina deveria ir sozinha até ele. Ela já imaginava onde ele estaria e foi até a beira do lago. Chegou em silêncio por trás dele.
- Que bom que você veio - ele disse sem olhar para trás. Ainda sentiam e adivinhavam um ao outro, sem precisar da telepatia. Ela se sentou ao seu lado. Olhando para a paisagem plácida do lago, iluminado pela luz pálida de uma lua crescente, ela viu com o canto dos olhos o brilho molhado do caminho das lágrimas em seu rosto. - Eu não devia estar chorando. - ele disse, fungando e esfregando o nariz com o dorso das mãos. - Me sinto patético – completou, tentando sorrir, finalmente se virando para ela.
- Não é patético ser sincero com seus sentimentos Harry. Achei que você também achasse isso - disse, admirada, ele riu.
- Não é isso. Eu acho que não devia... É só. Eu preciso ser forte. Adulto. Eu tenho uma irmã para cuidar agora Gi - ela sorriu.
- E você, Harry? Quem vai cuidar de você? - perguntou, virando-se para ele, limpando as lágrimas do seu rosto. Harry suspirou.
- Eu pensei que você tinha aceitado esta função - ela rolou os olhos para cima e abraçou-o com força. Harry escorregou a cabeça para o colo dela e deitou ali. Olhou para o céu e disse, encarando as estrelas. - Eu sei que a responsabilidade disso tudo ter acontecido é minha – estava apenas concluindo, sem tom de culpa na voz. Gina não concordou.
- É claro que não é. Por quê seria? - ele desviou o olhar do céu para os olhos castanhos inquisidores da menina.
- Eu te fiz uma pergunta Gina. Naquele dia enquanto estava em transe. No dia do baile - ela se lembrou após alguns instantes.
- Quando você me perguntou onde Sirius estava? - ele confirmou.
- Eu tenho certeza de que foi por isso que Volde... - ele parou. Mas Gina não tremeu ao ouvir o nome.
- Eu também acho que Tom pode ter usado você para obter essa informação. Eu não te contei antes. Mas eu tive um sonho - ela disse, receosa.
Gina contou a ele sobre o sonho no qual Voldemort se passava por ele e a estrangulava. Harry explicou que tinha acompanhado o final do sonho. Juntos, chegaram a conclusão de que, de alguma forma, por causa da ligação que os dois tinham entre si e com o Lord das Trevas, tinham aberto uma porta para que Voldemort entrasse no inconsciente de Harry. Provavelmente tinham amplificando a ligação até ele por causa do feitiço Conectivus. E o Lord das Trevas só havia podido usar o inconsciente de Harry pois havia tomado a poção ligante, com o cabelo de Gina, enfraquecendo-o e o tornando susceptível, vulnerável a ele, como Hermione explicara. Harry olhou para Gina. Tinham pagado com a vida de Sirius para estarem juntos. Ao menos foi o que Gina pensou.
- Eu sinto muito Harry - disse com culpa na voz. Ele sacudiu a cabeça, levantando-se bruscamente do colo dela.
- Pelo quê? – perguntou, vendo as lágrimas brotarem dos olhos castanhos que tanto amava.
- Eu devia ter respondido às suas corujas. Ter ficado aqui... - ela abaixou a cabeça. - Teria evitado tanta coisa... Eu fiz você perder a chance de ter a sua família - as lágrimas escorriam agora.
- Gina... - ele ergueu o queixo dela com a mão. - Seu pai uma vez me disse que eu não devia me sentir responsável pelo que Voldemort faz. Eu digo o mesmo a você. Voldemort é o culpado. E não eu ou você. Foi ele quem roubou parte das nossas vidas. Foi ele quem roubou a vida de Sirius... – fez uma pausa. - Meu padrinho passou a vida atormentado pela culpa de não ter sido o fiel do segredo dos meus pais. Mas fez isso achando que era o melhor para nós. Foi o melhor que pôde fazer na época. E o que fizemos foi o melhor que pudemos também. Não poderia passar a minha vida longe de você. Eu precisava dar um jeito de reavê-la, de tê-la de volta para mim. O feitiço Conectivus foi a única solução que encontrei. E creio que Sirius teria feito o mesmo pela minha madrinha - Gina concordou, mais conformada. - E depois - disse com carinho. - Eu nunca poderia ter nada estando longe de você. Nenhuma família bastaria se você não estivesse nela. Eu te amo, meu Deus! Quantas vezes terei que repetir isso? - disse, segurando a pontinha do queixo dela com a mão, acariciando-o com o polegar. Gina sorriu.
- Eu espero que você ainda diga isso muitas vezes para mim - brincou.
- Até o fim dos meus dias - disse, roçando os lábios nos dela, buscando todo o alento que precisava naquele beijo. Ela retribuiu, acariciando a língua dele suavemente com a sua.
Permaneceram abraçados um ao outro, como agarrados a uma tábua de salvação. Naquele momento tudo parou. O mundo parecia ter parado de girar. Gina tinha o dom de fazer isso quando o beijava daquela forma. Enviá-lo a uma dimensão paralela, onde tudo estava bem e estavam em casa, seguros. Ela o fazia esquecer de todos os problemas.
Era essa, afinal, a grande magia do amor dos dois. O feitiço que arrebatava Harry por completo, cada parte do seu corpo e alma. A capacidade de se completarem quando tudo o mais parecia vazio e sem sentido. A capacidade de se sentirem inteiros somente quando juntos. Era nesses instantes que estavam vivos.
Curtiram mais um daqueles momentos, como se um vácuo no tempo e no espaço os permitisse isso. Como se não tivessem para onde ir ou tantos problemas para enfrentar. Tinham uma licença especial do Universo. Era como se o mundo todo agora se resumisse apenas em corações descompassados, lábios unidos e mãos entrelaçadas. Enfrentariam de cabeça erguida o que viesse, com uma única certeza: O que quer que acontecesse estavam juntos agora. Nada nem ninguém mudaria isso. Nunca. E, embora soubessem, olhando para aquele nascer do sol, avermelhado e tímido, de um novo dia, que o futuro nunca fora tão incerto estavam terrivelmente ansiosos para saber o que o crepúsculo os traria.
FIM
N/A: Ai gente, é isso. Espero que tenham gostado da fic. Muito obrigada por terem lido. Eu quero dizer que foi muito legal ter recebido o carinho e a atenção de quem leu, mandou e-mail, votou, resenhou, criticou, opinou, me achou no ICQ... Eu adoro saber o que estão achando. E, como sempre, não vou deixar de agradecer especialmente aos amigos de sempre: Lú, Karol Black, Bruna Grisang (Mya Wend), Asuka, Lisa Dumbledore, Júlia Potter, Tatá, Tekinha, Karen Zoldick, Celina Aluada (Cel_zinha Aluada), Marina Souza, Mila Weasley, Lucy_Halloween, Winky, Mary Malfoy, Lali, Mione G. Malfoy, Penny Lane, Ira Weasley, Denis (O zipmail continua incompatível com o yahoo), Ligia, Flora Fairfield, Gi Potter, Joice Botarelli, Ginny Weasley, Claudinha (Cacau), Guilherme (Gui), Eduardo (Edu), Ana Sofia Rondão, Vaness a Lischeski, Alessandra, Alessandra (Leka/Girl Angel), Mel Potter, Muriel Monteiro, Marília Aparecida (Mari), Débora Black, Leticia, Lily Hawk, "Gatinho. pedro" (Pedro), Amaro (T.J. Potter), Geisa Potter, Usagi Manny (Manuela), Aline dos Anjos, Kamira Black, Mione Weasley, Vanessa, Bia, Gú, Mile, Pichi, Dani e Nini. Bom, pessoal eu adoro vocês e espero que acompanhem a continuação. Garanto muitas novidades e surpresas nela, é só o que posso adiantar por enquanto. Vou deixar um agradecimento especial a minha amiga Má (Pichi), por ser minha "alfa", "beta", "sobrinha" e amiga, por me aturar no ICQ, enquanto eu escrevia essa fic e escrevo a continuação dela e por ter feito as capinhas fofis de toda a trilogia. Ah! E aguardem uma fic pós-Hogwarts (não é continuação dessa trilogia) que está sendo feita muito devagar ('brigadinha pela capa, Mile. Titia dola ocê tb.). Acho que é só... Bjims da Lú.
