Capítulo Dois – Aprendiz de Feiticeira

Gina acordou cedo aquela manhã. Dentro de poucas horas seria a entrevista com o diretor da Academia. Teria que demonstrar o quanto queria ser uma medi-bruxa e convencê-lo que queria algo que ela mesma não sabia como ainda queria. Quando chegou no quarto do filho Harry já havia trocado e arrumado o filho.

- Só falta alimentá-lo, Gi. Mas isso só você tem o poder – ela riu. Pegou o menino no colo e o amamentou, enquanto Harry arrumava uma bolsa com roupas, fraldas e leite para o filho.

- Tem certeza de que Mione não se importa em tomar conta dele, meu amor? – Harry sacudiu a cabeça afirmativamente.

- Tenho. Ela ainda está de licença maternidade em Hogwarts e se eu bem a conheço está aproveitando o "tempo livre" para preparar novas aulas e mudar o currículo DE NOVO – enfatizou a última parte e Gina riu. – Por isso acho que vai ser bom que ela se distraia um pouco com as crianças – Gina já ia colocando Owen em seu ombro para arrotar quando Harry pegou o menino.

- Deixa que eu faço isso. Vá se arrumar e tomar o seu café da manhã – ele gostava de ajudar com o filho e sabia o quanto a esposa devia estar nervosa. Gina respirou fundo.

- Eu não sinto fome... – Harry sorriu.

- É, não posso culpá-la. Sempre perdi o apetite antes de um jogo. Mas você vai ganhar essa partida. Então coma alguma coisa. Está amamentando e precisa repor as energias também por outros motivos – ela franziu a testa. – Ou você acha que eu esqueci que acaba hoje o seu resguardo? – ela corou furiosamente.

- Obrigada por me dar mais um motivo de ansiedade, meu amor - Harry riu.

- De noite você poderá me "agradecer" apropriadamente... – disse enquanto ela saía do quarto.

Pouco tempo depois ela estava arrumada com uma saia cinza e blusa branca. Lembrava um pouco os tempos da escola mas não era mais uma garotinha tímida e assustada, mas sim uma mulher feita, embora estivesse tímida e assustada quanto à entrevista.

Ela se despediu de Harry e do bebê e desaparatou. Era a primeira vez que ficava longe do filho e aquela sensação lhe deu um frio na espinha, mas confiava na cunhada. Harry levou o filho até a casa de Rony e Hermione.

Assim que ele tocou a campainha ouviu o choro de Haly. Logo depois ouviu o barulho de alguém subindo as escadas e um barulho de algo caindo. "Rony", pensou. E teve certeza no momento seguinte ao ouvir o amigo praguejar. "Droga de degrau",  ele riu. Hermione repreendeu o marido em seguida.

- Não devia correr e nem xingar, Rony Weasley. Quando a sua filha começar a falar não vai ser nada bonito que ela aprenda modos assim... – encaminhou-se para a porta. – Vou atender. Deve ser Harry e Owen. Traga Haly aqui para baixo – gritou para o marido enquanto abria a porta. - Olá, Harry. Como você está lindo... – completou deixando Harry sem graça. – Owen, eu quis dizer... – Harry deu um sorriso amarelo enquanto a amiga pegava o bebê e beijava as mãozinhas deste.

- Eu e Gina não sabemos como agradecer você, Mione. Estou atrasado para ir para Hogwarts e ela tem a entrevista com o diretor da Academia hoje - Mione sacudiu a cabeça enquanto Rony descia as escadas com Haly. - Ela está linda também, Mione. Nossa como ela cresceu em um mês... – ficou abismado com a afilhada, que ainda chorava. – E pelo visto continua extremamente calma... – riu enquanto dava um beijo na testa da menina. Rony rolou os olhos para cima.

- Nem me fale... – os três adultos riram.

- Estou atrasado mesmo agora – Harry disse olhando para a réplica do relógio Weasley que Rony e Hermione tinham em cima da lareira. – Tenho que ir mesmo. Muito obrigado, Mione. Até mais tarde... – e com isso desaparatou.

- Eu também estou atrasado, Mione... – Rony disse colocando Haly no bercinho. – Até mais tarde, querida... – deu um beijo demorado na esposa e foi o próximo a desaparatar. Ela olhou para a filha chorando e para Owen e riu.

- Owen, você precisa ensinar algumas coisas para a sua prima. Ou deixá-la te ensinar algumas – riu internamente imaginando como Harry e Gina ficariam felizes com um bebê chorão em casa.

Enquanto isso, Gina estava sentada na sala de espera da diretoria da Academia. A secretária parecia a professora Trewlaney, de Adivinhação, com um ar de morcega defumada que dava medo. Gina estalou os dedos das mãos e começou a rodar nervosamente a varinha entre os dedos. Depois de alguns minutos a mulher indicou que ela entrasse.

A sala do diretor era toda decorada em madeira. Havia pinturas de vários medi-bruxos ilustres e mesmo de alguns médicos trouxas conhecidos. Ela se sentou e entregou o seu antigo currículo de Hogwarts nas mãos do diretor, que examinou o papel e deu uma boa olhada em Gina.

- Muito bem, sra. Potter. A senhora está aprovada. É oficialmente a nossa mais nova "aprendiz de feiticeira"... – Gina arregalou os olhos, surpresa.

- É... É só isso? – gaguejou. O homem deu uma risada e a imagem séria se desfez. Ele pereceu tão ou mais bonachão que o Papai Noel.

- É claro. A senhora tem um excelente currículo e já cursou seis meses aqui, com notas admiráveis, posso acrescentar. Penso que em breve será uma promissora medi-bruxa – Gina sorriu desconcertada.

- Eu realmente estava apreensiva... – o homem deu mais uma gargalhada calorosa e envolvente.

- Não deixa a senhorita Trewlaney assustá-la. As mulheres todas da família dela têm esse hábito. A irmã dela trabalha com adivinhações, imagine só... – Gina descobriu por que a mulher parecia com a professora e segurou uma risada. – Agora, se me permite, vou indicar um dos nossos professores, para que a senhora possa conhecer melhor as modificações em nosso Campus.

O diretor e ela aguardaram alguns minutos e logo ouviram batidas na porta.

- Entre.

- Boa dia. Aliás, boa tarde. Eu sou...

- Colin? – Gina ficou surpresa. – Você dá aulas aqui? – o homem ficou igualmente surpreso.

- Gina? Por Merlin, há quanto tempo! – instintivamente abraçou a amiga. O diretor sorriu.

- Bem, fico feliz que já se conhecem. Doutor Creevey, o senhor pode fazer as honras e mostrar a nossa Academia para a senhora Potter? – ele quase caiu para trás.

- Minha nossa, Gina, você casou mesmo com o Harry? Como ele está? É verdade que ele cortou a cabeça de Você-Sabe-Quem com um machado? – Gina sorriu, sem graça. Afinal, o amigo não tinha mudado em nada.

Os dois saíram e foram dar uma volta pelo Campus. Fizeram um lanche e depois de conversarem um pouco - e de Colin contar que tinha o maior banco de dados de fotografias de feitiços curativos executados de toda o Reino Unido - Gina resolveu ir embora.

- Mas já vai? – ele reclamou.

- Já sim, Colin. Obrigada. Mas tenho marido e filho me esperando em casa – o rapaz ficou ainda mais surpreso.

- Você e Harry têm um filho? Como é que ele se chama? Posso fotografá-lo se quiser... – Gina riu e agradeceu.

- Ele se chama Owen e depois eu marco com você uma sessão de fotos, okay? Agora realmente preciso ir. Está quase anoitecendo e nunca fiquei tanto tempo longe do meu bebê – Colin assentiu e depois de se despedirem Gina aparatou para casa. Sabia o que Harry estava planejando para quando ela chegasse.

Assim que entrou estranhou o apartamento estar totalmente às escuras. Não conseguiu alcançar o interruptor, foi subitamente agarrada por alguém e imprensada contra a parede. Antes que pudesse gritar sentiu os lábios de Harry pressionados violentamente nos seus.

- Senti falta disso... – ela murmurou enquanto ele a segurava no colo. Subiu as escadas com a esposa nos braços e quando já estavam quase no segundo andar ela perguntou. - E Owen? – Harry sorriu maliciosamente.

- Só vamos buscá-lo na hora do jantar. Temos um pouco de tempo ainda... Parece que a Mione por algum motivo sabia o que planejávamos para hoje... – Gina fingiu que não sabia do que o marido estava falando e o beijou de novo, com mais desejo dessa vez.

Depois de um bom tempo os dois respiravam ofegantes, abraçados um ao outro.

- Eu tinha me esquecido de como era gostoso... – ela disse respirando fundo. Harry riu, passando a mão no seu rosto.

- Eu realmente vou ficar decepcionado se você estiver falando a verdade. Pois isso é algo que eu classifico como inesquecível, senhora Potter. Mas se quiser guardar na memória dessa vez podemos repetir a dose... – ela riu e corou.

- Seu convencido. Você me entendeu muito bem... – deitou de bruços sobre o ele e beijou seu peito, descendo depois para a barriga. Harry a segurou pelos ombros e a deteve por um instante.

- Você sabe que está entrando por um caminho sem volta desse jeito, não sabe? – ela sorriu maliciosa.

- Eu gosto de correr riscos... – continuou, arrancando alguns gemidos do marido que pouco tempo depois a puxava de novo para cima de si. Depois de mais alguns minutos os dois riam estatelados na cama.

- Eu acho melhor irmos ou Mione vai acabar passando a noite com os dois bebês lá – Gina disse ofegante. – Não vamos conseguir matar as saudades em uma só noite... – Harry concordou e os dois foram buscar o filho.

Não demoraram muito na casa de Hermione, embora tenham aceitado o convite para jantar. Depois levaram o filho para casa e deram graças a Deus por ele ser calmo o suficiente e passar a note toda dormindo, para que a pudessem passar muito bem acordados.

O telefone tocou alto, fazendo com que Draco desse um pulo da cama. Era a primeira noite em que os gêmeos ainda não tinham acordado para mamar. Com o barulho os dois se puseram a chorar. Nicolle sorriu condescendente, deu um leve beijo na testa do marido e levantou para ver os filhos. Draco retribuiu o carinho, mandando-lhe um beijo no ar. Após xingar mentalmente o energúmeno que tinha acordado toda a família Malfoy no meio da noite finalmente atendeu ao telefone.

- Alô? - disse nitidamente irritado.

- Alô, Sr. Malfoy? - reconheceu um sotaque italiano do outro lado da linha. - É o Paolo - Draco teve vontade de bater o telefone na cara do ex-mordomo.

- O que você quer a esta hora da madrugada? Se for encher a paciência já conseguiu, pode desligar agora e... - Paolo o interrompeu com soluços.

"Era só o que faltava! O patife é mais sensível do que aparenta. Se é que isso é possível", Draco pensou enquanto o outro chorava.

- Calma. Não chore... - o outro continuou exageradamente. Draco estava mais do que impaciente. - Desculpe o mau jeito mas é que você acordou meus filhos e... - o outro continuava a chorar copiosamente. Draco perdeu o resto de brios. - Seja homem uma vez na vida e cale essa boca. O que aconteceu? - berrou.

Nicolle entrava na pontinha dos pés nesse instante e pediu com um gesto que ele baixasse a voz mas já era tarde demais. Novamente os bebês choraram e Paolo respondeu ao mesmo tempo em que Nicolle fazia menção de sair de novo.

- O pai da Srta. Marah acabou de ter um enfarte. Meu irmão que trabalha com eles me pediu para avisar... - Draco sinalizou para que Nikki voltasse.

- Espere. Vou passar o telefone para a Sra. Malfoy - fez questão de corrigir o ex-mordomo.

Enquanto Nicolle falava com Paolo, Draco foi até o quarto dos filhos e trouxe os dois, embalando-os em seu colo. Nicolle chorava, mas de modo controlado.

- E como ele está Paolo? ... E mamãe? ... Qual é o endereço? ... Sim. Eu sei onde fica. Estamos indo para lá agora. Ah! Eu muito obrigada... Até logo, então... - desligou o telefone.

Draco estava curioso.

- Como está seu pai? - perguntou entregando o filho para ela, que o adaptou ao seio esquerdo.

- Ele não sabe informar. Mas mamãe está lá, então isso significa que o hospital pode vir abaixo - respondeu adaptando a filha ao seio direito.

- Bem, nós vamos para lá então. Mas, Nikki, foi impressão minha ou você disse até logo para o nosso ex-funcionário? - perguntou em tom quase casual.

Nicolle franziu a testa.

- Disse sim. Ele vem olhar Nattie e Dylan enquanto nós vamos para o hospital... – o marido levantou da cama e sacudiu a cabeça. Não disse uma só palavra mas ela sabia o quão ele tinha ficado furioso. - Draco, o que você queria que eu fizesse? Nell não pode dar conta dos dois e não podemos levá-los conosco... - ela colocou Nattie no colo do pai, para que a menina arrotasse, enquanto fazia o mesmo com Dylan. Draco se limitou a sacudir a cabeça de novo. - Está bem, diga... - ela sussurrou. - Diga de uma vez o que você quer dizer... - colocou o filho de um lado da cama e protegeu as laterais desta com almofadas e travesseiros. Draco fez o mesmo com a filha. - Diga que você me acha uma mãe horrível e que você preferiria que aquele ET que trabalha para nós tomasse conta dos meninos - ela chorou. Draco a abraçou - E diga que você ficou mais chateado de atender uma ligação do Paolo do que saber que meu pai está morrendo... - a voz soou abafada pelo abraço.

- Isso foi extremamente injusto, Nikki. Realmente não me agrada este idiota olhando as crianças mas o que podemos fazer? - ela fungou algumas vezes. - E eu não acho que seja uma péssima mãe, okay? E Nell é feia, mas, hey, ela não pediu para nascer assim, pediu? - ele a fez rir.

Os dois ouviram o interfone tocar.

- Ele veio rapidinho... Será que a borboletinha veio voando? - Draco imitou, fazendo Nicolle abafar uma risada. – A parte divertida é saber que a Nell vai ficar andando invisível pela casa e com sorte a libélula do bosque aí vai pensar que temos um poteirgeist em casa e não volta nunca mais... – ela não se agüentou e riu.

- Draco... - deu um tapinha nele. - Você é cruel, sabia? - ele riu.

- Eu sei. Mas já estamos casados e com filhos. Tarde demais para a devolução... - segurou-a forte pela cintura e roubou-lhe um beijo. Ela quase perdeu o ar. - Quando esse maldito resguardo vai acabar? - perguntou com os lábios colados nos dela, que riu.

- Logo... Agora deixa eu abrir a porta, okay? Se vista enquanto isso... - ela saiu porta afora e Draco se arrumou.

Depois de algum tempo - e inúmeras recomendações de Draco como "tente não tocar nos meus filhos, ou mesmo olhar muito para eles" - os dois saíram para o hospital.