Capítulo Oito – Nova Geração

Draco entrou em casa ansioso. Sabia que a esposa tinha algo importante para conversar e mesmo tendo conseguido sair uma hora antes do trabalho o congestionamento havia feito com que perdesse bastante tempo. "Maldito meio de vida trouxa", pensou enquanto colocava o sobretudo no armário atrás da porta de entrada.

- Até que enfim... - Nicolle suspirou.

Estava sentada há mais de duas horas no sofá, esperando por ele. Draco tinha uma expressão desanimada no rosto.

- Eu não pude aparatar. Não consegui me livrar do mala sem alça do Burns, ele vive me pedindo carona... - respondeu deixando-se cair ao lado dela.

Nicolle respirou fundo algumas vezes. Draco franziu a testa, tentando decifrar o que poderia estar errado.

- Está tudo bem com você? Está doente? Por Merlin, você quer outro filho? - Nicolle poderia rir do marido se o problema fosse com ela, mas não era.

- São as crianças... - ela começou desanimada.

Draco olhava fixamente para os olhos dela. Novamente silêncio. Ele deu um sorriso.

- Tudo bem. Adivinhação nunca foi o meu forte mas vamos ver se posso arriscar um palpite: alguma coisa aconteceu com as crianças hoje... Hum - colocou as duas mãos nas têmporas. - Na escola... Estou vendo claramente aqui... Acertei? - perguntou em tom divertido, tentando descontrair Nicolle.

- Quase... - Nicolle segurou o queixo dele carinhosamente. - E é sério. Não brinque. Por mais irresistível que você fique quando faz isso. O assunto é sério...

Draco puxou Nicolle para mais perto e a envolveu em um abraço.

- O que foi, Nikki? Me conte o que aconteceu.

- Eu hoje fui buscar as crianças na escola e Nattie e Dyll estavam jogando futebol...

- Esporte de idiotas. Doze homens correndo atrás de uma bola? Soa patético para mim... - Draco interrompeu. - Mas não podemos impedi-los de jogar.

- Onze homens, Draco. O que veste preto é o juiz. Mas não se trata disso - ela explicou. - Foi algo que aconteceu depois disso...

- Continue então - gesticulou ansioso, incentivando-a a prosseguir.

- Bem, Nattie foi derrubada por um garoto e...

- Ô pequeno cretino. Se eu pego esse moleque ele... - Nicolle apenas olhou para o marido e este voltou a escutar atentamente.

- Então, pouco depois de Dyll ajudar a irmã, se aproximou do menino e ele saiu chorando do campo - Draco sorriu mas Nicolle fingiu não notar. - Foi aí que ele ficou estranho. Havia alguém do lado de fora da grade do pátio e Dylan se aproximou do estranho. Eu tentei impedi-lo mas quase fui atropelada na tentativa de atravessar a rua, e ele tinha sumido - Draco ficou sério.

- E depois? - ele perguntou curioso.

- Bem, eu o chamei, é claro. E ele saiu de trás de uma árvore. Como se nada tivesse acontecido. Foi bem estranho... - ela tinha acabado de contar mas ainda parecia querer dizer alguma coisa.

- E o que você quer me perguntar, Nikki? - desta vez Draco adivinhou perfeitamente.

- Eu quero saber se é possível que o nosso filho esteja fazendo mágica - Draco riu e passou a mão delicadamente pelo rosto da esposa.

- Não dessa forma. Ele não poderia aparatar ainda. E nem fazer algo tão elaborado com a idade que tem. Ele teria que ser um bruxo adulto e... - Draco parou por alguns instantes. Depois prosseguiu, tentando manter a expressão despreocupada de antes. - Ele deve estar começando a querer ficar mais sozinho, Nikki. Não deve ser fácil ser gêmeo e ser tratado o tempo todo como se fosse parte de uma dupla ou algo assim... - Nicolle assentiu. - Talvez devamos levar as crianças para passeios diferentes, separados. Isso poderia ajudar.

- Bem, é verdade. Desde que tivemos os dois que não passeamos com eles individualmente. Acho uma boa idéia, meu amor - Draco forçou um sorriso. - Então? Vamos deitar? - ela perguntou mais confiante e cheia de malícia no olhar. Draco correspondeu.

- Só um minuto. Eu quero ver como os dois estão... Vai esquentando a cama para mim... - disse piscando o olho.

- Tudo bem, mas você vai ter que me esquentar muito por isso, senhor Malfoy - Draco riu e esperou que Nicolle entrasse no quarto. Então entreabriu a porta dos filhos.

Assim que Draco entrou no quarto Dylan fingiu que estava dormindo. Pôde perceber as pálpebras trêmulas do menino e sentou na beirada da cama.

- Cansado do futebol, filho? - Draco perguntou fazendo carinho nos cabelos platinados do menino. Estava cada vez mais parecido com ele quando criança.

- Não, papai... - Dylan respondeu fingindo um bocejo. - É que eu estava dormindo... - mentiu.

- Podemos conversar um pouco? - perguntou tentando manter a voz firme. Dylan se espreguiçou.

- Nattie está dormindo... - indicou com a cabeça. Draco sorriu.

- Podemos ir na cozinha. Papai prepara um chocolate quente para você e... - Dylan sorriu sarcasticamente.

- Se é tão importante assim para você, vamos. Não precisa me comprar com nada... - ele respondeu como um mini adulto e Draco quase engasgou com a saliva.

Dylan sentou em um dos bancos altos da copa e esperou que Draco colocasse desajeitadamente uma xícara com leite achocolatado no microondas. Depois de alguns segundos, alguns raiozinhos azuis estalaram lá dentro. O menino riu, vendo a expressão curiosa do pai.

- É a tinta, papai. Não se pode colocar nada que contenha metais no microondas. É uma invenção trouxa bem idiota. Você deveria esquentar o leite com mágica, se quer saber...

Draco ficou surpreso, tanto com a revelação sobre o forno quanto pelo jeito que o filho falou de trouxas, cheio de desprezo e preconceito. Retirou a xícara de dentro do forno, após xingar alguns palavrões mentalmente pela sua falta de jeito, e a entregou na mão do menino. O leite ainda estava frio.

- O que é, pai? - Draco ficou parado olhando o menino rodar a xícara entre os dedos.

- Eu quero saber como foi o seu dia - Dylan pareceu aborrecido e já ia levantar quando Draco o deteve com uma frase.

- O homem do Beco Diagonal? Você o viu de novo? - o menino se virou para o pai e perguntou seriamente.

- O meu avô, você quer dizer? - Draco sentiu o sangue gelar.

- É, o seu avô. Você o viu novamente? - Dylan não expressou nada que pudesse dar uma pista da verdade.

- Não, papai. Eu não vi o meu avô. Agora posso voltar a dormir? - Draco acenou que sim. - Boa noite... - ele disse saindo da copa.

Draco ainda ficou alguns minutos tentando assimilar a conversa que tinha tido com o filho. Teria que parecer animado e disposto o suficiente quando deitasse ao lado de Nicolle.

Dylan entrou debaixo das cobertas e já ia se aconchegando para dormir quando sentiu alguém sentar em sua cama.

- Pai, eu... - mas não era Draco.

- Você mentiu para mim - Nattalie tinha uma grande tristeza estampada no olhar.

- Eu não menti, Nattie - a menina franziu a testa e apertou os lábios. - Você não me perguntou nada, então eu não menti...

- Mentiu sim, Dyll - ela o chamou pelo apelido carinhoso. - Mas não é por isso que estou triste. É porque você não gosta mais de mim. Porque eu sou trouxa... - as lágrimas escorreram livremente pelas bochechas rosadas da menina.

Dylan se sentiu mal por um minuto.

- Não diga isso, Natt - ele abraçou desajeitadamente a irmã. - Eu gosto de você. Você é minha irmã gêmea.

- Você diz isso como se fosse obrigação sua gostar de mim, Dyll - o menino se sentiu dividido. - Eu amo você. Você sabe disso... - ele engoliu em seco, deixando-se levar pelo momento.

- Eu também te amo, Natt. Muito... -  deu um beijo na testa da irmã. - Vamos dormir agora... - disse para ela, que se deitou na cama e dormiu rapidamente.

Dylan demorou muito mais tempo para pegar no sono. Estava sentindo um grande conflito interno. Ao mesmo tempo em que amava a irmã nunca havia se sentido tão fraco. Tinha certeza de que o avô teria vergonha de ver o quão patético era agora. E isso o incomodou até pegar no sono.

Harry e Gina estavam quase pegando no sono quando ouviram o filho gritar. Os dois correram até o quarto do menino, mas este ainda estava dormindo.

- Está tendo um pesadelo, pobrezinho – Gina disse colocando a mão na testa do filho. – Está com febre, Harry... – ela concluiu nervosa.

- Owen? – Harry disse sentando na ponta da outra cama. Tentou encostar no menino mas foi repelido e se chocou contra a parede oposta. Gina se assustou. O menino sentou na cama, ainda de olhos fechados.

- Não me toque – ele disse de forma estranha. Gina franziu as sobrancelhas e ajudou Harry a se levantar.

- Harry, ele está falando... Está falando... – perguntou com a voz trêmula.

- Língua de cobra? Sim está... – respondeu ficando de pé e se aproximando do filho.

- O que ele está dizendo? – ela perguntou nervosa.

- Ele está...

- Não me toque – Owen repetiu antes que Harry encostasse de novo nele. – Estamos do mesmo lado, mas somos diferentes. E a responsabilidade é de vocês apontou para os dois – Gina engoliu em seco, nervosa.

- Harry, o que está acontecendo? – os dois viram o enorme emblema da Grifinória, que cobria a porta do filho, queimar e uma serpente se formar em baixo relevo na madeira pintada de branco.

Nesse momento Owen se virou para Harry e sorriu.

- Não se preocupe. A serpente vai vencer dessa vez... – e caiu deitado, abrindo os olhos em seguida, como se nada tivesse acontecido. Gina e Harry tinham os olhos arregalados e ele ficou curioso de ver os pais ali. - O que houve? – ele perguntou com calma. Harry tocou a pele do menino de leve e, vendo que estava normal de novo, sentou-se na cama.

- Filho você estava gritando. Deve ter tido um pesadelo... – Gina respondeu, tentando manter a calma. Owen olhou para a mãe.

- É, eu realmente estava tendo um sonho, mas não era um pesadelo. Era um sonho estranho...

- O que você sonhou? – Harry perguntou preocupado.

- Eu sonhei que havia um leão, um leão com asas, e este leão estava lutando com uma cobra gigante – Harry e Gina se entreolharam. – Depois o leão foi aprisionado e duas outras cobras chegaram, mas eram menores. Depois de lutarem entre si, uma delas também foi aprisionada, mas depois de um tempo veio mais outra, tão grande quanto a primeira, e outro leão alado...

- E depois, filho? – Harry perguntou curioso.

- Bem, houve uma luta entre as duas cobras e a outra que chegou com o leão, o leão ficou muito ferido e a luta prosseguiu, mas desta vez só as três cobras lutavam, e eu não vi mais nada...

- Muito bem, foi só um pesadelo, querido – Gina disse beijando a testa do filho e cobrindo este, verificou que a temperatura dele estava absolutamente normal.

- Você quer alguma coisa, Owen? – Harry perguntou enquanto discretamente consertava a porta.

O menino já estava dormindo e não ouviu a pergunta do pai. Gina entrelaçou a mão na de Harry e caminhou nervosa até o quarto deles.

Assim que os dois fecharam a porta ela o abraçou forte e chorou.

- Harry, algo ruim vai acontecer com ele, eu sei... – ele a segurou pelos ombros.

- Hey, nada ruim vai acontecer com ele, meu amor. Eu não vou deixar. Eu estou aqui agora e vou proteger vocês dois... – Gina começou a chorar de novo.

- Eu queria contar isso para você de outra forma e em outro momento... – ela sentou na beira da cama e tentou parar de soluçar. – Eu sei que conversamos várias vezes sobre isso e eu estava com medo, mas aconteceu e... – Harry ajoelhou na frente dela e passou a mão pelo rosto vermelho da esposa.

- Gina, você está... – um sorriso iluminava o rosto dele. – Mesmo? Tem certeza? – ela abaixou a cabeça e confirmou.

- Eu não queria. Você sabe o medo que eu tenho de que eu tenha problemas de novo... – ele a abraçou.

- Vai ficar tudo bem, meu amor. Você não imagina o quanto eu estou feliz. Você sabe como eu queria outro filho... – Gina tentou sorrir.

- Eu sei disso... Mas agora estou preocupada com Owen, e tem o hospital e os pacientes e a nossa casa e... – Harry encostou carinhosamente os lábios nos dela, silenciando-a.

- Hey, vai com calma. Tudo vai se ajeitar. Owen teve um pesadelo e o manifestou na porta, isso pode acontecer. Ele é um bruxo, o insuportável do Colin vai ficar feliz em te conceder uma licença maior do que a exigida pelo Ministério e os pacientes vão ser bem cuidados nesse tempo. Quanto à nossa casa, você sabe que Dobby anda querendo se aposentar e arranjar um trabalho mais calmo do que a cozinha de Hogwarts, garanto que ele ia adorar trabalhar aqui em casa, além do mais, ele adora Owen também... – Gina sorriu dessa vez.

- Você sabe mesmo como acabar com todos os meus problemas, não sabe? – ele sorriu satisfeito.

- É o mínimo que eu posso fazer pela mãe dos meus filhos... – ele sorriu ao dizer filhos no plural.

- Você adorou isso, né? – ela perguntou divertida. Harry acariciou sua barriga e beijou de leve.

- Adorei mesmo. Espero que tenhamos uma menina. Linda e ruiva como você. E se for uma Weasley chorona eu mesmo a trago todas as noites para você dar de mamar... – Gina riu e passou a mão pelos cabelos bagunçados do marido.

- Eu vou te cobrar isso, você sabe?

- E eu já deixei de cumprir alguma promessa que fiz a você? Por mais difícil que fosse? – ela encostou a testa na de Harry e respondeu quase encostando os lábios nos dele.

- Nunca. A não ser quando eu pedi que quebrasse aquela promessa e me tocasse de novo... – ela o beijou devagar. – E me fizesse sua e me amasse... – ela acrescentou entre beijos e ele compreendeu que ela queria que ele fizesse aquilo tudo de novo.

Halyssa não tinha conseguido pregar os olhos depois do pesadelo que tinha tido. Depois de rolar na cama por alguns instantes foi até a estante e pegou um dos livros que tinha ganhado de aniversário. Folheou "Hogwarts, Uma História – Edição Revista e Atualizada" por alguns minutos, então encontrou os desenhos que procurava.

"As quatro casas de Hogwarts", ela leu. "Lufa-lufa, Corvinal...", folheou o livro mais um pouco. "Aqui", pensou. "Grifinória. Fundada por Godric Gryffindor, o símbolo da casa é um leão, suas cores são vermelho e dourado. Os alunos que lá estudam são notáveis por sua coragem e bravura...", ela deu um muxoxo.

- Isso eu sei - murmurou.

"Um de seus mais notáveis estudantes foi Harry Potter, o menino que sobreviveu sete vezes a Você-Sabe-Quem e...", Haly respirou fundo.

- Blá, blá, blá... Nossa, como o tio Harry agüenta toda essa babação? - enfim chegou na página que queria.

Uma gravura de um grifo de ouro. Ela prendeu a respiração. Então tinha sido aquela a criatura que tinha visto em seu sonho. Virou mais uma página e passou as vistas pela descrição da Sonserina. Fez uma careta e continuou folheando o livro displicentemente. Então conseguiu encontrar o resto das informações que procurava. "Câmara Secreta", leu o título do capítulo. Continha informações sobre a criação desta, por Slytherin, na época da fundação da escola, e também a atualização da lenda, com o episódio do segundo ano de seus pais. Tinha algumas fotos, de Madame Nor-r-ra, Nick Quase Sem Cabeça, Justino, da mulher de seu tio Percy, Penélope, e de sua mãe, é claro. Em baixo das fotos dizia que estes teriam sido petrificados por um basilisco. Haly virou a página. Nesta havia uma foto da tia Gina e de Harry. Explicando como a menina havia sido levada para a câmara e mantida como prisioneira do eu de dezesseis anos de Tom Riddle. Mencionava o desabamento no túnel e a perda da memória do ex-professor Lockhart. Havia uma foto deste também, ao lado uma foto de seu pai. Ela riu. Ainda não tinha achado o que queria. Por fim chegou na última página do capítulo. Então ficou satisfeita. Havia uma pequena gravura do basilisco. Em baixo ela pôde ler claramente. "Basilisco – Rei das serpentes. Seu olhar mata instantaneamente, aranhas fogem dele e este tem pavor do canto dos galos...".

Haly apertou os olhos. Tinha sido aquela criatura que havia aprisionado o grifo em seu sonho. Ela respirou fundo e voltou para a cama. Não adiantava acordar os pais e dizer que alguma coisa sinistra estava por vir. Era inevitável, isso tinha certeza. Só restava esperar. Esperar e rezar.