A família Malfoy acordou cedo naquele sábado. Viajariam todos para a fazenda de Nicolle. Ela e Draco tinham chegado a conclusão de que faria bem aos filhos um afastamento da confusão da cidade e da rotina normal. Quem sabe em um cenário diferente Dylan se adaptasse melhor? A correria foi grande. Nicolle terminando de guardar os objetos "imprescindíveis", como um nebulizador, que tinham sido "esquecidos" propositadamente pelo marido. "Para quê isso? Só ocupa espaço. Posso desentupir o nariz até de um cavalo com um gesto de varinha", ele justificou. "Já não me basta viajarmos apertados no seu carro...", reclamou novamente.
- Draco, nós não vamos no meu carro. Eu aluguei uma caminhonete na concessionária – ele franziu a testa.
- Por quê isso? Eu posso ampliar a mala se for por isso... - a esposa deu um sorriso amarelo e a campainha tocou. Na mesma hora Nell fez o que sempre fazia quando trouxas visitavam o apartamento: ficou invisível.
- Quem é, Nikki? Vamos sair daqui a pouco... Pelo menos se você permitir e parar de lembrar de levar coisas inúteis. Não quer empacotar o sofá, não? - resmungou as últimas frases baixinho. Então ouviu o inconfundível sotaque italiano de Paolo. - Nikki, meu bem, você pode vir até aqui? - ele disse enquanto o ex-mordomo colocava uma pequena mala florida no chão da sala. - Com licença - disse de forma tão ameaçadora que seria melhor que tivesse socado o pobre homem. Pegou o braço da esposa e a afastou até o corredor. - Essa libélula na muda vai com a gente? - disse alto. Nicolle fez um gesto para que ele falasse baixo.
- Vai, Draco. Ele tem jeito com as crianças...
- Claro. Devo imaginar que se ele pudesse até as amamentaria... - Nicolle se irritou.
- Ele é delicado, Draco. Tem hábitos finos. É só. Fez doze cursos de etiqueta e sabe servir e cozinhar também. É um cavalheiro... - Draco deu um sorriso cínico.
- Meu amor, vá por mim, isso não é delicadeza. Delicadeza é eu abrir a porta do carro para você. Dançar "macarena" como desculpa para divertir os nossos filhos não é cavalheirismo. Veja o trouxa do Elton Jonh, por exemplo. É um cavalheiro da coroa... Ou seja, isso não quer dizer absolutamente nada... - Nicolle teve vontade de rir mas se segurou, tentando fazer com que o marido mudasse de idéia. - Tudo bem, Nikki. Não faça essa cara de contrariada. Nós levamos seu amigo esvoaçante, okay? - ela sorriu e foi buscar o resto das coisas.
Draco sentou no sofá e ficou olhando para o ex-mordomo, que deu um sorriso amarelo. Paolo abriu a boca para iniciar uma conversa mas ele levantou na mesma hora e foi procurar a esposa.
- Ele quer dizer algo. E eu realmente não estou interessado. Vá lá, meu amor... - disse enquanto pegava as duas malas de brinquedos dos filhos.
Assim que chegou na sala, Nicolle segurava um cd na mão. Draco sabia o que era, uma das poucas invenções trouxas que apreciava. A esposa sorriu e esticou o cd para o marido.
- Olha, meu amor. Que gentil. Paolo nos trouxe um cd para ouvirmos na viagem.
- "O melhor de Laura Pausini" - ele leu.
- É em italiano, Sr. Malfoy - Paolo disse timidamente. - Estou treinando canto com um amigo meu e já sabemos quase todas de cor... - Draco fez uma expressão de pavor, que Nicolle tentou amenizar com um sorriso amarelo.
- Estou certo de que sabe... – ela achou por bem acrescentar.
Draco chamou os filhos e acomodou os dois e as malas na caminhonete. Paolo se ajeitou com as crianças no banco de trás enquanto Draco subia no apartamento para ajudar Nicolle com uma cesta com água, suco e biscoitos que havia separado para os gêmeos comerem no caminho.
- Verificou tudo? Está tudo fechado? Gás, portas, luzes apagadas? - Nicolle perguntou, visivelmente de mau humor.
Draco acenou positivamente. A esposa já ia saindo porta afora quando ele a segurou pela mão.
- Hey, me desculpe, está bem? Eu só não vou com a cara dele, por Merlin. Ele parece uma daquelas bailarinas do Teatro Municipal, cheio de "frufrús" e frescuras... - Draco imitou e deu uma pirueta, fazendo com que Nicolle sorrisse.
- Ele gosta das crianças, Draco. E cuidou muito bem de mim depois que Richard me deixou... - o marido entendeu o ponto de vista dela.
- Tudo bem. Eu vou me esforçar para ser simpático com ele... - Nicolle riu.
- Não vai, não... - ele riu de volta.
- Tudo bem, eu vou me esforçar para dar a impressão de que quero ser simpático, e vou suportar e não parecer que quero estrangulá-lo. É o melhor que posso fazer... - ela riu ainda mais.
- Nem assim, mas tudo bem. Eu fico feliz com a sua intenção... - disse, segurando o rosto dele e beijando de leve os lábios do marido.
- Eu suponho que ele vá nos brindar com números de canto durante a viagem...
- Provavelmente - Nicolle respondeu sorrindo.
- Era exatamente o que eu queria... Bem, eu posso me enfeitiçar para ficar temporariamente surdo... - ela deu um tapinha no braço do marido, os dois fecharam a porta da frente e partiram para a fazenda.
A viagem foi tranqüila. Com exceção de oito paradas para que Nattalie fosse ao banheiro e Paolo vomitasse, pois enjoava em viagens. Infelizmente - para Draco - depois de terminarem de descer a serra o ex-mordomo se recuperou das náuseas e cantou todas as músicas do cd, até que chegassem na fazenda.
Assim que chegaram na fazenda, Nicolle acomodou as bagagens nos quartos e Paolo preparou um farto almoço para todos. Depois as crianças foram visitar as cocheiras. Nattie subiu na garupa da mãe, Dyll na do pai e os quatro foram passear pelo terreno.
- Estão gostando crianças? – Nicolle perguntou sorridente. – Eu andei muito por estes campos quando tinha a idade de vocês. Tinha pouco mais de oito anos quando comecei a praticar saltos – Draco se espantou.
- Você saltava? – ela riu.
- Eu não "saltava", Draco. Eu ainda salto. Só não faço isso há um bom tempo, então estou um pouco enferrujada – ele deu um sorriso debochado.
- Então, como eu ia dizendo, você saltava... – ela tirou uma das luvas e jogou no marido.
- Seu implicante... – as crianças riram.
- Hey, Nikki. Esses pangarés sabem correr ou só andam com essas orelhas e rabos baixos assim? – Nicolle parou e olhou agudamente para o marido.
- Esses "pangarés" são puro-sangue, senhor Draco Malfoy. Mangalarga marchadores e sabem correr como o vento... – ele contraiu os lábios.
- Fiquei impressionado agora... – Nattie e Dyll imaginaram o que o pai tinha em mente. - E o que você acha de apostar uma corrida até a sede da fazenda? – Nicolle ergueu as sobrancelhas.
- Fala sério? Mas as crianças? – Draco deu de ombros e piscou para os filhos.
- Tudo bem, sabia que você ia ficar intimidada. Eu entendo, não é, meus filhos? – Nicolle colocou a mão na cintura.
- Eu não estou com medo. Eu só não sei se é seguro corremos com os nossos filhos na garupa por aí... – Draco deu um muxoxo.
- Está bem, Nikki. É só por isso que você não quer correr, sim. Eu acredito... – disse em um tom irritantemente superior. Nicolle se virou para a filha e sussurrou um "Segure-se firme. Vamos mostrar para eles", depois se voltou para o marido.
- Quem chegar por último lava a louça do jantar... – deu uma esporada na barriga do cavalo que montava e partiu para sede da fazenda. Draco riu.
- Viu, filho? É fácil atingir uma mulher. Basta feri-la nos brios... – e partiu atrás de Nicolle.
Os cavalos galoparam uma boa distância, até ficarem quase emparelhados. Havia um desvio no caminho e Draco se posicionou na frente da esposa, para fazer o contorno. Era exatamente o que ela queria. Ela espertou Nattie, inclinou junto com a filha para frente e saltou o desvio com tudo. Draco ficou admirado e gritou.
- Hey, isso é trapaça. Desse jeito eu vou usar magia aqui... – Nicolle gargalhou e continuou a cavalgar.
Ela chegou primeiro na sede, mas Draco vinha logo atrás. Os dois ajudaram as crianças a saltar do cavalo e Draco estendeu a mão para a esposa poder descer, mas essa se recusou.
Os dois puxaram os cavalos até a cocheira e os deixaram beber bastante água. O tempo todo Draco não tirava os olhos da esposa. Foi andando até ela e encostou os lábios no lóbulo da sua orelha, mordendo-o de levinho.
- Você me deixou louco, agora há pouco... – sussurrou. Ela fingiu não entender o comentário.
- É mesmo? Só por que eu venci você? – ele a segurou pelos braços e a encostou na parede de madeira da cocheira, dando-lhe um beijo de tirar o fôlego.
- Não, Nicolle. Você me "venceu" há muito tempo, naquele avião. Hoje você apenas me deixou louco... Mais uma vez me surpreendeu... – disse passando os lábios no pescoço dela. Nicolle ficou arrepiada e logo depois voltou ao seu juízo perfeito.
- De noite, Draco. Depois que as crianças dormirem, a gente pode fazer o que você quiser. Agora vamos fazer o que eles quiserem... – Draco sorriu maliciosamente.
- Está certo, mas eu vou cobrar isso, sabia? – ela piscou para o marido.
- Eu não diria isso se não contasse com a sua resposta... – eles riram e foram procurar os filhos de mãos dadas.
Ficaram um bom tempo vendo os dois andarem de bicicleta em volta da casa, depois brincaram de pegar e de esconder com os dois. Draco os ensinou a subirem em uma árvore, para desespero de Nicolle, mas os fez prometer que só fariam aquilo quando estivessem com um adulto junto.
Já era o final da tarde e havia um belo churrasco preparado na grelha pelo mordomo. Draco estava até simpatizando com o homem agora. Era prestativo e cozinhava bem.
Depois de jantarem bem, Paolo se recolheu e Draco acendeu uma fogueira no quintal. Os quatro se sentaram em sacos de dormir em volta dela e conversaram debaixo de cobertores.
- Então, gostaram daqui? – Nicolle perguntou para os filhos. Os dois acenaram que sim. Draco trocou um olhar com a esposa e começou a contar diversas histórias engraçadas da época de Hogwarts.
- ...Então, o idiota do Longbottom não colocou direito os abafadores de ouvido e quando a mandrágora choramingou ele caiu estatelado feito um tronco de árvore podre... – as crianças e Nicolle riram da imitação dele.
Depois de algum tempo Nattie bocejou e Nicolle percebeu que estava na hora dos filhos dormirem. Ela sorriu para Draco, que pegou o resto das coisas e apagou a fogueira, enquanto a esposa levava os dois para dentro da casa.
Ela acomodou os filhos e foi se deitar. Assim que entrou em seu quarto foi atacada por Draco. Ele a puxou bruscamente, encostando-a na parede e pressionando os lábios com força nos dela.
- Draco? As crianças estão aqui do lado. Podem nos ouvir... - ela disse com a voz falhando entre um beijo e outro.
- Eles estão exaustos. Brincaram o dia todo, e você me deve algo, lembra-se? Deixa eu fazer você se lembrar... - emendou enquanto descia os lábios para o pescoço dela e as mãos para os botões da blusa da esposa.
- Draco... - ela se derreteu. - Eu senti falta disso... - disse enfiando os dedos por entre os cabelos do marido enquanto ele descia os lábios pela sua barriga.
- Eu também... - respondeu antes de deixá-la com as pernas suficientemente bambas. Depois ergueu-a pela cintura e a colocou na cama.
Draco passou a mão de leve pelo corpo da esposa enquanto buscava os lábios entreabertos de Nicolle com os seus. Ela gemeu baixinho quando ele ficou por cima e encostou todo corpo no seu, unindo-se lentamente a ela. Nicolle rolou os olhos para cima e deixou que ele a apertasse com força, sentiu o corpo vibrar à medida que o calor dos dois juntos daquela forma aumentava insuportavelmente. Quando sentiram que não poderiam mais suportar uma vertigem sem fim os deixou sem ar. Ficaram abraçados até recuperarem o fôlego novamente. Sorriram um para o outro, impressionados que a mesma sensação que haviam sentido na sua primeira vez juntos ainda se perpetuasse após tantos anos. Não precisaram colocar em palavras o quanto se amavam. Tinham acabado de deixar bem claro com os seus atos. Uma sensação de segurança e relaxamento tomou conta pouco a pouco deles. Depois de algum tempo os dois dormiam profundamente, enroscados um no outro.
Enquanto isso, no quarto das crianças, Dylan estava muito bem acordado.
- Dyll? - Nattie bocejou. O garoto tentou disfarçar em vão. - O que você está fazendo? - ela perguntou enquanto se sentava na cama.
- Nada, Nattie durma de novo... - a irmã franziu a testa numa expressão parecida com a da mãe.
- Engraçado. Eu não estou com sono agora... - debochou em um tom extremamente Malfoy. - Pode me contar o que está tramando - completou colocando as duas mãos pequenas na cintura. Dylan bufou.
- Eu poderia te contar mas você ia querer contar para o papai e a mamãe e eu ficaria chateado com você... - ele começou a preparar o bote.
- E por que você não contaria para o papai e a mamãe? Deve ser algo ruim... - ele respirou fundo.
- Não é algo ruim. Eu só pensei que a minha única irmã, e gêmea, fosse capaz de guardar um segredo do seu único irmão, e gêmeo... - ela riu.
- Corta essa Dyll. Essa não funciona comigo já faz tempo. Se você quer fazer alguma besteira e quer que eu guarde segredo eu guardo, contanto que você não se machuque... - ele parou por alguns instantes, avaliando a expressão da irmã, levantou e sentou ao lado dela na cama.
- Eu conto, mas você deve jurar que não conta para os nossos pais - pegou uma pena de escrever e furou o dedo, depois entregou à irmã, que não entendeu o propósito daquilo. - É para fazermos um pacto, Natt – explicou e a menina olhou desconfiada.
- Tudo bem, mas você deve jurar que não vai se machucar... - ele concordou. Ela furou o dedo e eles selaram as juras.
- Agora me diz... - a menina pediu.
Ele fez um gesto pedindo silêncio e puxou a irmã pela mão.
- Venha comigo. Vou te mostrar... - os dois passaram na ponta dos pés pela cozinha e Dylan pegou uma caixa de fósforos.
Seguiram para o quintal. A noite estrelada iluminava tudo.
- Conte, Dyll, estou congelando aqui - o garoto olhou para o chão e estendeu um dos cobertores, provavelmente "esquecido" pelo pai na pressa de entrar e surpreender a esposa.
A menina se enrolou e ele mostrou o saquinho em sua mão.
- O que é isso? - a menina perguntou curiosa, enquanto observava o pó cinzento.
- Isso é...
- Flu? - ela perguntou apreensiva.
- É sim. É Pó de Flu - ele respondeu ríspido. Nattie fez uma careta de reprovação. - Você jurou segredo, Nattalie... - ele lembrou a irmã.
- Muito esperto você ter me pedido isso antes de contar... - ele deu um sorriso maldoso e acendeu novamente a fogueira.
- O que você vai fazer, Dyll? - ela perguntou nervosa.
- Nattie, obviamente papai não quer que eu aprenda coisa alguma. Está sempre querendo que eu seja tratado como um trouxa qualquer... - a menina abaixou a cabeça. O irmão ficou um tanto quanto culpado por dizer aquilo mas prosseguiu. - Eu só quero saber mais sobre o mundo mágico. Não posso esperar até ter onze anos, Natt - a menina sacudiu a cabeça, lágrimas rolaram pela face rosada, pingando no chão. Dylan ergueu a cabeça da irmã. - Eu vou buscar respostas... - ele explicou.
- Como? - ela fez a pergunta que ele temia.
- O nosso avô, Natt... - a menina arregalou os olhos e ele continuou no embalo. - Ele tem me visitado na escola e acha que eu tenho potencial, e que papai não se importa com isso. Que papai tem inveja porque era um perdedor quando tinha a minha idade, e continua sendo... - Nattalie ficou chocada.
- Não é verdade, Dylan... Papai só quer o nosso bem. E ele deve ter motivos para não falar com o nosso avô. Você não deveria...
- Nattalie - ele cortou a irmã -, você conhece o nosso avô? - a menina respondeu negativamente. - Pois eu conheço e digo que ele é um bruxo impressionante e poderoso, e me ensina coisas e acredita em mim, no meu poder... E você acredita em mim, não é? - a menina confirmou. - Então acredite quando eu digo que vai ser bom eu passar uns tempos com o vovô... - ela abaixou a cabeça.
- Eu só não quero que você se machuque, Dyll - ela choramingou e abraçou o irmão, que retribuiu desajeitadamente algum tempo depois.
- Eu não vou. Agora me deixe ir... - ela segurou o braço dele.
- O que eu digo para o papai e a mamãe? - perguntou nervosa.
- Não diga nada. Quando eu voltar eu explico tudo... - Nattie tentou sorrir mas quando o irmão sumiu nas chamas ela sentou no chão e chorou até dormir, enrolada no velho cobertor.
