De manhã Draco e Nicolle se levantaram e foram tomar o café. Os dois estranharam os filhos ainda estarem dormindo. Decidiram terminar primeiro e depois irem até o quarto das crianças e chamá-los para um passeio.
- Eu acho que vai ser muito bom para eles o ar da fazenda, meu amor – Nicolle disse enquanto preparava uma xícara de café com leite para o marido. Draco sorriu maliciosamente.
- E para nós dois também, me atrevo a dizer... – ele brincou enquanto passava a mão na perna dela por baixo da mesa. Ela riu. Os dois se aproximavam para um beijo quando Paolo entrou na sala. Tinha uma expressão assustada.
- Desculpe, Srta. Marah...
- Sra. Malfoy... – Draco corrigiu, irritado. Sabia que o ex-mordomo tinha prazer em chamá-la pelo nome de solteira.
- O que foi Paolo? – perguntou enquanto parava a mão de Draco, que teimava de forma implicante em subir pela sua coxa, sob a mesa.
- As crianças não estão no quarto. Fui chamá-los para o café e as camas estavam vazias... – Draco se levantou da cadeira e foi conferir o que o mordomo tinha dito. Nicolle correu até a varanda, e avistou o pequeno emaranhado no cobertor.
- Draco! – gritou. – Eles estão aqui fora...
O marido a alcançou rapidamente mas quando chegaram perto da fogueira, agora completamente apagada, só encontraram Nattalie enrolada nas cobertas.
- Nattie? – a mãe chamou a menina mas esta não respondeu. Ela abaixou e colocou a mão na testa da filha, que queimava. As mãos estavam geladas. - Draco, ela está ardendo em febre... – choramingou preocupada. Draco abaixou e ergueu a filha no colo.
- Vamos levá-la para dentro... – passou rápido por Paolo, que ainda tinha os olhos arregalados. – Faça alguma coisa útil e prepare um banho quente para ela... – disse ríspido. O outro homem correu para a casa.
- Temos que saber onde Dylan está – Nicolle disse com os olhos cheios de água. Draco assentiu enquanto colocava a filha no colo da mãe no sofá da sala. - Nattie? – ele chamou a menina que entreabriu os olhos vermelhos.
- Pai... Mãe... – ela arqueou a cabeça para frente e vomitou no chão. Estava doente.
- Draco, precisamos de um médico... E Dyll... Onde está Dylan, meu Deus do céu? – ele acenou com a cabeça.
- Tente perguntar a Nattie se ela viu o irmão. Eu vou procurá-lo pela fazenda. Vou fazer um feitiço localizador de pessoas. Por isso mantenha a mariposa longe do quintal, ou pode confundir o resultado da busca. Coloque a menina no banho e a arrume. Vamos levá-la ao médico... – Nicolle concordou.
Ele foi para o quintal e se posicionou perto da fogueira. Proferiu algumas palavras e colocou a varinha no chão. Ela apontaria para a direção que o menino tinha ido. Assim que depositada no chão, girou devagar, Draco observava o movimento ir se tornando cada vez mais rápido. Depois de girar incessantemente percebeu que a varinha não seria capaz de localizar o filho. Pelo menos ele não estava dentro da propriedade. Mas a fazenda era muito grande para que um menino de sete anos pudesse atravessá-la em uma noite. Portanto não tinha saído dali andando... Abaixou no chão e pegou a varinha desapontado. Foi então que algo chamou a sua atenção. Próximo às cinzas da fogueira havia um pó diferente.
- Flu... – constatou. – Ele saiu daqui por Flu. Ou foi levado... – o pensamento lhe fez o sangue gelar nas veias. Voltou correndo a sede da fazenda e decidiu não preocupar a mulher ainda.
Quando entrou na casa a filha já estava pronta para ir para o médico. A menina estava febril e delirante, mesmo depois de tomar o antitérmico. Nicolle olhou apreensiva para o marido.
- Encontrou Dylan? – Draco sacudiu negativamente a cabeça. Ela recomeçou a chorar. O marido se aproximou dela e colocou a cabeça da esposa apoiada em seu ombro.
- Shhhh. Fique calma. Eu vou encontrá-lo. Não pode ter ido muito longe... ele deve ter se escondido... – Nicolle soluçou.
- Eu não quero perder nosso garotinho, Draco...
- Eu sei, meu amor. Eu sei... – ele segurou o queixo da esposa. – Nattie viu algo? – Nicolle deu de ombros.
- Ela só chora quando eu pergunto sobre o irmão. Deve estar em choque ou a febre não a deixa se lembrar do que houve... – Draco olhou a filha, no colo de Paolo.
- Você dirige? – ele perguntou ao mordomo, que respondeu que sim. – "timo. Leve as duas ao médico na cidade. Me liguem para dar notícias. Eu vou ficar aqui esperando Dylan voltar – Nicolle achou a idéia do marido boa.
Eles acomodaram a menina no banco de trás, no colo de Nicolle, e Paolo deu a partida no carro.
- Cuide delas, ouviu? Se acontecer algo a elas duas eu vou caçar você no fim do mundo e empalhar a sua cabeça... – ameaçou Paolo que tremeu. – Estou brincando, homem. Mas cuide delas... – deu um tapa nas costas do ex-mordomo, que teve certeza de que não era uma brincadeira e partiu.
Draco ficou sozinho do lado de fora. Olhou novamente a fogueira e viu que a quantidade de pó de Flu usada ali não era muito grande. Provavelmente foi usada por uma só pessoa, ou por alguém que estivesse carregando o menino no colo. Mas como aquela fogueira tinha sido conectada a rede de Flu ele não sabia. Juntou um pouco de lenha e entrou. Precisava acender a lareira e conectá-la a rede. Só assim ele poderia se informar com o departamento de trânsito e deslocamento mágico se havia sido feito algum pedido recente para ligar uma fogueira à rede internacional de Flu.
Acendeu a fogueira e com um gesto de varinha contatou o bruxo de plantão responsável pelas conexões novas da rede.
- Bom dia – o homem disse por cima de óculos redondos e grossos. Tinha uma expressão vaga.
""timo. Deve ser uma zebra esse aí...", Draco pensou desanimado e tentou sorrir.
- Bom dia, Sr...?
- Fredo. Al Fredo – Draco prendeu o riso. "Até que o nome combina", sorriu de novo.
- Bom dia, Sr. Fredo. Eu gostaria de ligar essa lareira à rede internacional de Flu. Pode ser? – o homem avaliou Draco.
- Bem, o Sr. tem registro no Ministério para isso?
- Eu sou um bruxo diplomado em Hogwarts. Isso é o suficiente? – o homem pareceu ficar sem graça.
- Me desculpe, Sr...
- Malfoy. Draco Malfoy – o homem pareceu ainda mais embaraçado.
- Oh! Perdão, Sr. Malfoy. É claro que o senhor pode colocar a sua lareira na rede de Flu, senhor – Draco riu. O homem agora parecia um elfo doméstico de tanta subserviência. – Eu apenas tenho que pedir a sua documentação, senhor. Está acontecendo uma série de ligações não autorizadas agora. O Ministério da Magia acredita que haja uma quadrilha de bruxos piratas, hackeando a rede de Flu e a utilizando clandestinamente... – Draco franziu as sobrancelhas.
- E como vocês sabem? – o homem olhou em volta e respondeu baixinho.
- Eu não devia contar ao senhor, mas vejo que está preocupado com a sua segurança, por isso vou explicar. Na verdade não há como nenhum estranho entrar na sua lareira, a não ser que esta esteja em alguma loja ou lugar público, aí pode até ser que alguém acidentalmente venha parar nesta lareira, mas apenas nos horários de funcionamento destas, ou seria fácil entrar em uma loja e roubar mercadorias...
- Muito bem. É verdade, mas ainda não entendi onde você quer chegar. Isto é óbvio... – o homem abaixou ainda mais o tom de voz.
- Sim. Mas o que o senhor não sabe, e aí está a maior falha no sistema, é que se alguém ficar dentro da loja e acender a lareira, de dentro desta, ela pode ser usada como se estivesse no horário comercial. E isso vale para qualquer fogueira feita no mundo. Elas se tornam pontos fracos na rede internacional, e daí podem ser usadas com propósitos escusos... – Draco começou a se interessar pela conversa.
- Isso significa que se alguém mal intencionado quiser pode usar uma fogueira como porta de entrada ou saída e vocês não têm nem como saber que isso foi feito?
- Não. Na verdade a pessoa cadastra um número e um endereço falsos, como se fosse para uma lareira, e geralmente quem faz a ligação são bruxos cadastrados ou de confiança e posição social. Mas, ao invés de uma lareira, o que é utilizado é a fogueira nesse caso. Assim as pessoas podem viajar normalmente por ali, sem que o Ministério saiba quem viajou, ou para onde foi. Por que a lareira, que na verdade está registrada, não foi usada, apenas o registro desta... – Draco ficou boquiaberto.
- Que bagunça esse sisteminha de vocês... – o homem ficou visivelmente constrangido. – Bem, conecte a minha lareira então - resolveu conectar a lareira da fazenda à rede para tentar se comunicar com o Ministério da Magia e receber instruções de como proceder no caso do filho ter se perdido na rede de Flu.
Anotou o endereço da fazenda e o registro como bruxo maior de idade formado por Hogwarts e entregou ao homem. Este se de morou alguns minutos observando a papelada. Por fim deu um sorriso maroto para Draco.
- Sinto muito, senhor Malfoy, mas não posso ligar sua lareira à rede...
- Como não pode? Que audácia, eu... – o homem sorriu.
- O senhor não me deixou terminar. Eu não posso fazer isso por que ela já foi ligada à rede. Está há uma semana conectada... – Draco pareceu entrar em choque. O homem percebeu que não havia mais o que fazer e com um "puf" suave sumiu.
Agora Draco realmente estava preocupado. Alguém havia usado seu nome e o endereço da fazenda, conectado a lareira à rede de Flu e usado a fogueira para levar seu filho. Ele crispou os punhos. Sabia exatamente quem poderia ter feito aquilo.
- Lúcio... – os olhos brilharam de ódio. Apertou a varinha entre os dedos e já ia aparatar para a mansão Malfoy quando foi interrompido.
- Não adianta ir. Eles não estão mais lá... Meu filho – Draco esfregou os olhos.
- Ma-mamãe? – gaguejou, sem acreditar. Na frente dele a mulher alta e bela, cabelos loiros e olhos claros, o olhava tristemente.
- Sim, meu querido. Me desculpe. Eu cheguei tarde demais...
- Tarde demais? Como? Tarde para quê? – Draco caminhou lentamente até ela, desconfiado.
- Eu sinto tanto, meu amor – ela passou a mão no rosto pálido do filho. – Se soubesse não teria demorado tanto tempo para estar com você... – Draco segurou a mão dela e olhou dentro dos olhos cheios d'água da mãe.
- Diga de uma vez – ele implorou.
- Ele está perdido. Seu pai o levou... – Draco se deixou cair sentado no sofá.
- Não. Não. Não... – repetiu baixinho. As lágrimas corriam no rosto vermelho de raiva. Narcisa agachou e ergueu o rosto dele, como se ele ainda fosse um menino e Draco abraçou a mãe com força, soluçando. - Eu tenho que impedi-lo, mãe. Preciso pegar o meu filho de volta. Temos que encontrá-los... – levantou-se e tentou se recompor. Ela colocou as mãos em seus ombros.
- Meu filho, eu me orgulho de ver o homem maravilhoso que se tornou, mas você não me entendeu. Ele vai iniciar o menino nas Artes das Trevas, os dois sumiram na poeira. Eu os procurei de várias formas...
Draco ficou sério e passou a mão pelos cabelos, sentindo o ódio lhe preencher todo o peito. Depois parou em frente à porta e observou as nuvens de chuva que se formavam, tornando a linha do horizonte um traço cinza chumbo.
- Procurou quanto, mamãe? – perguntou sem se, os olhos cinzentos estavam quase negros agora. Narcisa suspirou.
- Procurei o bastante, meu filho... – lamentou-se.
Draco observou a chuva começar a cair e o céu escurecer de uma hora para a outra. Sabia o que estava causando aquilo. Sabia do que era capaz quando estava realmente com raiva. Sabia como usar o ódio que havia aprendido. Então sorriu, satisfeito, enquanto os raios cortavam o céu e os trovões ecoavam nas montanhas que cercavam a fazenda.
- Não, mamãe. O bastante ainda é pouco...
FIM
Continua em Ainda É Pouco Para o Começo
