Demorou uma noite e um dia inteiro para que Kenshin chegasse a Edo. A cada passo que dava, sentia mais e mais ódio de Shi, por tudo de mal que ele fizera a ele, e especialmente a Kaoru. Imaginou como teria sido maravilhoso ver o ventre de Kaoru crescer dia a dia, de pensar em nomes para meninos ou meninas. Pensou que a ajudaria na hora do parto, e que se fosse menina teria ciúmes dela com garotos. Mas se fosse menino ensinaria que o homem forte é aquele que protege, não o que mata. Era contraditório, pois ele mesmo não conseguia cumprir este mandamento. Matar. Era tudo que ele queria. Saber que nada dessas coisas iriam agora se concretizar o faziam querer quebrar a promessa feita no fim do Bakamatsu.

Kenshin pensou também no Dojo em chamas. Pensou que o quarto de Yahiko era perto da casinha de mantimentos, que se estivesse ventando, provavelmente o Dojo inteiro teria ardido o fogo dos infernos. Todos mortos: Yahiko, ele... e Kaoru. Pela segunda vez esse homem tentou acabar com a vida de sua mulher, como se ela tivesse culpa dos erros DELE do passado. Aliás, que erro era esse que ele cometera para esse assassino querer matá-lo? Lembrou- se de Jineeh, quando este sequestrou Kaoru só para forçá-lo a lutar. Só que Jineeh era diferente, ele era obsecado pelo Battousai. Shi é louco, frio e calculista, para ele a luta não é o importante. Acabar com o inimigo que é, independente se em uma luta de espadas ou se o atacando pelas costas.

SHI...... desgraçado.....

O caminho para Edo era longo e demorado. Talvez se Kenshin tivesse a compania de alguém não teria pensado em detalhes como torturar o inimigo. Talvez ele estaria mais são, mais calmo inclusive. Mas não poderia de jeito algum envolver os outros nesse luta. A honra era dele, do filho não nascido. E ninguém, além do pai, tem o direito a desforra da morte da criança. A mente livre para tais pensamentos não era um bom sinal.

Aos poucos a noite foi caindo. Quando já estava escuro, Kenshin avistou as primeiras luzes de Edo. Ele desceu calmamente o morro, e andou pela estrada de terra até que esta se tornasse de paralelepípedos. Estava ansioso, mas não queria dar o gosto de chegar antes do adversário. Pelo contrário. Queria fazê-lo esperar todos os segundos que lhe ainda restavam de vida. Ele estava disposto a quebrar a promessa se necessário. Um covarde como Shi não deveria sobreviver nem mais um dia.

As ruas de Edo já estavam vazias. Kenshin nem se preocupou em esconder a cicatriz do rosto. Os olhos fixos caçavam cada sombra que passava. Por vários instantes ele quase chegou a atacar os que passavam na rua, achando que fosse Shi em sua direção.

Kenshin ouviu o barulho das casas. Pessoas jantando, se reunindo para contar como foi o dia. A risada das crianças.

Crianças.....

Ele pensou como seria bom estar com sua família no Dojo, como seria bom deitar ao lado de Kaoru a noite. E quanto ela a amava. Por instantes se arrependeu de estar ali, até que chegou na ponte.

A ponte estava completamente escura. Apenas o barulho da água indicava a margem do rio. Ninguém estava lá. Ele então parou, mão na sabaka, respiração presa. Olhava para os lados o tempo todo. Não havia uma alma viva. O vento balançava a folhagem das árvores. O silêncio. Kenshin podia ouvir a própria respiração.

Battousai..... Esperei anos por esse momento! – uma voz saindo de trás de uma das árvores fez Kenshin sacar a espada.

Shi!

Sim. Sou eu. – A voz era grave, calma, pausada, que se perdia no assobio do vento. – Hoje finalmente eu vou te matar, Battousai. Vou matá-lo demoradamente, para que você possa se lembrar daquela mocinha que deixou em Kyoto. Sua mulherzinha querida, que vou matar depois de acabar com você. E primeiro destruo aquele garotinho.....

Para um ex-samurai você fala muito e age pouco. Antes de matá-los você tem que estar vivo.

Então o pequeno hitokiri ainda tem coragem! Ouvi dizer que você não mata mais!

Não deu tempo de Shi terminar a frase. Kenshin já estava em posição de ataque. A escuridão sempre foi sua aliada, essa noite não seria diferente. Então agachou-se e correu de encontro ao homem nas sombras. Quão foi sua surpresa ao ver que não havia ninguém lá.

É só isso que sabe fazer? Pensei que você fosse mais inteligente!!!

Kenshin continuava a correr, por entre as árvores, mas em nenhuma estava Shi. Corria sem parar, procurando-o em vão.

Onde você está?!!! Mostre-se!!!!

Então o Battousai não consegue nem me encontrar? Que pena, a luta vai ser mais fácil que eu pensava!!!

Mostre-se!! Venha lutar comigo!!! Não era isso que você queria?!!! Estou aqui!!!!

Subtamente Kenshin sentiu um vento gelado passar. E uma dor horrível em seu ombro esquerdo. O gi comecou a escurecer com o sangue do machucado. Kenshin olhou surpreso ao redor. Sequer havia visto Shi passar. Como ela fazia isso? Mesmo Seta Soujiro deixava marcas suficientes para que fosse notada a sua presenca. Mas Shi, ele parecia mesmo um fantasma.

Já foi o ombro esquerdo. Que tal outro corte, Battousai?

Kenshin adotou a posição de defesa. A voz vinha na direção dele. Foi quando o mesmo arrepio invadiu seu corpo, e um corte de repente apareceu em suas costas. Ele não conseguia entender. Se a voz vinha em sua direção, como foi atingido nas costas?

Assim não tem graça, Battousai. Você tem que se esforçar mais!!!!

Kenshin sentia-se acuado, numa armadilha. Tinha que ter um capanga por perto, era impossível Shi estar em tantos lugares ao mesmo tempo. Ou mover- se tão rapidamente......

Apareça!!!! Lute comigo cara a cara!!!!

O vento aumentava. Parecia que ia chover. E a cada vez que sentia o ar gélido, era atingido certeiramente sem chances de se defender. O Riten Mitsuruge Ryu não parecia nem de perto a técnica eficaz que o salvou várias vezes da morte. E morrer parecia uma certeza agora para Kenshin.