Disclaimers: Harry Potter e Tom Riddle, vulgo Voldemort, não pertencem à
mim, e sim à J.K Rowling. Por isso eu a odiarei eternamente. MAS, Helena
Tavares, o resto do pessoal que aparecer por aqui, as escolas e as casas
são minhas! E eu rasgo em mil pedaços quem se atrever a pegá-los sem
autorização adequada!
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N.A: Esse capítulo tá enorme e esse é mais um desatino completo de minha mente. Não me matem, tá legal? ^_^0
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Meu maior erro
Meu nome é Harry Potter, tenho dezessete anos, e, no ano passado, durante meu sexto ano em Hogwarts, a escola de Magia e Bruxaria mais conceituada do mundo, eu derrotei Lorde Voldemort, o bruxo mais temido da nossa era, mas isso você já sabia, né?
Para ser cem por cento sincero, eu não gostei de ter matado aquele filho de uma puta. Aliás, eu nunca gostei de nada na minha vida. Nada realmente. Minha vida estava fadada a ser uma grande merda no momento em que eu não morri, dezesseis anos atrás.
Se você não acredita, vamos recapitular: no dia em que eu não morri, meus pais morreram. Por minha causa, diga-se de passagem. Nesse mesmo dia eu fui levado a morar com aqueles malditos trouxas. A irmã de minha mãe, o marido e o filho obeso deles. Aqueles três conseguiram transformar onze anos de minha vida em um verdadeiro inferno.
Mas quando Hagrid foi me buscar, eu achei que minha vida mudaria totalmente. Bom, até mudou, mas continuou uma merda. Ser rotulado de "O- menino-que-sobreviveu" é quase tão bom como queimar a língua.
Claro, para melhorar ainda mais a minha situação, Voldemort tenta me matar outra vez. E no segundo ano, em um surto de criatividade, ele tenta me matar outra vez.
No terceiro ano tive o dia mais feliz da minha vida junto com o pior dia da minha vida. Eu tive a chance de poder sair da casa de meus tios e morar com o meu padrinho. Mas claro que eu não poderia ser feliz. Alguém teria que estragar meu único momento de felicidade consciente em treze anos. Snape teve essa honra.
Claro que existiam os momentos em que eu esquecia de tudo isso. Jogar Quadribol era minha terapia.
Por isso tinham que me tirar isso também. Lembra do quarto ano? Bartô Crouch Jr. Colocou meu nome no Cálice de Fogo e eu tive que atuar no torneio Tribruxo, só para descobrir no final que era uma cilada de Voldemort, para ressurgir e me matar (sinceramente, Voldemort sofre de falta de criatividade).
Só pra melhorar um pouco o meu humor, no ano seguinte Voldemort me tira a coisa mais próxima que eu já tive de um pai. Sirius morreu no Departamento de Mistérios do Ministério da Magia.
Sexto ano eu realmente pude me vingar. Deixei de ser o menininho tonto, ingênuo e indefeso que todos pensavam que eu era. Não esperei o final do ano para Voldemort me atacar com um de seus planos clichês. Como ninguém esperava tal atitude vinda de mim, eu fui atrás dele. E o matei. E matei Lúcio Malfoy (nada pessoal, mas ele pediu por isso). E, com mais prazer ainda, matei Bellatrix Lestrange, que matou Sirius (essa foi totalmente pessoal).
Utilizei maldições imperdoáveis, mas como estávamos em guerra, isso foi irrelevante. Fugi para o Brasil, porque o restante dos seguidores fiéis de Voldemort queria vingança.
Eu não simplesmente peguei um avião ou uma chave de portal para o Brasil, como faria qualquer pessoa normal, com um pingo de coerência mental. Eu, num surto de insanidade, aparatei para o Brasil. Dá pra imaginar o desastre que foi a aterrissagem, né?
Parei em uma cidade pequena, onde torci para que ninguém soubesse o que é magia ou, pelo menos, jamais tivessem ouvido falar de Harry Potter, o menino que sobreviveu.
Doce ilusão.
Uma garota, deveria ter minha idade, cabelos loiros, olhos castanhos, não estava em sua melhor forma física, me viu surgir do nada e começou a apontar para mim e gritar alguma coisa que eu não entendi, mas, pela expressão de terror em sua face, coisa boa não era.
Logo uma multidão havia sido alertada de meu repentino surgimento e, diga- se de passagem, não parecia ter gostado nada daquilo.
Uma outra garota, de cabelos roxos (lembrei-me de Nymphadora quando a vi), alguns piercings no rosto, olhos extremamente negros e roupas estranhas. A blusa parecia estar do avesso e se estivesse mais rasgada, não seria blusa. Por baixo dessa blusa tinha outra blusa, colada ao corpo e delineando suas formas. Estava usando shorts jeans rasgados na altura dos joelhos, botas sem salto que iam até metade da canela e tinha as unhas da mão pintadas de roxo e preto, alternadamente.
Ela me agarrou por baixo do braço e saiu correndo comigo, fugindo da multidão que começava a correr atrás de nós, com pedras nas mãos, cena que jamais pensei presenciar, muito menos participar.
A garota ainda disse alguma coisa em meu ouvido, mas eu não entendi nada, como você pode imaginar.
Depois de correr bastante, nós entramos nos jardins de um enorme casarão, que, se não fosse o perfeito estado daqueles jardins, tão bonitos e bem cuidados, qualquer um diria que estava abandonado.
Assim que entramos, as pessoas pararam de correr e o portão se fechou sozinho atrás de nós. Amedrontadas, as pessoas começaram a recuar vagarosamente. A garota berrou alguma coisa e todos saíram correndo. Um garoto ainda atirou uma pedra contra nós, mas a pedra foi repelida por uma espécie de escudo.
Foi a conta de eu respirar bem fundo para a garota de cabelos roxos disparar a falar, o que parecia ser um sermão ou coisa do tipo. Eu olhava para ela, totalmente abestalhado. Foi quando ela resolveu tomar fôlego para falar que eu a interrompi.
__ Eu não falo a sua língua!!! – gritei, certo de que ela, mesmo não entendendo exatamente o que eu disse, não continuaria falando como louca.
Novamente, doce ilusão.
__ Mas eu falo a sua!!! Você enlouqueceu, cara??? Aparatar no meio da cidade??? Perdeu a noção da realidade??? Do perigo??? Com tanto espaço lá dentro você tinha que aparatar no meio da cidade???
__ DÁ PRA VOCÊ ME ESCUTAR???? – berrei, antes que eu enlouquecesse. Ela parou de falar e fez pose de quem esperava um discurso cansativo pela frente, coisa que me irritou muito.
__ Pois vá em frente, quatro-olhos... Sou toda ouvidos.
Engoli uma ofensa para mais tarde.
__ Que lugar é esse? E por que diabos aquelas pessoas correram atrás da gente???
__ Você veio parar num lugar que parou no tempo em relação aos bruxos, garoto. Você está na cidade de Encanto das Folhas.
__ Tá, mas você não me explicou o porquê da fúria daquelas pessoas lá fora!!
__ Imagine-se no auge da inquisição. Quando bruxos, bruxas e alguns inocentes foram levados à fogueira, em praça pública. Bom, foi aí que a mentalidade daquele pessoal parou. Eles abominam magia e bruxos. Nós não podemos andar por aí, muito menos aparatar.
__ Eu não tinha como saber disso, tá legal??
__ Em nome da deusa, como foi que você apareceu aqui, garoto? Aliás, quem é você??
Dei um suspiro de alívio. Se ela soubesse quem era Harry Potter, ela teria reconhecido a minha cicatriz, no entanto foi indiferente.
__ Meu nome é Harry Potter. E eu fugi da Inglaterra para cá.
__ Aparatando. Que idéia mais brilhante!!
__ Eu tinha certa urgência, não podia me dar ao luxo de pegar um avião!
__ Tá, tá... Ainda bem que eu estava por perto. Vamos lá pra dentro.
__ Espera aí! Você mora nesse palácio??
__ Não. Eu estudo aqui.
__ Essa é a escola de magia e bruxaria do Brasil?
__ Você acha que um país do tamanho do Brasil vai ter apenas uma escola de para bruxos? Essa é a Dínamo, escola preparatória de bruxos e bruxas do Sudeste Brasileiro. Ainda existem outras quatro escolas. A melhor é a Hécate, escola preparatória do Sul Brasileiro.
__ Ah... – fui extremamente lacônico nessa hora. Não sabia o que responder. Mas, pelo visto, ela gostava muito de falar e nem percebeu isso.
__ Precisava ver a cara de meus pais quando eu recebi a carta de admissão. Eles disseram que se eu fosse para lá, não precisava voltar para casa nunca mais. Tenho morado aqui na escola desde então. Você disse que é da Inglaterra, certo?
__ Hã... Certo!
__ Hogwarts. Meu sonho de consumo era estudar lá. Ao menos um ano.
__ Hunf... Você sonha bem baixo, não é mesmo?
__ Por que fugiu de lá?
__ Para não morrer. Já ouviu falar de Lorde Voldemort? – falei, esperando que ela me xingasse, para que eu não mais repetisse o nome dele. Percebi que não sabia nada sobre o Brasil.
__ Já. Não há um ser bruxo, vivo ou morto, que não tenha ouvido falar dele. Dizem que morreu no ano passado.
__ Eu o matei.
__ Aaahh... E veio para cá pra não enfrentar a fúria dos seguidores dele os... Cavadores da Morte.
__ Comensais.
__ Isso.
__ É, basicamente isso. Você não é tão burra quanto aparenta.
__ Acredite, querido, ficaria surpreso com o que pode descobrir sobre mim. Vamos entrar ou você gosta tanto assim de ar fresco?
__ Vamos, vamos entrar. Por falar nisso qual o seu nome? – por falar em quê? Tem hora que eu me surpreendo com o quão idiota consegui ser no Brasil.
__ Helena Tavares.
Segui Helena para dentro do casarão e topei com vários alunos, alguns da minha idade, outros mais novos, mas mesmo assim com uma coisa em comum. Nenhum usava uniforme. Cada um ao seu estilo. Ela me apresentou para alguns amigos seus e me levou para a sala da direção, que em nada me lembrava a sala de Dumbledore.
Eu me senti preso nos anos sessenta, com aqueles negócios de paz e amor, flores, cores, almofadões no lugar de cadeiras, um cheiro de incenso que, se não estivesse tão iluminado e relativamente arejado, eu teria certeza de estar na minha antiga sala de adivinhação.
Helena entrou comigo, talvez para fazer a tradução do que eu fosse falar.
Uma voz falou alguma coisa e eu esperei para ver o que Helena falaria. Ela não falou nada. A voz tornou a falar e eu comecei a me sentir desconfortável. O cheiro de incenso estava me entorpecendo.
__ Não se preocupe, a sensação de estar dopado é passageira. – Helena falou ao meu ouvido.
Foi nessa hora que eu vi que existia uma figura mais estranha do que um cruzamento de Rita Skeeter com Sibila Trelawney.
Nunca vi uma profusão de cores tão berrante na minha vida. E aquele sorriso persistente me lembrou, com profundo desgosto, Dolores Umbridge. Tive o impulso de vomitar, mas me contive a tempo.
__ Você deve ser Harry Potter. – a voz dela parecia surreal, talvez por causa do efeito do incenso. Nunca senti tanta falta de Hermione na minha vida, ela saberia o que era aquele cheiro na primeira vez que o sentisse.
__ Você... – minha voz estava pastosa e eu comecei a ver tudo rodar. Seria aquilo tudo uma cilada? – Você fala a minha língua?
__ Falo, querido. Dumbledore avisou a todas as escolas que ficassem alertas para o seu surgimento nos arredores, por isso mandei Lena vigiar. Obrigada, Lena. Mande cartas para Hécate, Colosso, Spartacos e Odisséia. Diga que ele está aqui e que nós cuidaremos bem dele.
Helena não esperou que a mulher repetisse e saiu. Minha cabeça começou a rodar tão rapidamente que se eu não me sentasse imediatamente, eu desmaiaria. Me joguei sobre um almofadão e olhei para o teto, rezando para que o mundo parasse de girar.
__ Quem é você? – eu finalmente fui capaz de dizer algo que parecesse coerente, já que os pensamentos que estava vagando por minha cabeça confundiriam tanto a mim como à mulher.
__ Meu nome é Carolina Arantes. Sou a vice-diretora da escola preparatória de bruxos e bruxas Dínamo. O diretor não está aqui hoje, mas você vai adorá- lo, eu lhe asseguro.
__ Que diabo de cheiro é esse?
__ É uma mistura de ervas tranqüilizantes. Você deixou a Inglaterra sob intensa pressão e eu imaginei que precisasse relaxar.
Relaxar? Eu não estava relaxado eu estava totalmente anestesiado! Alguém poderia sapatear em minha coluna e eu teria a sensação quase nula de uma massagem!
__ Bom, você vai ter que se adaptar por aqui. Em primeiro lugar, sob nenhuma circunstância você deve cruzar as grades que protegem este casarão. Não há magia que nos proteja daqueles malucos lá fora. Em segundo lugar, você terá aulas de português com Helena. Em terceiro lugar, não pense que a igreja do outro lado da rua é segura. Pelo contrário, é o local mais perigoso daqui, pelo menos para nós, bruxos.
Por incrível que isso possa parecer, mesmo no meu avançado estado de torpor, eu estava entendendo tudo o que ela dizia. Meneei a cabeça, concordando.
__ E finalmente, nunca, jamais, em tempo algum, se relacione com os jovens da escola que fica aos fundos daqui. É pior do que colocar camisa do Fluminense no meio da torcida do Vasco.
Fingindo que entendi ao que ela se referira com aquela colocação, tornei a concordar com ela e joguei a cabeça para trás, me sentindo confortavelmente entorpecido. Em segundos, o mundo à minha volta desapareceu e eu mergulhei em um sono profundo.
Acordei pronto para falar com Rony do sonho mais surreal que alguém poderia ter, quando senti alguma coisa pesada cair em cima de mim. Helena tinha se jogado em minha cama.
__ Bom dia, quatro-olhos! – eu estava tão confuso, pensando que ainda estava sonhando, que não resmunguei. Ela não pareceu perceber isso. – Levanta que o café tá na mesa. – ela tornou a me surpreender, me dando um beijo. Na boca. – Vamos, levanta! Dumbledore mandou suas coisas pra cá. – despertei completamente ao vê-la mexendo em meu malão. – Credo, você tem um mau gosto do cacete, heim?
__ Pára de mexer nas minhas coisas, Helena!!! – eu pretendia continuar brigando, mas fui brutalmente interrompido por bicadas em minha cabeça.
__ Ah, ela tá bem nervosa. Acho que não gostou do clima daqui.
__ Edwiges! Pára com isso!! Pára, criatura!!! – mas ela não parou até que se sentiu satisfeita. Depois pousou em meu ombro para que eu percebesse que estava sem camisa. Mas a essa altura já não fazia muita diferença.
__ Tem algumas cartas para você. Hogwarts, Hagrid, Hermione... Nossa, vocês gostam da letra H por lá, heim? Ronald... – ela se deteve na última carta, depois de ter atirado as outras, uma a uma, na minha cara. – Remo J Lupin.
__ Meu antigo professor de DCAT.
__ De quê?
__ Defesa Contra as Artes das Trevas. Não tem essa matéria aqui não?
__ Se surpreenderia demais se eu dissesse que não?
__ Cansei de me surpreender.
__ Nós temos TCAT. Truques Contra Ataques dos Trouxas. As artes das trevas não têm muito ibope por aqui.
__ Que é que tem o professor Lupin de diferente dos outros? – perguntei, antes que eu descobrisse mais coisas. Ainda estava muito confuso para mais informação.
__ Nada... – eu pude ver pelo tom de voz dela que ela mentiu descaradamente para mim.
__ Certo, não me conte nada. Um dia eu vou acabar descobrindo mesmo...
__ Duvido! Vai levanta! – ela começou a me puxar para fora da cama e eu me detive, com medo de não estar vestindo nada.
__ Vai na frente que eu vou trocar de roupa.
__ Eu não permito que você apareça com algum daqueles atentados ao bom gosto. Levanta, anda! Todo mundo tá de pijama lá embaixo!
Depois de ter certeza de que não estava pelado embaixo da coberta, me levantei e segui Helena, que visivelmente não me deixaria ficar lá.
Quando alcançamos o que seria equivalente ao Salão Principal de Hogwarts, não havia quatro mesas. Havia cinco.
__ Existe uma seleção por aqui? – perguntei, olhando as pessoas que não pareciam ter notado que eu estava sem camisa. Logo fui descobrir que eles não estavam era se importando com isso. Fui perceber isso quando notei que tinha um rapaz usando apenas sua roupa de baixo.
__ Tem sim. Funciona da seguinte maneira. Os alunos que aqui chegam recebem um bracelete, como esse aqui. – ela ergueu a manga da blusa e mostrou um bracelete prateado com uma espécie de raposa desenhada. – Quando a gente chega, o bracelete está liso. Mas no exato momento em que a pessoa coloca o bracelete, ele ganha um desenho. Pode ser um Lobo-guará, como o meu, ou uma Arara Azul, ou um Mico Leão Dourado, ou um Tucano, ou um Jacaré do Papo Amarelo. Todas as escolas do Brasil têm o mesmo sistema de seleção e os mesmos animais. É uma espécie de campanha de conscientização para a prevenção da extinção destes animais, sabe?
Sabe? Sabe o quê? Eu tinha parado de prestar atenção depois de Jacaré do Papo Amarelo. Respondi com um lacônico "sei". Percebi que em várias partes do dia eu deveria ser lacônico. Ela parecia sentir-se satisfeita com isso.
Ela me arrastou até a mesa dos Lobos-guarás, que ela me explicou depois, ser equivalente a Grifinória. Os Jacarés me lembraram a Sonserina, principalmente um garoto que me lembrou muito do Malfoy. Eu até pensei que fosse ele, com aquele olhar altivo de quem diz "Eu sou mais rico do que todos eles juntos".
Eu estava na Dínamo há dois meses e já estava quase fluente em português. Na seleção fui direto para os Lobos-guarás, como era de se esperar.
Mas aqueles dois meses me fizeram desejar minha vida aí de volta.
Samanta, uma amiga minha e de Helena, tinha fugido para dar uma volta à noite. Descobrimos isso tarde demais, quando vimos a fogueira armada em frente à escola e à Igreja. Alguns alunos tentaram congelar as chamas, mas não conseguiram. A cidade, com exceção da escola, parecia protegida contra qualquer tipo de magia. Eu só pude aparatar porque... Bom, taí uma pergunta que talvez jamais seja respondida.
Só sei que foi a cena mais horrível que eu já tinha visto em minha vida. Helena jurou vingança. O garoto dos Jacarés (o que parece com o Malfoy) também jurou. Tive medo por eles.
Foi só então que eu percebi qual era o perigo de se sair da escola. E eu sabia que Samanta não era a única a se arriscar pelas ruas à noite. Mas ficar dentro daquela escola durante quase uma vida, já que alguns alunos também eram proibidos de voltar para casa, era torturante e eu já começava a concordar com isso.
A escola aos fundos berrava difamações que eu não ouso descrever. Era uma escola apenas para rapazes. Depois que eu descobri o que significava os gritos deles, meu primeiro impulso foi de pular as grades que envolviam a escola e mata-los com minhas próprias mãos, e eu o teria feito, não fosse Helena me segurar. O ódio que agora percorria minhas veias...
Aqui você não era odiado por ser puro sangue ou sangue ruim. Você era odiado por ser bruxo! Então não havia essa distinção entre as casas. Sim, os Jacarés eram mais traiçoeiros, as Araras eram astutas, os Tucanos eram leais, os Micos eram inteligentes e os Lobos corajosos. Mas não havia ódio entre nenhum deles como há entre Grifinória e Sonserina, Corvinal e Lufa- Lufa.
Aqui eles têm algo maior para odiar. Trouxas. Pela primeira vez eu desejei não ter matado Voldemort. Desejei que ele estivesse vivo e matasse aqueles garotos.
Mudando um pouco o contexto, comecei a descobrir mais coisas. Helena namorava o garoto loiro dos Jacarés. O nome dele era André. Realmente ele é bem mais rico do que todos os outros alunos, mas, depois que você conversa com ele, ele deixa de se parecer muito com o Malfoy.
Descobri também que alguns alunos tinham alguns poderes diferentes. Helena, por exemplo, podia controlar o fogo com as mãos. Isso se chama controle da magia da natureza. Outras três meninas controlavam a água, o ar e a terra.
Samanta era uma delas.
Certa noite, fui acordado, lá pelas três da madrugada. Helena e André estavam me acordando com certo desespero. Outro aluno, Lucas, tinha sumido.
__ Por que nós temos que ir atrás dele??? – resmunguei, ainda sonolento.
__ Porque os professores, por incrível que pareça, não acreditam que nós somos queimados. Eles nunca vêem as fogueiras.
Fomos até os fundos. Helena pulou a grade primeiro. O controle da magia da natureza não estava incluído na proteção da cidade, então, se aparecesse alguém, ela poderia se proteger e voltar para dentro.
__ Tudo limpo, podem vir.
__ Por que estamos vindo pelos fundos? – tornei a perguntar. Não conhecia nada, precisava saber!
__ Ir pela frente é pedir para morrer. – quem respondeu foi André. – A Igreja fica de olho nos nossos movimentos.
__ E eu pensava que a minha vida era ruim...
Começou a ficar escuro demais. Mal enxergava Helena à minha frente. Mas percebi que ela começou a ficar apavorada.
__ Harry, André, corram de volta para a escola! Rápido!!!
__ Eu não vou te deixar aqui, Lena! – André rosnou, em voz baixa.
__ Eu não estou dando uma sugestão, estou dando uma ordem!! – os olhos de Helena pareceram se tornar duas pequenas bolas de fogo ao virar-se para André. Ele com certeza ainda iria retrucar, não fosse o medo que começava a sentir. Não de Helena, mas do ambiente.
O medo também começou a me dominar nessa hora. Era como uma espécie de mau pressentimento e Helena sentiu primeiro. As coisas não iriam ficar boas a partir dali. Resolvi que não era má idéia seguir o conselho de Helena, mas demorei muito a resolver isso.
Oito rapazes, de dezessete ou dezoito anos, nos cercavam, com generosas pedras e galhos relativamente grossos e pesados. Dois deles seguravam tochas. Um deles já parecia ser velho conhecido de Helena.
__ Pensei ter dito para você que não mais aparecesse por aqui, Helena.
__ E desde quando eu te obedeço? – ela disse, calmamente, com um sorriso de deboche. André abaixou a cabeça. Parecia estar contando até um milhão.
__ Você sempre foi a burra da família. A burra, a perdida, a bruxa...
__ Eu, burra? – ela deu uma risadinha quase de verdadeiro humor. – Quem tem dezenove anos e continua no terceiro ano? Eu ou você, priminho?
Sem cerimônia alguma, ele deu um passo à frente e esbofeteou Helena. Desta vez quem começava a perder o controle era eu.
__ Não ouse encostar nela novamente, seu puto. – cuspi essas palavras. Ele olhou para mim, com o mesmo sorriso de deboche de Helena.
__ Mais um seguidor de sua seita, priminha? Sotaque diferente... De onde ele vem, Estados Unidos?
__ Desde quando isso é da sua conta? – ela continuava calma, apesar de eu perceber que seu rosto estava um pouco inchado. Meu sangue começava a ferver. – Aliás, desde quando isso é do seu interesse? Pensei que o meu povo, como você se refere à comunidade bruxa, fosse uma raça que deveria ser rapidamente exterminada!
__ Pois é, mas para exterminar vocês eu preciso saber onde é o ninho. Aí mato todos os ratos de uma só vez.
__ Carlos, você não faz a menor idéia de com quem está mexendo. – ela disse, simplesmente. – Já faz um bom tempo que nós não nos vemos.
__ E você, provavelmente, deve estar sentindo falta do trato que eu te dei. Fiquei sabendo que engravidou daquela vez. O que fez? Matou a criança? Típico de sua laia. Matar criancinhas indefesas.
__ Carlos... Você sabe o que acontece com quem brinca com fogo? – ela disse, num tom de voz baixo, quase assassino. André me deu um cutucão, e disse, bem baixo, em inglês, para eu me preparar para correr como nunca. Eu concordei, com a cabeça.
__ Não, Lena. Por que você não me diz? – ele a pegou pelo braço, tomou a tocha de um dos garotos e preparava-se para queimá-la.
__ Acaba se queimando! – o fogo da tocha voou no rosto de Carlos, que caiu no chão gritando, assustado. André gritou para mim.
__ AGORA, CORRE!!!
Não esperei outra chance. Não sei em que estava pensando naquela hora, só sei que, em questão de segundos, eu e André tínhamos alcançado as grades da escola. Já estávamos dentro da escola, quando percebemos que Helena não estava com a gente.
__ Droga, ela ficou lá!! – gritei, desesperado, pronto para pular de volta a grade.
__ Não, Harry!!! – André me segurou. Tentei me soltar dele, em um desespero quase sobre-humano. – Não!!! Ela fez isso pra salvar a gente!! Carlos não vai matá-la, ele não pode!!!
__ A sua namorada está lá fora!!! A minha melhor amiga está lá fora!!! Eu não vou deixar que nada...
__ HARRY, VOCÊ NÃO PODE SALVAR O MUNDO!!! – ele gritou. – ACEITE SER SALVO!!!
__ NÃO!!! EU NÃO VOU ACEITAR SER SALVO PORQUE DA ÚLTIMA VEZ QUE EU FIZ ISSO, A COISA MAIS PRÓXIMA QUE EU JÁ TIVE DE UM PAI MORREU!!! MEU PADRINHO MORREU PORQUE EU ME DEIXEI SER SALVO!!!
__ SEU PADRINHO MORREU PORQUE VOLDEMORT O MATOU!!! ISSO IRIA ACONTECER COM OU SEM VOCÊ LÁ!!!
__ FODA-SE QUEM O MATOU!!! ELE MORREU E EU NÃO VOU DEIXAR QUE A HISTÓRIA SE REPITA!!! EU VOU LÁ FORA E VOU AJUDAR HELENA!!! – não processei direito o que André ou mesmo o que eu tinha dito. Pulei a grade. André veio atrás de mim. Não havia mais sinal de Helena ou dos garotos em lugar algum.
__ LENA!!!! – André gritou, sabendo que não haveria resposta.
Então eu senti uma coisa que eu pensei que jamais tornaria a sentir. Uma queimação na minha cicatriz. Massageei, pensando que era apenas algum reflexo passageiro. Afinal de contas, Voldemort estava morto. Eu o matei e fiz questão de deixar isso bem claro!
Foi quando eu quis morrer. Senti tanta dor em minha cicatriz que até enxergar era difícil. Comecei a delirar, a dizer coisas sem sentido... Ouvi uma voz em minha cabeça. Uma voz que desejaria não ter reconhecido.
__ E agora, Potter? Arrependeu-se de ter me matado?
__ Merda! O que você está fazendo dentro da minha cabeça, desgraçado?? Eu te matei!!!
__ Eu vim te ajudar, Potter.
__ E por que Voldemort me ajudaria??
__ Para que você possa me ajudar também. Afinal, o nobilíssimo Harry Potter não vai querer ficar devendo favores a ninguém, mesmo a um morto que ele mesmo matou.
__ Harry, você tá legal?? – André tinha vindo ver o que estava acontecendo comigo, já que eu estava deitado no chão, agarrando minha cicatriz com força e falando, aparentemente, sozinho.
__ DROGA, O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA???
__ Eu preciso que você mate um trouxa.
__ Vontade não me falta, mas como vou matar alguém se não posso fazer magia fora da escola???
__ Não vai matar ninguém com magia, Potter. Eu preciso do sangue desse trouxa.
__ O QUÊ???
__ Você quer que mais bruxos continuem morrendo? Tudo bem, eu vou embora.
__ NÃO!!! – eu não estava raciocinando direito. Minha cicatriz doía tanto e a minha raiva era tamanha que qualquer solução que aparecesse, por pior que fosse, era bem vinda.
__ Ah, então você está disposto a aceitar minha proposta. Realmente, você mudou muito, Potter. Há seis anos eu te fiz uma proposta e você a ignorou. Agora você pondera.
__ MERDA!! FALA LOGO O QUE VOCÊ QUER!!! COMO VOU MATAR UM TROUXA!!!
__ Na verdade, eu vou matar um trouxa. Só que estou morto e preciso de seu corpo.
__ POR QUE EU???
__ Porque você me matou. E é com você que eu tenho uma ligação, lembra? Eu me lembro. Eu te marquei como igual. Eu escolhi você. Lembra?
__ Lembro. Tem uma merda de uma cicatriz que não me deixa esquecer.
__ Vai me permitir usar seu corpo? Vai querer ajuda para a vingança que pretende contra aqueles trouxas?
Não respondi de imediato. Dizer sim seria jogar no lixo tudo contra o que lutei. Seria dizer adeus ao meu orgulho e ao meu amor próprio. Mas dizer não seria bem pior. Poderia significar a morte de Helena e de vários outros alunos da Dínamo.
__ Você me dá algum tempo para pensar?
__ Claro. Não irei a lugar algum mesmo...
Claro, não pensei por muito tempo. André tinha percebido que a coisa era comigo e voltara a procurar Helena. Mas encontrara algo bem pior. O corpo carbonizado de Lucas.
Voltamos para Dínamo. Procurei uma sala vazia e chamei por Voldemort com o pensamento. Devia estar ficando louco por aceitar fazer isso.
__ Só isso já foi o suficiente para você pensar, Potter? Puxa, como as coisas mudam, não é mesmo?
__ Pára de falar e faz logo o que tem que fazer, o que quer que seja...
__ Eu não vou mentir, Potter. Vai doer.
Antes de tudo acontecer, Voldemort ainda deu uma risadinha de deboche. Afinal, ele estava morto. Mortos não sentem dor.
Mil facas em brasa percorreram o meu corpo. Tive vontade de gritar, mas senti como se uma mão invisível apertasse meu pescoço. Estava difícil de respirar. Caí no chão, tendo alguns espasmos. Meu corpo arqueava e eu lutava em busca de ar.
Se a sala não fosse uma sala afastada, com certeza Dínamo em peso estaria aqui para ver o que estava acontecendo, mesmo com o relativo silêncio.
Mas apenas André apareceu na sala. Ao se deparar com aquela cena, pude ver o terror estampado em seus olhos. Ele queria gritar, mas acho que o pânico o fez cair sentado no chão.
Então aquela tortura parou. Estava estático no chão, respirando com dificuldade. Senti que André me cutucou no ombro, tentando ter certeza de que eu não tinha morrido.
Então Voldemort ainda falou.
__ Você tem um minuto, Potter. Suas últimas palavras...
Percebi que precisava explicar a alguém o que tinha acontecido, antes que fosse tarde demais. Abri os olhos e me sentei abruptamente, assustando André.
__ André, você precisa me escutar. Eu acabo de cometer o maior erro da minha vida! A partir de hoje e até algum tempo eu não vou agir como eu realmente sou, mas a raiva me fez agir assim!
__ Harry... Do que você tá falando??? O que foi que aconteceu com você???
Eu até iria responder.
__ Tempo esgotado. Diga tchau, Potter.
__ ESPERA UM POUCO, AINDA NÃO!!!
Continua...
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N.A: Esse capítulo tá enorme e esse é mais um desatino completo de minha mente. Não me matem, tá legal? ^_^0
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Meu maior erro
Meu nome é Harry Potter, tenho dezessete anos, e, no ano passado, durante meu sexto ano em Hogwarts, a escola de Magia e Bruxaria mais conceituada do mundo, eu derrotei Lorde Voldemort, o bruxo mais temido da nossa era, mas isso você já sabia, né?
Para ser cem por cento sincero, eu não gostei de ter matado aquele filho de uma puta. Aliás, eu nunca gostei de nada na minha vida. Nada realmente. Minha vida estava fadada a ser uma grande merda no momento em que eu não morri, dezesseis anos atrás.
Se você não acredita, vamos recapitular: no dia em que eu não morri, meus pais morreram. Por minha causa, diga-se de passagem. Nesse mesmo dia eu fui levado a morar com aqueles malditos trouxas. A irmã de minha mãe, o marido e o filho obeso deles. Aqueles três conseguiram transformar onze anos de minha vida em um verdadeiro inferno.
Mas quando Hagrid foi me buscar, eu achei que minha vida mudaria totalmente. Bom, até mudou, mas continuou uma merda. Ser rotulado de "O- menino-que-sobreviveu" é quase tão bom como queimar a língua.
Claro, para melhorar ainda mais a minha situação, Voldemort tenta me matar outra vez. E no segundo ano, em um surto de criatividade, ele tenta me matar outra vez.
No terceiro ano tive o dia mais feliz da minha vida junto com o pior dia da minha vida. Eu tive a chance de poder sair da casa de meus tios e morar com o meu padrinho. Mas claro que eu não poderia ser feliz. Alguém teria que estragar meu único momento de felicidade consciente em treze anos. Snape teve essa honra.
Claro que existiam os momentos em que eu esquecia de tudo isso. Jogar Quadribol era minha terapia.
Por isso tinham que me tirar isso também. Lembra do quarto ano? Bartô Crouch Jr. Colocou meu nome no Cálice de Fogo e eu tive que atuar no torneio Tribruxo, só para descobrir no final que era uma cilada de Voldemort, para ressurgir e me matar (sinceramente, Voldemort sofre de falta de criatividade).
Só pra melhorar um pouco o meu humor, no ano seguinte Voldemort me tira a coisa mais próxima que eu já tive de um pai. Sirius morreu no Departamento de Mistérios do Ministério da Magia.
Sexto ano eu realmente pude me vingar. Deixei de ser o menininho tonto, ingênuo e indefeso que todos pensavam que eu era. Não esperei o final do ano para Voldemort me atacar com um de seus planos clichês. Como ninguém esperava tal atitude vinda de mim, eu fui atrás dele. E o matei. E matei Lúcio Malfoy (nada pessoal, mas ele pediu por isso). E, com mais prazer ainda, matei Bellatrix Lestrange, que matou Sirius (essa foi totalmente pessoal).
Utilizei maldições imperdoáveis, mas como estávamos em guerra, isso foi irrelevante. Fugi para o Brasil, porque o restante dos seguidores fiéis de Voldemort queria vingança.
Eu não simplesmente peguei um avião ou uma chave de portal para o Brasil, como faria qualquer pessoa normal, com um pingo de coerência mental. Eu, num surto de insanidade, aparatei para o Brasil. Dá pra imaginar o desastre que foi a aterrissagem, né?
Parei em uma cidade pequena, onde torci para que ninguém soubesse o que é magia ou, pelo menos, jamais tivessem ouvido falar de Harry Potter, o menino que sobreviveu.
Doce ilusão.
Uma garota, deveria ter minha idade, cabelos loiros, olhos castanhos, não estava em sua melhor forma física, me viu surgir do nada e começou a apontar para mim e gritar alguma coisa que eu não entendi, mas, pela expressão de terror em sua face, coisa boa não era.
Logo uma multidão havia sido alertada de meu repentino surgimento e, diga- se de passagem, não parecia ter gostado nada daquilo.
Uma outra garota, de cabelos roxos (lembrei-me de Nymphadora quando a vi), alguns piercings no rosto, olhos extremamente negros e roupas estranhas. A blusa parecia estar do avesso e se estivesse mais rasgada, não seria blusa. Por baixo dessa blusa tinha outra blusa, colada ao corpo e delineando suas formas. Estava usando shorts jeans rasgados na altura dos joelhos, botas sem salto que iam até metade da canela e tinha as unhas da mão pintadas de roxo e preto, alternadamente.
Ela me agarrou por baixo do braço e saiu correndo comigo, fugindo da multidão que começava a correr atrás de nós, com pedras nas mãos, cena que jamais pensei presenciar, muito menos participar.
A garota ainda disse alguma coisa em meu ouvido, mas eu não entendi nada, como você pode imaginar.
Depois de correr bastante, nós entramos nos jardins de um enorme casarão, que, se não fosse o perfeito estado daqueles jardins, tão bonitos e bem cuidados, qualquer um diria que estava abandonado.
Assim que entramos, as pessoas pararam de correr e o portão se fechou sozinho atrás de nós. Amedrontadas, as pessoas começaram a recuar vagarosamente. A garota berrou alguma coisa e todos saíram correndo. Um garoto ainda atirou uma pedra contra nós, mas a pedra foi repelida por uma espécie de escudo.
Foi a conta de eu respirar bem fundo para a garota de cabelos roxos disparar a falar, o que parecia ser um sermão ou coisa do tipo. Eu olhava para ela, totalmente abestalhado. Foi quando ela resolveu tomar fôlego para falar que eu a interrompi.
__ Eu não falo a sua língua!!! – gritei, certo de que ela, mesmo não entendendo exatamente o que eu disse, não continuaria falando como louca.
Novamente, doce ilusão.
__ Mas eu falo a sua!!! Você enlouqueceu, cara??? Aparatar no meio da cidade??? Perdeu a noção da realidade??? Do perigo??? Com tanto espaço lá dentro você tinha que aparatar no meio da cidade???
__ DÁ PRA VOCÊ ME ESCUTAR???? – berrei, antes que eu enlouquecesse. Ela parou de falar e fez pose de quem esperava um discurso cansativo pela frente, coisa que me irritou muito.
__ Pois vá em frente, quatro-olhos... Sou toda ouvidos.
Engoli uma ofensa para mais tarde.
__ Que lugar é esse? E por que diabos aquelas pessoas correram atrás da gente???
__ Você veio parar num lugar que parou no tempo em relação aos bruxos, garoto. Você está na cidade de Encanto das Folhas.
__ Tá, mas você não me explicou o porquê da fúria daquelas pessoas lá fora!!
__ Imagine-se no auge da inquisição. Quando bruxos, bruxas e alguns inocentes foram levados à fogueira, em praça pública. Bom, foi aí que a mentalidade daquele pessoal parou. Eles abominam magia e bruxos. Nós não podemos andar por aí, muito menos aparatar.
__ Eu não tinha como saber disso, tá legal??
__ Em nome da deusa, como foi que você apareceu aqui, garoto? Aliás, quem é você??
Dei um suspiro de alívio. Se ela soubesse quem era Harry Potter, ela teria reconhecido a minha cicatriz, no entanto foi indiferente.
__ Meu nome é Harry Potter. E eu fugi da Inglaterra para cá.
__ Aparatando. Que idéia mais brilhante!!
__ Eu tinha certa urgência, não podia me dar ao luxo de pegar um avião!
__ Tá, tá... Ainda bem que eu estava por perto. Vamos lá pra dentro.
__ Espera aí! Você mora nesse palácio??
__ Não. Eu estudo aqui.
__ Essa é a escola de magia e bruxaria do Brasil?
__ Você acha que um país do tamanho do Brasil vai ter apenas uma escola de para bruxos? Essa é a Dínamo, escola preparatória de bruxos e bruxas do Sudeste Brasileiro. Ainda existem outras quatro escolas. A melhor é a Hécate, escola preparatória do Sul Brasileiro.
__ Ah... – fui extremamente lacônico nessa hora. Não sabia o que responder. Mas, pelo visto, ela gostava muito de falar e nem percebeu isso.
__ Precisava ver a cara de meus pais quando eu recebi a carta de admissão. Eles disseram que se eu fosse para lá, não precisava voltar para casa nunca mais. Tenho morado aqui na escola desde então. Você disse que é da Inglaterra, certo?
__ Hã... Certo!
__ Hogwarts. Meu sonho de consumo era estudar lá. Ao menos um ano.
__ Hunf... Você sonha bem baixo, não é mesmo?
__ Por que fugiu de lá?
__ Para não morrer. Já ouviu falar de Lorde Voldemort? – falei, esperando que ela me xingasse, para que eu não mais repetisse o nome dele. Percebi que não sabia nada sobre o Brasil.
__ Já. Não há um ser bruxo, vivo ou morto, que não tenha ouvido falar dele. Dizem que morreu no ano passado.
__ Eu o matei.
__ Aaahh... E veio para cá pra não enfrentar a fúria dos seguidores dele os... Cavadores da Morte.
__ Comensais.
__ Isso.
__ É, basicamente isso. Você não é tão burra quanto aparenta.
__ Acredite, querido, ficaria surpreso com o que pode descobrir sobre mim. Vamos entrar ou você gosta tanto assim de ar fresco?
__ Vamos, vamos entrar. Por falar nisso qual o seu nome? – por falar em quê? Tem hora que eu me surpreendo com o quão idiota consegui ser no Brasil.
__ Helena Tavares.
Segui Helena para dentro do casarão e topei com vários alunos, alguns da minha idade, outros mais novos, mas mesmo assim com uma coisa em comum. Nenhum usava uniforme. Cada um ao seu estilo. Ela me apresentou para alguns amigos seus e me levou para a sala da direção, que em nada me lembrava a sala de Dumbledore.
Eu me senti preso nos anos sessenta, com aqueles negócios de paz e amor, flores, cores, almofadões no lugar de cadeiras, um cheiro de incenso que, se não estivesse tão iluminado e relativamente arejado, eu teria certeza de estar na minha antiga sala de adivinhação.
Helena entrou comigo, talvez para fazer a tradução do que eu fosse falar.
Uma voz falou alguma coisa e eu esperei para ver o que Helena falaria. Ela não falou nada. A voz tornou a falar e eu comecei a me sentir desconfortável. O cheiro de incenso estava me entorpecendo.
__ Não se preocupe, a sensação de estar dopado é passageira. – Helena falou ao meu ouvido.
Foi nessa hora que eu vi que existia uma figura mais estranha do que um cruzamento de Rita Skeeter com Sibila Trelawney.
Nunca vi uma profusão de cores tão berrante na minha vida. E aquele sorriso persistente me lembrou, com profundo desgosto, Dolores Umbridge. Tive o impulso de vomitar, mas me contive a tempo.
__ Você deve ser Harry Potter. – a voz dela parecia surreal, talvez por causa do efeito do incenso. Nunca senti tanta falta de Hermione na minha vida, ela saberia o que era aquele cheiro na primeira vez que o sentisse.
__ Você... – minha voz estava pastosa e eu comecei a ver tudo rodar. Seria aquilo tudo uma cilada? – Você fala a minha língua?
__ Falo, querido. Dumbledore avisou a todas as escolas que ficassem alertas para o seu surgimento nos arredores, por isso mandei Lena vigiar. Obrigada, Lena. Mande cartas para Hécate, Colosso, Spartacos e Odisséia. Diga que ele está aqui e que nós cuidaremos bem dele.
Helena não esperou que a mulher repetisse e saiu. Minha cabeça começou a rodar tão rapidamente que se eu não me sentasse imediatamente, eu desmaiaria. Me joguei sobre um almofadão e olhei para o teto, rezando para que o mundo parasse de girar.
__ Quem é você? – eu finalmente fui capaz de dizer algo que parecesse coerente, já que os pensamentos que estava vagando por minha cabeça confundiriam tanto a mim como à mulher.
__ Meu nome é Carolina Arantes. Sou a vice-diretora da escola preparatória de bruxos e bruxas Dínamo. O diretor não está aqui hoje, mas você vai adorá- lo, eu lhe asseguro.
__ Que diabo de cheiro é esse?
__ É uma mistura de ervas tranqüilizantes. Você deixou a Inglaterra sob intensa pressão e eu imaginei que precisasse relaxar.
Relaxar? Eu não estava relaxado eu estava totalmente anestesiado! Alguém poderia sapatear em minha coluna e eu teria a sensação quase nula de uma massagem!
__ Bom, você vai ter que se adaptar por aqui. Em primeiro lugar, sob nenhuma circunstância você deve cruzar as grades que protegem este casarão. Não há magia que nos proteja daqueles malucos lá fora. Em segundo lugar, você terá aulas de português com Helena. Em terceiro lugar, não pense que a igreja do outro lado da rua é segura. Pelo contrário, é o local mais perigoso daqui, pelo menos para nós, bruxos.
Por incrível que isso possa parecer, mesmo no meu avançado estado de torpor, eu estava entendendo tudo o que ela dizia. Meneei a cabeça, concordando.
__ E finalmente, nunca, jamais, em tempo algum, se relacione com os jovens da escola que fica aos fundos daqui. É pior do que colocar camisa do Fluminense no meio da torcida do Vasco.
Fingindo que entendi ao que ela se referira com aquela colocação, tornei a concordar com ela e joguei a cabeça para trás, me sentindo confortavelmente entorpecido. Em segundos, o mundo à minha volta desapareceu e eu mergulhei em um sono profundo.
Acordei pronto para falar com Rony do sonho mais surreal que alguém poderia ter, quando senti alguma coisa pesada cair em cima de mim. Helena tinha se jogado em minha cama.
__ Bom dia, quatro-olhos! – eu estava tão confuso, pensando que ainda estava sonhando, que não resmunguei. Ela não pareceu perceber isso. – Levanta que o café tá na mesa. – ela tornou a me surpreender, me dando um beijo. Na boca. – Vamos, levanta! Dumbledore mandou suas coisas pra cá. – despertei completamente ao vê-la mexendo em meu malão. – Credo, você tem um mau gosto do cacete, heim?
__ Pára de mexer nas minhas coisas, Helena!!! – eu pretendia continuar brigando, mas fui brutalmente interrompido por bicadas em minha cabeça.
__ Ah, ela tá bem nervosa. Acho que não gostou do clima daqui.
__ Edwiges! Pára com isso!! Pára, criatura!!! – mas ela não parou até que se sentiu satisfeita. Depois pousou em meu ombro para que eu percebesse que estava sem camisa. Mas a essa altura já não fazia muita diferença.
__ Tem algumas cartas para você. Hogwarts, Hagrid, Hermione... Nossa, vocês gostam da letra H por lá, heim? Ronald... – ela se deteve na última carta, depois de ter atirado as outras, uma a uma, na minha cara. – Remo J Lupin.
__ Meu antigo professor de DCAT.
__ De quê?
__ Defesa Contra as Artes das Trevas. Não tem essa matéria aqui não?
__ Se surpreenderia demais se eu dissesse que não?
__ Cansei de me surpreender.
__ Nós temos TCAT. Truques Contra Ataques dos Trouxas. As artes das trevas não têm muito ibope por aqui.
__ Que é que tem o professor Lupin de diferente dos outros? – perguntei, antes que eu descobrisse mais coisas. Ainda estava muito confuso para mais informação.
__ Nada... – eu pude ver pelo tom de voz dela que ela mentiu descaradamente para mim.
__ Certo, não me conte nada. Um dia eu vou acabar descobrindo mesmo...
__ Duvido! Vai levanta! – ela começou a me puxar para fora da cama e eu me detive, com medo de não estar vestindo nada.
__ Vai na frente que eu vou trocar de roupa.
__ Eu não permito que você apareça com algum daqueles atentados ao bom gosto. Levanta, anda! Todo mundo tá de pijama lá embaixo!
Depois de ter certeza de que não estava pelado embaixo da coberta, me levantei e segui Helena, que visivelmente não me deixaria ficar lá.
Quando alcançamos o que seria equivalente ao Salão Principal de Hogwarts, não havia quatro mesas. Havia cinco.
__ Existe uma seleção por aqui? – perguntei, olhando as pessoas que não pareciam ter notado que eu estava sem camisa. Logo fui descobrir que eles não estavam era se importando com isso. Fui perceber isso quando notei que tinha um rapaz usando apenas sua roupa de baixo.
__ Tem sim. Funciona da seguinte maneira. Os alunos que aqui chegam recebem um bracelete, como esse aqui. – ela ergueu a manga da blusa e mostrou um bracelete prateado com uma espécie de raposa desenhada. – Quando a gente chega, o bracelete está liso. Mas no exato momento em que a pessoa coloca o bracelete, ele ganha um desenho. Pode ser um Lobo-guará, como o meu, ou uma Arara Azul, ou um Mico Leão Dourado, ou um Tucano, ou um Jacaré do Papo Amarelo. Todas as escolas do Brasil têm o mesmo sistema de seleção e os mesmos animais. É uma espécie de campanha de conscientização para a prevenção da extinção destes animais, sabe?
Sabe? Sabe o quê? Eu tinha parado de prestar atenção depois de Jacaré do Papo Amarelo. Respondi com um lacônico "sei". Percebi que em várias partes do dia eu deveria ser lacônico. Ela parecia sentir-se satisfeita com isso.
Ela me arrastou até a mesa dos Lobos-guarás, que ela me explicou depois, ser equivalente a Grifinória. Os Jacarés me lembraram a Sonserina, principalmente um garoto que me lembrou muito do Malfoy. Eu até pensei que fosse ele, com aquele olhar altivo de quem diz "Eu sou mais rico do que todos eles juntos".
Eu estava na Dínamo há dois meses e já estava quase fluente em português. Na seleção fui direto para os Lobos-guarás, como era de se esperar.
Mas aqueles dois meses me fizeram desejar minha vida aí de volta.
Samanta, uma amiga minha e de Helena, tinha fugido para dar uma volta à noite. Descobrimos isso tarde demais, quando vimos a fogueira armada em frente à escola e à Igreja. Alguns alunos tentaram congelar as chamas, mas não conseguiram. A cidade, com exceção da escola, parecia protegida contra qualquer tipo de magia. Eu só pude aparatar porque... Bom, taí uma pergunta que talvez jamais seja respondida.
Só sei que foi a cena mais horrível que eu já tinha visto em minha vida. Helena jurou vingança. O garoto dos Jacarés (o que parece com o Malfoy) também jurou. Tive medo por eles.
Foi só então que eu percebi qual era o perigo de se sair da escola. E eu sabia que Samanta não era a única a se arriscar pelas ruas à noite. Mas ficar dentro daquela escola durante quase uma vida, já que alguns alunos também eram proibidos de voltar para casa, era torturante e eu já começava a concordar com isso.
A escola aos fundos berrava difamações que eu não ouso descrever. Era uma escola apenas para rapazes. Depois que eu descobri o que significava os gritos deles, meu primeiro impulso foi de pular as grades que envolviam a escola e mata-los com minhas próprias mãos, e eu o teria feito, não fosse Helena me segurar. O ódio que agora percorria minhas veias...
Aqui você não era odiado por ser puro sangue ou sangue ruim. Você era odiado por ser bruxo! Então não havia essa distinção entre as casas. Sim, os Jacarés eram mais traiçoeiros, as Araras eram astutas, os Tucanos eram leais, os Micos eram inteligentes e os Lobos corajosos. Mas não havia ódio entre nenhum deles como há entre Grifinória e Sonserina, Corvinal e Lufa- Lufa.
Aqui eles têm algo maior para odiar. Trouxas. Pela primeira vez eu desejei não ter matado Voldemort. Desejei que ele estivesse vivo e matasse aqueles garotos.
Mudando um pouco o contexto, comecei a descobrir mais coisas. Helena namorava o garoto loiro dos Jacarés. O nome dele era André. Realmente ele é bem mais rico do que todos os outros alunos, mas, depois que você conversa com ele, ele deixa de se parecer muito com o Malfoy.
Descobri também que alguns alunos tinham alguns poderes diferentes. Helena, por exemplo, podia controlar o fogo com as mãos. Isso se chama controle da magia da natureza. Outras três meninas controlavam a água, o ar e a terra.
Samanta era uma delas.
Certa noite, fui acordado, lá pelas três da madrugada. Helena e André estavam me acordando com certo desespero. Outro aluno, Lucas, tinha sumido.
__ Por que nós temos que ir atrás dele??? – resmunguei, ainda sonolento.
__ Porque os professores, por incrível que pareça, não acreditam que nós somos queimados. Eles nunca vêem as fogueiras.
Fomos até os fundos. Helena pulou a grade primeiro. O controle da magia da natureza não estava incluído na proteção da cidade, então, se aparecesse alguém, ela poderia se proteger e voltar para dentro.
__ Tudo limpo, podem vir.
__ Por que estamos vindo pelos fundos? – tornei a perguntar. Não conhecia nada, precisava saber!
__ Ir pela frente é pedir para morrer. – quem respondeu foi André. – A Igreja fica de olho nos nossos movimentos.
__ E eu pensava que a minha vida era ruim...
Começou a ficar escuro demais. Mal enxergava Helena à minha frente. Mas percebi que ela começou a ficar apavorada.
__ Harry, André, corram de volta para a escola! Rápido!!!
__ Eu não vou te deixar aqui, Lena! – André rosnou, em voz baixa.
__ Eu não estou dando uma sugestão, estou dando uma ordem!! – os olhos de Helena pareceram se tornar duas pequenas bolas de fogo ao virar-se para André. Ele com certeza ainda iria retrucar, não fosse o medo que começava a sentir. Não de Helena, mas do ambiente.
O medo também começou a me dominar nessa hora. Era como uma espécie de mau pressentimento e Helena sentiu primeiro. As coisas não iriam ficar boas a partir dali. Resolvi que não era má idéia seguir o conselho de Helena, mas demorei muito a resolver isso.
Oito rapazes, de dezessete ou dezoito anos, nos cercavam, com generosas pedras e galhos relativamente grossos e pesados. Dois deles seguravam tochas. Um deles já parecia ser velho conhecido de Helena.
__ Pensei ter dito para você que não mais aparecesse por aqui, Helena.
__ E desde quando eu te obedeço? – ela disse, calmamente, com um sorriso de deboche. André abaixou a cabeça. Parecia estar contando até um milhão.
__ Você sempre foi a burra da família. A burra, a perdida, a bruxa...
__ Eu, burra? – ela deu uma risadinha quase de verdadeiro humor. – Quem tem dezenove anos e continua no terceiro ano? Eu ou você, priminho?
Sem cerimônia alguma, ele deu um passo à frente e esbofeteou Helena. Desta vez quem começava a perder o controle era eu.
__ Não ouse encostar nela novamente, seu puto. – cuspi essas palavras. Ele olhou para mim, com o mesmo sorriso de deboche de Helena.
__ Mais um seguidor de sua seita, priminha? Sotaque diferente... De onde ele vem, Estados Unidos?
__ Desde quando isso é da sua conta? – ela continuava calma, apesar de eu perceber que seu rosto estava um pouco inchado. Meu sangue começava a ferver. – Aliás, desde quando isso é do seu interesse? Pensei que o meu povo, como você se refere à comunidade bruxa, fosse uma raça que deveria ser rapidamente exterminada!
__ Pois é, mas para exterminar vocês eu preciso saber onde é o ninho. Aí mato todos os ratos de uma só vez.
__ Carlos, você não faz a menor idéia de com quem está mexendo. – ela disse, simplesmente. – Já faz um bom tempo que nós não nos vemos.
__ E você, provavelmente, deve estar sentindo falta do trato que eu te dei. Fiquei sabendo que engravidou daquela vez. O que fez? Matou a criança? Típico de sua laia. Matar criancinhas indefesas.
__ Carlos... Você sabe o que acontece com quem brinca com fogo? – ela disse, num tom de voz baixo, quase assassino. André me deu um cutucão, e disse, bem baixo, em inglês, para eu me preparar para correr como nunca. Eu concordei, com a cabeça.
__ Não, Lena. Por que você não me diz? – ele a pegou pelo braço, tomou a tocha de um dos garotos e preparava-se para queimá-la.
__ Acaba se queimando! – o fogo da tocha voou no rosto de Carlos, que caiu no chão gritando, assustado. André gritou para mim.
__ AGORA, CORRE!!!
Não esperei outra chance. Não sei em que estava pensando naquela hora, só sei que, em questão de segundos, eu e André tínhamos alcançado as grades da escola. Já estávamos dentro da escola, quando percebemos que Helena não estava com a gente.
__ Droga, ela ficou lá!! – gritei, desesperado, pronto para pular de volta a grade.
__ Não, Harry!!! – André me segurou. Tentei me soltar dele, em um desespero quase sobre-humano. – Não!!! Ela fez isso pra salvar a gente!! Carlos não vai matá-la, ele não pode!!!
__ A sua namorada está lá fora!!! A minha melhor amiga está lá fora!!! Eu não vou deixar que nada...
__ HARRY, VOCÊ NÃO PODE SALVAR O MUNDO!!! – ele gritou. – ACEITE SER SALVO!!!
__ NÃO!!! EU NÃO VOU ACEITAR SER SALVO PORQUE DA ÚLTIMA VEZ QUE EU FIZ ISSO, A COISA MAIS PRÓXIMA QUE EU JÁ TIVE DE UM PAI MORREU!!! MEU PADRINHO MORREU PORQUE EU ME DEIXEI SER SALVO!!!
__ SEU PADRINHO MORREU PORQUE VOLDEMORT O MATOU!!! ISSO IRIA ACONTECER COM OU SEM VOCÊ LÁ!!!
__ FODA-SE QUEM O MATOU!!! ELE MORREU E EU NÃO VOU DEIXAR QUE A HISTÓRIA SE REPITA!!! EU VOU LÁ FORA E VOU AJUDAR HELENA!!! – não processei direito o que André ou mesmo o que eu tinha dito. Pulei a grade. André veio atrás de mim. Não havia mais sinal de Helena ou dos garotos em lugar algum.
__ LENA!!!! – André gritou, sabendo que não haveria resposta.
Então eu senti uma coisa que eu pensei que jamais tornaria a sentir. Uma queimação na minha cicatriz. Massageei, pensando que era apenas algum reflexo passageiro. Afinal de contas, Voldemort estava morto. Eu o matei e fiz questão de deixar isso bem claro!
Foi quando eu quis morrer. Senti tanta dor em minha cicatriz que até enxergar era difícil. Comecei a delirar, a dizer coisas sem sentido... Ouvi uma voz em minha cabeça. Uma voz que desejaria não ter reconhecido.
__ E agora, Potter? Arrependeu-se de ter me matado?
__ Merda! O que você está fazendo dentro da minha cabeça, desgraçado?? Eu te matei!!!
__ Eu vim te ajudar, Potter.
__ E por que Voldemort me ajudaria??
__ Para que você possa me ajudar também. Afinal, o nobilíssimo Harry Potter não vai querer ficar devendo favores a ninguém, mesmo a um morto que ele mesmo matou.
__ Harry, você tá legal?? – André tinha vindo ver o que estava acontecendo comigo, já que eu estava deitado no chão, agarrando minha cicatriz com força e falando, aparentemente, sozinho.
__ DROGA, O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA???
__ Eu preciso que você mate um trouxa.
__ Vontade não me falta, mas como vou matar alguém se não posso fazer magia fora da escola???
__ Não vai matar ninguém com magia, Potter. Eu preciso do sangue desse trouxa.
__ O QUÊ???
__ Você quer que mais bruxos continuem morrendo? Tudo bem, eu vou embora.
__ NÃO!!! – eu não estava raciocinando direito. Minha cicatriz doía tanto e a minha raiva era tamanha que qualquer solução que aparecesse, por pior que fosse, era bem vinda.
__ Ah, então você está disposto a aceitar minha proposta. Realmente, você mudou muito, Potter. Há seis anos eu te fiz uma proposta e você a ignorou. Agora você pondera.
__ MERDA!! FALA LOGO O QUE VOCÊ QUER!!! COMO VOU MATAR UM TROUXA!!!
__ Na verdade, eu vou matar um trouxa. Só que estou morto e preciso de seu corpo.
__ POR QUE EU???
__ Porque você me matou. E é com você que eu tenho uma ligação, lembra? Eu me lembro. Eu te marquei como igual. Eu escolhi você. Lembra?
__ Lembro. Tem uma merda de uma cicatriz que não me deixa esquecer.
__ Vai me permitir usar seu corpo? Vai querer ajuda para a vingança que pretende contra aqueles trouxas?
Não respondi de imediato. Dizer sim seria jogar no lixo tudo contra o que lutei. Seria dizer adeus ao meu orgulho e ao meu amor próprio. Mas dizer não seria bem pior. Poderia significar a morte de Helena e de vários outros alunos da Dínamo.
__ Você me dá algum tempo para pensar?
__ Claro. Não irei a lugar algum mesmo...
Claro, não pensei por muito tempo. André tinha percebido que a coisa era comigo e voltara a procurar Helena. Mas encontrara algo bem pior. O corpo carbonizado de Lucas.
Voltamos para Dínamo. Procurei uma sala vazia e chamei por Voldemort com o pensamento. Devia estar ficando louco por aceitar fazer isso.
__ Só isso já foi o suficiente para você pensar, Potter? Puxa, como as coisas mudam, não é mesmo?
__ Pára de falar e faz logo o que tem que fazer, o que quer que seja...
__ Eu não vou mentir, Potter. Vai doer.
Antes de tudo acontecer, Voldemort ainda deu uma risadinha de deboche. Afinal, ele estava morto. Mortos não sentem dor.
Mil facas em brasa percorreram o meu corpo. Tive vontade de gritar, mas senti como se uma mão invisível apertasse meu pescoço. Estava difícil de respirar. Caí no chão, tendo alguns espasmos. Meu corpo arqueava e eu lutava em busca de ar.
Se a sala não fosse uma sala afastada, com certeza Dínamo em peso estaria aqui para ver o que estava acontecendo, mesmo com o relativo silêncio.
Mas apenas André apareceu na sala. Ao se deparar com aquela cena, pude ver o terror estampado em seus olhos. Ele queria gritar, mas acho que o pânico o fez cair sentado no chão.
Então aquela tortura parou. Estava estático no chão, respirando com dificuldade. Senti que André me cutucou no ombro, tentando ter certeza de que eu não tinha morrido.
Então Voldemort ainda falou.
__ Você tem um minuto, Potter. Suas últimas palavras...
Percebi que precisava explicar a alguém o que tinha acontecido, antes que fosse tarde demais. Abri os olhos e me sentei abruptamente, assustando André.
__ André, você precisa me escutar. Eu acabo de cometer o maior erro da minha vida! A partir de hoje e até algum tempo eu não vou agir como eu realmente sou, mas a raiva me fez agir assim!
__ Harry... Do que você tá falando??? O que foi que aconteceu com você???
Eu até iria responder.
__ Tempo esgotado. Diga tchau, Potter.
__ ESPERA UM POUCO, AINDA NÃO!!!
Continua...
