AP"S UMA FESTA DE BACO – CAPÍTULO 08 O TESTE DE SHAKA

Shaka tentava ficar calmo. Só faltava ele agora. Os nomes eram revistos todos os dias:

_ Darshan...

_ Uma visão... porque não Ahimsa?

_ Um cavaleiro chamado não violência? Ah, se fosse menina eu poria Ananda...

_ Alegria? Eu chamaria de Anandamaya... Alegria plena... É como eu me sinto, tão perto de ver meu filho...

_ Mú, você é tão amoroso... Eu gostaria de ter mais "nirodha" – controle sobre meus medos e desejos... Buddha está fora de questão mesmo?

_ SIM! É um nome muito pesado para uma criança carregar. – Mú olhou para o rosto preocupado do seu amado – Eu estou aqui, Shakya... Quando sua hora chegar eu vou ficar perto, mesmo que eu seja pior que o Camus e desmaie...

O loiro deu uma risadinha e apertou os dedos de Áries:

_ Odeio ser tão vulnerável... Mas não consigo evitar esse círculo vicioso de pensamentos...

_ Normal... Todos os dias, a cada minuto, uma grávida está tendo a mesma ansiedade pelo mundo afora. Ainda mais que nosso bebê resolveu ficar tranqüilo e vir por último... Você vê os bebês dos outros e fica com vontade de que tudo acabe...

_ Hunf! Eu gostaria de ter planejado essa gravidez. Já pensou? Dumas e nosso bebê um dia vão disputar a armadura de CAPRIC"RNIO!! Que absurdo.

_ Porque absurdo? Você não vai querer ter uma gravidez de elefante e segurar o nosso filho até Março, para ele ser de Áries, vai?

_ Se eu pudesse... Brincadeira, deuses, pelo amor de Atena, que ninguém me ouça e queira me agraciar com mais essa benção, mas eu acho que os bebês deveriam ter nascido sob o signo de seus pais...

_ De qual lado? Afinal de Fevereiro a Dezembro, temos pais pra todos os gostos...

Shaka bufou. Levantou com cuidado e foi em direção à cozinha.

_ Quer que eu te prepare alguma coisa?

_ Hein? Não, eu só vim pra cá por hábito... Não quero nada, não...

Mú piscou, sorrindo... Ele sabia que com a ansiedade aumentando, Shaka devorava mais e mais saquinhos de batata frita. E isso o irritava, pois ele considerava uma fraqueza imperdoável. O ariano deu uma desculpa e saiu, deixando o amado à vontade pra tirar o seu vício do esconderijo...

Até que perto dos últimos dias do ano, Mú estava dormindo ao lado de Shaka,  enquanto Virgem cochilava recostado nas almofadas da cama. Ele estava tão grande que já era impossível se deitar por inteiro. De repente como uma corrente elétrica passou pelo corpo do loiro.

_ Por Vishnu! Que sensação mais estranha... Será que... – e enfiou a mão por dentro do pijama, confirmando que estava pronto para o parto. – É agora! Bom, tenho algumas horas ainda... Vou deixar tudo preparado...

Levantando bem devagar, foi arrumar uma esteira forrada com plástico e uma toalha grande, sentindo um pouco de enjôo e uma dorzinha bem embaixo. Depois passou na cozinha e colocou alguns pedaços de fio dental e uma tesoura pra ferver enquanto punha também panelas de água... Separou algumas toalhas limpas, sentindo que a pressão no baixo ventre aumentava. Continuou andando pra lá e pra cá, para facilitar a hora H, mas a dor nas costas o incomodava. Foi abrir um saquinho de batata frita temperada, mas o cheiro o enjoou além do aceitável, fazendo com que Shaka jogasse tudo pro lado, correndo pro banheiro, ajoelhar em frente ao vaso:

_ No início e no fim, volto a este lugar... –riu ele, amargo, depois de tentar vomitar o que não tinha. E de repente deu-se o sinal para a partida real no trabalho de parto. Virgem sentiu-se encharcado. – Oh, minha deusa. A tal bolsa se rompeu. Preciso enxugar esse lago, para que ninguém que entre aqui se mate escorregando nos meus próprios líquidos. – E gemendo baixinho, pegou um pano e um balde. Depois foi tomar banho e colocar roupas secas. Nem por um minuto passou pela sua mente prática e orgulhosa acordar o Mú.

Shaka continuou andando pela casa, mas agora sentindo mais e mais as contrações vindo, fazendo-o parar e se curvar de dor.

"Respire, tontão. Lembre-se de seus exercícios... Respire e concentre-se..." Mas quando as dores aumentaram, seu cosmo apavorado procurou a tranqüilidade de Áries. Mú abriu os olhos, olhou para o lado e foi procurar Shaka pela casa. Achou-o agachado, encostado numa parede, os olhos azuis arregalados e molhados, respirando ruidosamente.

_ Shakya! Porque você não me acordou? Faz tempo que começou?

_ Fa-fa-faz... – respirou fundo – Eu achei que dava pra me virar sozinho, mas é muita dor, Mú-yu. Nosso bebê parece me rasgar por dentro... Eu tentei chegar ali, na esteira, não deu...

Mú olhou, ajudou Shaka a se erguer e ir até a esteira, onde se deitou. Automaticamente, Virgem abriu as pernas. Mú pensou em se endireitar para ligar para o médico, mas Shaka agarrou seus braços:

_ Aonde você vai?

_ Ligar pro médico. Precisamos saber se tudo está normal mesmo. O que nós entendemos de parto?

_ Chame-o por telepatia. Fique aqui comigo... As contrações estão aumentando e... – segurando Áries com mais força, Shaka deu um gemido bem dolorido.

Mú odiava ver outro ser humano sofrer, o que não diria ver seu amado Shakya naquela situação. O seu apelo telepático não só chegou ao doutor Hipócrates como em todas as outras 11 casas mais o Templo da deusa. Logo todos estavam indo para a casa de Virgem, pra dar apoio, nem que fosse moral. Aldebaran trouxe dois engradados de cerveja, Saga trouxe o baralho e as fichas, Aioros e Aioria arrumaram a mesa, a hora que Shura e Máscara da Morte chegaram começaram o jogo. Camus ajudou Milo a arrumar os cestos  com os bebês em um sofá, e enquanto ele foi jogar pôquer Aquário foi jogar xadrez com Hyoga. Afrodite deixou o "moisés" de Amata junto ao dos gêmeos e entrou com Ariadne no quarto preparado por Shaka. Shun e Shiryu armaram uma partida de damas, Seiya se esparramou no outro sofá pra ler um gibi, enquanto Ikki se sentava na janela.

No quarto, Mú estava meio que perdido. Shaka já estava encharcado de suor e gemendo muito, mas nada parecia acontecer... D. Ariadne entrou, deu uma olhada, e pedindo licença ao cavaleiro de Áries, sapecou uma boa bofetada no rosto de Virgem, deixando os três embasbacados. Afrodite gemeu:

_ Mamma, porque?

_ Porque? Porque este menino está tentando somente escapar da dor. Não é mesmo, Shaka?

Virgem começou a chorar alto, confirmando. Ele estava utilizando todos os seus conhecimentos de yoga e sua concentração pra não sentir dor.

_ Tipicamente masculino. Os jovens deuses deveriam apanhar muito. Homens não foram talhados para uma coisa dessas. Bem, meu querido, você VAI TER que sentir dor, pra que isso acabe logo. Vamos fazer as coisas certas agora. Já está sem nada por baixo do sari? Então, Mú, você vai ficar na frente dele pra segurar suas pernas... quem poderia dar apoio às costas dele? Afrodite não pode porque teve bebê há poucos dias e não pode se esforçar muito...

_ Ikki – lembrou Afrodite. – Ikki poderia, se Mú e Shaka permitirem, claro...

Mú concordou com a cabeça e Peixes foi chamar Fênix, que entrou meio assustado. D. Ariadne sorriu:

_ Não tenha medo, meu jovem. É só segurar Shaka pelos ombros. Não o deixe se levantar, nem sair correndo... – ela deu uma risadinha... – Brincadeirinha, meu queridos... Vocês estão muito tensos... A coisa é mais fácil do que vocês pensam... Agora, Mú, encaixe as pernas de Shaka nos seus braços dobrados. Ele vai empurrar você, mas você não vai se mexer. E você, meu lindo, agora, me escute. Grite bastante, pra aliviar a tensão e quando a contração vier, empurre pra baixo. Dido, Shaka foi bem prevenido antes... Pegue aquela toalha ali e enxugue o rosto dele. Se ele quiser morder a toalha deixe.

Na próxima contração, todos desempenharam seu papel. Ikki deu apoio a Shaka, que empurrou Mú, gritando, D. Ariadne, já com as mãos limpas e esterilizadas esperando.

_ Agora começou pra valer!

_ Sim. Afrodite gritou pouco parece... Shaka está gritando mais...

_ Veado dum loiro. Eu apostei nele. Quem diria que o veado oficial era mais macho na hora dum parto?

_ Queria ver se fossem vocês numa hora dessas, poderosos machões... – resmungou Milo.

_ O que você ta resmungando aí, Escorpião? Você fez cesariana. O médico foi lá, te deu anestesia, cortou aquele globo terrestre que você carregava, tirou aquelas belezinhas ali e fechou. Simple that!

_ É! Mas eu senti a dor do corte por dias, ta legal? Se eu não fosse um cavaleiro de ouro, e se Aioria não me ajudasse, eu iria ficar uns quarenta dias andando curvado, sem poder tossir ou dar risada, por causa dos cortes, principalmente o interno.

_ Como você sabe de tudo isso, virou o expert em cesariana, de repente?

_ Histórias das servas, contos de terror pra apavorar mães de primeira viagem... – riu Camus. – Ainda bem que elas estão contando pra ele agora... Se ele ouvisse alguma dessas histórias antes, ele iria querer tirar os bebês por osmose.

_ Osmose?

_ Você encosta na barriga, o neném vem na sua mão.

Gargalhadas. Mas logo os gritos de Shaka aumentaram, mais desesperados.

_ Deve ser um bebê grande... – comentou Aldebaran.

_ Como será que a mulherada faz? Depois faz plástica pra voltar ao normal, num caso de parir um Aldebaran? – riu Shura.

Saga e Milo jogaram salgadinhos nele, vaiando.

_ O canal é elástico. E no caso de bebês grandes, o médico faz um corte do lado, chamado episotomia. Depois sutura. – respondeu Carlo, terminado uma cerveja e arrotando alto.– Perguntei à minha sogra, que teve sete filhos de parto normal...

_ Sete? Nossa, não ia sobrar nada por baixo se não fosse essa costura por fora... Seu sogro ia acabar entrando inteiro... – riu Saga.

_ Ééé... punha a camisinha na cabeça feito touca e ia... – completou Milo.

Shun não pode evitar de ficar vermelho, mas participou do coral de gargalhadas. Shiryu balançou a cabeça, desgostoso:

_ Como podem? Toda vez que se juntam, só falam merda...

Enquanto isso, Shaka ouvia a melhor frase da sua vida:

_ Falta pouco, querido. A cabeça já passou. Um pouco mais apenas e ele está na minha mão. Força total agora. Não é hora de desanimar, não.

Ikki e Mú já estavam tão encharcados quanto ele. Áries nem acreditava no que via. Nas mãos experientes de Mamma Dine surgia pouco a pouco uma criaturinha toda suja mas definitivamente filho de Áries. Que pôs-se a berrar assim que se sentiu livre. Todo mundo suspirou de alívio, mas Afrodite deu um pequeno grito:

_ Ai, minha neném deve ter acordado. Meus seios começaram a pingar.

Assim que saiu do quarto, viu algo fantástico. Milo estava amamentando Amata.

_ Não sabia se estavam precisando de você lá dentro e ela começou a resmungar... – desculpou-se Escorpião. – Mas se você se incomoda...

No mesmo instante, Dumas sentiu o cheiro de leite e acordou. Afrodite nem hesitou. Pegou o bebê, se acomodou ao lado de Milo, abriu sua camisa e ofereceu o seio ao pequeno, que esfregou a boquinha desesperado, errando o alvo duas vezes antes de pegar e sugar fazendo barulho. Camus riu:

_ Hey, petit. Na mesa dos outros, a gente demonstra um pouco mais de educação. Seja menos esganado.

_ Então? Já nasceu?

_ Sim, um bebê até grandinho, cheio de cabelos claros... Não deu pra ver que cor eram os olhos, porque meus peitos começaram a vazar e eu vim atender minha pequena...

Foi quando o médico chegou; foi recebido com vaias e salgadinhos.

_ Tudo bem, atrasei. Dêem-me um desconto, porque descer todas as escadarias de madrugada é só para cavaleiros...

_ Minha mãe tomou conta de tudo, doc.

_ Sua mãe é minha ídola, Afrodite. E Shaka?

_ Berrou feito um porco no matadouro... – riu Saga. – E me fez perder uma grana preta, aquele fresco.

_ Parto normal e em casa? Oras, cavaleiro de Gêmeos, não é pra qualquer um, não... Com licença, cavaleiros e bebês, vou ver o que ainda dá pra eu fazer.

Dentro do quarto, Shaka estava deitado de lado, acariciando o bebê com a ponta dos dedos. Mú e Ikki se enxugavam enquanto Mamma Dine juntava as coisas utilizadas para depois lavar.

_ Cheguei tarde, novamente... Olá, vocês. D. Ariadne, a senhora é demais...

_ Olá, doutor Hipócrates. Eu faço o que eu posso, afinal eu tenho um pouco de experiência... A placenta está nesta toalha, limpei como pude, mas ele ainda não voltou ao normal. Então eu acho que tem mais coisas a fazer...

_ Belo bebê. Já escolheu o nome, Shaka?

_ Vou chama-lo de Moksha. O alívio que eu senti quando tudo acabou foi o equivalente ao Nirvana...

Todos riram. Shaka ainda teve forças pra dizer, antes de ser teleportado pro hospital:

_ Quando eu voltar quero encontrar tudo limpo, seus bagunceiros! Acha que pode, eu me matando pra dar à luz num cômodo e esses porcos fazendo da minha sala um chiqueiro de jogos?

Depois que ele se foi, Shura olhou pro Saga:

_ Depressão pós-parto?

_ O mau humor de sempre. Coitado desse bebê. Aioros, você que ta fora da rodada mesmo, vai lá e faz um café, que já ta amanhecendo...

Camus se levantou para ajudar. Milo e Afrodite estavam dormindo com os bebês noutro cômodo da casa.

_ Me diz, papai Camus, porque Mú não se lembrou de teletransportar o Shaka para o hospital logo no início?

_ Ih, mon ami. Deve ter sido a última coisa que passou na mente dele quando tudo começou. Se eu conheço aquele loiro metido, ele deve ter chamado o Mú quase na hora que o bebê tava saindo...

Seis da manhã, Mú voltou, o cheiro do café ainda estava no ar, mas todos os cavaleiros de ouro e bronze estavam espalhados pelos cômodos da casa de Virgem, dormindo. Mú olhou para a bagunça de copos e xícaras sujos, salgadinhos espalhados pelo chão, fraldas usadas enroladas num cantinho, pensou por um instante, depois sacudiu a cabeça. "Depois eles me ajudam com isso..." e como Shaka não estava pra implicar, foi se despindo pelo caminho, até chegar ao seu quarto só de cuecas. No chão do seu quarto estavam Shun, Shiryu e Hyoga. Suspirando, Mú flutuou até o seu colchão e dormiu antes mesmo de pousar a cabeça no travesseiro...

N/A: Pronto! Todos os bebês e seus nomes... Eu não tenho descrito os bebês, como já reclamaram, porque eu já tive dois e sei por experiência própria que eles mudam muito. Então eu vou esperar alguns meses pra dar uma descrição definitiva. O próximo capítulo é o das amazonas. Quem resolveu participar, mande um e-mail com a descrição de como quer aparecer, nick e signo. Beijo e até lá.