Amar não é uma escolha

Saori foi muito esperta, e acrescentou novos personagens, emendando Alladin com outras histórias. Resultado: ao amanhecer, ela ainda não terminara de narrar as aventuras de Ali Babá e os 40 ladrões.
Seiya entretia-se tanto com aquelas aventuras que nem se lembrou da lua-de-mel. Noite após noite, Saori prosseguia com suas narrativas.
Ela contava lendas da mitologia grega, descrevia as batalhas da Guerra de Tróia, os feitos de grandes heróis...
A cada noite, Seiya se encantava mais com ela. Reconhecia que Saori era muito inteligente, pois conhecia inúmeras lendas e mitos. Ainda por cima, era extremamente bonita...
Não demorou muito para os conselheiros do rei estranharem a mudança de Seiya. Mu de Áries e Aioria observavam que o rei parecia mais generoso e paciente do que costumava ser.
O mais estranho era o fato dele ainda não ter repudiado Saori. Todos notaram também que ele andava com a cabeça no mundo da lua, o olhar parado, distraído...
Quem não gostou nada de perceber a mudança do rei foi Shina.
"Por quê ele ainda não a repudiou?" - perguntava-se ela - "Já se casaram há quase dois meses, e até agora o casamento não se consumou".

Ela fiscalizava diariamente os lençóis, com o objetivo de confirmar se os dois haviam transado. Para sua surpresa, não encontrava nenhum sinal disso.
Entretanto, a intuição de Shina lhe dizia que Seiya estava se apaixonando por sua nova esposa.
Ele adorava vê-la dançando, e a fitava com tanto desejo que Shina não compreendia a razão do casamento não ter se consumado ainda.
Saori sabia que seu plano estava dando certo, e que era questão de tempo: logo Seiya teria que admitir que a amava. Então, ela o deixaria a ver navios.
Entretanto, às vezes se pegava pensando nele, e sentia remorso pelo que pretendia fazer. Agora que o conhecia melhor, percebera que, apesar de sua fama, ele tinha muitas qualidades.
Só não entendia o por quê dele repudiar as esposas. Quando se lembrava de que ele já tinha rejeitado outras mulheres, toda a sua revolta retornava, e decidia levar seu plano até o fim.

Shunrey apareceu para visita-la, e contou que já marcara o casamento com Shiryu.
- Graças a você, Saori.
Percebendo que a prima estava mais quieta do que de costume, perguntou:
- Você tem certeza de que vale a pena continuar com essa vingança?
- Claro que sim!
- Saori, percebo que você já o vê com outros olhos. Diria até que está se apaixonando pelo rei!
Saori ficou indignada.
- Ficou louca? Prefiro morrer a me apaixonar por um homem egoísta e arrogante como ele!
- Ninguém manda no coração, prima. Você mesma disse que ele não é tão ruim quanto parecia... Ele deve gostar muito de você, caso contrário, já a teria repudiado.
- Ele não fará isso, o casamento nem sequer foi consumado.
- Porque você não quis... tenho certeza de que, se dependesse dele, vocês já teriam se entendido... aliás, como você consegue ficar perto dele sem... você sabe! Afinal, o rei é bonito, tem porte atlético. Você nunca teve vontade...
Saori a interrompeu.
- Muito me espanta ouvir isso de você. Shunrey, você está noiva, e sempre foi tão recatada. Agora deu pra cobiçar meu marido?
Shunrey deu uma risada.
- Não precisa ficar com ciúme! Eu amo o Shiryu, e se estou te dizendo tudo isso, é porque sei como é bom estar nos braços de um homem.
- Vocês já...
- Foi lindo! Mas, por favor, ninguém pode saber!
- Eu não vou contar pra ninguém! Mas...
- O quê?

Saori estava curiosa, mas tinha vergonha de perguntar. Por fim, não agüentou:
- Como foi, Shunrey? Eu tenho curiosidade de saber como é...
Com um sorriso, Shunrey lhe disse:
- Só posso dizer que é muito bom! Mas você só vai entender quando experimentar.
Saori corou.
- E se eu fosse você - continuou a prima - não perderia mais tempo... você deveria provar hoje mesmo!
Porém, Saori sentia-se confusa.
Era evidente que Seiya a atraía, e já se imaginara em seus braços várias vezes... Mas tinha que resistir! Se ela se deixasse envolver por ele, sua vingança iria por água abaixo.
Continuou a contar histórias para ele, enquanto se esquivava de qualquer tipo de contato físico.

Seiya já notara a grande estima de Saori por Shunrey. Sabendo que a moça iria se casar, resolveu agradar a esposa. Ofereceu o palácio para os noivos celebrarem o casamento, com direito a festa e banquete. Os noivos aceitaram o presente do rei, e o gesto de Seiya conseguiu amolecer Saori. Ela começou a perceber que seu marido tinha um coração generoso, apesar de tudo.
Shina, a contragosto, organizou o banquete e a festa. Ela não aceitava que Seiya oferecesse o palácio para a festa, e questionou:
- Você nunca ofereceu festas para os parentes das outras esposas! Por quê só a Saori tem esses privilégios?
- Shina, não discuta. Faça o que eu pedi!
A rancorosa mulher não teve outra saída a não ser cumprir as ordens do rei. Mas já arquitetava uma vingança...