Cap 4 - Amar é um risco

No dia da festa, todos os convidados se divertiram muito. Serviram-se comidas típicas, como carneiro assado e cuernos de gazela. Todos dançavam ao som das alegres músicas árabes.
Tirando a noiva, que sempre é a estrela nessas ocasiões, Saori era a mulher mais deslumbrante da festa. Usava um traje em tons de azul, que destacava seu corpo perfeito. Algumas mechas de seu cabelo, preso num coque displicente, caíam sobre seus ombros.
Atraiu olhares de vários homens. Especialmente de Seiya, que não escondia sua fascinação.
Mu, um dos conselheiros, viu sua cara de bobo enquanto contemplava Saori. Não resistiu e perguntou:
- Está apaixonado, Majestade?
Seiya, sem graça, respondeu:
- Receio que sim.
- O que teme? O amor é o mais nobre dos sentimentos!
Desconcertado, Seiya explicou:
- Você sabe, meu pai sempre me disse que todas as mulheres são traiçoeiras. Mas ela... Ela é pura, casta... Seria incapaz de me trair ou enganar.
- Vosso pai, desculpe-me dizer, incutiu em Vossa Majestade idéias preconceituosas e amargas sobre as mulheres.
- É verdade...

Ambos ficaram em silêncio por alguns instantes. Seiya precisava desabafar com alguém, e Mu era de sua inteira confiança.
- Sabe Mu, pela primeira vez, sinto vontade de dividir minha vida com alguém, de entregar meu coração sem medo de ser ferido.
- Por quê V. Majestade não o faz? Diga à ela o que sente!
- Mu, você está me saindo um perfeito alcoviteiro!
- Conselheiros servem para aconselhar, Majestade!

Enquanto isso, o ex-pretendente de Saori, que fora convidado pelo Sr. Kido, aproximou-se dela e começou a conversar.
- Você fez um bom negócio, Saori. É verdade que sou rico, mas o rei é mais. Foi uma boa troca.
- Julian, você é patético! Jamais me casaria por dinheiro!
- Você o ama, então?
Saori não teve coragem para responder. Seiya viu os dois juntos e não gostou. Chegou perto deles, e tratou de levar Saori para longe de Julian.
A festa estava no auge, quando Shiryu e Shunrey foram agradecer ao rei por ter oferecido aquele presente a eles.
Antes de se retirar, Shunrey aconselhou a prima:
- Por quê não tenta ser feliz com ele? O Seiya é uma boa pessoa... e está louco por você!
Saori não respondeu, mas ficou refletindo sobre as palavras de Shunrey.

Naquela noite, como de costume, esperou Seiya em seu quarto. Ia continuar a narrativa da noite anterior. Porém, antes que começasse, Seiya disse:
- Gosto de suas histórias, Saori, mas hoje é a minha vez de contar uma.
Ela o deixou prosseguir.
- Era uma vez - começou ele - um pequeno príncipe, que cresceu ouvindo seu pai, o rei, dizer que as mulheres eram falsas e interesseiras.
"Filho, nenhuma mulher presta", era o que ele dizia.
- O menino acreditou no pai, afinal ele era o seu ídolo, e tudo o que dizia era verdade, pensava o príncipe.
Ele virou um homem, e antes de seu pai morrer, prometeu que nunca se apaixonaria por ninguém. Tornou-se rei, teve várias esposas, mas não amou nenhuma delas. Até que um dia, ele conheceu uma mulher diferente das outras...

"Ah, se pudessemos contar
as voltas que a vida dá
pra que a gente possa encontrar
um grande amor"

Saori já percebera que ele falava de si mesmo, e ficou interessada no que Seiya dizia.
- Essa mulher, além de muito bonita, era também muito inteligente e cativante. O rei foi se encantando cada vez mais com aquela jovem, até que um dia teve que reconhecer: estava apaixonado por ela.

"É como, se pudessemos contar
todas as estrelas do céu
os grãos de areia desse mar
ainda assim"

Seiya se aproximara, e olhava fixamente para ela.
- Esse rei existe de verdade. Sou eu. Agora, se essa história terá final feliz... só você pode me dizer, Saori...

"Pobre coração, o dos apaixonados
que cruzam o deserto em busca de um oásis em flor"

Naquele momento, ela se viu diante de um grande dilema.
Poderia humilha-lo, esnoba-lo, dizer que não o queria, apesar de toda a sua riqueza e poder... Mas como fazer isso, se ele a fitava com aquela carinha de menino carente, praticamente implorando por seu amor?

"arriscando tudo por uma miragem
pois sabem que há uma fonte oculta nas areias"

Saori sentiu que sua razão e seu coração travavam uma árdua batalha entre si. Seiya continuava ali, esperando por sua reação.
Era irresistível...

"Bem aventurados os que dela bebem,
porque para sempre serão consolados"

Ela nem se deu conta do que estava fazendo.
Naquele instante, a única coisa que queria era sentir os braços de Seiya envolvendo-na, o calor de seus lábios...

"Somente por amor
a gente põe a mão
no fogo da paixão
e deixa se queimar
somente por amor"

Os dois se beijaram, numa explosão de sentimentos reprimidos, que agora tinham a oportunidade de demonstrar.
Seiya a deitou na cama, e lentamente começou a despi-la, enquanto beijava e acariciava seu corpo. Ela fez o mesmo com o marido.

"Movemos terra e céus
rasgando os sete véus,
saltamos do abismo, sem olhar pra trás
somente por amor,
E a vida se refaz ".

Ele a amou com delicadeza, e seu olhar irradiava toda a felicidade que sentia naquele momento.
Depois, continuou a beija-la e a afagar seus cabelos, enquanto lhe dizia palavras carinhosas.
Saori adormeceu. Ele permaneceu olhando para a jovem, pensando no quanto sua vida mudara desde que se casara com ela.