Lembranças
Viva Forever
Spice Girls
Do you still remember
How we used to be
Feeling together
Believe in whatever
My love has said to me
Você ainda se lembra
Como costumávamos ser
Sentindo-nos juntos
Acreditando em qualquer coisa
Que meu amor me disse
Estou sentado à beira de minha cama, ainda coberta pelos lençóis sujos da
última noite. Quem poderia predizer que seria a última noite que
passaríamos juntos ?
Abro lentamente a gaveta do criado ao meu lado e vejo meu pequeno livro de
cabeceira cuidadosamente guardado. O tomo em minhas mãos e abro na primeira
página onde encontro uma carinhosa dedicatória:
"Duo,
Eu te dou este livro para que você possa, sempre que se deitar, lembrar de
mim; lembrar de todo o meu amor por você; e lembrar que te amo, e que para
todo o sempre irei te amar.
Com amor,
Heero"
Era um belo dia do rigoroso inverno que passávamos. A neve a tudo cobria
com um manto branco. A paisagem era muito bela. Mas eu estava feliz por
outro motivo.
Era dia dos namorados. Fazia uma semana que tínhamos começamos a namorar, e
tudo estava em seu auge. Tudo era novo e maravilhoso para nós dois.
Estava sentado no telhado, a observar aquela belíssima paisagem. Uma fina
neve caía sobre meus cabelos castanhos, mas eu nem me importava.
Tenho um sorriso estampado no meu rosto, apesar do frio que se passava l
em cima. Percebo então que Heero subia no telhado também. Ele havia saído
cedo de casa, eu não o havia visto desde então.
Por quê está aqui em cima Duo? ele pergunta sentando-se ao meu lado.
Eu sequer viro minha cabeça, apenas deito-a em seu ombro e sussurro,
olhando ainda a paisagem.
Como é lindo!
Percebi então que estava nervoso, seu coração palpitava aceleradamente, sem
motivo, então olho-o na face e pergunto:
O que foi?
Ele estende sua mão com um belo embrulho. Um papel cor de prata envolvia o
misterioso presente atado por uma fita vermelha.
Passei a manhã inteira procurando por isso... pra você!
Sua face se ruborizara e ele tentava disfarçar o nervosismo. Meu sorriso de
tranqüilidade se transforma num sorriso de pura alegria quando o abraço em
agradecimento. Um pouco da neve que se situara em meu cabelo cai em motivo
do movimento brusco que fiz para envolvê-lo em meus braços.
Que meigo Hee-chan! Arigatou!
Ele então afaga meus cabelos tirando o resto da neve que ali ficara.
O garoto me entrega o embrulho que tomo em minhas mãos que, ansiosas,
começam a desfazê-lo.
Era um pequeno livro de cabeceira entitulado "Lembranças".
Abro na primeira página e leio sua dedicatória. Emociono-me profundamente e
desabo em lágrimas.
Que lindo Hee-chan... Ai shiteru!
Abraço-o novamente e sua face queima em vergonha diante de tal elogio. Dou
um beijinho estalado em seus lábios.
Deito novamente em seu ombro e folheio o livro. Todas as páginas estão em
branco, com exceção da última. Levanto-me e o fito em dúvida.
"Este livro é para que nós possamos escrever todos os nossos momentos
juntos e perpetuar, em palavras, o nosso amor"
Essas palavras estavam escritas por ele mesmo na última página.
Ai shiteru Duo-chan! ele completou.
"Ai shiteru Duo-chan"
Both of us were dreamers
Young love in the sun
Felt like my Saviour
My spirit I gave you
We´d only just begun
Ambos éramos sonhadores
Novo amor sob o sol
Sentia-te como meu salvador
Meu espírito eu te dei
Nós apenas começamos
Uma frase por ele escrita selava a lembrança de algum jeito perpetuada em
cada página.
Passo mais uma página e vejo um desenho. Dois bonequinhos muito mal
desenhados, de mãos dadas e envoltos por um grande coração vermelho. Sobre
os dois a pequena inscrição: "Eu e Hee-chan"
O desenho que tanto me esforcei, em vão, para que saísse bonito, fora
esquecido, mas agora remexo em minhas lembranças e me lembro de tudo. Tudo
relativo ao nosso amor que fora esquecido e sobrevivia apenas num pequeno
livro de cabeceira.
Estava no meu quarto, deitado sobre meus macios lençóis, com lápis de cores
fortes ao lado do livro sobre o travesseiro enquanto desenhava a
ilustração.
Estava tão entretido que nem notei que Heero entrou no quarto e se
aproximava furtivamente de mim enquanto escrevia a explicação.
Eu e Hee-chan... leu ele por cima de meu ombro
Eu agarro o pequeno livro e o pressiono contra meu peito, quando me sento
rapidamente para fitar Heero.
Era pra você ver só quando fosse ler... acabou a surpresa!
Faço um biquinho de manha pra ele
Ah Duo... você fica tão bunitinho quando faz esse biquinho!
Ele me dá um ligeiro beijo e senta-se a minha frente.
Baka!! Não consigo nem ficar com raiva de você! Você sempre consegue me
amaciar...
Agora deixa eu ver direito o desenho disse ele tentando tirá-lo de entre
meus braços
Não, não e não!
Por quê não Duo?
Só se você me dar um beijão grande assim! abro meus braços e os estico
o máximo que consigo para tentar explicar o que quero.
A mão de Heero habilmente entram por entre meus braços abertos e pega o
livro agora desprotegido.
Baka! Baka! Baka!! digo batendo levemente em seu braço.
Ele então me paga o prometido. Um beijo grandão assim ó!
Nossos corpos eram banhados pelos raios do sol que entravam pela janela do
meu quarto. Um beijo que jamais, jamais esquecerei.
"Um beijo sob o sol"
Hasta mañana, Always be mine
Viva Forever, I'll be waiting
Everlasting, like the sun
Live forever, for the moment
Ever searching for the world
Até amanhã, sempre será meu
Viva para sempre, Estarei esperando
Perpétuo como o sol
Viva para sempre para o momento
Sempre procurando pelo mundo
Eu folheio o livro e ele pára em uma página marcada.
Dentro dela, uma linda flor branca, por mim guardada há muito
tempo.
Uma flor branca, sem vida, mas para sempre guardada num livro para
perpetuar mais um momento que será para sempre perpétuo em minhas
lembranças.
Estamos no jardim de uma rica casa.
Variedade de flores, folhas, arbustos... e tudo parece com mais vida pois
estou amando.
Na primavera meus instintos amorosos se ampliaram e sinto necessidade de
estar com Heero cada minuto, cada segundo, cada momento.
Ando com os braços abertos, rodando, sem sentido algum.
Pretendo apenas aspirar o perfume de todas as flores daquele jardim.
Foi exatamente nessa tentativa que percebi uma flor.
Uma linda flor branca, única naquele jardim.
Parei e observei-a mais de perto para poder aspirar melhor seu delicioso
perfume.
Heero chega do meu lado e pergunta-me:
Gostou desta flor?
Hum-hum respondo afirmativamente
Ele leva uma de suas mãos ao caule e a arranca.
Então é tua!
Hee-chan...
Tomo a flor em minhas mãos e abraço Heero possessivamente. Ele me segura e
roda o corpo trazendo-me com ele.
É um momento único. Fecho meus olhos e me deixo ser guiado por seu corpo.
Percebo então que parara e ao abrir os olhos, percebo que fitava meu rosto
amavelmente.
Expresso dúvida em minhas feições. Ele então me explica ajeitando meu
cabelo por detrás de minha orelha:
És lindo Duo! Perfeitamente lindo!
Fico corado com tal elogio e tento esconder-me em seu forte peito. Sua mão
encontra meu queixo e me obriga a levantar a face e fitá-lo na imensidão
daquele mar azul de seu olhar.
Não minto ao dizê-lo continuou ele, a observar-me És mais belo que
qualquer flor deste jardim.
Lembro-me então da flor que carregava em minha mão e aproximo-a da cara
para novamente inspirar seu suave perfume. Percebo que faz o mesmo. Sua
face perto da minha, faz corar-me mais.
Ele então se machuca com um dos espinhos da pequena flor que lhe corta a
face. Ele toma a flor de minhas mãos, retira dela os espinhos e, com um
deles, faz um ligeiro corte em meu dedo.
Ai Heero!
Ele então passa um dedo por seu machucado limpando o sangue que dali
escorrera e coloca o seu sangue sobre meu dedo e após isso o leva ao seu
machucado.
Ele ali, nos uniu para sempre por laços de sangue.
Seu sangue sempre residirá em meu corpo assim como o meu reside no seu.
Em seguida, o pacto é selado com um lindo beijo.
Um lindo dia de primavera. Um lindo dia de amor.
"O pacto do amor"
Yes I still remember
Every whispered word
The touch of your skin
Giving life from within
Like a love song that I´d heard
Sim eu ainda me lembro
De cada palavra sussurrada
O toque de sua pele
Dando vida do íntimo
Como uma canção de amor que escutei
Mais um desenho.
Desta vez o autor do desenho foi Heero com sua incrível habilidade para
desenhar reproduziu perfeitamente o que ele dizia ter sido a mais perfeita
noite de sua vida.
O desenho que ocupava duas páginas se tratava de um pequeno lago. Na beira
deste lago estou eu, de costas, cabelos soltos e libertos sobre meu corpo.
A lua refletida tremida na água do lago que toco com os pés.
Uma noite de verão.
Estou sentado sob algumas árvores, à beira de um pequeno lago.
O clima ameno daquela noite combinada com a prazerosa companhia de Heero
fizeram-me sorrir.
Com a cabeça sobre o seu colo Heero facilmente percebe a mudança de minhas
feições.
O que foi Duo-chan? perguntou ele
Sem respondê-lo apenas levanto-me e cuidadosamente dispo-me à sua frente.
Completamente nu, comecei a desfazer minha trança libertando assim meus
castanhos cabelos.
Ando ainda um pouco à frente e sento-me na molhada pedra tocando a água do
pequeno lago com os pés.
De costas para Heero eu possuía uma imagem delicadamente feminina. Os
traços de um guerreiro deixavam escapar algumas delineadas curvas.
A lua estava cheia e brincava com o pequeno lago. Sua luz prata era
refletida pela água e banhava minha figura.
Heero se levanta por trás de mim e assiste, com os olhos maravilhados, tal
beleza natural. Era tão belo que não poderia ser reproduzido por sequer o
melhor pintor de todo o universo.
Apenas ele e as estrelas testemunhavam tão bela paisagem.
Andou então cuidadosamente em minha direção e percebeu uma bela melodia.
Minhas lágrimas escorriam por meu corpo e, iluminadas pela prateada luz,
caíam sobre o lago ritmicamente como numa melodia.
Mais alguns passos e pergunta:
Por quê choras?
Não mexo um músculo como se a paisagem fosse um maravilhoso quadro vivo que
podia apenas ser visto pelos olhos azuis de Heero. Apenas sussurro:
Faça-me todinho teu... para sempre teu.
Ele então põe-se em minha frente, nu, agachado acima de minhas pernas. Me
olha nos olhos. Ambos olhares expressam serenidade e harmonia.
Beija-me então empurrando-me lentamente para trás, deitando-me na pedra. O
beijo se cessa e ele começa a acariciar meu peito carinhosamente tentando
me fazer aproveitar ao máximo o momento.
Sua mão atinge minha cintura e escapa para minhas costas subindo
vagarosamente, provocando calafrios que percorriam toda a minha espinha.
Afaga meus cabelos e novamente me beija.
Afasto um pouco minhas pernas deixando-o seguir. Seu membro que já se
encontrava ereto encaixa-se entre minhas pernas. Levanto-as então e envolvo
sua cintura.
Minha rosada fenda está agora à mostra, o que me causa um pouco de medo que
não consigo disfarçar:
Duo... por favor relaxe... confie em mim.
Estas palavras me reconfortaram lembrando-me que Heero seria incapaz de me
machucar.
Ele percebendo meu alívio força um pouco seu órgão contra minha virgem
entrada.
Mordo levemente o lábio inferior e me abraço fortemente a Heero, arranhando
suas costas. É minha primeira vez e não estou acostumado em ter Heero em
mim.
Solto-me dele, deitando novamente na pedra quando sinto que toda sua
masculinidade encontrava-se dentro de meu corpo, a esperar por um sinal
para continuar.
Meus olhos serenamente se fecham mostrando tranqüilidade, o sinal que Heero
precisava para continuar.
Quando o movimento se inicia novamente eu tento inutilmente agarrar-me
pedra, conseguindo apenas arranhar-lhe um pouco. Apesar da aguda dor, o
prazer que sinto em ter Heero dentro de mim, fazendo-me ser dele para todo
o sempre me incita a continuar, e logo a dor desaparece.
O prazer aumenta a medida que a velocidade também e gradualmente sinto uma
onda de calor tomar conta de todo o meu corpo. Atinjo o ponto máximo de
prazer nunca atingido antes por mim, o clímax. Junto com um alto gemido
derramo a semente deste prazer por sobre meu abdômen.
Heero continua o movimento e rapidamente atinge seu auge, despejando em
mim, um jato quente daquele sêmen preenchendo toda a minha apertada fenda.
A respiração arfante começara a voltar ao normal e ele desaba sobre mim,
exausto.
Um beijo. Um beijo e palavras, docilmente por mim sussurradas, selam o
prazeroso ritual:
Sou teu Heero; sou apenas teu; para todo o sempre, teu.
"É teu todo o amor que guardo em meu coração"
Slipping through our fingers
Like the sands of time
Promises made
Every memory saved
Has reflections in my mind
Escorregando por entre nossos dedos
Como a areia do tempo
Promessas feitas
Cada memória salva
Tem reflexões em minha mente
Um pequeno texto escrito em letras douradas que reluziam com o a luz do sol
a banhá-las me chama a atenção.
Promessas. Era o título das poucas linhas reluzentes.
"Promessas
Promessas.
Promessas a serem cumpridas.
Promessas a serem feitas.
Promessas a serem medidas.
Promessas a serem mentidas.
Promessas a serem acreditadas.
Promessas a serem prometidas.
Promessas."
Um museu.
Estávamos passeando num museu. O guia falando coisas por nós
incompreendidas. A única coisa que era por nós compreendida era o nosso
amor.
Abraçados, sem vergonha de sermos vistos, seguíamos o guia sem mesmo
prestar atenção em nada. Constantemente trocávamos olhares, carícias,
sorrisos e beijos...
O guia, notando nosso descaso, deixou-nos à sós no grande salão.
Enfim sós! disse a ele beijando-o fervorosamente em seguida
Abracei-o e pude ver, por cima de seu ombro, um antigo objeto por mim
desconhecido. Uma espécie de vidro, forjado em forma de oito, com uma
pequena passagem entre os compartimentos. No compartimento de baixo uma
quantidade de areia que quase o preenchia por completo.
Hee-chan!? O que é aquilo? perguntei à minha enciclopédia apontando
para o estanho objeto
Ele se vira e olha para onde eu apontava.
Ah! Aquilo é uma ampulheta.
Ampu...o quê?
Um objeto de vidro usado pelos antigos para marcar o tempo. A areia que
está ali caía de grão em grão no compartimento de baixo, quando ela passava
completamente para lá, significava que um determinado tempo já havia se
passado desde que a pessoa colocou a ampulheta para marcar.
E quando a areia passasse toda para baixo?? Tinha que fazer outra
ampualgumacoisa??
Não seu bobinho... ele mexe com meus cabelos castanhos sobre minha
cabeça de brincadeira ... Era só virar a ampulheta, aí começava tudo de
novo...
Eu que ainda estava com um braço envolvendo sua cintura, soltei-o e andei
em direção à tal ampualgumacoisa... cheguei lá perto e a retirei da
prateleira.
Duo, não se pode fazer isso!
Eu faço tudo que não se pode não é? disse eu estabelecendo uma relação
entre o proibido e o nosso namoro, o que sempre funcionava como argumento
Abri então o fundo da ampulheta, e tentei inutilmente segurar a areia. Era
muito fina e escorregava por entre meus atrapalhados dedos caindo
incessantemente no chão do museu. Entendi então por que o povo a usava para
marcar o tempo. Assim como a fina areia, o tempo não pára à nossa vontade.
Em nossas tentativas de tampá-lo com as próprias mãos ele sempre escapa por
entre nossos dedos.
Virei-me inesperadamente e fitei Heero que andava calmamente para tentar
consertar meu estrago tentando, em vão, reunir e tomar aquela areia nas
mãos.
Não adianta disse-lhe sem sequer olhar para o chão O que aconteceu j
aconteceu, não pode-se voltar.
Estabeleci claramente a relação da areia ao tempo esclarecendo para o
garoto que se levantou assim que me pronunciei meus pensamentos.
Heero se pôs à minha frente. Muito perto. O mar de seu olhar a fitar-me nos
olhos. Os narizes e lábios quase a se tocarem.
Prometa-me Heero...
Ele me interrompeu com um beijo. Sem mesmo terminar a frase, ele sabia o
que temi naquele momento. Temi que um dia o tempo vencesse o nosso amor.
O beijo se cessou e seus vermelhos lábios sussurraram:
Eu prometo Duo... prometo que para sempre irei te amar.
Eu, ainda com os olhos cerrados, peço:
Me beija Heero... me beija.
"Promessas"
Hasta mañana, Always be mine
Viva Forever, I'll be waiting
Everlasting, like the sun
Live forever, for the moment
Ever searching for the world
Até amanhã, sempre será meu
Viva para sempre, Estarei esperando
Perpétuo como o sol
Viva para sempre para o momento
Sempre procurando pelo mundo
Numa página apenas riscos, traços grossos com curvas e retas delineando
contornos abstratos, nas quais a única forma possivelmente identificável
o desenho de um batom no canto inferior direito da página.
Entre as linhas estava escrito em lápis, as seguintes inscrições:
"Com a cor dos teus olhos transcrevo em palavras o que sinto. Ai shiteru
Duo-chan"
A lembrança está transcrita naquelas linhas grossas de batom de uva assim
como o recado por
Heero deixado ao fim da noite.
"Ai shiteru"
Palavras que assustam.
Caminho num parque de cabeça baixa. É um triste dia de inverno, as árvores
sem vida cobertas pela neve que fina, cai sobre meu cabelo.
Uso um aconchegante casaco de pele que muito me protege do frio, mas a neve
que caía lentamente, agora quase se transformara numa tempestade juntamente
a um vento forte que atravessa meu casaco e provoca calafrios.
Mas eu caminho contra o vento e a neve afundando minha cabeça sobre o pelo
do casaco tentando aquecer-me, mas não paro. Nada me afeta.
Estou em conflito comigo mesmo e esqueço completamente do que está ao meu
redor. Estou machucado por dentro pois descobri que amo.
Estou a amar incondicionalmente alguém que não ama. Heero Yuy, o soldado
perfeito. Eu lhe contei na manhã do dia de hoje e então, sem esperar
resposta, saí de casa correndo e perambulo pela cidade com medo de voltar
pra casa.
A tempestade piorara e começo a tossir. Não consigo ver nada à minha
frente, mas ainda ando em frente na esperança de encontrar algo que mudaria
minha situação interior.
Duo!!
Escuto uma voz ao longe a me chamar. Devo estar delirando. Só eu sou louco
o suficiente de estar num parque com o tempo que está, andando com
dificuldade.
Duo!!
A voz está mais perto e a pessoa também tosse desenfreadamente. Parece
desesperado, mas tem a voz forte, apesar da rouquidão que aparenta.
Viro-me para onde ouço a tal voz a me chamar de novo e de novo. Vejo seu
vulto a andar, sem qualquer tipo de agasalho, com dificuldade para
enfrentar a coluna de neve que se formara sobre o chão. É Heero.
Esqueço do frio e de qualquer coisa que poderia me atormentar no momento e
corro, vencendo a neve em sua direção para socorrê-lo. Chego até ele e
retiro meu casaco para aquecê-lo. Abraço-o para que continue em pé já que
percebo que seus joelhos estão fracos prestes a desabar.
Duo... você vai ficar com frio... ele tenta sussurrar com os lábios
roxos ligeiramente congelados.
Não me importa... você está muito mal, temos que voltar para casa.
Tento ajudá-lo a andar, mas está muito mal. Suas pernas estão congeladas,
pois enfrentava a neve sem qualquer tipo de proteção. Imagino o que levou
Heero a fazer isso:
Heero... por quê você saiu de casa nesse estado?
Por... sua causa...
Apesar da situação alegro-me por dentro, o que me aqueceu por alguns
instantes, até que a fria realidade me fez lembrar que Heero Yuy não
sentia. Deveria ser por alguma missão ou algo parecido.
Como estava incapacitado de continuar, sem pensar tomei Heero no colo e
ando até o banco mais próximo, afasto a neve que se situava sobre ele e
sento-me, deitando-o ao meu lado, com a cabeça recostada sobre meu colo.
Heero então, ao se sentir confortado pelo banco tenta se livrar do casaco,
mas eu o impeço e insisto que o use.
Você é mais importante para mim do que eu mesmo Heero... novamente me
declarei para argumentar para que ele continue com o casaco que ele
insistia em tentar tirar para que eu possa usá-lo de novo
Seguro suas mãos fortemente para que ele não as mova impedindo-o de tirar.
De repente percebo que estou segurando as mãos do meu amado e ao percebê-lo
fito-o nos olhos e percebo que aquele azul possuía hoje um brilho
diferente. Ficamos alguns momentos assim, imóveis apenas a olhar o outro
olhar.
Heero tenta levantar a cabeça um pouco e se aproxima de meu rosto para
sussurrar com o resto de suas forças:
Ai shiteru Duo.
E após me beijar, ele adormece em meu colo e fico imóvel, sem acreditar no
que acabara de ouvir. Sabia que se eu continuasse ali ele poderia morrer
então recuperado do susto, toco os lábios ligeiramente congelados de Heero
e novamente tomo-o no colo e, apesar de a tempestade ter se acalmado um
pouco, caminho até em casa com dificuldade.
Ao chegar lá, como todos já estavam dormindo, subi as escadas que levavam
ao piso superior e entrei no meu quarto. Deixei-o sobre a cama, o despi das
roupas molhadas e o cobri com o edredon. Mas seu corpo ainda estava
completamente gelado e não parecia o suficiente. Meu corpo ainda estava
quente pois estava agasalhado mesmo sem o casaco, então me despi e deitei-
me sobre ele, para esquentá-lo e ao sentir Heero sob mim, recostei minha
cabeça sobre seu peito e também adormeci.
Ao acordar percebo que ele não está mais ali, e então, ao levantar-me
enrolado no edredon, percebi um recado escrito com batom de uva no espelho:
"Com a cor dos teus olhos transcrevo em palavras o que sinto: Ai shiteru
Duo-chan"
But we´re all alone now
Was it just a dream
Feelings unfold
They will never be sold
And the secret´s safe with me
Mas estamos sozinhos agora
Era apenas um sonho
Sentimentos desdobrados
Eles nunca serão
E os segredos salvos comigo
Nenhuma frase. Nenhum final.
São gravados nesse livro lembranças, palavras, ilustrações, pétalas,
perfumes, gotas de sangue, sussurros, toques, beijos, carícias, dores,
gemidos, lágrimas, sorrisos, prazer, vida, amor, sentimentos...
Chego ao fim do livro e me deparo com duas páginas limpas. Duas páginas
brancas, nas quais não escrevo pois mesmo assim, elas me trazem uma
lembrança. Uma terrível lembrança.
O parque, o mesmo parque onde começamos a namorar. O chão coberto pelas
folhas douradas que caíam incessantemente das árvores que se preparavam
para mais um rigoroso inverno.
O tapete dourado era bastante belo e refletia a luz do sol já baixo que
gravava cerca de 5 horas da tarde.
Andávamos abraçados pelo belo parque agora deserto.
Sussurrávamos declarações de amor eterno.
Era um momento perfeito.
Um minuto de silêncio.
Um silêncio que nos faria perceber que nada é perfeito tampouco eterno.
Após andarmos resolvemos parar por um tempo e me sentei no banco, onde
protegi Heero do frio naquele fatídico dia..
Duo... perguntou ele, em pé à minha frente você já parou pra pensar
no futuro?
Como assim Hee-chan?
Bem... já parou pra pensar como seria sua vida sem mim?
Claro que não!! Eu quero ficar com você para sempre! Eu te amo muito e
não quero me separar de você jamais!!
Mas Duo... e se um dia nós nos separarmos?
Hee-chan... perguntei, sussurrando com a cabeça baixa você me ama?
Ele se ajoelha à minha frente e percebe que as lágrimas rolam soltas pelo
meu rosto. Ele levanta meu rosto e as limpa, tendo meu rosto entre suas
mãos
Claro que amo Duo-chan...
Então me beija... me beija como você me beijou naquela noite neste mesmo
banco... pedi encarecidamente ainda soluçando, aumentando minha voz ao
não perceber reação ME BEIJA!!
Heero então me beija fervorosamente, mas antes do beijo se aprofundar, o
empurro com todas as minhas forças:
Não me ama como amou há um ano atrás neste parque dizia com a voz forte
e soluçante, ameaçando Heero que estava caído sobre as folhas olhando-me
assustado. Nunca mais me amou... seu amor a cada dia que passa, cada
beijo que beijas, cada amor que fazes, está ficando mais fraco. Nunca mais
me amou como naquele dia e nunca mais me amarás!
Já estava em pé, olhando a imagem embaçada de Heero à minha frente gritando
ameaçadoramente. Engoli em seco e fitei Heero, sem ação por alguns
momentos.
Desculpe-me Duo-chan... disse ele se levantando.
Empurrei-o novamente e corri. Corri como nunca corri antes. Corri com medo
de Heero, com medo do amor.
Ali terminou a história de amor escrita no pequeno livro. No livro que o
amor decidiu escrever suas lembranças, e agora me machuco por saber que ali
estão lembranças de um amor esquecido... apenas lembranças.
Fecho o livro deixando uma lágrima de remorso cair sobre a capa e selar
para sempre as lembranças ali perpetuadas.
Hasta mañana, Always be mine
Viva Forever, I'll be waiting
Everlasting, like the sun
Live forever, for the moment
Ever searching for the world
Até amanhã, sempre será meu
Viva para sempre, Estarei esperando
Perpétuo como o sol
Viva para sempre para o momento
Sempre procurando pelo mundo
Fim
