Capítulo Dois = Lembranças - Parte II
Remus olhava as nuvens que a cobriam. Em poucos segundos ela começaria a brilhar no céu, trazendo sua maldição com aquele brilho.
Era impressionante como mesmo odiando as implicações das lua cheia, Remus se fascinava por ela. O brilho intenso no céu escuro e estrelado. Odiava vê-la pois lembrava de todas as noites cheias de dor e cumplicidade. Lembrava-se dele.
Remus andava com Madame Pomfrey até o Salgueiro Lutador.
Era seu último ano no colégio. A última lua cheia que passaria na Casa dos Gritos. A última noite, a última lua... Com ele. Com eles, corrigiu-se. Estava melancólico, qualquer um que prestasse um pouco mais de atenção no lobo perceberia os olhos tristes e apáticos. Não que normalmente fosse um garoto alegre, brincalhão e cheio de vida como ele. Como eles, corrigiu-se novamente.
Sorria...tristemente, mas sorria. Era impossível não sorrir ao penjsar nele. E em seus amigos. Lembrava-se de Sirius. Seu Sirius. Seu Padfoot. Madame Pomfrey indagaria sobre a sanidade do garoto e se as transformações poderiam afetar suas faculdades mentais se visse seu sorriso enquanto caminhava à mais uma noite de tortura lunar. Mas não se importou com isso.
Viu a enfermeira abrindo a passagem. Sabia o que deveria fazer e o fez. Logo, logo eles estariam lá. Como animais. Como seus companheiros. Ao menos por enquanto.
Não queria pensar no depois. Quando eles tivessem suas vidas. Seus casamentos. Seus filhos e empregos... Queria apenas que Sirius pudesse continuar ao seu lado. Era um sonho... mas faria de tudo para tornar realidade. Não queria sequer pensar na possibilidade de ser afastado dele quando tudo terminasse. Quando Hogwarts terminasse. Pensar nisso... doía.
Sentou-se no chão empoeirado esperando a luz da lua o banhar. Sentiu os raios o atingindo, facadas em sua pele enquanto se tornava lobo. Raiva. Mágoa. Selvagem. Descontrolado. Uivou quando a transformação se completou. Arranhava os poucos móveis e o próprio corpo. Mordendo-o várias vezes. Insano. Em sua sede de morder, ferir... matar.
Sentiu o cheiro deles de longe. O cervo. O rato. E o cão. Canino... como ele. Mesmo gênero... poucas diferenças. Avançou nele. Sem o atacar. Ficava calmo com ele. Com eles por perto. Aos poucos... domesticava-se com a presença dos outros. Com a preocupação e com o carinho, que mesmo como lobo, conseguia sentir emanando dos amigos.
A noite passou lentamente.
Uivos.
Animais tentando acalmá-lo. E fazê-lo parar de se morder e se arranhar. Arranhou o cão numa dessas vezes. Este não se afastou. Mas o lobo parou. Ao ouvir o ganido. Do seu cachorro.
Ficou calmo. A lua se afastava. Longe do centro. Não sendo mais a rainha da noite. Os poucos e leves raios de sol começavam a brilhar na aurora. Tingindo o céu de laranja, púrpura e amarelo. Acabando com a maldição.
O lobo era homem. E o homem sofria.
Ele acordou. Os braços do moreno na sua cintura. Sabia que os outros tinham voltado para o castelo quando o sol nasceu. E sabia que ele ficaria. Como sempre acontecia.
Virou-se comtemplando a face adormecida. O contrate do cabelo na pele. As feições tranqüilas, a respiração serena.
Depositou um leve beijo nele , apenas lábio tocando lábio. Uma leve carícia que o acordou.
-Bom dia.
-Como está se sentindo?
-Dolorido como sempre. E ardido. Malditos arranhões.
-E cortes. Sirius constatou tocando de leve um dos cortes de Remus.
Remus puxou a manga da camisa, cobrindo o corte e conseqüentemente retirando os dedos de Sirius de seu braço.
-O que houve, Aluado?
-Eu... Eu não gosto que você veja os cortes. ele falou desviando o olhar dos olhos negros. Sentia como se toda sua alma estivesse escrita em um livro aberto e solto pelos cantos quando Sirius o olhava assim. Sentia que el poderia saber tudo o que passava por sua mente e às vezes isso poderia ser irritante.
O animago puxou novamente o pano e pôs-se a observar o corte.
-Não é culpa sua. Você não faz por querer. Ele é mais forte na lua cheia, você sabe disso, Aluado. falou e em seguida beijou toda a extensão do corte, apenas roçando o lábio na pele ferida para não machucá-lo mais.
-Sirius?
O moreno voltou o olhar para Remus. Carinho. Compreensão. Amor.
-Sim?
-Eu o amo.
Era a primeira vez que Remus falava isso. Sirius sabia o que ele sentia. Sentia o mesmo por Remus, mas... dito em palavras... Eram palavras fortes. Sentimentos fortes. Sorriu.
-Eu também o amo, Remus.
Sirius o beijou lentamente. De forma calma e demonstrando que suas palavras eram verdadeiras. Um beijo para nunca mais se esquecer.
Remus desejou que o tempo parasse, ao menos por um minuto, para atrasar a separação. Teriam de voltar para o castelo. E para o fingimento de uma simples amizade.
Seu desejo não foi atendito e Sirius afastou-se levantando.
-Tenho que ir. Antes que Madame Pomfrey venha buscá-lo.
Ele tomou sua forma animal e correu até a saída. Deixando Remus sozinho com seus ferimentos... com seus pensamentos. E sonhos.
Suspirou. As costelas doeram. Onde estaria Madame Pomfrey para curá-lo... ao menos fisicamente? Queria que a enfermeira pudesse curar também os sentimentos, receios e medos idiotas que cismavam em aparecer cada vez que Sirius o deixava. Ainda mais agora... com um futuro incerto.
N/A: Queria saber a opinião de vocês, então... MANDEM REVIEWS! Não custa nada!
Ao som de 'Please don't go away' da Faye Wong.
