Capítulo 2 – Conheça o Creme Burlée

- Isso tudo é simplesmente absurdo! – Draco conhecia Hermione bem o suficiente para saber que ela estava a ponto de ter um colapso nervoso. Seus cabelos, lisos após muito tratamento, estavam bagunçados. – Não é possível que ele realmente queira isso! Eu vou até lá, e vou fazê-lo voltar a si!

- Hermione, relaxe – aconselhou, enquanto ela batia com a mala no chão na saída do hotel.

Ela mexia as mãos nervosamente, como se tivesse dificuldade em expressar o que queria.

- Como ele fez isso comigo?

- Não dá pra entender porque você está tão irritada!

- Ele vai casar com aquela menina lunática, totalmente fora da realidade, totalmente louco, ele só pode estar louco!

- Já te passou pela cabeça que ele possa realmente querer isso?

- Porque ele iria querer isso?

- Você realmente acha que eu entendo a cabeça de um Weasley?

Os dois se encararam, e o rosto dela era de quem estava a um ponto das lágrimas. Ela pegou a mala na mão e entrou para o salão da rede flú. Ela parou de frente a uma das lareiras e falou, parecendo agora mais firme.

- Então é isso. Eu tenho três dias para ir até lá, conhecer a noiva, destruir o casamento, roubar o noivo e viver feliz para sempre.

- Eu achei que você simplesmente fosse dizer adeus.

- Malfoy! – ela repreendeu, entrando na lareira.

- Quem diria que a toda certinha Granger...

- Olha, eu realmente odeio fazer isso. Mas é preciso.

- Boa sorte, então.

- Três Vassouras – ela falou entre as chamas.

Ao sair da lareira no Três Vassouras, ela tossiu enquanto tentava limpar o rosto das cinzas. Levantou os olhos, vendo Rony vindo em sua direção e largou a mala indo também na direção dele. Quando os dois se encontraram, o abraço foi imediato, mas ao mesmo tempo continuaram a se encarar. Ela tremia de nervosismo, o estômago incomodado. Ele sorriu, ainda bem próximo à ela.

- Mione! Que bom ver você!

- Tem algum tempo, não? – perguntou sem jeito.

- Tempo demais – respondeu antes de dar um passo para trás.

Ele segurou a mão esquerda dela, ainda parecendo imensamente contente em vê-la.

- Venha, eu quero que você conheça ela.

- Eu já conheço a Luna, Rony...

- Não. Não conhece mais.

Hermione se deixou conduzir pelo amigos por alguns segundos até ver a outra moça. Realmente: aquela não parecia em nada a menina avoada que fora parte da Armada de Dumbledore no passado. Seus cabelos, antes longos, com aspecto de sujos e bagunçados, estavam impecavelmente arrumados, na altura dos ombros, e com um tom de loiro parecido com o de Lilá Brown. A menina sorriu, seus grandes olhos azuis brilhando (Hermione reparou que ela tinha finalmente aprendido a técnica da depilação de sobrancelhas, não parecia mais estar sempre espantada) e veio em sua direção.

Conseguiu ver a coisa um instante antes que realmente acontecesse: a loira a abraçou, jogando seu peso contra o corpo de Hermione, que perdeu o equilíbrio e caiu sobre a mesa atrás dela, derrubando não só a xícara da chá como também o bule, os biscoitinhos, o leite e a cadeira de Amos Diggory, seu antigo chefe. Luna ria livremente da situação, assim como Rony, mas a bruxa sentia-se muitíssimo constrangida.

- Sinto muito, Sr. Diggory... Realmente sinto muito, eu pago outro chá para o senhor...

- Não foi nada, minha filha, não foi...

- Eu faço questão! – reforçou Hermione, sem notar o cabelo sujo de comida.

- Scorgify! – falou Rony atrás dela, limpando o cabelo da amiga. – Eu sinto muito, Amos.

- Não se preocupe, Weasley, sempre podemos esperar essas coisas em um lugar onde a Srta. Lovegood está.

- Sra. Weasley – ela falou, se pendurando no braço do noivo, enquanto a morena sentia náuseas.

- Poderá ser Sra. Weasley quando você for casada com ele – corrigiu.

- Esse poderá ser, será no domingo às seis – ele sorriu.

- Parabéns, rapaz. – Falou o Sr. Diggory melancólico – Queria eu que meu filho...

- Eu sinto muito, Amos, mas estamos atrasados. Você vai a festa, não?

Hermione continuava surpresa com a falta de gentileza do amigo nessas horas.

- Claro!

E no momento seguinte, estavam fora do Três Vassouras.

"You give your hand to me

(Você dá sua mão para mim)

And then you say hello

(E então você diz "olá")

I can hardly breath

(Eu mal consigo respirar)

My heart is beating so

(Meu coração está batendo tanto)

And anyone call tell

(E ninguém poderia dizer)

You think you know me well

(Você acha que me conhece bem)

Well, you don't know me

(Bem, você não me conhece)"

Os três entraram no carro que Luna costumava dirigir – afinal, algumas coisas tinham mudado, e ela era a pessoa mais adepta de excentricidades que Hermione tinha conhecido. Só menos, talvez, que Arthur Weasley. Rapidamente ela conseguiu perceber que a garota não tinha o menor talento pra direção. Saíram à toda de Hogsmeade, entrando em uma via que ela nem sabia existir. Havia muito movimento, levando à cidadezinha mais próxima, onde estariam hospedados. Antes que a loira começasse a conversar, a morena já tinha contado três fechadas que ela dera em carros diferentes. Estava quase vomitando enquanto Rony, no banco traseiro do conversível, ria da expressão enjoada dela.

- Hermione, nos conhecemos há quanto tempo? – Perguntou, com sua inconfundível voz sonhadora.

- Não sei – respondeu alerta -, doze anos talvez.

- Doze anos... Acho que é – Os olhos da garota saíram do transito e foram até a colega, sorrindo. – Preciso enormemente de um favor seu.

Hermione se virou diretamente para a loira, séria, imaginando o que poderia ser.

- Eu preciso muito que você seja minha madrinha de casamento.

Imediatamente ela engasgou ao ouvir a proposta. Ela? Madrinha do casamento DELE? Com AQUELA garota?

- A Gina e as gêmeas Patil são minhas damas de honra, mas não tenho uma madrinha de casamento. A Laureen, que seria minha madrinha, sofreu um acidente com o balaço no Harpies! Ela está em observação no St. Mungus, mas eu duvido que ela saía em menos de um mês... Ah, por favor! Eu não sei mais quem poderia...

- Tudo bem... – respondeu em um fio de voz. – Tudo bem.

Luna tornou a olhar pra ela e sorrir, enquanto mais uma vez davam uma fechada em um carro e o estomago de Hermione se contorcia de náuseas.

Quando chegaram ao hotel, Rony saiu com o carro, deixando as duas sozinhas no local. Havia um grande hall, e pessoas andavam de um lado para o outro, todas parecendo muito ocupadas. Entraram no primeiro elevador que parou e Luna apertou o penúltimo botão, a grifinória parecia constrangida mas tentava se manter no controle da situação.

- Então... Como você e Rony começaram...?

- Quadribol – ela respondeu simplesmente, suspirando. – Você sabe, meu pai comprou metade das ações da revista. Rony foi capa de uma das edições, com uma matéria sobre como ele tinha se tornado um astro jogando na companhia de Harry.

Hermione quis revirar os olhos. Depois de algum tempo, a "The Quibbler" tinha virado uma revista de fofocas, e não de casos fantásticos, tendo como editora a própria Rita Skeeter. Se perguntou que tipo de matéria teria sido aquela sobre o estrelato de Rony.

- Rony foi até o escritório fazer um escândalo – continuou, sua voz no tom etéreo típico dela mesma – e eu estava lá. Realmente, era pra ser, porque raramente eu vou ao escritório ver meu pai, ainda mais durante o período de aulas.

- O que você está estudando mesmo? – perguntou, desejando que o elevador chegasse lá em cima.

- Arquitetura – respondeu, sem dar atenção – escute, eu não ia conseguir fazer isso sem falar com você... Eu fiquei pensando o tempo inteiro em como eu precisava te encontrar e te dizer...

- Do que você está falando? – perguntou, confusa, vendo o elevador se aproximar de seu destino.

- Rony me contou do caso de vocês – ela respondeu simplesmente, e quando a luz do décimo andar se acendeu, apenas um instante antes que a porta abrisse, Luna apertou o botão que travava o elevador. – Ele me contou tudo, cada detalhe, cada...

- Você não fica nervosa em lugares fechados?

- E eu ficava o tempo inteiro me perguntando como é que eu poderia ser maior que a grande e perfeita Hermione Granger, sim, porque ele ama você com cada átomo do corpo dele, e como eu poderia um dia ser mais que isso, e chegar onde eu estou... Porque eu sabia muito bem, desde muito nova, que meu objetivo era casar com Ronald Billius Weasley, e eu pensei por muito tempo e...

- Você é tão determinada – falou nervosamente a grifinória, dando voltas pelo elevador.

- No final, você venceu.

A mulher parou no meio do movimento, e encarou a outra, perplexa.

- Eu... Eu acho que perdi alguma coisa.

- Ele pôs você em um pedestal, onde ele vai sempre amar... E eu nos seus braços.

"No you don't know the one

(Não você não conhece o alguém)

Who dreams with you at night

(Que sonha com você à noite)

And longs to kiss your lips

(E deseja beijar seus lábios)

And longs to hold you tight

(E deseja te abraçar apertado)

Oh, I'm just a friend

(Ah, seu sou só uma amiga)

That's all I've ever been

(É tudo que eu sempre fui)

Well, you don't know me (Bem, você não me conhece)"

Aquilo foi um tapa na cara de Hermione, mas para seu alívio, depois disso, Luna liberou o elevador e as portas se abriram, ela pode sair correndo para dentro do salão, em busca de ar. Para seu desespero, deu de cara com um garçom, lançando pelo ar todos os salgadinhos em sua bandeja, e completando caindo no chão. "Porque nada dá certo comigo?" conseguiu pensar antes de abrir os olhos e encarar uma quantidade enorme de rostos de senhoras desconhecidas olhando para ela.

- Mione! – falou Luna, rindo e estendendo a mão. – Não precisa ficar com tanto pânico!

Ela aceitou a ajuda para ficar de pé, sentindo o mundo girar um pouco à sua volta, e finalmente encontrou um rosto conhecido: as gêmeas Patil sorriam, com vestidos idênticos e apenas a cor diferente.

- Hermione! – falou uma, que ela supôs que fosse Parvati. – Há quanto tempo! E como vai a campanha!

- Não é uma surpresa que a pequena Luna tenha conseguido fisgar realmente o mais gostoso dos Weasley? – emendou Padma.

- Ah, eu sempre imaginei que ela conseguiria, ela é tão...

- Juro que fiquei surpresa, a Luna ainda é virgem, e até agora...

- OK, eu acho que foi o suficiente – falou Gina, que acabara de chegar, repreendendo as gêmeas. – Como vai, Hermione?

- Gina! – Ela falou, abraçando a ruiva – Quanto tempo, que saudades, você...

- Também senti sua falta – falou sorrindo, abraçada com a amiga. – Venha, venha ver minha mãe.

As duas seguiram andando pela festa, subitamente a morena se sentia muito masculinizada, vestida com um terninho no meio de todas aquelas mulheres... Céus, só tinham mulheres na festa! Se sentiu mortalmente deslocada, até que a Sra. Weasley a abraçou.

- Hermione! Querida! Você sumiu…

- Trabalho demais, Sra Weasley… - desculpou-se sem jeito.

- Essa é Hallie Hilldett – apresentou a noiva, sorridente – a mulher do meu pai.

- Olá querida! – A senhora loira deu dois beijinhos em suas faces. – Rony fala tão bem de você, mas não fez jus à sua aparência magnífica!

- Obrigada – falou corando, antes mesmo de ouvir senhora Weasley.

- Hermione é a nora que eu sempre quis pra mim, aliás, a nora que qualquer mãe pediu à Deus –então, virou-se para a grifinória. - Você sabe, os gêmeos ainda estão solteiros, você não gostaria de dar um jeito em um deles?

- Mamãe! – repreendeu Gina. – O Rony me avisou que deveria te levar para o estádio de Quadribol assim que você tivesse conhecido a Hallie. Ele sabe que você não iria se sentir bem nessa festa. Harry está lá também!

Não foi preciso mais nenhuma palavra para que ela assentisse e saíssem em companhia da amiga.

"I never knew the art of making love

(Eu nunca conheci a arte de fazer amor)

Although my heart is aching with love for you

(Apesar de meu coração estar doendo de amor por você)

Afraid and shy, I let my chance goes by

(Com medo e tímida, eu deixo minha chance escapar)

A chance that you might love me too

(A chance de que você possa me amar também)"

- Alguém aqui pediu cerveja amanteigada?

Hermione desceu os degraus do camarote com um sorriso de orelha à orelha e equilibrando uma bandeja cheia de garrafas, que ela foi distribuindo, a começar pelo noivo.

- Esse é Ernest Lovegood, o pai da Luna – apresentou Rony, enquanto ela entregava a garrafa;

- Encantada.

- Ela é mesmo uma graça, meninos...

- E esse é Ralph Marshall, meu treinador.

- É um prazer conhecê-la.

- O prazer é todo meu.

- Você conhece meu pai...

- Como vai minha ativista preferida? – perguntou, depositando um beijo na testa da garota.

- Cheia de trabalho, Sr. Weasley, realmente cheia de trabalho.

- Fred, Jorge.

- E ae? – perguntou Jorge

- Manda uma das cervejas – falou Fred.

- Olá Percy.

- É um prazer revê-la, Hermione – replicou, formal.

- Gui e Carlinhos ainda não chegaram... – explicou o rapaz.

- E olha quem está aqui! – ela disse, animada.

- Hermione! – Harry pegou a última garrafa, e automaticamente a bandeja desapareceu. – Está aí, a mulher mais sumida da face da terra!

Ela abraçou o amigo forte, antes de dar um passo para trás, segurando sua mão esquerda enquanto o observava de cima a baixo.

- Merlim! Você está tão...

- Forte? – riu Rony.

- Não… - Ela abaixou o tom, rindo para Harry – Céus, gostoso!

Harry explodiu na gargalhada junto com a mulher, mas Rony olhou para os dois desconcertado.

- Dando trabalho pra mulherada, hein? – ela riu.

- Vida de solteiro é assim, não é?

- E eu que pensei que você e a Gina iam realmente casar depois daquele namorinho...

- Nada como estar livre, leve e solto na vida, né...?

- Deixa eu lembrar à vocês que essa é minha irmãzinha! – falou Rony fechando a cara.

- Ih... Olha o Roniquinho! – falou Fred rindo.

- Todo vermelhinho porque falaram da pequena Gina!

- E vocês dois! – ele chamou a atenção antes de começar a tentar reclamar, as orelhas vermelhas.

- Olha as orelhinhas dele! – Falou Hermione, e todos caíram na gargalhada.

Certas coisas nunca mudam mesmo.

"You give your hand to me

(Você dá sua mão para mim)

And then you say goodbye

(E então você diz adeus)

I watch you walk away

(Eu vejo você andar pra longe)

Beside the lucky guy

(Ao lado do cara sortudo)

Oh, you will never, ever know

(Ah, você nunca, nunca vai saber)

The one who loves you so

(Quem ama tanto você)

Well, you don't know me

(Bem, você não me conhece)"

Os dois andavam sozinhos pelo estádio, agora vazio, sem dar atenção ao rapaz que aparava a grama pacientemente.

- Não achei que você fosse tomar uma decisão dessas tão... Rápido.

- Ás vezes eu me pergunto também, se não estou sendo precipitado... Mas... Hermione...

A amiga olhou para ele, com uma centelha de esperança nascendo em si.

- Tem uma coisa nela, que é exatamente o que eu preciso.

Hermione sentiu seu peito murchar de desapontamento, mas continuou ouvindo-o impassível.

- Quando eu a abraço... Eu não tenho que soltar logo. Eu posso ficar ali, abraçado com ela o quanto tempo eu quiser... Ela nunca me pede para soltá-la, nunca se sente constrangida... E quando eu a beijo... Ela simplesmente me beija de volta, independente do que for.

Aquilo foi o golpe final. Luna era perfeita. Pequena, delicada e perfeita. Gentil, carinhosa, e tudo mais que ele precisava. Não havia mais chance. Não havia mais nada. Ela era uma mera gelatina, medíocre, perto da perfeição de um creme burlée.

N/A: Eu sei que esse final foi meio pra baixo, mas não desanimem! Tudo pode melhorar! :D O Harry gostoso é uma homenagem à Samhain Girl, que é um amor