Um caso complicado de se resolver

No dia seguinte, Sakura ligou para Shinta.

- Oi, Shinta.

- Sakura, como você está?

- Bem, obrigada, e você?

- Muito bem, mas ansioso para saber sua resposta.

- Tudo bem, Shinta, eu os ajudo. Mas Shaoran vai comigo.

- Ah, Sakura...

- Ou isso ou nada feito, Shinta.

- Certo, ele pode vir...

- Eu não quero forçar, mas não sei o que tem de mais ele ir, Shinta.

- Ei, Sakura. – Shaoran a chamou.

- Espera um pouco, Shinta. – ela afastou o bocal do telefona, mas não o tapou. – O que foi?

- Não tem problema eu não ir com você, não força a barra lá.

- Shaoran, você não quer ir?

- Não é isso, só acho que é melhor não forçar. Além disso, eu acho que seria egoísmo meu.

- Você tem certeza?

- Tenho.

- Então tá. – disse ela, meio desapontada. – Alô, Shinta.

- Eu ouvi tudo, foi ele quem falou...

- Tudo bem, quando você quer que eu vá na sua casa?

- Pode ser hoje?

- Até pode, mas não vou poder ficar muito... Tenho que resolver umas coisas com meus documentos.

- Sei, mas só um pouco, não tem problema.

- OK, que horas?

- Logo depois do almoço, pode ser?

- Tudo bem, Shaoran e eu iríamos às quatro ver os documentos. Ele passa aí para me pegar.

- Ah... OK. – ele pareceu meio contrariado, mas acabou deixando. – Então a gente se vê.

- Até mais. – ela desligou. – Eu não queria discutir isso com o Shinta ouvindo, mas por que você fez isso? Por acaso não quer ficar comigo?

- Não tem nada a ver, Sakura, só acho que, mesmo estando com você, vou me sentir meio deslocado lá.

- É isso mesmo?

- Eu juro. – ele se aproximou mais dela.

- Ah, eu sei que é mentira, mas vou fingir que engoli. – ela o abraçou pelo pescoço e o beijou.

- Eu nunca juraria se fosse mentira. – disse ele, quando os lábios se separaram. – Você não confia em mim?

- Nunca confiei tanto em alguém na minha vida. – disse ela, se apoiando no peito dele. – Você sabe disso.

- Nem mesmo em Yukito?

- Nem em Yukito. Eu te amo e esse é um sentimento que eu nunca tive por Yukito, Shaoran. E amor não existe sem confiança.

- Você sabe que, mesmo tendo meus ataques de ciúme eu confio em você, não sabe?

- Sei sim, não se preocupe. Eu até concordo que, de vez em quando, seus ataques têm justificativa.

- Bom, acho que é melhor você dar mais uma ensaiada enquanto eu faço o almoço. – ele deu um selinho nela.

- Tudo bem.

Eles continuaram a manhã e logo depois do almoço, Sakura estava pegando suas coisas para sair.

- Ainda tem como você ir. – disse Sakura, quando Shaoran abriu a porta para ela sair.

- Não, passo lá mais tarde para irmos ver os documentos. – ele a beijou.

- Às quatro horas, certo?

- Certo.

- Agora me beija de novo. – ela se aproximou mais dele e ele a beijou novamente. – Não se atrase, não sei se agüento tanto tempo sem você.

- Você agüenta. – disse Shaoran, piscando para ela (eu sei que eu forcei, mas imagina aquele gato piscando... Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!! Não sei se eu agüentava).

Ela foi andando calmamente até a casa de Shinta, mas, no meio do caminho, viu Yukito conversando com um outro rapaz que ela não conhecia. Escondeu-se atrás de uma árvore e, assim que Yukito e o outro rapaz se afastaram e Yukito foi andando na direção dela, ela saiu de trás da árvore e o encarou.

- O que está fazendo aqui? – perguntou Yukito.

- Eu é que pergunto, pensei que você fosse ficar fora de encrenca.

- E eu estou.

- Aquele cara não me pareceu tão "fora de encrenca". – comentou, com sarcasmo.

- Sakura, não venha se meter se não quiser acabar machucada de novo.

- Yukito, mesmo tendo me afastado de você eu ainda gosto muito de você.

- Então por que se afastou?

- Eu diria que foi por segurança, mas seria mentira e você não acreditaria. Shaoran me pediu isso, ele não quer que aquilo tudo se repita.

- Sakura...

- Eu sei, ele não manda em mim, mas não quero brigar com ele.

- Sei... – ele virou o rosto e começou a encarar o chão.

- Está com ciúmes, não é? – ela levantou o rosto dele e viu que ele estava carrancudo.

– Eu sabia. Bobo, você sabe que eu te ajudarei se estiver com problemas, independente do que ele achar. – ele ainda não acreditara. – Eu só não achei o momento certo para vir falar com você. Começamos o namoro há três dias, você e a Sakuya também se afastaram um pouco no começo. E você sabe que é o meu primeiro namoro estável, sinto muito se te deixei bravo.

- Tudo bem. – ele sorriu um pouco. – Para onde estava indo com a guitarra?

- Shinta insistiu tanto que eu vou dar uma mãozinha na banda dele.

- Sei, não quero te atrasar. Até mais. – ele foi se afastando.

- Quer ir jantar lá em casa? – perguntou Sakura, de repente.

- Como?

- Janta comigo e Shaoran em minha casa, hoje?

- Fala sério?

- Nunca falei mais sério em minha vida.

- E Shaoran?

- Falo com ele mais tarde. Você vai?

- Sete horas, como sempre?

- Sete e meia, temos jantado um pouco mais tarde esses dias.

- Certo, estarei lá.

- OK, agora vou indo antes que Shinta ligue perguntando algo para Shaoran. – ela saiu correndo e logo chegou na casa de Shinta.

- Sakura, veio rápido. – comentou Shinta, abrindo a porta e a deixando passar. – Venha, vou lhe apresentar ao resto da banda. – eles entraram na sala e viram vários equipamentos de som em um palco improvisado e três rapazes em cima dele, um dos quais Sakura reconheceu na hora.

- Makoto, não sabia que você estava na banda. E na bateria ainda...

- É, achei que Shaoran viesse com você.

- Não, conversamos e achamos melhor ele não vir. E agora eu agradeço por isso. – comentou ela, em voz baixa.

- Bom, esses são Hiroshi Inabata (violão) e Shin Matsuda (baixo). – apresentou Shinta.

- Prazer. – disse Sakura. – Posso instalar a... – Sakura não conseguiu terminar a frase ao ver atrás de Shinta o ex-braço direito de Urameshi parado. Correu a mão para a pochete onde levava a arma, mas as palavras de Shinta a fizeram parar.

- Ah, eu esqueci de meu irmão. Takashi Sadoshima, meio irmão por parte de mãe. – ele olhou melhor para Sakura. – Algum problema, Sakura?

- Não, nenhum. – disse, tirando a mão da pochete. – Ah, posso instalar a guitarra?

- À vontade.

- Eu ajudo. – ofereceu Takashi.

- Posso fazer isso sozinha, obrigada. – disse Sakura, o encarando.

- Vocês dois assim parecem namorados. – comentou Shinta.

- Não brinque com isso, Shinta. Sem ofensa, mas já tenho meu namorado e estou muito feliz com ele. – disse Sakura, séria e indo instalar a guitarra nas caixas de som logo em seguida. – Pronto, podemos começar?

- Posso falar com você um instante, Sakura? – pediu Shinta.

- Claro. – os dois saíram da sala.

- O que você tem? Algo errado com meu irmão?

- Não, nada... É só... – ela abaixou a cabeça para pensar exatamente no que dizer. – Nada, não é nada.

- Você não me engana, o que está havendo?

- Não é nada, e se vai começar a me pressionar eu vou embora e você que se vire com a guitarra.

- Certo, certo, não se irrite.

- Vamos logo, quanto mais cedo começarmos, melhor.

- Certo. – os dois voltaram para a sala. – Bom, galera, vamos começar.

- Primeiro queremos ver o que a Kinomoto pode fazer. – disse Inabata.

- Eu esperava por isso. – diz Sakura, pegando a guitarra. – Makoto, você me ajuda?

- Depende da música.

- Você adora, duvido que não consiga me acompanhar. – Sakura começou a tocar "Sk8er boi" da Avril Lavigne e Makoto a acompanhou. Assim que os dois acabaram os quatro garotos aplaudiram e Sakura olhou diretamente para Takashi.

- Realmente, achei que meu irmão estivesse exagerando, mas parece que não estava.

- Se o machismo te impede de imaginar que uma garota possa tocar guitarra acho que devia reavaliar seus conceitos. – disse Sakura, tão baixo que só ele pôde ouvir.

- Parece que fez a lição de casa, Srta. Kinomoto. – respondeu, mais baixo ainda.

- Pode apostar. – ela parou de falar baixo e se dirigiu ao resto da turma. – Bom, acho melhor irmos logo que não tenho muito tempo.

Eles ficaram lá tocando e quatro em ponto a campainha tocou. Sakura olhou para o relógio e começou a arrumar as coisas enquanto viu Takashi sair da sala para abrir a porta. Logo ele e Shaoran entraram e Sakura já tinha arrumado tudo e estava descendo o palco.

- Gente, foi divertido. A gente se vê amanhã, OK?

- Certo, mas dessa vez é a uma e meia, Sakura. – diz Shinta.

- Certo, vou estar aqui.

- Deixe que eu os acompanho, mano. – diz Takashi, indicando a porta da sala para Sakura. – As damas primeiro.

- Shaoran, você primeiro. – disse Sakura, passando logo depois do namorado com Takashi em seu encalço. Do nada ela tira a arma da pochete e aponta para a testa do rapaz. – Me contive, pois você é irmão de Shinta, mas agora solte essa arma antes que eu perca a paciência.

- Certo. – ele soltou uma arma que ele segurava por baixo da jaqueta e Sakura a pegou. – Vai atirar em mim?

- Não, mas melhor tomar cuidado que eu sou bem volúvel. – ela guardou as duas armas e os dois saíram da casa.

- O que aconteceu lá?

- Ele é o braço direito, ou pelo menos era, de Urameshi, o líder dos Allstars, ou ex-líder.

- Está atrás de você?

- Como os membros mais fiéis dos Allstars, todos atrás de mim.

- E de Yukito.

- Bom, já que falou nele... Encontrei-o quando ia até a casa de Shinta e o chamei para jantar em casa hoje.

- O que?

- Shaoran, apesar de tudo ele é meu amigo.

- Sakura, é para a sua segurança...

- Você não entende? Independente de me afastar dele ou não, corro perigo. Somos mais fortes juntos do que separados.

- Sakura...

- Por favor, não quero brigar, mas Yukito é meu amigo.

- Tudo bem, não devia ter mandado em você. Vou tentar me controlar.

- Acho bom. – ela o abraçou. – Quero curtir cada momento com você, principalmente agora.

- Ah, é? – ele a abraçou pela cintura. – Que tal isso? – ele a beijou.

- Nunca imaginei tamanha perfeição. – disse ela quando os lábios se separaram. – Agora vamos, temos algo para fazer.

- Certo.

Eles foram e validaram os documentos de Sakura rapidamente. Depois voltaram para casa e começaram a preparar o jantar. Depois subiram para se arrumar, desceram e terminaram, sete e meia em ponto, bem quando a campainha tocou.

- Yukito, boa noite. – Sakura o atendeu.

- Boa noite. – ele sentiu o aroma vindo da cozinha. – Nossa, que cheiro maravilhoso é esse?

- Ah, é um ensopado que o Shaoran fez, a única coisa que eu fiz foi cortar os legumes e a carne, você sabe que a única coisa que realmente sei fazer é panqueca.

- Isso não é verdade. – disse Shaoran, quando os dois entraram na cozinha. – Você cozinha muito bem. Licença. – ele passou com uma travessa grande do ensopado. – Está bem quente, é mais gostosa assim.

- Se você diz... – disse Yukito e os três se sentaram.

Tiveram um jantar tranqüilo e depois Sakura e Yukito foram conversar na sala enquanto Shaoran lavava a louça (como ele é prestativo, não?).

- Yukito, tem algo que eu preciso conversar com você.

- O que é?

- Takashi Sadoshima, é irmão de Shinta Niimai.

- Você está brincando, não está?

- Não, eu peguei a arma dele hoje à tarde. – ela mostrou a arma que pegara do rapaz.

- Ele tentou atirar em você?

- Ia, mas não deu tempo.

- Sei...

- Vou na casa dele de novo amanhã, será que você poderia vir comigo?

- Claro. Desde que Shinta não se importe.

- Vou ligar para ele. – ela pegou o telefone e ligou para Shinta. – Alô, por favor, o Shinta está? Obrigada. Alô, Shinta. Escuta, só liguei para perguntar se o Yukito poderia ir comigo amanhã aí. Pode? Obrigada. Ah, se tem algo errado entre eu e o seu irmão? Não por que? Ele estava tremendo? Estranho, eu não fiz nada pra ele.

- Além de apontar uma arma pra testa dele. – comentou Shaoran, entrando na sala.

- Shaoran! – disse Sakura. – Não, Shinta, ele não falou nada. OK, uma e meia, então. Tchau. – ela desligou. – Seu louco, ele quase ouviu!

- Até quando vai esconder isso dele? Até quando pensa que vai conseguir engana-lo?

- Até amanhã. Se ele souber o que o irmão dele quer comigo, pode tentar interferir e sair machucado. Amanhã acabamos com tudo. – ela olhou para Yukito que afirmou com um aceno de cabeça.

Eles combinaram algumas coisas e depois Yukito foi embora, deixando Sakura e Shaoran sozinhos. Sakura estava verificando as armas em seu quarto quando Shaoran bateu à porta.

- Entra. – diz ela, sem olhar para a porta.

- Sakura, será que a gente pode conversar?

- Claro. – ela deixou as armas sobre a escrivaninha, virou a cadeira e fez sinal para ele se sentar na cama. – O que foi?

- Sakura, por que você faz isso?

- Isso o que, Shaoran?

- Por que você se arrisca desse jeito?

- Se eu tivesse escolha, Shaoran... – ela suspirou. – Mas eu não tenho, faço tudo isso para poder sobreviver. – ela se levantou e foi até a janela.

- Sakura, você não precisa dar uma de durona para mim. – ele se levantou e a abraçou por trás. – Essa sua fachada não me engana mais.

- Sou quem eu sou e ajo do modo que for necessário. – diz ela e uma lágrima rolou em seu rosto. – Não que eu goste disso, mas não tenho escolha.

- Não chora. – ele secou a lágrima e a virou de frente a ele. – Não tem porque chorar agora. – ele a abraçou.

- Acho que vou ter um dia longo amanhã. Shinta nunca vai me perdoar...

- Sakura, você mesma disse que é em legitima defesa, ele vai entender.

- Não sei... Vou ter que esperar amanhã para descobrir.

- Então não sofra antes. – ele levantou o rosto dela. – Não quero te ver triste, dá um sorrisinho, vai? – ela começou a rir.

- Só você para conseguir me fazer rir assim. – ela o olhou nos olhos. Ah, aqueles olhos que a faziam sentir como se ele pudesse ver até sua alma, mas que ao mesmo tempo transmitiam segurança incondicional. Ela fechou os olhos e ele a beijou.

Ficaram assim por alguns minutos até que os lábios se separaram e Sakura se apoiou nele. Ela estava cansada, tivera um dia agitado. Ele sentiu o cansaço dela, a abraçou um pouco mais forte para depois a deitar na cama e se sentar ao lado dela. Se abaixou, ficando com os lábios próximos ao ouvido dela.

- Agora escute, você precisa descansar. – disse ele, num sussurro. – Se você quiser, posso ficar aqui até que você durma.

- Se você não se importar, eu gostaria muito.

- Tudo bem, agora feche os olhos. – ele se sentou direito novamente. – Tente não pensar no que você vai fazer amanhã, talvez uma música te ajude a relaxar, pode ser?

- Não precisa, só você aqui já é suficiente.

Logo Sakura pegou no sono e Shaoran foi para a sala. Ficou lá um pouco, tomando um chá e pensando. Como ele queria que Sakura tivesse uma vida mais calma, não para poder ficar com ele mais tempo, mas para ela poder aproveitar mais a vida. Ele riu desse pensamento, ele ficou sozinho até os dezessete e queria que ela curtisse a vida... Que moral ele tinha para falar que ela não curtira? Mesmo assim, ele só queria vê-la feliz. Acabou por dormir ali no sofá mesmo, ele também estava cansado.

Pela manhã, Sakura acordou se sentindo muito bem. Dormira como um anjo e estava pronta para tudo. Se trocou, desceu e deu de cara com Shaoran adormecido no sofá. Riu um pouco, era uma cena estranha. Foi fazer o café e ele acabou acordando com o cheiro das panquecas. Ele foi até o banheiro lavar o rosto e aproveitou para tirar aquela roupa: uma calça jeans e uma camisa social. Colocou uma outra calça de cor preta e desceu sem camisa mesmo.

- Ora, bom dia. Parece que seu olfato o acordou. – Sakura riu.

- É, bom dia para você também. – ele a abraçou por trás e a beijou no rosto. – Demora?

- Não, estou quase acabando.

Eles tomaram café tranqüilamente e depois ficaram na sala, assistindo TV juntos. Chegando perto da hora do almoço, Sakura foi para a cozinha e Shaoran continuou na TV. Aquilo era ridículo, os dois sabiam o que estavam pensando, mas nenhum tinha coragem de tocar no assunto. Decidiu deixar de ser idiota e ir falar com ela. Desligou a TV, foi até a cozinha e teve uma surpresa, enquanto cozinhava, Sakura chorava silenciosamente.

Não se conteve, foi até ela e a abraçou firmemente. Ela, em resposta, desligou o fogo, virou de frente para ele e começou a chorar mais ainda sobre o peito dele. Não tinha nada que ser dito mais, os dois ficaram ali abraçados por uns bons quinze minutos, para depois Sakura se afastar dele e voltar a fazer o almoço.

- Desculpe-me. Não queria que me visse daquele jeito.

- Sakura, eu já te disse que você não precisa agir daquele jeito comigo. Seja quem você é, te amo pelo que você é, não pelo que você aparenta ser.

- Eu sei...

- Você pode contar comigo para o que você precisar, sabe disso.

Eles aproveitaram o tempo que tinham juntos até bater uma hora e Yukito chegar na casa.

- Vamos? – perguntou ele.

- Vamos. – disse Sakura. – Me dê só um minuto. – ela se virou para Shaoran. – Vai dar tudo certo, não se preocupe.

- Confio em você. – ele a olhou nos olhos e a beijou, abraçando-a em seguida.

- Vamos. – Sakura afastou Shaoran de si, com um último olhar de confiança e saiu dali com Yukito.

- Você está bem? – perguntou ele.

- Estou. Ele me apoiou tanto, me sinto mal por deixá-lo dessa forma.

- Nós vamos voltar, Takashi não é tão fanático a ponto de se matar por vingança.

- Verdade.

Eles chegaram lá e Shinta que abriu a porta. Entrando na sala, Takashi viu Yukito e fez cara feia. O ensaio começou normal, até que, no meio de uma música, Takashi apontou uma arma para Sakura. A banda toda parou, Yukito se levantou de um salto e apontou a arma para a nuca de Takashi.

- Abaixe a arma se não quiser que ela morra. – disse Takashi.

- ... – Yukito olha para Sakura, que lhe dá um olhar encorajador e ele destrava a arma, pronto para atirar a qualquer movimento de Takashi.

- Não se importa com a vida dela? – perguntou Takashi.

- Você é tão previsível, Sadoshima. – disse Sakura, sacando a própria arma e apontando para Takashi. – Planejamos isso e você fez exatamente o que previmos.

- Sakura, o que está acontecendo? – perguntou Shinta, chocado com toda aquela cena.

- Seu irmão é ex-membro dos Allstars, Shinta. – explica Yukito.

- Os Allstars não desapareceram! – berrou Takashi.

- Mas vão, assim que você os mandar fazer isso. – disse Sakura, chegando ainda mais perto dele. – Você sabe que não quero fazer isso, e eu sei que você não quer morrer por vingança. Entremos em um acordo, então.

- Vadia, você acabou com a vida de Urameshi e vem me falar em acordo?

- Ele iria me matar, você sabe. Fiz aquilo em legítima defesa. – disse ela, friamente. – E ainda vale o que eu te disse ontem, sou muito volúvel, ainda com seus insultos...

- Sakura, por favor, não faça isso! – Shinta berrou, se metendo entre Sakura e Takashi.

- Shinta, eu não quero fazer isso, mas ele vai me matar.

- Sai daí, mano, isso não é problema seu.

- Claro que é, meu irmão e uma das minhas melhores amigas vão se matar!

- Olha aqui, Shinta, isso está acontecendo por causa da teimosia de seu irmão, agora saia da frente. – disse Sakura.

- Você matou meu chefe e melhor amigo, acha que é teimosia minha? – berrou Takashi.

- Olhe aqui, eu não tinha nada a ver com isso tudo até tentarem me matar no meio de um jantar. Agora não venha dizer que o erro foi meu! – Sakura estava alterada. – E eu sei que você estava no grupo de ataque naquela noite, foi você que eu nocauteei com um galho de árvore quando podia ter te matado como você teria feito comigo.

- Sakura, fica calma. – disse Yukito.

- Você está certa, me nocauteou aquela noite com o galho, mas agora você vai pagar por tudo o que fez. – ele destravou a arma e atirou.

- Não! – Shinta pulou em cima de Sakura e a derrubou, fazendo a bala acertar a parede.

- Shinta, você está bem? – perguntou Sakura, com a arma ainda apontada para Takashi.

- Estou. – respondeu ele, com a voz fraca, em choque.

- Você vai pagar! – Sakura passou uma rasteira no rapaz e Yukito pegou a arma da mão dele, o imobilizando em seguida. Sakura respirou aliviada e travou a arma antes de Shinta se levantar e a ajudar a fazer o mesmo. – Obrigada, Shinta, você salvou a minha vida.

- Obrigada por poupar a de meu irmão. – respondeu ele, olhando o irmão imobilizado por Yukito no chão. Nessa hora eles ouvem sirene de polícia.

- Parece que os vizinhos ficaram preocupados com a algazarra. – disse Sakura. – Sabe que isso significa, não é, Shinta?

- Sei, já que meu irmão é maior de idade, ele irá preso.

- Sob acusação de porte ilegal de arma e tentativa de homicídio. – completou Yukito.

- E vocês? Também têm armas. – perguntou Makoto.

- Temos licença. – disse Yukito. – Você trouxe os documentos, não é, Sakura?

- Claro que sim, Yukito. Não sou boba.

- Parados, polícia! – dois policiais entraram, apontando armas para todos.

- Calma, o atirador é ele. – disse Sakura apontando Takashi, e todos, menos Yukito, levantaram as mãos.

- Jogue a arma no chão, devagar. – disse o policial.

- Ei, calma, eu nem atirei. – disse Sakura, jogando a arma. – Tenho até a licença da arma, está na minha pochete. – disse Sakura.

- Deixe-me ver. – o policial se aproximou de Sakura, abriu a pochete e viu a licença. – Está tudo certo, me desculpe.

- Tudo bem. – Sakura abaixou, pegou a arma do chão e a guardou junto com o papel.

- Pode soltá-lo. – disse o outro tira e logo depois que levantou, Yukito mostrou a licença dele.

- De que gangue vocês são? – perguntou o policial.

- Eu sou dos White Tigers, ele é ex-membro dos Allstars. – disse Yukito.

- E você, senhorita...?

- Kinomoto, Sakura Kinomoto. Não sou de gangue alguma.

- Como? E por que tem uma arma, se é que eu posso saber?

- Tendo os amigos que eu tenho acho que para legítima defesa.

- Espere, você disse Sakura Kinomoto? – perguntou o tira que estava algemando Takashi.

- Sim, por que?

- Foi você quem matou Masayuki Urameshi, não foi?

- Foi. – ela assumiu.

- Ele era um monstro, quase matou um colega nosso. – comentou ele.

- Alego legítima defesa nesse caso também, ele tentou me matar também. – disse Sakura.

- Nós não íamos nem fazer queixa. – ele piscou e Sakura deu uma risadinha.

- Agora nós estamos indo. Ah, qual o nome dele?

- Takashi Sadoshima. – respondeu Yukito.

- Precisamos também do endereço e telefone dos dois. Ele vai a julgamento e precisamos de testemunhas.

- Sem problemas. – os dois deram as informações. – Isso é tudo?

- Sim senhorita, entraremos em contato. – os dois se foram.

- Acho que depois disso tudo não tem nem mais como ter ensaio, não é? – perguntou Sakura.

- Você fala como se o que aconteceu aqui não fosse nada... – comentou Makoto.

- Olhem, queria pedir para que guardassem segredo sobre isso. E sinto muito, mas acho que é melhor eu não os ajudar mais. Posso acabar atraindo mais problemas. – ela olhou para o chão e viu o crachá de um dos policiais. – Ei, vou levar até eles, já volto para pegar as minhas coisas. – ela saiu da sala correndo, mas quando saiu da casa, viu um rapaz apontando uma arma para o policial mais novo enquanto o outro empurrava Takashi para dentro do carro. – Cuidado! – ela pulou sobre o rapaz e acabou levando uma bala de raspão na perna. – Droga...

- Ei, você está bem?

- Ação primeiro, perguntas depois. – disse ela, pegando a arma e rolando para detrás do carro, protegendo-se dos tiros e os devolvendo.

- Sakura! – Yukito, ao ouvir tiros, saiu da casa e começou a atirar também. – Sakura, a sua perna!

- Não se preocupe com isso, foi só de raspão.

- Mentirosa. – ele conseguiu alcançar a parte traseira do carro. – Isso está feio, apesar de ser de raspão. – ele rasgou um pouco da camisa e amarrou firme no ferimento, fazendo Sakura gemer de dor. – Desculpe.

- Tudo bem, agora eu preciso de uma mão aqui.

- OK. – eles voltaram a atenção aos rapazes que estavam atirando neles.

- Retirada, galera! – disse um dos rapazes e todos saíram correndo.

- Sakura, vamos ver isso agora... – Yukito desamarrou a tira da camisa. – É, não é muito grave, mas temos que ajeitar logo. Você tem um kit de primeiros socorros?

- Vou pegar. – ele foi dentro do carro e pegou o kit rapidamente. – Aqui.

- Obrigado. – Yukito abriu o kit. – Nem preciso falar que vai doer, não é, Sakura?

- Anda logo, Yuki, acho que Shaoran logo vai chegar aqui. Você sabe como ele é, não sabe?

- Eu sei, mas pare de se mexer! – ele estancou o sangramento, limpou o ferimento e o enfaixou. – Pronto... Mas você tem que tomar cuidado com isso, ouviu?

- Ouvi. – ela olhou para a própria perna. Yukito tivera que rasgar a barra da calça jeans dela, que já estava rasgada um pouco por causa da bala, mas de resto estava tudo bem.

- Eu te ajudo. – o policial estendeu a mão para ela.

- Obrigada. – Sakura aceitou a mão dele e se levantou.

- É o mínimo que eu posso fazer já que você salvou minha vida.

- Ah, não liga, meia cidade deve a vida para Sakura. – comentou Yukito, com ar de quem comenta o tempo.

- Yukito! – Sakura ficou vermelha.

- Sakura! – Shaoran chegou correndo.

- Shaoran, eu não falei para você não vir?

- Eu sei, mas deu na TV que estava tendo um tiroteio aqui e eu vim correndo (que TV competente, não?).

- E o que você poderia ter feito?

- Não sei, mas eu daria um jeito. Agora vem aqui, vou te levar para casa. – ele a segurou pela cintura e ela passou o braço pelo pescoço dele.

- Ah, eu vim aqui para te entregar isso, você deixou cair lá dentro. – disse Sakura, pegando o crachá do rapaz do bolso. – Takero Sorayama, um belo nome. – disse ela, entregando o crachá.

- Obrigado, tome cuidado e obrigado por me ajudar.

- Sem problemas, faço o que posso. Cuide-se. Vamos, Shaoran.

Os dois foram para casa e, por maior que fosse a insistência de Shaoran, Sakura foi à aula de dança. Estava com um pouco de dificuldade para fazer os passos mais difíceis, mas ela se virou bem.

- Você não devia ter ido à aula. – disse Shaoran, pegando gelo para colocar na perna de Sakura.

- Eu não podia faltar tendo aquele festival tão perto.

- Faltam três semanas, Sakura.

- Ah, falando nisso, eu acho que vou ter que adiar a viagem, Shaoran.

- Por que?

- Eu e Yukito vamos ter que testemunhar contra Sadoshima.

- Entendo, então vou ligar para meu pai para avisar que vamos mais tarde e...

- Negativo, seu pai o espera. A gente troca a minha passagem, você vai depois de amanhã mesmo. Ai! – ela gemeu quando ele pôs o gelo na perna dela.

- Isso que dá você ser teimosa. Você tem certeza, Sakura? Não quer mesmo que eu fique?

- Eu adoraria que ficasse, mas tem um compromisso com seu pai. Amanhã provavelmente virão avisar do julgamento e trocamos a passagem quando você for. Não se preocupe, com Urameshi morto e Takashi preso, acho que os Allstars vão sair de circulação.

- Você tem razão, como sempre. Como você consegue analisar a situação tão rápido?

- É experiência, meu querido Shaoran, pura experiência.

- Vou terminar o jantar então, está bem?

- Eu não queria deixar tudo em cima de você...

- Sakura, não comece de novo com isso.

- Tudo bem, mas amanhã e depois eu faço tudo.

- Se você insiste tanto... – ele a beijou. – Quinze minutos com o gelo, não passe disso. – ele foi para a cozinha (Gente, desculpem a mudança brusca de assunto, mas eu não sabia como fazer ele ir pra cozinha... ^_^0).

Quinze minutos se passaram e Sakura tirou o gelo, indo para a cozinha já que Shaoran já estava quase acabando de preparar o jantar.

A noite passou tranqüila e, na tarde seguinte, lá pelas três horas, Sakura e Shaoran, que estavam ocupados arrumando as coisas do rapaz para a viagem, pararam um pouco para tomarem chá. Sakura aproveitou para preparar um bolo antes do almoço para que eles pudessem comer com o chá.

- Bolo de chocolate, o seu favorito. – disse Sakura, servindo um pedaço generoso ao rapaz.

- Ah, Sakura, não precisava.

- Você me ajudou tanto, é o mínimo que eu posso fazer.

- Não precisa me agradecer, fiz isso porque te amo. – eles ouvem a campainha e Shaoran faz menção de ir atender.

- Nem pense nisso, fica aí, eu vou ver quem é. – ela piscou e saiu da sala. Ao abrir a porta, deu de cara com um rapaz de olhos e cabelos escuros, assim como seu irmão. Alto, com braços fortes e corpo musculoso. Qualquer garota o desejaria, mas Sakura já tinha seu homem, apesar de que isso não a impedia de reparar nos outros, inclusive em Sorayama. – Ora, mas que surpresa! Sorayama, como vai?

- Vou bem, e a senhorita?

- Muito bem, mas não me chame de senhorita, sim?

- Tudo bem.

- O que te traz aqui?

- Bom, eu vim avisa-la do julgamento.

- Ora, mas que falta de educação a minha, entre, por favor. Claro, se não estiver muito ocupado...

- Não, não, para falar a verdade, assim que eu sair daqui vou para casa... Meu horário de trabalho acaba.

- Então, por favor. – ela fez sinal para ele entrar. – Estávamos tomando um chá, está servido?

- Se não for incomodar...

- De jeito algum. – eles entraram na sala. – Shaoran, você se lembra do Sorayama, não lembra? De ontem?

- Ahn? – ele tirou a cara do bolo. – Ah, sim, olá. – ele voltou a comer.

- Vou pegar outra xícara, sente-se. – disse ela, rindo, a Sorayama.

- Vou com você. – disse ele, olhando meio receoso para Shaoran.

- Ele não morde. – ela riu. – Não se preocupe, já volto. – ela entrou na cozinha e voltou com uma xícara e um prato. – Pronto. Bolo?

- Por favor.

- Então, sobre o julgamento... – começou Sakura.

- Vai começar dia sete, em três dias. Virei pegá-la às oito horas e depois pegaremos o Tsukishiro para irmos ao tribunal. – ele provou um pedaço d bolo. – Nossa, esse bolo está ótimo! Você que fez?

- Foi sim. – Sakura sorriu. – Escute, tem previsão para o fim do julgamento?

- Na verdade nunca tem, mas estão achando que não vai passar do dia dez. Por que, se é que eu posso saber?

- Nós íamos viajar amanhã. Passar o natal em Hong Kong com a família dele.

- Sei... Acho que lá pelo dia onze ou doze já poderá ir.

- Bom, acho que não tem jeito mesmo... – ela suspirou. Nessa hora o telefone toca e ela se levanta para atender. – Alô? Diga. Claro que não? Yukito, por que eu estaria chorando? Não, me desculpe, não devia ter gritado. Não, não... Não é isso... Você me conhece bem demais para eu esconder algo de você, não é Yuki? Você quer ir hoje? Bom, até tem, mas eu prometi que ia, então... Se você não se importar... Tudo bem, então. Depois de amanhã. Tá bem. Tchau, se cuida. – ela desligou.

- Era o Tsukishiro?

- Era, fiquei de marcar uma coisa com ele e agora ele quis aproveitar.

Sorayama acabou o bolo e o chá e depois se foi. Sakura e Shaoran continuaram a arrumar as coisas para que ele embarcasse logo pela manha no dia seguinte...

Gente, esse é o sexto capítulo e as coisas tão meio complicadas pra mim... Eu não estava planejando um julgamento, mas acabou dando nisso. Enfim, vou precisar de ajuda já que meu conhecimento de julgamentos é somente baseado em alguns episódios que assisti de Lei e Ordem... Mas pra isso recorri à minha grande amiga Makimachi Misao, ela vai me ajudar, mas talvez o próximo capítulo demore um pouco mais para sair, desculpem.

Bjs, Miaka.