Memórias de um passado distante

1- O primeiro encontro

O ano era 2000 e o local... bem, o local não importa. Basta saber que a história se passa em uma pequena cidade, cujo prefeito era bastante respeitado. O nome desse ilustre senhor era Elrond. Ele tinha três filhos, dois gêmeos, que atendiam pelos nomes de Elladan e Elrohir e um mais novo, que fora adotado e era a alegria da pequena família, seu nome era Estel.

Elrond uma vez explicou a seu filho mais novo que Estel significava esperança em uma língua a muito esquecida. Fora ele que dera nome ao menino quando o adotou e os gêmeos, desde aquele momento amaram seu pequeno irmão. É claro, já haviam se passado um bom tempo e Estel estava com vinte anos. Foi quando a história começou a complicar.

O jovem rapaz estava voltando, certa vez, da faculdade, quando esbarrou em uma outra pessoa e derrubou tudo no chão. Ele já estava com a desculpa na ponta da língua para falar ao desconhecido, quando viu uma cabeça com cabelos extremamente loiros e longos se abaixar e começar a catar o que estava espalhado.

- Desculpe-me, eu não estava prestando atenção no que eu fazia. - falou o desconhecido e olhou para os olhos cinzentos de Estel.

- Está tudo bem. Eu também não estava prestando atenção. - o desconhecido levantou e Estel pode dar uma olhada nele.

O rapaz a sua frente não parecia ter mais que a sua idade e vestia uma blusa verde e uma calça marrom. Ele tinha olhos azuis e cabelos loiros e longos, mas que, no momento, estavam presos em um meio rabo. Pôs, então, um boné que cobriu toda a superfície de sua cabeça até as orelhas. Era uma pessoa intrigante.

- Você não é daqui, é? - perguntou Estel.

- Não. Sou de outra cidade. Mas ouvi dizer que as melhores faculdades estão aqui, por isso, vim para cá. Você mora aqui?

- Sim, moro sim! - falou Estel, repreendeu o resto da frase que dizia que ele era um dos filhos do prefeito, afinal, não tinha o menor sentido em dizer isso.

- Que bom! Poderia me dizer então aonde fica a casa do Senhor Elrond? O prefeito? - Estel deu uma pequena risada - O quê? Você não sabe? Que pena, bem, valeu a tentativa. Poderia me dizer se alguém por aqui perto sabe? - Estel deu uma risada mais escandalosa pelo outro ter mal interpretado seu primeiro riso e ter tirado conclusões precipitadas.

- Não! Eu posso te levar até o Senhor Elrond. Sou filho dele... um dos. Venha. Há! A propósito, me chamo Estel. - o outro riu quando soube quem encontrara.

- Sou Legolas.

E assim foram seguindo para a casa de Elrond, que já havia previsto a chegada de Legolas em sua pequena cidade. Ele olhava pela janela de seu quarto enquanto brincava distraidamente com um belo anel em seu dedo. Desfrutava de um dos poucos momentos de paz em sua casa, quando nem os gêmeos nem Estel estavam ali, para se implicarem com propósito duplo de se divertirem e tirarem Elrond do sério.

Foi olhando pela janela que ele acompanhou a chegada de seu filho mais novo e o outro rapaz. Elrond desceu as escadas e abriu a porta para os dois, dando um abraço em Estel e um pequeno aceno de cabeça a Legolas.

- Pai, este é Legolas. Ele veio de outra cidade falar com você. - Elrond olhou o jovem loiro a sua frente

- Bem, meu jovem, se veio falar algo que possa ser discutido rapidamente e em poucas palavras, eu ficarei feliz em ouvi-lo - a expressão de Elrond era de desculpas.

- É sobre a vaga na faculdade, eu lhe mandei uma carta no começo do mês lhe falando. - falou Legolas - Não poderei mais entrar?

Elrond o olhou por um tempo. Era incrível que aquele rapaz não tenha mudado nada em tantos anos. Mas, Elrond lembrou a si mesmo, ele também não mudara nem um pouco e muito menos Elladan e Elrohir. O que o entristecia era o não reconhecimento de Estel pelo rapaz. Que seu filho mais novo não saberia da existência do jovem loiro era normal, mas o contrário era assustador.

- Senhor? Se eu não puder cursar a faculdade aqui, eu terei de ir embora. Se eu puder, eu tenho de arranjar logo um hotel para me hospedar, por isso, gostaria de uma resposta, se não for muito rude.- Legolas observou quando o prefeito suspirou e respondeu.

- Eu li sua carta. E lhe respondi que poderia vir para a minha cidade, você bem sabe disso. Eu lhe disse também que eu arranjaria um bom lugar para você ficar enquanto isso. Porem, temo que não poderemos conversar agora, meu jovem. Eu recebi um recado muito importante e precisarei me ausentar por uns tempos.

- Vai viajar, papai? Por que não me falou? - Estel olhou seu pai um pouco intrigado. - Acabei de receber o recado. Acho que vou levar seus irmãos comigo, para eles não acabarem com a minha casa. Você eu prefiro que fique, tem faculdade, não tem?

- Mas... mas eu acabei de entrar de férias! Eu posso ir com você! - protestou Estel. Elrond chegou mais perto do filho de modo que Legolas não pudesse ouvir.

- E quem vai mostrar a cidade ao nosso convidado? - Estel olhou sem entender para o pai. Elrond se virou para Legolas. - Vamos fazer o seguinte: eu realmente preciso ir e Estel vai ficar sozinho nessa casa. Eu lhe disse que arranjaria um bom lugar ficar. Eu insisto que fique aqui nos dias que eu ficar fora. A casa é grande e sem seus irmãos, Estel vai se sentir muito sozinho. O que me diz? Depois conversaremos melhor sobre a faculdade, o que acha? Não se preocupe, você vai cursa-la aqui, só que não posso resolver o problema agora e, como meu filho disse, acabou as aulas. Por que não espera até eu retornar e eu pessoalmente matricularei você?

Legolas olhou desconfiado para Elrond. Ele não conseguia entender como alguém que muitos diziam ser inteligente simplesmente abrigava um desconhecido dentro da sua própria casa quando só haveria seu filho mais novo com ele.

- Eu insisto que fique. Voltarei em menos de um mês e enquanto isso, meu filho pode lhe mostrar as belezas de minha cidade.

Nessa hora, a porta da frente foi escancarada e risos melodiosos e contagiantes se foram ouvidos. Os gêmeos haviam chegado em casa.

Os dois (que aparentavam ter uns vinte e cinco anos ) apostaram uma corrida para ver quem chegava mais rápido na sala de visitas, aonde eles tinham certeza de encontrar seu pai e seu irmão. Eles acabaram se enrolando e antes de chegar perto de Elrond, os dois deram uma trombada em Legolas, que era o mais próximo da porta. Estel reprimiu uma risada.

Apenas alguém muito perspicaz, ao olhar os olhos de Elrond, poderia dizer que ele achou a situação um tanto engraçada e até bastante rotineira. E não estaria errado, embora precisaria alguém ainda mais perspicaz para dizer que, por te achado a cena um tanto rotineira, uma estranha saudade perpassou por seus olhos.

- Oh, pelos Valar! Desculpe-nos. Não sabíamos que tinha visita - falou Elladan se endireitando e tentando recompor Elrohir, que desmontara em cima de Legolas.

- Sua família tem um jeito único de se apresentar... - falou Legolas para Estel, o ultimo deu uma risada abafada.

Por fim, os gêmeos se levantaram e estendeu cada um uma mão para que Legolas se levantasse e só então se deram conta de quem era a visita. Seus queixos caíram quando o viram com aquelas roupas e um boné. E largaram a mão de Legolas que puxavam para cima, o fazendo cair de novo. Mais uma risada abafada de Estel e Um riso de canto de Elrond.

- Me desculpe, alteza! Oh, Valar! Não era para termos te derrubado de novo! É que você está diferente! Eu não reconheci você, príncipe. - falou Elrohir com um sorriso nos lábios.

Legolas desistira da ajuda e levantava por si próprio.

- Também sinto muitíssimo, por tê-lo derrubado uma segunda vez! Não que a primeira tenha sido intencional, príncipe, de jeito nenhum! - Elladan chegou seu irmão para o lado e desatou a falar também, repreendendo um sorriso - Você fica muito engraçado nessas roupas, príncipe! Eu nunca imaginaria que elas pudessem ser usadas por você se eu não tivesse visto por meu próprios olhos!

- Desculpem- me, mas acho que estão me confundindo com outra pessoa. Eu não sou príncipe e não acho que tenha algo errado com a minha roupa. - o som de Elrond limpando a garganta desviou a atenção de todos para o homem mais velho e ele olhou os gêmeos com um pedido mudo para que parassem de falar.

- Elladan, Elrohir, este é Legolas. - mais uma vez, apenas os olhos de Elrond disseram que achava muito engraçada a situação quando seus filhos lhe lançaram um olhar como se dissessem "sabemos muito bem quem ele " - Legolas, esses são meus outros filhos - um aceno de cabeça de Legolas e uma risada abafada de Elrohir, seguida de uma cotovelada de Elladan no irmão - Agora, se me derem licença, Estel, Legolas, eu e meus filhos precisamos realmente arrumar nossas malas para a nossa viagem. Legolas, sinta-se a vontade para recusar um convite, embora eu gostaria que passasse os dias aqui.

- Que viagem? Vamos viajar? - perguntaram os gêmeos ao mesmo tempo enquanto seu pai os guiava até o escritório. Estel apenas ria com seus dois irmãos.

Foi com as sonoras perguntas de Elladan e Elrohir como som de fundo que Estel se virou sorrindo para Legolas e teve tempo de estudar melhor o novo visitante. Era engraçado como ele tinha algo que lembrava muito tanto seu pai quanto os seus irmãos. Ele imaginara várias vezes que essa fosse apenas uma característica de sua família, porém, pelo visto, se enganara. Era como se uma pequena luz emanasse do corpo a sua frente.

- E, então, vai ficar aqui em casa? - perguntou Estel com um brilho brincalhão nos olhos.

Legolas o olhou também com um quê divertido.

- Bem... - começou Legolas meio incerto - acho que vou. Quero dizer, se não for muito incômodo. - ele adicionou rapidamente. - E o seu pai parece já ter arranjado para eu ficar aqui. Porém, se preferir, eu posso muito bem ir para um hotel.

- De maneira nenhuma. Eu gosto de companhia. Meu pai tem razão, eu ficaria muito solitário sem ninguém aqui...

Uma pergunta mais escandalosa vinda do escritório do Senhor Elrond, feita por Ellandan ou Elrohir (não se podia distinguir de qual dos gêmeos era a voz se ela vinha de um outro lugar. Eles eram a cópia um do outro e a voz não ficava atrás). Estel riu baixo e olhou num pedido mudo de desculpas para o visitante.

- Você acaba se acostumando com eles. Sinto muito que os tenha conhecido quando os dois entraram e tropeçaram em você. Sabe, acho que eles realmente o confundiram com outra pessoa. É estranho, apesar de eles serem do jeito que são, eu não lembro de tê-los visto confundindo rostos por ai. Você foi o primeiro.

- Estou me sentindo honrado... - respondeu Legolas com um leve sarcasmo na voz. O que fez Estel rir com gosto.