- Será mesmo que é uma boa idéia?
- Vai dar para trás agora, Haru-chan? Você tinha concordado com isso antes.
- É mas... Mako-chan... eu não sei assim se vai dar tudo certinho... e se aprontarmos uma arte enorme?
- É por isso que estamos aqui – a moça de cabelos espetados pôs as mãos na cintura – o cetro é a melhor forma de ir ao século XXI sem causar paradoxos. E não precisamos pedir ajuda de Maya, tampouco nos preocuparmos com uma intervenção por parte da tia Cassie .
- Não sei não.. – novamente a outra, que também tinha o mesmo tipo de cabelo retrucava – parecia uma boa idéia no começo... mas agora... se o otousan descobrir...
- Tem certeza de que é minha irmã gêmea? Mas como está assustada!
- Acha que fomos trocadas ao nascer é? – agora foi a outra que pôs as mãos na cintura – somos idênticas! Não sei como otousan e mamãe nos diferenciam...
- Pelo tipo de energia, boba! E ainda ousa falar que é quatro minutos mais velha que eu...
- É o que a mamãe fala. Mas.. ah, tudo bem. Vamos pegar logo o cetro e partir. Mas eu ainda acho que quando perceberem que o cetro sumiu vão vir atrás da gente....
- Que nada – ela sorriu – com o cetro podemos voltar alguns segundos depois que partirmos. Nem vão perceber. Agora fique quieta! Vamos entrando.
As duas seguem normalmente pelas escadas, e, como hábito adquirido, as subiram correndo. No topo destas, olharam ao redor e viram os senshi treinando. Alguns estrondos de seus golpes eram ouvidos - e sentidos pelos seus corpos – perfeito! Estavam ocupados demais para as notarem. Andaram sorrateiramente até chegar a uma das muitas árvores exuberantes ali e ficaram ao lado desta. Antes de ir a cabo com o que estavam planejando há semanas, deram uma última olhada.
A mulher mais velha saltava com graciosidade ao redor e por sobre a moça sendo treinada. Mais atrás uma loira e outra de cabelos negros faziam movimentos que mal conseguiam perceber com os olhos. Aquelas duas eram muito, mas muito rápidas. Do outro lado haviam dois homens, ambos de cabelos castanhos se digladiando, e ambos também usavam o fogo como arma.
- Ai, Megumi-mama! – chorou a moça ao levar um potente golpe na boca.
- Algum problema, filhinha? – ela sorria enquanto falava – tem muito mais de onde veio.
Realmente, ninguém iria prestar atenção nelas. Andaram mais alguns passos em direção a outra árvore e viram o seu prêmio.
Encostada nesta, haviam várias armas. Um grande cetro, um machado do mesmo tamanho e com as lâminas lembrando a forma de uma alabarda – a mãe delas estava por lá... era melhor se apressarem – algumas espadas e, o que queriam. O cetro de uma das senshi encarregadas de guardar o acesso a passagem do tempo.
Mako-chan pegou o cetro e ambas correram um pouco e desceram as escadas. Olharam de um lado para o outro e, temerosas, puseram seu plano em prática. Em um instante, um brilho as envolveu. No instante seguinte, tinham desaparecido.
Coração da Tempestade. Um nome apropriado para um dojo cuja sensei era a senshi do planeta dos raios. Era de manhã cedo, e, como toda manhã, desde mais de dez anos antes, duas figuras podiam ser vistas no alto da pequena colina, cujo único acesso era uma longa escadaria com mais de cem degraus.
O Rapaz de cabelos espetados pulou e torceu o corpo ao mesmo tempo para escapar da centelha que fora enviada contra ele. Mas não foi o bastante. Logo atrás da centelha vinha aquela que a tinha enviado, atingindo-o direto no rim e logo em seguida fazendo-o se dobrar como uma letra "C" com a poderosa joelhada no seu estômago.
Ele é lançado no ar, formando uma parábola e indo direto ao chão. Teria atingido este de costas, se não girasse no ar e pousasse de pé, já dobrando os joelhos para se esquivar de outro ataque de sua sensei.
- Está muito distraído hoje. O que houve? Levou um fora de alguma garota?
Ele salta várias vezes para trás, esquivando-se de seus golpes. Não queria perder tempo respondendo. Ele estava mesmo um pouco distraído, e naquele treino isso seria fatal. Assim que percebe uma abertura ele lança a perna, que facilmente é evitada pela sua mestra, mas com isso ficou com a guarda aberta para o soco dele.
Soco este que nunca passou da metade do movimento. Uma potente rajada elétrica o atingiu em cheio, o que travou os seus músculos, deixando-o vulnerável a seqüência fulminante de golpes que se seguiu.
Cinco minutos depois ela parou de bater e maneou a cabeça, desgostosa. Realmente, naquele dia ele não estava com a cabeça boa para treinar.
- Tudo bem, vamos fazer uma pausa.
- Não sensei – reclamou ele – eu vou melhorar. Se fosse com um inimigo de verdade...
- Mas não é – cortou ela rispidamente – não vamos forçar a barra sem um bom motivo. Qual é o problema? Algo com o Shin?
- Não... – ele pôs as mãos nos joelhos e ficou um pouco curvado, recuperando o fôlego e avaliando os golpes e os danos que sofreu – é aquela prova de ontem... tenho certeza de que fui mal. Quando estávamos na casa de Rei-sensei revisando os exercícios, percebi que errei um número. E agora... – ele fechou os olhos – acho que não vou chegar nem a cinco.
- Você tem boa média. Não se desespere. Mas também não fique acomodado. Bem... cinqüenta flexões na ponta dos dedos, e tome seu banho antes do café da manhã, certo mocinho?
- Sim... okaasan...
Akira apertou os lábios enquanto observava ela se afastar. Desta vez ele sentia que a decepcionou mesmo! Tudo bem que não era coisa rara de não se aprimorar em um único treino, mas esta foi uma das raras vezes em que isto aconteceu por ele estar com a cabeça em outra coisa.
- QUE DROGA! – bufou ele.
Bom, não adiantava chorar agora. Ele se deitou no chão e apoiando-se na ponta dos dedos começou a fazer as flexões. Até que ela estava benevolente... só cinqüenta flexões. Geralmente eram cem. Duzentas quando ele claramente não "mostrava serviço".
Vinte minutos depois, ele adentrava a sala de jantar. Sua okaasan já estava lá, o aguardando. Ela deu uma rápida olhada nele e sorriu intimamente. Akira sem dúvida devia atrair muita atenção feminina na escola com aquele peito musculoso. Não era assim um absurdo, mas era um tórax de fazer inveja a muita gente. Ele terminou de vestir a camiseta e se sentou a mesa, começando a se servir.
- Okaasan, está delicioso!
- Não venha tentando me adular não – cortou ela – você foi um fiasco hoje. A noite quero mais trezentas flexões como castigo.
- TREZENTAS?! – exclamou ele com os olhos arregalados – bom, eu faço agora...
- E ter desculpa para não poder usar o lápis na escola? Desista. Foi só por isso que o poupei de manhã. Preocupe-se com sua performance escolar na hora apropriada, não durante o treino.
- Sim okaasan - bom... isso acaba com a sensação de benevolência da parte dela. Anda bem. Pensou que ela estava ficando fraca...
- "timo. Recebeu alguma notícia deles?
- Bem.. devem voltar no fim de semana. Tia Amy deu a sua palestra e ela, os gêmeos, tio Roger e Shin estão aproveitando a estadia. Que sorte a dele ser dispensado da prova...
- Ele já fechou o ano e não tem uma única falta no ano letivo. Ele merece uma distração. Ao contrário de alguns...
- Okaasan. Isso não é muito justo...
- Como já ofertei, podemos diminuir o ritmo dos treinos quando quiser.
- É – ele ficou emburrado – eu sei. Bom – ele rapidamente terminou de devorar o seu café da manhã – estou indo para a escola – ele se levantou e rapidamente deu um beijo nela – até mais tarde, okaasan.
Antes de sair, ele recolheu os pratos sujos e os lavou. Saindo correndo logo depois. Makoto recostou-se na cadeira e sorriu levemente. Tinha muito orgulho dele. Seu filho. Mas as vezes achava que ele bem que podia ser um pouco mais como um garoto normal.
Talvez fosse uma boa hora para falar com Cassandra e apresentar a ele seus primos ...
- Ai minha bunda... ai, ai, ai...
- Não chore Mako-chan. Cadê sua agilidade?
- Eu a perdi quando passamos no carrossel. Porque nunca nos contaram que atravessar uma fenda no tempo era como entrar em uma centrifugadora?
- Porque não somos plutonianas. Só por isso.
- Haru-chan.. as vezes você dá nos nervos.
- Obrigada – ela fez uma mesura e sorriu divertida – bom, estamos aqui, no século XXI. E agora?
- Agora? – ela a olhou enviesado e com um sorriso nos lábios – vamos conhecer um pouco as coisas e depois fazer uma visita ao nosso otousan. Ele deve estar um gatinho, e provavelmente está na mesma idade da gente.
- Pervertida...
- EI! Viemos aqui fazer uma visita, lembra?
- Você me convenceu a isso. Mas confesso que estou mesmo curiosa para vê-lo. A todos eles. Tia Megumi, tio Kinji...
- Não vamos abusar! Temos que voltar rápido. Não temos dinheiro que sirva por aqui, nem roupas extras, nem lugar para ficar. É só uma visita rápida. Vejamos.. em que dia estamos?
- Como assim? Não foi você que manipulou...
- Não sou a senshi do tempo, esqueceu?
- Oh sim... – ela a olhou com certa reprimenda – não é a senshi do tempo e roubou o cetro para abrir uma passagem até aqui. Sei...
- Não é tão difícil usar esta coisa. Nos treinaram para isso no caso de emergência, lembra?
- Bela emergência essa...
- Quer parar de bancar a santinha? Bem.. precisamos esconder isso – ela olha para o cetro na sua mão e ao redor. Estavam em um beco perto do local que iriam visitar nesta aventura proibida. Se ela se lembrava bem das aulas de história, devia haver um parque por ali. Era só enterrar o cetro lá e o pegar mais tarde – vamos.
As duas começam a andar pelas ruas da cidade. Apesar das roupas um tanto diferentes – e um tanto curtas – passavam muito bem por duas gêmeas daquele tempo. Logicamente sua presença causava o torcer de pescoços de alguns rapazes com os quais cruzavam. Rapazes estes que chamava a atenção delas. Bem que podiam ficar mais um pouco apenas para se divertir melhor com os "nativos".
Cinco minutos depois chegam ao parque. Ainda era cedo e o mesmo estava deserto. Uma estufa com jardineiras estava mais ou menos no centro deste. Ambos foram até lá e Makoto levantou uma destas jardineiras com a mão e pediu para a irmã abrir um pequeno buraco onde ela estava. Ela estendeu a mão com a palma desta aberta e um raio avermelhado saiu desta, abrindo uma pequena vala ali. A outra colocou o cetro ali e abaixou a jardineira por cima. A primeira parte da missão estava cumprida. Agora era hora da segunda.
Visitar o dojo da vovó e fazer um pequeno cumprimento. Bem como ver como ela era nesta época. Provavelmente devia estar idêntica a como conheciam no seu tempo.
Ele dobrou a esquina segurando a mão na haste de alumínio da placa para não perder velocidade. Que coisa! Estava atrasado. Nunca esteve atrasado antes, mas estava naquele dia.
Mas também, quem mandou estar tão distraído? Primeiro, a meio caminho da escola, percebeu que não tinha pego o livro de matemática. Voltou correndo para busca-lo, e perdeu um bom tempo procurando-o. Só depois é que descobriu que o tinha deixado na casa de Megumi. Foi para lá em disparada, e, além do costumeiro ataque daquele gato dos infernos, Megumi já não estava lá, e nem Rei-sensei. Felizmente com o contato telepático com sua amiga, ela o autorizou a entrar pela janela e pegar o livro. Seguiu correndo rumo a escola, mas bem satisfeito pois ainda não estava atrasado. Foi ai que se lembrou que estava sem o seu caderno de matemática. Que suplício! Foi para a sua casa novamente correndo e revirou o seu quarto a procura deste, e ainda teve que ouvir okaasan fazendo piadinhas de sua distração, dizendo que ele devia estar apaixonado para estar com a cabeça tanto no mundo da Lua. Achou o seu caderno exatamente onde devia estar, ou seja, na sua escrivaninha, e, morrendo de vergonha saiu correndo de novo, agora sim, estava prestes a chegar atrasado. Tinha que correr desesperadamente se quisesse... Opa! Ai não... não vai dar para desviar...
Foi uma trombada homérica! Digna de desenhos de televisão. Akira estava com os braços e pernas esticados, escorregando lentamente pelo corpo da moça com o qual tinha trombado. Ela nem mesmo tinha saído do lugar. A irmã desta apenas ria divertida, e a que levou o impacto olhava indignada para o "motorista" em questão. A cara dele tinha afundado em seu busto.
Ele olhava para cima, ainda um pouco atordoado. Via duas formas arredondadas bem delineadas e, acima desta, o rosto de uma moça bonita, de cabelos castanhos, espetados como o seu, e com olhos lindos e inusitados. Cor de âmbar! Alguns instantes depois ele percebeu que praticamente estava com a boca no meio dos seios dela e pulou para trás todo envergonhado e desesperado pelo que ela podia pensar dele.
Sem contar, lógico, do que poderia acusa-lo. Seu dia estava mesmo péssimo! E nem eram sete horas ainda.
- Geralmente os cavalheiros procuram conquistar as damas antes de enfiar a cara nos seios delas... - comentou ela o olhando duramente e com as mãos na cintura. A outra gargalhou de vez. E só então ele percebeu. Eram gêmeas idênticas!
E aquela ali sabia bem como multiplicar por mil a sua vergonha. Céus ! Ele se sentia pegando fogo.
- Gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen, gomen!!!!
A outra tornava a rir. Realmente, aquela sociedade era muito, mas muito diferente da sua, diga-se de passagem. E muito divertida, também!
- É algum deus pagão isso que você está falando?
- Será que é um tipo de desculpas?
- Não.. bem.. quer dizer. Sim, não, não é um deus, e sim, é uma desculpa, eu... eu.. hã... eu tenho que ir..
- Me faz um atentado destes e vai dando o fora é?
- Eu.. eu.. eu estou atrasado para a aula, mas se tiverem reclamação, falem com minha okaasan, Kino Makoto, adeus!!!
Ele saiu em disparada e ambas ficaram mudas. Kino Makoto... era o nome da avó delas.. então... ele....
- OTOUSAN - disseram ambas se entreolhando. Logo depois olharam para ele, que tinha acabado de dar outra trombada em mais um transeunte.
- Haru-chan,... me corrija se eu estiver errada... mas pelo que nos contaram, não era a rainha que tinha uma vida assim na adolescência?
- Esquece o que nos contaram.. olha só QUEM é a pessoa que ele acertou agora...
- Akira?
- Glup! - ele arregala os olhos. Por que, dentre todos os mortais, tinha que ser justamente com ele? - Mamoru-sama?
- Tudo bem com você? - ele lhe estende a mão, puxando-o, ao passo que com a outra o ajuda a recolher seu material - não deveria estar em aula agora?
- Eu, eu... eu.. sim, estou atrasado, eu.. MEU DEUS!!! ESTE DIA ESTÁ UM INFERNO!!! - berrou ele olhando para cima - desculpe Mamoru-sama, gomen!!! Minha culpa... eu.. eu estou atrasado, tenho que correr.
Ele pega o material de sua mão e sai correndo, deixando-o ali a observa-lo. Logo em seguida ele maneia a cabeça e sorri divertido. A Usagi iria adorar quando lhe contasse isso.
Adolescentes...
Talvez já fosse hora de pensar nos seus. Queriam planejar, aguardar a melhor hora...
E adoraria ter uma filha que fosse tão linda quanto a própria esposa, e que pudesse ter seu mesmo nome.
Um pouco mais distante, as gêmeas ainda estavam impressionadas. Aquele homem era o rei delas. Ou melhor, ele seria, um dia, o rei de Tóquio de Cristal. Era tão estranho vê-lo na rua, como uma pessoa comum...
E como ele era bonito ! Não se lembravam dele ser tão bonito assim, ainda mais com aquelas vestes ... que gatinho ...
Ele chega diante da escola e confirma seu pior temor. O portão estava fechado! Em desespero ele corre para tomar impulso e salta por este, indo em disparada pelo pátio e pelo corredor até a sua sala. Com cuidado entreabre a porta e nota a professora escrevendo algo no quadro negro. Sorrateiramente entra na sala e tentando não chamar a atenção vai até o seu lugar. Ele se senta e suspira aliviado. Tinha conseguido.
- Só para ver esta cena rara de você chegando atrasado, até que compensou voltar mais cedo.
- Não enche Shin. Meu dia foi.. hã...
Ele olha para o lado e lá estava ele. Aino Shinnosuke. Em cabelos loiros e olhos azuis em pessoa. Mas quando ele voltou?
- Quando..
- Esta madrugada. Tio Roger tinha de voltar e a tia Amy não achou justo ficarmos nos divertindo enquanto ele ficava aqui sozinho. Então todos voltamos. Dormi um pouco na casa dela e aqui estou.
Lindo... Uma perfeito péssimo dia. Pelo menos, seria difícil piorar...
- Kino Akira. Posso saber porque chegou tarde hoje?
Mas como ela reparou que ele chegou agora? E o dia ainda estava no começo...
- Glup! O-O-O-Ohayo, Haruna-sensei!
Foi uma longa manhã. Longa mesmo. Ela o fez explicar o por que de ter se atrasado, e o mesmo contou - cortando e editando algumas partes, obviamente - mas não escapou de um castigo, ficar no corredor da escola, segurando dois baldes d'água.
Mas que coisa mais...
- RIDÍCULA!!!
- Concordo com você.
- Hein? Mas que... Noriko? O que faz aqui?
- Apreciando a vista é que não estou - a bela moça de cabelos castanhos e curtos sorria debochadamente, enquanto segurava dois baldes d'água - por que se atrasou?
- Eu sai cedo, mas percebi que esqueci meu livro. Voltei para buscar, e quando sai, vi que esqueci meu caderno...
E lá foi ele contando novamente a história, mas desta vez não editou tanto. Considerando como ela ficou rindo depois, ele se arrependeu de ser sincero.
- Queria ver se fosse contigo!
- Ora Akira, admita! É engraçado. Um dia de cão. Bom, ao menos você teve uma casquinha com a moça.
- Nem me fale... eu queria morrer!
- Jura? Tem tanto medo assim de uma moça?
- Não me estranhe! É que...bem... ela me parecia familiar, sabe... e depois eu dei de cara com uma pessoa que eu conheço, e ele me vendo naquela situação...
- Hmmm - ela sorria, colocando um dos baldes no chão e acariciando sua franja - sabia que você fica uma gracinha quando faz essa cara de pobre coitado?
- Obrigado, eu.... hã? - nesse momento ele se tocou do carinho que a mesma estava fazendo nele.
Noriko.
Até que ela uma bela moça.
Se tornou uma bela moça.
E pensar que fora ontem que ambos discutiram por causa da quantidade de planetas que haviam no sistema solar...
- Você está com o sábado livre?
- Hein? O que foi isso? Um convite?
- Pode ser, a não ser que você esteja ocupada demais praticando algum esporte...
- Isso foi alguma indireta? - ela coloca as mãos na cintura - o que está insinuando?
- Nada, apenas achei que você não...
- Muito engraçadinho, hein! - ela o pega pela orelha, e aproxima seus lábios da mesma - pois vai ter que conquistar minha presença, senhor formiga. Apareça amanhã na quadra de basquete na hora do intervalo. Formaremos dois times, jogaremos em lados opostos. Se seu time vencer o meu... você ganhou um encontro.
- Feito!
Pelo menos, até que esta confusão toda serviu para alguma coisa. Não seria nem um pouco difícil vence-la no jogo. Bastava colocar Megumi e Shin no seu time.
O problema era agora se munir de paciência para suportar aquele castigo humilhante.
Realmente aquele não estava sendo um bom dia.
Primeiro, sua esposa perdeu a hora - no mínimo, passou o resto da madrugada em claro em suas pesquisas... novamente. Queria ter o intelecto da mesma para entender que diabos era aquilo. Podia ter aproveitado as horas que tinha depois que retornaram para descansar, mas ele preferiu assim .- Segundo, sua ex-estagiária e agora funcionária do jornal comunicou ao mesmo que por motivos de "segurança" teria que faltar ao expediente hoje - seja lá o que isso queira dizer. Sempre teve um pé atrás com aquela moça, ainda mais sabendo quem ela era, mas não podia fazer muita coisa sem se revelar... por enquanto.
E se não fosse suficiente, não conseguiu uma vaga para estacionar, de modo que teve guardar o carro no estacionamento e percorrer um trajeto maior com as crianças até a escola.
Tomara que elas não peçam nada da rua. Amy o mataria se eles comessem doce tão cedo.
- Otousan, otousan!
Ai... porque ele não aprendia a parar de pensar no que não queria?
- Sim, filhinha?
- Olha, olha, olha... - ela apontava para uma loja de bichinhos de pelúcia. Ah, não! De jeito nenhum! - me dá um? por favor, por favor, por favor, por favor, por favor, por favor, por favor?
- Estou sem dinheiro agora...
- Pode usar o cartão de crédito!
Mas que menina esperta! Bem.. porque ficava surpreso? Mas se era inteligente, também saberia entender sua resposta.
- Não Anchitka - ele foi firme - não agora e não hoje. Estamos entendidos?
Ela ficou com aquela cara emburrada e ameaçou abrir o berreiro. Mas desta vez, ele já sabia como enfrentar aquilo.
- E se for fazer chantagem chorando, não vou mais deixar o Akira nos visitar!
- EBA!!!! CHORA MANA! CHORA!!!!!
- E faço o mesmo com Shin se você começar também, entendeu Kinji?
- Sim... otousan. - mas que droga! Antes isso sempre dava certo.
Enfim, ele venceu uma contra aqueles dois. Agora ele podia olhar melhor para aquelas duas moças que observavam a mesma vitrine que encantou sua filha. Pareciam duas crianças observando os bichinhos.
E eram gêmeas, como seus filhos. Mas eram idênticas. E muito exibidas também.
- Okaasan vai ficar com ciúmes. O Senhor só pode olhar para ela, não para as outras!
E tomara, não tão adiantadas quanto os seus gêmeos. Ai......
Tinham nove, embora as vezes fizessem "arte" de quando tinham quatro anos, muitas vezes pareciam dois adolescentes.
Que os céus tenham piedade dele quando essa fase chegar!
Mas aquelas garotas estavam praticamente seminuas! Já tinha visto sua esposa com camisolas maiores do que a roupa delas!
- Vamos otousan! - a pequena puxava o seu braço - vamos chegar atrasados. E não quero perder a aula de cozinha hoje.
- É aula de culinária, boba. E seus bolinhos são muito feios!
- Mas são gostosos - retrucou - vamos...
Ele já ia dizer que estavam indo quando ambas subitamente se viraram e ficaram encarando com os olhos arregalados os pequenos. Pareciam que se concentravam muito, tentando analisar algo que estavam sentindo ou percebendo, e ficavam espantadas com o que estavam vendo. Aqueles dois... o que elas sentiam... mas... eles eram assim, tão jovens? Nunca lhes contaram desta diferença de idade. pensavam que deviam ter a mesma idade de seu otousan.
- Que fofinha que era a tia Anchitka! - murmurou uma para a outra.
- E o tio Kinji não fica atrás...
Roger apenas as olhava impressionado. Eram jovens... bem mais do que tinha suposto. E estavam assim naquela hora do dia? Geralmente tal coisa era vista a noite, e em locais mais particulares ou esquinas mesmo. Mas não poderiam ser multadas por atentado ao pudor, pois estavam no limite do limite para isso.
- Otousan... eu vou contar tudo para a okaasan! Não pode ficar olhando as moças da rua.
- Filhinha... papai não está olhando para as moças.
- Ahá! Então está olhando para o corpo delas! Que coisa feia, otousan!
- (Kinji) - Ele é menino, meninos gostam de olhar outras moças, né, otousan!
(Roger) - Filho, mesmo assim, não é desculpa para um homem casado fazer isso.
(Kinji) - Se é assim, por que o senhor esta olhando?
(Roger) - Bem... - ele realmente tinha dito aquilo? - é que estou surpreso delas estarem vestidas assim... hã... de um jeito tão... diferente.
(Anchitka) - Porque diferente? Eu já tive um vestido assim.
- Você tinha cinco anos! Não tinha problema usar um vestidinho assim.
(Anchitka) - Assim como? Até que acho ele bonito! Os dois!
- Ai... vamos, vamos que vocês estão atrasados! Vamos!
- Mas... mas... - Kinji protestava - não vai pedir o telefone delas?
- EU!?
- O Akira sempre faz isso quando vê uma moça bonita.
- Ele não é casado. Vamos rapazinho...
As duas observam o trio se afastar e continuam sorrindo. Que gracinha eles estavam assim nesta idade. Pena não poderem registrar isso. Seria ótimo para mostrar para seus colegas da banda.
Mas agora estavam com fome, muita fome.
Elas olham para o lado, e a distancia notam um carrinho de cachorro quente.
Se bem que o desenho de cachorro quente estampado neste era um tanto... diferente. Será que só tinha uma variedade? Elas se aproximam da barraca e observam melhor. Parecia ser o que conheciam como "clássico", apenas podendo escolher entre fritas, mostarda, maionese, outras coisas menores... Nada de peixe, carne, ou as variedades que conheciam.
Mas o cheiro estava bom. Muito bom. E elas estavam ficando com fome. Não tinham tomado o café da manhã, pois só faziam isto depois de treinarem. Foi uma das coisas que não esperavam desta visita ao passado. Não ter o que comer.
Claro que poderiam ficar um dia inteiro sem comer, mas se pudessem por algo para dentro... melhor ainda!
- Sim mocinhas? O que desejam?
- Comer! - disseram ao mesmo tempo.
- Certo.
Elas observam ele pegar um pedaço comprido de uma panela com água e colocar em um pão, e em seguida entope este de recheio. Faz o mesmo com um segundo e entrega a elas. Antes de comer, contudo, elas farejam um pouco aquilo. Era uma comida meio estranha, e não queriam surpresas. Ficar com dor de barriga no passado não seria uma podia pedida agora.
Por fim, experimentam um pedaço. E, segundos depois, os lanches desapareciam nas suas bocas.
Estava delicioso!
- Mais! - diziam as duas ao mesmo tempo.
- Já comeram? - ele as olhava assustado.
- É muito bom, manda mais!
- Hum... - ele as observa, mas era obvio que não tinham nenhuma bolsa consigo. Na verdade, não tinham quase nada com elas, muito menos roupas. Claro que ele não ia reclamar disto, mas começou a ficar um pouco preocupado. E a preocupação aumentou quando elas comeram mais quatro lanches. E a esta hora do dia? Incrível!
- Mais um?
- Não, obrigada. Para o café da manhã está bom - ela pega algo da parte interna do seu cinto vermelho e o entrega - pode cobrar.
- Mako-chan.. - comentou a outra subitamente, percebendo um detalhe que não tinham avaliando antes.
- Sim?
- Acho que nos esquecemos de um detalhe...
- O que é isso? - o vendedor as olhava curioso e para o que elas tinham lhe entregado.
- Ora, é para cobrar o lanche.
- Está brincando comigo, não está?
- Claro que não!
- Escuta.. aqui é uma barraca de cachorro quente. Não aceito cartão de crédito - ele cruza os braços e as observa com desconfiança - só dinheiro vivo!
- Vivo? - elas se entreolham, não entendendo - bom - só uma delas continuou - seja lá o que for, o que eu me lembrei é que nosso dinheiro não funciona aqui.. ou seja.. não podemos pagar por isso.
- Acham que podem comer sem pagar? Eu preciso sustentar minha família! E vocês vão pagar por isso! - ele olha ao redor e vislumbra o que quer - EI!!! GUARDA!!!
Elas olham na direção em que ele chamou e vêem uma pessoa de uniforme se aproximar. Logo olham uma para a outra e então...
Tanto o dono da barraca quanto o guarda ficam de boca aberta ao ver aquelas duas disparando pela calçada e... saltando(????) a avenida para a calçada do outro lado. E nem diminuíram o ritmo.
- Deixa para lá - murmurou o homem ainda olhando abismado para aquilo.
Cinco minutos depois, elas estavam no alto de um prédio, depois de terem despistado o guarda.
- Haru-chan... POR QUE VOCE NAO SE LEMBROU DISSO ANTES?!?!?
- Bem.. eu estava com fome... e você também devia ter se lembrado!
- Droga! E agora? Me sinto mal de termos dado prejuízo para aquele homem. Será que dá para arrumar um emprego simples para paga-lo?
- Emprego?
- Bom, talvez algo como no restaurante da vovó...
- Acorda! A gente já tá indo embora, não pensa em arrumar mais problemas para gente!
- Eu sei que daria para fazer alguma coisa... Ei! não é aquele homem que estava com Chi-chan e Kinji?
- É sim, e dai?
- Vamos perguntar se ele pode nos ajudar.
Sem esperar resposta, ela salta para o solo. Irritada, sua irmã a segue.
Até que enfim. As crianças estavam piores do que antes. Definitivamente, tinha que pensar em uma alternativa. Ainda bem que Rei estava dando aulas para os dois, para que "extravasassem" sua energia extra de criança, do contrário, ficaria louco!
- Com licença?
Ele se volta e arregala os olhos. Elas de novo? E... de onde vieram? Puxa... devia estar distraído.
- Em que posso ajuda-las?
- Pode nos dizer se tem como conseguirmos um emprego simples assim de algumas horas para pagarmos uma dívida que fizemos naquela barraca de lanches ali atrás?
Ele segue o dedo dela, mas não consegue ver nenhuma barraca. A mais próxima ficava umas três esquinas dali. Mas elas queriam um emprego só para pagar?
- Que tipo de divida?
- Bem, sabe, tipo assim, nós comemos alguns sanduíches por que estávamos morrendo de fome, e então nós... bem... nós descobrimos que não tínhamos como pagar, dai ficamos assustadas e saímos correndo, mas achamos melhor dar um jeito de pagar o homem.
Claro, aquela frase foi proferida em pouco menos de dez segundos, dai ele teve que parar um pouco para processar a informação.
- Vocês... hã... se importa de repetir em trinta e três rotações por minuto?
- O que?!
- Fale mais devagar.
- Bom... nós comemos alguns sanduíches por que estávamos morrendo de fome, e então nós descobrimos que não tínhamos como pagar...
- Entendi agora. Mas... quantos lanches comeram?
- Oito....
- Estavam mesmo com fome!
- Não tomamos o café da manhã.
- Percebi... mas o que fazem aqui? Não deveriam estar na escola?
- Não temos aula hoje.
- Mesmo? - ele dobrava o pescoço. Aquelas garotas deveriam ter a idade de fazer aquilo. Na melhor das intenções, estavam matando aula para farrearem... mas tão cedo? Bom, não era sua função ficar julgando as pessoas.
- Sim, mesmo.
Mas não podia achar curiosidade elas não terem dinheiro, e vierem perguntar a ela se podiam arrumar um emprego para.. hum...
Quanta honestidade. Parecia até o Shin. Bom... talvez houvesse um jeito...
- Olha, estou duvidando que consigam um emprego e recebam no mesmo dia... mas façamos o seguinte: vocês duas lavam o meu carro que está aqui perto, e quando eu voltar, pago vocês pelo serviço. O que acham?
Lavar o carro? Porque não?
- TOPAMOS!!! Onde está o carro?
- Eu levo vocês até lá.
Cinco minutos depois, ele mostra o carro a elas. Sabendo que iriam demorar um pouco, ele se afasta, e imagina onde elas iriam conseguir a água e o sabão. Quando volta com uma sacola de compras na mão, ele nota que havia um grupinho de pessoas observando elas. Havia água espalhada pela calçada e pela rua. e o carro estava brilhando. Um bom serviço mesmo. E em tempo recorde.
O que ele não sabia era que aquelas pessoas ainda estavam abismadas de duas adolescentes lavarem um carro simplesmente fazendo a água brotar das mãos. E uma delas ainda o ergueu para lavar por baixo.
- Bom serviço - disse ele olhando o carro limpo e brilhante - muito bom mesmo.
Ele leva a mão a carteira e pega o dinheiro. O bastante para pagar os lanches e mais um pouquinho para elas se virarem um pouco. Uma delas estende a mão e pega as notas. E nesse momento ele nota algo no bracelete dela.
Um desenho. Um símbolo. Um ... número ?
Quatro .
O número quatro .
Mas .... um quatro total estilizado . Personalizado, até . Estranho, tinha a sensação de já ter visto aquilo antes em algum lugar . Aquele quatro o lembrava de algo, mas o que ? Onde o viu anteriormente ? Espera um pouco, quatro era o ... o ...
O símbolo de Júpiter!
Ele mal tem tempo de dizer nada, as mesmas se afastam dali, deixando-o curioso e abismado.
O que significou tudo isso?
Perto dali, duas garotas faziam uma visitinha e pagavam uma divida...
