- Pelo menos, não vamos embora com dívidas.

- Admito que também me sinto melhor. Mas ainda estou um pouco irritada com aquela agarrada que me deram de manhã.

- Ah mana! Não começa. Aquele era nosso otousan... não acredito. Que gato que ele era!

- Haru-chan, controle seus hormônios...

- Mako-chan.. vai me dizer que ele não é bonito?

- Ele é... mas também é meio sem vergonha...

- Foi um acidente! E bem divertido. Vou escrever nas minhas memórias...

- Bom, deixa estar. Aqui estamos nós - ela olha para a imensa escadaria - o antigo lar dele e da vovó. Vamos subir?

As duas sobem a escada em disparada, passando por duas pessoas a meio caminho desta. Assim que chegam no alto, observam ao redor. Não era assim muito diferente do templo da tia Megumi. Uma casa do um lado, algumas árvores e um dojo do outro. E pelo barulho, tinha muita gente praticando.

- Bem, o que fazemos agora, minha cara líder desta excursão?

- Vamos entrar, oras. A vovó deve estar dando aula. Vamos ver se o que otousan nos falou era verdade. Que nesta época tinha humanos bem habilidosos.

- Se tiver, não acho que encontraremos um deles ai. Devem ser todos aprendizes...

- Mas podemos ao menos descobrir algumas coisas. Hum... até que era um lugar bem bonito. Mas no nosso tempo vai estar mais ainda!

Elas entram no dojo e observam. Haviam poucos alunos. Todos praticando golpes básicos. Nada assim muito excepcional. Mako-chan chegou a bocejar um pouco.

- Posso ajuda-las?

Elas se viram e ficam impressionadas. Decerto esperavam encontra-la por lá, mas ver a mesma assim... idêntica a como conheciam, foi um tanto inesperado, apesar de estarem se preparando para isso. Lá estava ela, a fundadora da nova linhagem. Kino Makoto.

A avó delas.

- Hã... só estamos olhando...

Ela as observa e fica um tanto surpresa. Estavam usando apenas uma camiseta na verdade, que esticava um pouco e fazia as vezes de uma mini-saia. Uma usava uma roupa mais escura e a outra branca. Tinham um cinto grande na cintura, a de branco tinha um vermelho e a outra um amarelo. Usavam botas de salto baixo e cano curto. Mangas curtas e... - tomara - um soutien bem apertado considerando como o busto delas estava firme. Mas também notou que estavam em excelente forma, demais! Raramente podia vislumbrar adolescente tão bem modelados quanto estas duas. Quando uma delas levou a mão para coçar a cabeça, notou os músculos que se retesaram. Nada mal... nada mal mesmo. Mas os braceletes lhe chamaram a atenção. Não eram muito grandes, e até tinham aparência simples, sem ornamentos. Mas sob a luz, alguns desenhos resplandeciam, como se fosse um holograma do tipo que se encontra em cartões de crédito. Vários hologramas.

E um destes ela tinha certeza de que era o símbolo de Júpiter!

- Não deviam estar na escola?

- Hoje não - disse uma delas - estamos de folga, se é que se pode dizer isso.

- Vocês, continuem treinando! - ela fazia cara feia para os rapazes que pararam para observar as moças - não acham que estão um pouco indecentes, ainda mais tão cedo?

- Indecentes? - elas se entreolham - como assim?

Uma delas começa a se olhar, a passar a mão pelo seu vestido, procurando por sinal de abertura - não.. onde está a indecência ? Não estamos mostrando nada que os rapazes não possam imaginar.

- É... - a outra concordava - alguém ai viu a cor de minha calcinha? - gritou para os alunos que estavam ali. Segundos depois, Makoto teve a visão da maior seqüência de golpes errados que já tinha visto na vida. E o pior, não conseguia suprimir a sua vontade de levar a mão a boca e dar uma boa risada.

- Haru-chan... que indelicadeza!

- Ora... mas então, onde está a indecência?

Ela franze o cenho. Ainda bem que seu filho não estava ali.

Embora bem apessoadas, não eram o tipo de nora que desejaria.

Mas não sabia o que, mas tinham algo de familiar...

- Interessadas em alguma coisa?

- Apenas observando o estilo do dojo. EI!! - subitamente ela ficou ultrajada - SE VAI FAZER ISSO, FAÇA DIREITO, É ASSIM! - ela ergue a perna com firmeza e faz o golpe correto. Com perfeição na verdade.

E.. - ela tinha que admitir - mesmo assim, a calcinha dela não apareceu.

- Que coisa! - continuou a indignada - Que vergonha errar tão feio neste golpe.

Estava surpresa. Aquele golpe não era um golpe básico de artes marciais, e sim um que aprendeu com seu sensei. Será que elas tiveram aulas com um de seus antigos colegas de dojo?

- Vocês estão em forma. Não as conheço de algum lugar?

- Ainda não - respondeu a outra. Aquela que parecia ser mais quietinha. Haru-chan, se estava lembrando direito. Devia ser de Haruna.

- Então só vieram olhar, não? Interessadas em cursar as aulas?

- Não... só observando mesmo. Ficamos curiosas. Só isso. A placa lá embaixo dizia apenas Coração da Tempestade.

- Melhor eu verificar se alguém trocou a placa, por que na verdade está escrito lá dojo Coração da Tempestade.

- Há.. aquilo quer dizer dojo? Bem que eu imaginava...

- E acha que é a melhor em língua antiga...

- Não enche Mako-chan. Você também não sabe tudo.

- Mas ainda assim - ela apertava os olhos, quase fazendo uma cara feia - não acham um pouco curta demais essa roupa de vocês?

Nos primeiros segundos elas quase dão um passo para trás. Certas coisas nunca mudavam...

- Posso admitir isso com uma condição - disse uma delas.

- Qual?

- Diga que não sente vontade de usar uma roupa assim qualquer dia.

- Não vou negar isso, mas existem momentos apropriados para tudo. E este não é um destes.

- E que momento é este daqui? Só estamos passeando.

Pelo visto, era melhor desistir. Achava que não teria argumentos contra elas.

- Bom, aqui é um dojo, não um parque público. Aqui, ou se aprende ou se treina. Mas... - ela sorriu um pouco - considerando que ainda temos poucos alunos, eu posso esquecer que adentraram o meu lar com esta roupa curta se, e somente se, ajudarem a treinar alguns alunos.

- Bom... porque não? - disseram elas se olhando.

- "timo. Satoshi, venha aqui, por favor.  - Um rapaz alto se aproximou delas, e cumprimentou a sensei. - Que tal treinar um pouco com estas duas? Só que antes, pegue um macacão para elas.

 Depois ele as observou atentamente. Primeiro, logicamente, seus olhos se dirigiram as pernas delas, depois para a cintura, o busto, o rosto, e finalmente viu que elas estavam em boa forma, e que portanto, deveriam saber lutar um pouco. Ele se afastou e sumiu por uma porta. Logo depois retornava com uma roupa de treino similar a dele, Deixando esticada diante delas. Elas se entreolham e esticam a mão ao mesmo tempo para a roupa . Uma delas pegou esta primeiro e mostrou a língua para a outra, indo em seguida em direção a onde ele tinha ido, para se trocar.

Ela voltou logo depois, e a sensei dali olhou para o seu pupilo de forma um tanto reprovadora. Era melhor te-la deixado com a saia... aquela roupa ficou tão colada no corpo dela... e com a camisa aberta, seus seios tão aparentes... que droga. Bom, pelo menos estava cobrindo mais o corpo. Mas porque ainda estava com aqueles braceletes e aquelas botas?

- Que tal tirar seus adereços?

- Desculpe-me. Mas não posso. Sempre treino com eles.

- Vai ficar mais lenta - comentou Satoshi.

- A idéia é essa mesma - tornou a outra - assim precisamos nos esforçar mais.

Makoto olhou para ela desconfiada. Mas era o mesmo motivo pelo qual Akira usava seus pesos... hum...

Satoshi pula para cima dela e a mesma apenas desvia. Mas ela nem mesmo moveu os pés. Ele volta, e ela se esquiva de novo. Lança a perna contra ela e esta apenas a segura com uma mão e logo depois o puxa, jogando-o a dois metros de distância. Ele aterrissa em pé e olha abismado para a moça.

Se não fosse tão jovem, acharia que estava enfrentando um mestre.

Ma não era possível, era?

Ele retrai o braço e avança, chutando-a. Ela agarra sua perna e o joga para cima, o mesmo gira seu corpo e toca o chão, avançando. Para sua surpresa, recebe uma rasteira, mas com a mão livre se apoia e em seguida estica as pernas para cima, passando de raspão no queijo da mesma, e se ergue, atingindo-a com a mão que estava retraída.

Ela nem se moveu.

Mas ele sim.

Foi como ter socado uma parede! Mas como ela conseguia fazer isso? Ele tenta dar uma rasteira e ela pula rapidamente. Tão rápido e com tanta coordenação que sua cabeça nem se moveu. Satoshi começou a imaginar que estava em inferioridade.

Mas não podia ser. Nem Akira era tão bom assim. Ele parte para cima dela, com um ímpeto muito violento. A mesma bloqueia todos os seus golpes com facilidade, sem nem usar os olhos, e deixando estes fixos nos seus. Seu rosto estava sereno e calmo.

Makoto observava tudo com os braços cruzados. Quem quer que fosse esta moça, seu sensei deveria ser muito, mas muito bom. Ela estava muito bem treinada, tanto nos golpes quanto na conduta. Não estava debochando de seu aluno e nem se exibindo. Mas tinha algo na maneira dela agir que a incomodava.

Aquela técnica.. o estilo.. era.. era o seu estilo. Ou melhor... era o estilo que Akira estava desenvolvendo, mas com um refinamento impressionante. E ela só tinha usado as mãos até o momento, e não se moveu do lugar. E mesmo quando ela pulou, em nada alterou sua postura . Nada !

Interessante aquilo, ele pensava.

Já teve uma luta assim, contra Akira. Nunca imaginou que o mesmo pudesse ser tão rápido.

Fora por pura farra de ambos, de se divertirem quando sua sensei não estava presente, e Satoshi pedira para ele lutar com tudo, e o mesmo fez.

E ficou impressionado.

Pelo visto, teria que se esforçar bem mais, da mesma forma que fez com o filho de sua sensei. Afinal, perdendo ou ganhando, o faria com honra.

Ele começa a usar toda a técnica que conhecia, tentando minar seus músculos. Mas ela não só era mais rápida, como anulava cada golpe dele. Cada um! Nem Akira fazia tal coisa. Perdendo um pouco a paciência, ele se solta de vez, conseguindo finalmente acertar uns golpes na cabeça dela.

E pela primeira vez ela fez um contra ataque.

Um chute que o dobrou ao meio e o jogou a dois metros de distância. Ele... ele sentiu como se fosse atingido por uma tora. QUE FORÇA ELA TINHA!

- Desculpe! - exclamou ela levando a mão na boca - se machucou?

- Não.. estou bem.. - ela ficou preocupada? Puxa... contra quem ela praticava? King Kong?

- Vai continuar?

- Por que não? Já andei levando golpes pesados antes - ele piscava para a mesma. Estava até impressionado e inspirado. Desde o dia em que lutou contra Akira e ele usou tudo o que sabia.

Um verdadeiro incentivo para ele aprimorar e preservar sua arte da melhor maneira que pudesse.

Makoto se senta para observar melhor. Satoshi estava levando uma surra. Não conseguiu praticamente nada contra a moça. E, além da técnica e habilidade, ela devia ser muito resistente.

- Quem são vocês?

- Já dissemos. Eu sou Haru-chan e minha irmã é a Mako-chan. Nos chamam de gêmeas da tormenta.

- Gêmeas da tormenta?

- É.. um apelido que otousan nos deu. Por isso que ficamos curiosas quando vimos a placa - mentiu ela.

- Sei...

Satoshi estava apanhando feio, mas continuava a bater nela, Ou melhor, continuava duramente a atingir os bloqueios da mesma. Ele não ultrapassou a defesa dela nem por um momento.

Mas também não desistia.

Isso ela tinha que admitir. Otousan havia dito que haviam lutadores bem habilidosos naquela época, e estava diante de um deles.

Habilidoso, insistente... e com muita garra.

Até parecia sua tia... Bom, ele não queria que ela facilitasse. Tudo bem. Mas era meio injusto acerta-lo com toda a massa que estava carregando. Sutilmente ela mexe no seu bracelete e pula para cima dele, o acertando várias vezes, mas com bem menos força que antes. Ele se desvia e tenta acerta-la, mas a mesma se esquiva facilmente. Na verdade, parecia mais rápida que antes.

Ele consegue acertar seu queixo, mas não teve nenhum efeito. Então, ela faz algo que deixa a irmã de queixo caído.

Ela simplesmente arrasa com ele!

- MAKO-CHAN!

- Ora.. ele disse que agüentava.

- Precisava te-lo nocauteado?

- Ela... não me nocauteou. - disse ele se erguendo e sorrindo - mas admito. Você luta muito, mas muito bem para uma moça.

- Obrigada. Você também... para um menino - ela sorriu levemente e toca outra vez no seu bracelete.

- Não me leve a mal, não quis ofende-la. Mas geralmente as meninas que conheci estavam mais interessadas no lutador do que na luta em si. Você luta muito bem. Seu estilo parece mais com uma evolução do estilo de Makoto-sensei, só que bem mais refinado. Muito mais.

Era o mesmo que ela pensava. Deviam ser alunas de um de seus colegas mais aplicados. Isso quer dizer que ela precisava se esforçar mais ainda com seu próprio desenvolvimento.

Mas ela achava que aquela moça tinha lutado bem até demais!

- Nada mal... - disse Makoto - E Satoshi.. aqui não é ringue de lutas, entendido? Era para praticar, não partir para um vale tudo.

- Gomen, sensei. Me desculpe, eu... gomen.

- Todos estão sujeitos a erros, Satoshi, inclusive eu. E isso vale para você também, mocinha.

- Eu? O que eu fiz?

- Entrou na onda dele. Podia ter continuado como estava, técnica e tranqüila, mas no final o imitou. Estava se divertindo?

- Bem... sim. Eu... nós praticamos por esporte. Pelo menos... por enquanto.

- Por esporte é? Bom. Pode pegar seus paninhos de volta. Me digam. Que dojo vocês freqüentam?

- Hã... coração... tempestuoso. Isso!

Devia ser brincadeira...

Ela se dirige a porta novamente e logo em seguida volta com suas roupas curtas. Satoshi parecia mesmo encantado com ela. Uma boa aluna, sem dúvida. Mas o comentário dele ainda a incomodava um pouco. Ouvir de um aluno que outra pessoa, uma jovem como ela tinha uma técnica mais refinada e evoluída em relação a sua era um golpe em seu ego. Um golpe fraco, mas ainda assim um golpe.

Mas ela tinha que reconhecer. A técnica e o estilo eram melhores! Mas não era apenas o seu estilo de luta. Havia coisas ali também da escola de Rei e outras de outras escolas. Deviam freqüentar mais de um dojo.

Ou então, um mestre muito, mas muito habilidoso , mesmo .

E eram tão jovens...

- Bom, se me dão licença, preciso acompanhar outros alunos.

- Que gatinho que você foi arrumar, mana.

- Eu tenho bom gosto, mas já estou comprometida. Que tal você?

- Não podemos nos envolver, lembra?

- Estou me lembrando. Lembra da última vez em que uma pessoa daqui se envolveu com outra pessoa de outra época?

- Ah, lembro. Que romântico!!! Adoro ouvir esta história...

- Boba! - ela dava língua para a mesma.

- Você também! - e devolvia.

Satoshi apenas as olhava divertido. Pareciam crianças, agora. Bom, era melhor voltar a praticar. Sua sensei devia ter ficado chateada com ele.

As duas ficaram trocando mais algumas gracinhas e depois partiram. Mas Makoto ficou observando elas. Alguma coisa nas duas lhe era muito familiar.

Será que as encontraria novamente?

Esperava que não. Embora habilidosas, não eram o tipo de moça que gostaria de ver ao lado de seu filho.

Ainda mais com aquelas coisas tão... curtas.

Dona Kim observava suas flores e sorria intimamente. Estavam lindas. Ela olha para o céu e aprecia a vista por alguns instantes. Estava um dia lindo aquele. Bonito, sem nuvens, límpido. A chuva da véspera cuidou de deixa as plantas bem verdes no parque também. Não haviam muitas pessoas, principalmente pela hora do dia. Mas umas poucas crianças pequenas estavam lá, juntamente com seus pais.

E... quem eram aquelas duas adolescentes andando por ali? Puxa... que roupa usavam! Se bem que se ela fosse mais nova, talvez usasse algo parecido. Bom, era melhor voltar para suas flores...

- Até que foi um bom treino. E aquele rapaz era bonitinho.

- Não abuse. Bom, o que fazemos agora?

- Passear, oras! Mas agora só quero sentar um pouco.

Elas se aproximam de um banco da praça e olham ao redor, procurando por movimento. Nada muito excepcional ou que lhes chamassem a atenção. Olham para a estufa, onde esconderam o cetro e ficam satisfeitas da floreira ainda estar no mesmo local. Uma delas se senta, e, antes da outra segui-la, o banco range um pouco.

- Ué?!

- O que foi? - pergunta a outra se sentando. Logo depois, o banco range mais ainda. Elas se entreolham surpresas por aquilo. Aquilo não podia ser tão fraco assim. Uma delas ergue os pés para ver por baixo deste, e com um estrondo as tábuas de madeira se partem, derrubando as duas no chão.

- Mas... mas que coisa fraca!

- Não é para menos - Haru-chan pega um pedaço de madeira e a observa - o banco é de madeira. Vamos até aquele ali - ela aponta para outro banco, este feito de concreto - deve agüentar melhor.

- E este estrago?

- Bom.... isso é responsabilidade da prefeitura. Mas... hum... podemos pegar uns galhos robustos destas árvores e...

- ESQUECE HARU-CHAN!

- Eu só queria consertar isso! Já basta a confusão de não termos dinheiro, e ainda por cima...

- Nem vem! Por que a tente não vai embora agora? Já encontramos o otousan, a vovó, tio Kinji e tia Anchitka...

- Ai... - ela se tremia toda - eu... eu quero ver o tio Shin, ver como ele está...

- Por que?

- POR QUE ELE DEVE ESTAR UM GOSTOSÃO!!!!

- Bom... - ela coça a cabeça - não sei se vale a pena...

- Claro que vale! Já pensou se a gente conseguir sair com ele? Ainda mais agora, que ele não tem compromisso nenhum.

- E se ele se apaixonar por mim?

- Apaixonar? Tá brincando, né? E por que logo por você? Se for para se apaixonar, será por mim, que sou mais bonita.

- Somos idênticas!

- Mas eu tenho um tchan a mais.

- E qual seria?

- Não tenho compromisso, oras! Do jeito que ele é certinho, vai te ver como uma freira por causa do seu namorado.

- Ele não está aqui e nem nasceu ainda. Qual o problema de eu tirar minha casquinha?

- Assanhada!

- Você também é mais ainda! E continua encalhada!

- Como assim encalhada? Pelo menos sou livre para paquerar por ai...

- E ouvir umas poucas e boas do otousan toda noite...

- Mas ele respeita minhas decisões!

- E porque não respeitaria? Mas as vezes acho que abusamos muito. Até a mamãe dá o braço a torcer para ele as vezes.

- Não interessa! Eu vivo minha vida como eu quero. Só porque dou uns amassas por ai ele fica bravo? Aposto que ele não era nenhum santo com a mamãe .

- Mas eles tinham um compromisso. É isso que o deixa triste. Você paquera por ai como se fosse uma venusiana.

- Mas ele não pode viver minha vida, mana!

- E nem quer. Se fosse assim, faria bem mais do que conversar com a gente. Viu como a vovó reagiu? Por que ele nunca fez isso com a gente, fazendo mais do que dar um sermão por causa das nossas roupas? Acha que se não respeitasse nossas decisões, deixaria usarmos isso?

- E porque nos deu aqueles preservativos?

- Porque sabe que não somos mais criancinhas, e que se formos fazer algo, será de forma consciente. Você... você não precisou usa-los ainda, não é?

- Não. Só vou fazer com quem estiver apaixonada mesmo. E você? - ela sorriu de forma safada - aposto que está com uma tentação enorme!

- Com o namorado que eu tenho... - agora foi a outra quem sorriu de forma safada - acha mesmo que eu preciso?

- Adora falar isso, não é?

- Arrume um como o meu, oras. Ai você sabe como é.

- De novo com isso? mas vocês querem por que querem me empurrar o primo dele!

- Bom... ele até que é uma gracinha, só perde para o pai... mas falando sério, já percebi que as vezes ele fica triste mesmo, Haru-chan.

- O que ele quer que eu faça? Que jure que irei me casar virgem?

- Não, ele quer, ou melhor, ele gostaria que você não abusasse tanto. Meu lindinho já foi conversar com ele, e disse para o otousan que se dependesse dele, não ia passar da linha, que só faria isso se por algum acaso nos casássemos. Mas o otousan depois me chamou para uma conversa em particular. Ele disse que não podia viver nossas vidas, tampouco nos obrigar a sermos como ele. Deixou bem claro que ele ficaria feliz se nos casássemos virgens, mas ele também deixou claro que em hipótese alguma iria querer atrapalhar o relacionamento que eu teria com quem realmente amasse. Não prometi que me casaria virgem, mas prometi prestar mais atenção aos meus atos e nas conseqüências deles.

- A conseqüência real é mais uma questão moral que física - bufou a outra - estes preservativos são virtualmente infalíveis.

- Mas é uma conversa puramente moral. Ele sabe que se usarmos os preservativos, não iremos engravidar. Ele só quer que pesemos bem isso. Lembra do que ele disse sobre a vovó, de que ele se comportava, mas ela nunca acreditava nele ?

- Não acho que ele tenha sido tão santinho assim, não .

- Bom, ele ficou encabulado pela trombada que me deu hoje cedo, lembra ?

- Já o perdoou ?

- Um pouco, mas ainda vou dar uns tapas nele pela mamãe . Mas independente dele ter sido um santo ou assanhado, a vovó sempre o questionava, sempre o acusava de ser assanhado, independente de ter sido ou não . E isso o deixava muito triste, lembra como ele ficou quando nos contou ? Mas chega deste papo.

- Bom. Então que tal consertarmos...

- Chega disso também! Vamos rodar pela cidade, só isso, tá bem?

AS duas seguem pela cidade - chamando uma atenção assombrosa - entram no primeiro shopping que encontram.

Era diferente do que estavam acostumadas a freqüentar, mas possuía alguns detalhes em comum.

O primeiro era a tal escada rolante. Encantadas, elas sobem em uma e...

Ela para! Mas que coisa! Era tudo frágil naquela época? Continuam andando normalmente e chegam a uma praça com maquinas estranhas. Lendo os cartazes parecia que eram jogos. Elas as observam e notam que eram jogos bem simples, apesar de possuir um bom visual. E, uma delas chama mais a atenção, pois tinha um prêmio. Entradas para o cinema de um filme de invasão, e o jogo era do mesmo filme.

Sorridentes, elas ficam defronte a maquina e imaginam como começar. Um atendente chega e primeiro descobre que estão sem dinheiro, mas, notando como estão vestidas, ele faz uma proposta. Emprestaria o dinheiro, mas se não conseguissem nada, teriam que pagar mais tarde. Com um encontro. AS DUAS com ele.

Malandras como sempre, elas aceitaram no ato.

Quinze minutos depois, ambas saiam de lá com os ingressos na mão. E ainda tinham direito a lanche no cinema. O rapaz ficou totalmente desolado. Como iria imaginar que elas eram especialistas em jogos de lutas?

Ficaram tremendamente decepcionadas com o que viram. O cinema dali em nada era comparado com o de onde vieram, nem mesmo quando usaram seus visores especiais, conseguiram um efeito diferente.

Que pena. Que pena, mesmo.

Pelo menos, tinha um bom romance ali no meio. Quando saíram do shopping, já era de tarde. E viram alunos andando pelas ruas. Isso significava que as aulas deviam estar se encerrando. Era uma boa hora para procurar pelo melhor gato a se visitar no passado.

O lindo e gostosão Aino Shinnosuke.

A principio não conseguem encontrá-lo - estranho, por que não sentiam o brilho que emanava do seu peito? - mas depois, sentem algo... familiar.

Era... era...

Era o poder dele!

- Mana... ele... ele não...

- Não está oculto. Mas por que? E por que não conseguimos sentir sua semente estelar?

- Não sei... mas vamos seguir esta energia. É dele, sem dúvida.

- Shin! Shin! Cadê o Akira?

- Ficou de castigo, Chi-chan.

- De castigo ? Obá, que bom! Shin, me leva em casa ?

- Sou eu mesmo quem vai levá-los, Kinji.

Ele segue mãos dados com os dois pequenos, atravessando os corredores do colégio. Em determinado momento, observam do lado de fora do colégio a janela da sala de Akira, e o vêem arrumando-a.

(Anchitka) - Akira! Akira! Akira!

(Shin) - Chi-chan, não adianta gritar, ele não vai te ouvir.

(Kinji) - Eí, quem é aquela moça?

(Shin) - É a Noriko. Ela se atrasou também e ficaram para arrumar a sala.

(Anchitka) - De castigo... os dois... eles estão namorando?

(Shin) - De onde você tirou essa idéia?

(Anchitka) - Eles estão juntos... se atrasaram juntos... ficaram de castigo juntos... já vi Akira abraçando bem forte aquela dali... não são namorados?

(Shin) - Não! E bico calado, nada de ficar espalhando isso. E vale para você também, Kinji!

(Kinji) - EU? Mas eu não fiz nada! Namoro? Bleargh!

(Shin) – Vamos embora. Tia Amy deve estar esperando vocês dois, anda.

(Anchitka) - Shin, Shin! Olha, olha!

(Shin) - O que foi?

(Anchitka) - Olha, olha! Aquelas duas moças, são as mesma que otousan estava olhando!

Shin observa o trajeto do dedo da pequena, terminando em duas moças. duas belas moças. Na verdade... duas belas e totalmente desinibidas moças!

Ele as achou interessante pela coragem de andarem por ai assim. E as mesmas pareciam estar olhando loucamente para ele.

Grande novidade. Isso era comum. Mas ele sentia que havia algo diferente nestas duas, e ficou olhando de volta.

- Shin! Shin!!! Vai pedir o telefone delas?

- Porque, Kinji?

- Porque elas são bonitas, e você não é casado.

- Pensei que você não gostasse de namorar.

- Não gosto! Mas você pode. Eu deixo.

- Outra hora, Kinji. Agora eu tenho que levar vocês dois em casa.

(Kinji) - Mas eu posso muito bem ir sozinho!

(Anchitka) - Eu também!

(Shin) - Tia Amy não pensa assim.

(Kinji) - Mas você e Megumi-chan iam sozinhos para casa quando tinham mais ou menos a nossa idade!

(Shin) - Sem choro, Kinji. Por favor, sem choro. Diga isso para a sua okaasan, não para mim. E vamos indo, anda.

Eles continuam andando e passam do lado das moças. Ele já tinha ouvido de tudo, mas aquilo era novidade.

- Que lindão! E que gentil em cuidar dos irmãos mais novos...

- ELE NÃO É MEU IRMÃO!!! - gritou Anchitka.

- E que paciência também...

(Kinji) - Ei, eu não te conheço?

(Mako-chan) - Talvez, lindinho...

(Haru-chan) - É, talvez...

Estranho... elas lhe lembravam alguém. Pelo jeito de olhar, forma de andar... como...

Como se sempre estivessem em guarda para qualquer coisa.

- Acho que me enganei...

- Não vai pedir o telefone delas?

- Kinji... pare com isso.

(Mako-chan) - Telefone? O que é isso?

(Anchitka) - Você não sabe? É um aparelho que você...

(Shin) - Chi-chan! Desculpe, ela é assim mesmo. Me desculpem, mesmo. Estou com pressa de levá-los até em casa. Meu nome é Shinnosuke. E vocês...?

- Mako-chan e Haru-chan. Escuta, vai no templo depois disto?

- Templo? Qual templo?

- Aquele que fica no Juuban.

- Hum... - que pergunta estranha - porque querem saber?

- Vamos passar lá mais tarde.

- Bem.. sim. Mas... não entendi isso.

Na verdade, ele nem entendeu como puderam imaginar que ele iria no templo.

- É que tem uma pessoa lá que a gente queria visitar!

- Mesmo? Quem?

- A sacerdotisa do templo Hikawa!

- Hikawa? Olha, vocês estão um pouco desenformadas. O templo Hikawa sofreu um acidente anos atrás, e no seu lugar foi construído o templo Eclipse.

- Mas... já? Pensei que seria mais tarde... bom, tudo bem. É uma sacerdotisa deste templo.

- Bom... - mas o que estava ocorrendo com ele? Não as conhecia, não devia nada para elas. Porque tinha certeza de que estavam sendo sinceras? - eu vou sim. Mas tenho que levar estes dois para casa.

- Fica no caminho, não?

- Se sabem onde fica, porque querem ir comigo?

Com uma velocidade impressionante, cada qual fica do lado dele, e cada uma delas pegou um dos pequenos no colo.

- PARA DEIXAR AS MOÇAS COM INVEJA!!!

- Me desculpem - ele toma Kinji e Anchitka do colo das duas, os quais já estavam fazendo arte - mas embora sejam divertidas, eu não as conheço, e estou com duas crianças sobre minha responsabilidade. Se me dão licença - ele puxa ambos, e vai arrastando-os pela rua.

- Alguma coisa contra o acompanharmos?

- O mundo é livre - retrucou ele.

- Nesse caso...

As duas começaram a segui-los. Longe de o deixar incomodado, ele até que apreciou isto. Assim poderia leva-las diretamente a tal "amiga do templo" que queriam ver. E assim descobrir o que elas queriam.

Quando esta próximo a casa de Amy, percebeu que as mesma haviam simplesmente desaparecido - ainda bem. Tia Amy precisaria de sedativos se visse a roupa das mesmas - e ele entrega as crianças, ficando para fazer um lanche.

Vinte minutos depois ele se despede, e resolve fazer uma caminhada. Talvez até que fosse uma boa idéia ir até o templo.

Mas por que tinha a estranha sensação de que estava sendo seguido?

Sutilmente ele olha para trás e não percebe nada. que estranho. Continua andando até chegar perto do templo. É neste ponto que ele ouve um barulho e olha novamente para trás.

Aquelas duas de novo? De onde vieram?

Ou melhor, por onde andaram? Será que o estavam observando a distancia?

Bem, isso não importava. Se tentassem alguma loucura, estaria pronto, e tinha certeza de que as moradoras do templo o ajudaria.

Mas, enquanto subia as escadas, torcia no funda da alma para que Rei não estivesse lá. Se a mesma visse a roupa que elas estavam vestindo, iria ter um chilique.