Akira acordou cedinho. Foi tomar seu banho, fez sua higiene matinal e preparou o café da manhã para okaasan e Shin. Quando já estava saindo, topou com ela, que parecia que o esperava porta de casa.
- Já vai?
- Sim, okaasan. Quero me despedir delas.
- Eu vou com você - ela sorriu - não é que estou desconfiada que esteja me escondendo algo, apenas quero ver com meus olhos estas jovianas...
Ele sentiu uma coceira na nuca. Ai, ai... Bom, tudo bem. Ela já tinha sido muito amável em dispensa-lo do treino naquela manhã. Mas será que iria ter alguma ressalva quanto a ele treinar com uma delas e usando os braceletes das mesmas?
- Tudo bem. Não estou escondendo nada... Bem... a verdade é que desafiei uma delas para treinar de manhã. Quero ver como agem...
- Que pena... - ela apertou os lábios. Tanta coisa para fazer com uma moça e ele queria bater nela? As vezes ela se sentia culpada de ficar treinando-o desde que começou a andar. Olha só o que acabou conseguindo... Mas se estas moças eram quem ela imaginava, talvez pudessem dar-lhe um pouco de sossego nesta sua gana de treinar, treinar, treinar e treinar mais um pouco - vamos tomar o café da manhã antes, está bem?
- Akira, e a Noriko?
- O jogo é hoje, Shin. Tudo em cima?
- Tá bom... Megumi vai adorar jogar contra ela, sabe. Mas acho que você vai estar um pouco quebrado para ter chance.
- Ah, mas esse eu tenho que vencer de qualquer jeito.
- Por que, filho ?
- Ah, é que apostamos... aham...
- O que foi?
- Ele convidou uma colega nossa para sair, só que sempre que ele faz isso com ela, ela estipula um desafio, sabe. E ela adora um desafio, por pura diversão. Se o time de Akira não vencer, ela não sai com ele, simples.
- Hum... e que jogo é esse?
- Basquete. Cinco participantes. Já tenho três, faltam dois. Que tal a senhora, okaasan?
- Não conheço este jogo. Se fosse vôlei...
- Bom, tudo bem. Eu convido uns colegas.
- Hmmm - ela o olhava - e essa tal de Noriko, hein? Acho que estou me lembrando, já esteve aqui algumas vezes. É bonita?
(Shin) - Até que é uma graça.
(Makoto) – Mesmo? Andaram se divertindo, filho?
(Akira) - Ha, eu... bem... sim, já, algumas vezes, ela... ela é bem simpática e... OKAASAN! O QUE QUER DIZER COM SE DIVERTINDO?
- Se divertindo, oras... passeando, tendo um encontro - Akira suspirou aliviado - brincando de médico - agora ele ficou vermelho - estudando anatomia humana....
- Mako-mama.. por favor! Não me julgue assim.
Ela sentiu pena dele. Ele estava totalmente vermelho, vermelho, vermelho.
- Mesmo?
- Ela é uma amiga - uma amiga com um corpo de fazer inveja a metade da escola, diga-se da passagem. Praticar muitos esportes tinha suas vantagens - e nós saímos de vez em quando e...e...
- Filho...eu só quero que você seja responsável, que tenha juízo. Sei que tem suas paqueras, mas tome cuidado para que isso não o torne um inconseqüente.
Akira fica em silêncio e abaixa a cabeça. Não importava o quanto se esforçasse, ele não conseguia se purificar do espectro do seu progenitor. Makoto encarou o silêncio dele como um duro reconhecimento de que talvez estivesse abusando. Mas ele precisava se segurar. Não queria que o filho cometesse o mesmo erro dela.
O mesmo continuava em total silencio, ouvindo suas palavras.
Realmente, ela continuava com aquilo.
Quanto a ele, apenas aguardava, praticamente prevendo cada palavra dela.
Não havia nada que podia fazer. Apenas ouvir o sermão.
Até, quem sabe, o dia em que ela se desse conta que ele não era ela, tampouco seu progenitor. Ele era Kino Akira e ponto final, não fazia parte de seu código genético cometer os mesmos erros, e se os fizesse, seriam seus, por suas decisões.
- Bom Akira - finalmente, ela terminou com a sessão "vamos dizer umas verdades para Akira que ele precisa se lembrar" - acho que já podemos ir.
- Tudo bem - ele caminhava pelo quintal - e me desculpe, okaasan. Não queria ter sido tão assanhado.
- Não disse que você foi, apenas que deveria ter evitado isso.
- Não posso marcar um encontro?
- Não é isso Akira. Você me entendeu. Vamos, quero conhecer estas "Gêmeas da Tormenta".
- De onde tirou esse nome? - ele perguntava enquanto desciam as escadas - pensei que não as conhecia...
- São gêmeas e lutam bem, certo? Apenas tive um palpite. Por acaso se chamam Haru-chan e Mako-chan?
- Sim! Conhece-as?
- Estiveram no dojo ontem. Eu devia ter desconfiado quando ela apenas se esquivou de Satoshi e quando ele a atingiu, ela nem se moveu do lugar. Ela nem sentiu! Agora entendi o porque. E também percebi porque seus olhos ficaram nas nuvens por causa delas.
- Hã...
- Aquela roupa curta de ambas.. Viu a cor da calcinha delas?
- Não - ele se apressou em responder - nem quando lutamos.
- Aposto que é preta. E rendada.
- Okaasan... - podemos mudar de assunto?
- Porque? Isso te encabula?
- Sim, ainda mais quando faz insinuações contra mim!
- E você não tem me dado muitos motivos para pensar o contrário, não é?
- Mas eu não fiz nada com elas! Tampouco com qualquer outra garota, okaasan! Eu juro! Por que a senhora não pode confiar em mim?
- Porque você nega muito! E depois porque já fui adolescente, e diferente da maioria dos responsáveis, não esqueci de como era fácil enganar os pais. Sei muito bem que mesmo que o vigie dia e noite, você pode agir escondido,. Por isso não o vigio, mas o questiono sempre. Eu tenho certeza de que já viu uma de suas colegas nua. Aposto!
- Nunca!
- Então por favor.. não se interesse em ver os rapazes nus. Deixe isso para mim.
Ele subitamente arregalou os olhos. Isso foi uma piada? De okaasan?
Uma leve risada lhe escapa, e a mesma o imita. Realmente, tinha vezes que não a entendia. Outros já teriam dito algumas verdades para ela, mas ele não a culpava. Sabia o que a mesma passou, e que no fundo, apenas se preocupava com o mesmo.
Mas que as vezes doía, doía.
Dez minutos depois, o trio se aproxima de casa de Shin, e ouvem estrondos fortes. Assim que dobram a esquina vêem o porque.
As duas estavam praticando, e com aquelas poucas roupas.. só que era uma luta impressionante. Os socos que trocavam, a velocidade que se moviam e a forma de atacar eram formidáveis.
Pareciam até duas senshi praticando...
E Akira estava louco para treinar com elas?
Uma delas dá um soco de baixo para cima na outra e a mesma voa alto. Mas no ar ela gira e lança uma rajada de raios contra a irmã, que ergue um escudo feito de raios.
Escudo de raios? Como ela nunca pensou em fazer tal coisa?
- São jovianas mesmo. E são aquelas duas... mas elas estão muito acima de você Akira. Na verdade... eu diria que podem até me superar.
- Não exagera okaasan - Akira riu. Não duvidava que elas o superassem e muito, mas daí a poder passar dela, era demais.
- Falo sério.
- Eu também. Esta é impressionada com a dedicação das mesmas, isso sim.
- Dedicação?
- Isso mesmo! Olha como elas sorriem! Elas fazem isso por que gostam, não percebeu o brilho nos olhos das mesmas? Assim como eu!
Ela olha para Shin do seu lado e ele apenas dá de ombros. Depois as observa novamente e tinha que reconhecer: Elas pareciam mesmo gostar daquilo. Mas não achava que o faziam pelo mesmo motivo que ele. Parecia mais um tipo de competição delas.
- Ei! Se continuarem assim não vai sobrar nenhuma para praticar comigo.
Elas param de duelar e o observam sorrindo. Depois ficam reticentes ao perceberem quem estava acompanhando ele. A que estava flutuando se deixa cair e ela afunda um pouco na grama do jardim da casa.
- Não... esperávamos que trouxesse platéia.
- Está tudo bem. Já contei para ela.
- CONTOU!?
- Contou sim - disse Makoto - e agora que vi com meus olhos, acredito em cada palavra dele. Vocês devem ter vindo de alguma colônia distante, certo?
- Hã.. sim.
Ela se aproxima e as observa. Observa melhor o terreno afundado sob os pés delas e fica levemente intrigada.
- Bom - começou Akira - vocês vão partir logo.. que tal começarmos agora?
- Tudo bem - disse uma delas se pondo em guarda - ontem você pegou a minha irmã, agora é a minha vez.
- Ei, ei! Com os braceletes, lembra?
- Eu acho que você não vai nem conseguir se mover. Porque é tão teimoso?
- Eu quero saber o quanto preciso me desenvolver para chegar onde estão. E quero também ver como estou agora. Por favor...
Elas se olham e uma delas solta seus apetrechos e coloca nele.
- Cinqüenta quilos, certo?
- NÃO! Quero o mesmo que ela está usando.
- Duzentos? Mas...
- Por favor...
- Ai, ai.. você gosta mesmo de apanhar... certo.
Ela regula o aparelho e Akira sente o esforço na hora. Sentia como se carregasse um carro. E Makoto quase ficou de queixo caído ao ouvir aquilo. Akira devia estar era maluco! E... aquelas coisas.. duzentos quilos? Como podia fazer isso? Era uma tecnologia avançada demais. Nem Amy poderia criar algo assim. Não com o que tinha a mão agora.
Eles se entreolham, e Akira começa primeiro. Corre rapidamente - no começo parecia um boneco com seus pés sendo jogados de uma lado para o outro - em direção a ela e a mesma apenas pula por cima dele com graça, atingindo suas costas com a perna.
Ele voa apara a frente e acerta a parece da casa com estrondo. Não foi só o impacto dela que ele recebeu, mas também o peso do bracelete desta. Nem okaasan o tinha acertado assim antes.
Ele precisava se acostumar com estes pesos, e usa-los a seu favor. Como ela conseguiu pular assim? Tudo bem que era mais forte.. mas tinha questões de leis da física ali também. Afinal, mesmo tendo uma força maior e estarem acostumadas, elas não poderiam lutar carregando seiscentos quilos. Não dessa forma.
Ele para um pouco, estabilizando seu corpo. Seria mais uma luta pelo controle do que física.
Ele a observa, e nota que seus pés não afundam tanto na grama quanto os dele. Mas ela não podia estar mais leve. Então.. como?
Eletromagnetismo... era isso! Ela devia estar usando isso para poder ter essa agilidade. Ela... ela fazia dois treinos ao mesmo tempo. Nunca tinha pensando nisso.
E era melhor ele começar, pois agora era ela quem vinha para cima dele. E se ele já era lento antes, agora seria uma tartaruga, a menos.
Arriscando, ele se concentra e começa a envolver todo o seu corpo com ondas eletromagnéticas. Como se fosse uma armadura que o envolvesse. Quando ele se movesse, esta "armadura" se moveria também, lhe dando mais mobilidade e permitindo que manuseasse melhor seus golpes.
Ao menos, ele torcia para que sim. Mas nunca tinha feito isto desta forma antes, concentrar-se em seu poder elétrico ao mesmo tempo em que movia seu corpo. Mas não era assim muito difícil.
E lá vinha ela correndo. Vamos ver se isto funciona.
Haruka abre a boca ao ver aquilo. Sua irmã tinha acabado de soltar todo o ar de seus pulmões e foi jogada para trás. Ela se dobra apoiando as mãos no chão e fica de pé, indo novamente para cima dele.
E não é que deu certo? Mas ele se sentia se esgotando mais ainda assim.
E não era para menos.
Mas até que fora interessante.
E muito proveitoso.
Ela para ao lado do mesmo e o atinge novamente - daquela mesma forma, minando-o - sem ao menos dar-lhe chance de se defender.
Seu punho passa direto pela mesma que se abaixava, e ele recebe um soco no estômago....
Mas ela não fica por menos, sendo arremessada pela perna do mesmo também... de forma bem rápida!
Ele queria dar a entender que não queria que ela se segurasse. E a mesma pegou o recado. Ela evitou decair e girou o corpo, acertando-o um chute lateral, e antes que ele pudesse esboçar reação, o acertou mais duas vezes no rosto. Ia dar um terceiro soco, mas ele revidou no seu estômago, a fazendo se dobrar. Logo depois, ele levou um soco bem potente. Na verdade, foi um soco e um golpe elétrico ao mesmo tempo, o fazendo bater na parede novamente.
Ele não perde tempo e se ergue, pronto para reagir.
Ao menos, estava se divertindo...
- TERRA... - ele vai erguendo o braço, concentrando eletricidade na mão - TREMA!!! - uma esfera elétrica se forma na mesma, o ele bate com ela no chão, a qual vai seguindo em direção a Mako-chan.
Ela fica... parada.
Estava estática com aquilo.
Aquele golpe... mas... mas aquele golpe não era dele!!!
Ela se toca de que ficar ali não adiantaria de nada e salta para o lado, escapando. Qual a sua surpresa quando a esfera faz uma curva e a segue.
A mesma dispara um pequeno raio contra aquilo, desfazendo-o. Que truque mais idiot...
Sua linha de raciocínio é interrompida bruscamente ao sentir o golpe do mesmo na face, a forçando a recuar um pouco. Droga, ela pensava. Foi... foi... foi apenas para distrai-la o suficiente!
Bom... ela podia usar uns truques também...
Ela salta para trás e avança na direção dele. Ele simplesmente a ataca, sem planejar nada. Só que...
Um grande estrondo é ouvido quando a mão dele bate em algo, alguma coisa. Ele não entendeu. Ela ergueu o braço para bloquear, mas não o atingiu. Parecia que tinha acertado outra coisa... como... como um escudo?
Os quatro golpes que levou em seguida o deixaram zonzo, e um soco elétrico novamente o vez beijar a parede. Sorrindo, ele se afasta e vai novamente para cima dela. Já tinha batido tanto na parede que estava até pensando em marcar um encontro com ela - com a parede, não com a moça - para pedir desculpas.
Aquilo não estava adiantando, tinha que pensar em algo, e rápido. Era uma grande oponente, e já havia provado que não lutava sem estratégia.
Ele recua, aguardando. Como esperado, ela vem em sua direção. O mesmo se prepara. Se ela havia dado trabalho para Satoshi, então teria que estar atento a tudo.
Um, dois, três... cinco golpes. E seis, e sete...
De forma bem ágil, ele acerta um telefone na mesma, deixando-a momentaneamente zonza. Ele não perde a oportunidade.
Mas também não poderia usar muito ali, afinal, era uma área residencial, coisa que ambos já perceberam.
Ele começa a atingir rapidamente pontos críticos dela. Rins, têmporas... em uma agilidade que outrora achou que apenas Shin poderia atingir.
Makoto olhava aquilo impressionada. Nunca imaginaria que o filho teria tanta dedicação assim. Também... nunca lutou com ele desse jeito, até o fim. Sempre o foi com um objetivo de faze-lo alcançar um certo nível, e depois ir elevando isso constantemente.
Quanto a oponente, Akira percebeu - infelizmente - um detalhe importante...
Ela era tão ou mais resistente que ele. Todos os seus golpes a afetaram pouco, e a mesma nem disse um ai com isso. Ele por sua vez, por pouco não deu um grito de dor quando levou aqueles tipos de golpe que nunca recebeu antes. Não eram de okaasan e nem de Rei-sensei. Ela usou a mão em forma de cunha e acertou vários tendões no seu peito, causando uma seqüência de dor lancinante! Ele não conseguia mover os braços sem o peito arder, e, mais que isso, sentia que os braços estavam mais fracos.
Agora era ela quem o surrava sem piedade.
Não podia ficar assim por muito tempo, nem agüentaria.
Akira a enlaça com as pernas e a ataca da única forma possível: com a cabeça. Ele mal houve o impacto, mas dá um soco na mesma e rola no chão, erguendo-se em seguida.
Que loucura! aquela garota... aquela garota era poderosa demais!
E o pior era que estava gostando...
Tanto que avança novamente para retomar o ataque, mas analisando bem a situação. Ela unia bem seus poderes com suas técnicas, e seu golpe nos tendões eram bem dolorosos.
Seria difícil vencer aquele ataque assim, de uma hora para outra.
Mas podia dar um jeito de continuar agüentando.
- ELE S" VAI PARAR POR NOCAUTE, MANA! - gritou a outra para ela.
- JÁ PERCEBI! MAS TENHO POUCAS OPÇ'ES NO MEIO DA CIDADE!
E como tinha poucas. Não podia fazer o que fez no templo, não tinha espaço bastante. E ele já tinha provado que agüentava seus golpes. E muito bem. Ela sorria intimamente e uma pontada de orgulho batia em seu peito. Não era a toa que este rapaz, este que seria seu otousan no futuro, também seria o maior guerreiro de sua era. Mesmo agora, em que era claramente inferior, em que era suplantado por ela em cada etapa, ele não desistia. E achava que ele poderia ganhar se marcasse bobeira. Bom, só tinha um jeito...
Bater até ele cair.
Ela novamente o golpeia, usando estratégia e continuando a minar seus movimentos, aproveitando sua agilidade maior e também que ele estava começando a ficar lento. Súbito, ela e o segura no braço e com a outra mão segura o solo. Akira fica travado quando ondas elétricas percorrem o seu corpo. Logo em seguida ela o joga no chão e o soca sem piedade, fazendo, a cada golpe, o solo tremer. Em parte pela potência do mesmo, e em parte pelo peso de seus braceletes. Makoto quase levou as mãos ao rosto, horrorizada com o que ocorria com seu pequeno filho. Mas não o fez.
Iria envergonha-lo se o fizesse. Apenas se limitou a cruzar os braços.
Shin não tinha tal pudor. Ficou de boca aberta mesmo. E a outra que assistia...
Ela... ela estava torcendo pelo Akira! Exigindo que ele se levantasse.
E mais uma vez ele a enlaça com as pernas, e em seguida crava seus dedos no solo.
Com a mão livre, acerta um soco na face da mesma, a qual nem se mexe.
Não precisava.
Shin se afasta, mas Makoto e a outra continuam por perto. O que ocorre em seguida é Akira praticamente fazendo o mesmo que ela, descarregando eletricidade. Muita eletricidade. Mas o que mais a impressionava era o fato dele estar controlando e direcionando para seu corpo uma quantidade tão alta de eletricidade.
Trinta segundos depois, ele a solta e se afasta. A mesma estava impressionada... e dolorida. Aquilo Havia doido! Ah, mas ele iria ter o que merecia, aquele protótipo de super guerreiro iria ver só...
Ela mal tem tempo de reagir quando o mesmo toca em seu braço, pegando-a totalmente de surpresa. Não era para ele estar esgotado?
Mas não teve tempo de reagir. Ele... ele fez... ele fez aquilo. Com eletricidade ele atingiu...
E agora, ela estava travada.
E aproveitando, ele atinge o seu rosto sem piedade. Uma, duas, três... chegou a perder a conta. Só via um mundo oscilante de luzes borradas diante dela. Ela..
ELA NÃO IRIA PERDER!
Na sua testa, brilha os símbolos de seus planetas guardiões, e com isso, ela consegue gerar eletricidade para escapar do armadilha dele, ao mesmo tempo em que o afasta. Logo em seguida, ambos ficam praticamente trocando socos. Sem estratégia, sem técnica, sem planejamento. Apenas um socando o outro, sem parar.
Parecia que estavam empatados.
Mas a verdade, a grande verdade, era que Akira tinha usado muito mais do que tinha direito. Usou sua própria alma nesta luta. Esgotou-se demais, queimou suas forças demais em uma explosão de poder que não poderia durar. Já a sua oponente... esta ainda tinha reservas. Muitas!
Talvez, se não estivessem naquela área, se estivessem em local mais isolado, ele tentasse sua última cartada.
Mas não era o caso.
Satisfeito, aceitando que fez o impossível, ele, mesmo sendo socado e socando de volta, finalmente desaba diante dela. Na verdade, caiu em cima da mesma e ela precisou segura-lo.
Na hora ela ficou assustada, achando que ele estava gravemente ferido. Mas não. Ele...
Ele só tinha apagado por exaustão mesmo.
E havia um sorriso tão bonito no seu rosto...
Mako-chan também sorria. Foi talvez a melhor luta de sua vida. Enfrentou alguém que não parava por nada. Por nada mesmo. Comparando com o dia anterior, este Akira... este seu futuro otousan estava bem mais evoluído em termos de combate.
- Obrigada pela luta, otousan - murmurou ela no seu ouvido. Mas ele não ouvia.
Que inveja Haru-chan devia estar sentindo, pois teve uma luta bem melhor do que ela...
E estava bastante surpresa e espantada. Ela tinha poucos recursos para usar em uma área como aquela sem que causasse grandes problemas, mas o mesmo valia para ele. Estava até mais limitado do que ela... mas mesmo assim, resistiu. Ela venceu, mas ele também teve, em parte, sua vitória.
- Nhan... - ela ficava surpresa, ao ouvi-lo recitar bem baixo algumas palavras com uma voz de que estava se esforçando ao máximo apenas para falar - Olha só o que você fez, Mako-chan. Agora eu vou sentir saudades de vocês, e okaasan vai ficar falando direto no meu ouvido que eu não devia me assanhar para o lado de garotas como vocês - ele emite uma pequena risada, percebendo o que acabara de dizer.
Ela o ajeita melhor em seus braços e começa a carrega-lo no colo, em direção a mãe do mesmo. A grama afundava sob seus pés, e não era para menos. Ela tinha que suportar o peso ampliado de ambos, o que dava uma tonelada e meia.
- Não se preocupe lindinho. Sei que vai sentir saudades, mas também sei... tenho certeza de que vai conhecer uma garota muito especial.
- Não... vai ser... como você...
- Não - ela sorria - não vai mesmo. Vai ser muito melhor. E eu garanto: Esta vai ser digna de ser sua companheira eterna. Marque bem minhas palavras.
Ele se deixa ficar solto nos seus braços. Mesmo quanto ela o entrega para Makoto. Esta fica assombrada com o peso que o filho tinha, tanto que quase o deixa cair. Ele... ele lutou com tal restrição? E conseguiu fazer tanto?
E ela... ela não só agüentou mais que ele como ainda estava disposta a mais? De que lugar do Universo estas duas vieram?
- Deixa eu tirar isso.
Haru-chan pressionou algo nos braceletes e o peso adicional dele desapareceu. Logo em seguida, ambas tiraram os adereços dele. Makoto o colocou no chão e as observou. Mas olhava melhor para os braceletes.
Não tinha mais duvidas. O símbolo de Júpiter estava estampado ali.
- Posso... dar uma olhada nisso?
Haru-chan estava quase colocando o último no pulso, quando ela pediu. Ela olha para a irmã e depois o entrega a ela. Haviam mais símbolos nos braceletes. Todos os símbolos dos planetas... até de Nemesis? Mas o maior e que dominava os outros era o de Júpiter. Só que olhando para o outro bracelete na mão dela, era outro símbolo que se sobressaía.
O Símbolo de Urano.
Intrigante. Ela olha do lado interno do adorno arregala os olhos. Ali havia uma inscrição. Na verdade, era um número. Três mil e quarenta e seis. O que significava? Seria a data de fabricação?
- O que é esse número aqui?
- Foi o ano em que fui a campeã da Arena....
- HARUKA!!!!
- Ops!!!
Haruka?! Arena? Ano?! A confusão dura alguns instantes. Mas logo ela associa tudo e tem uma explicação. Tecnologia superior, um ano mil anos no futuro, e duas moças que eram claramente jovianas. Mas porque uma se chamava Haruka? E a outra seria...
- Seu nome é Makoto?
- Sim... vovó...
Ela não esperava por isso. Estava já se preparando para que fossem visitantes do futuro. Mas... suas netas? Ela olha para Akira e percebe que ele dormia profundamente.
Ela as observa mais, percebendo novamente coisas que estiveram diante da mesma o tempo todo A face, os cabelo... os olhos não eram os mesmos, mas o modo de olhar, sim. A postura de relaxamento...
Elas... elas... elas eram muito, mas muito parecidas com seu filho, MESMO.
- Shin... – ela olha para o lado, percebendo que o mesmo havia retornado, uma vez que a luta já havia terminado - cuide de Akira, sim? Quero ter uma conversa mais particular com estas duas.
Ela segura no ombro delas e as conduz para um canto da casa, para conversar melhor com as mesmas. Assim que se afasta o bastante, recomeçam a conversar.
- Nossa... quer dizer que são minhas... minhas... netas?
- Sim, vovó.
- Três mil, quarenta e alguma coisa... vieram de pouco mais de mil anos do futuro... vieram de Tóquio de Cristal?
- Bem.. sim. Mas não moramos lá não. Só estamos hospedadas na casa da tia Megumi por causa do estudo na universidade da cidade. Moramos em Ganimedes, na nova colônia de Júpiter. Junto com mais umas trezentas famílias jovianas. Júpiter já é reconhecido como governo.
- Quem é o rei?
- Ninguém - respondeu a outra - temos um prefeito, e não é o otousan. Ele não quis se candidatar. E acho que ele não gosta muito de serviços burocráticos. Ele e okaasan trabalham mais restaurando e pesquisando nas ruínas do castelo.
- E... - ela sorria - quem é a okaasan de vocês?
- Desculpa... mas acho melhor não contar não.
- Que pena... você disse Megumi, certo? É a filha de Rei?
- Sim! - as duas sorriram - esta mesmo. Só que está menos arrogante no nosso tempo.
- Bom... só mais uma pergunta do futuro... quem é o sensei de vocês?
- Quem a senhora acha? O maior guerreiro de nosso tempo, o senshi de Júpiter, Kino Akira - disseram ambas com a boca cheia.
- Nem sei porque perguntei... - ela maneia a cabeça e sorri divertida - ele vai ser o maior guerreiro do futuro?
- Vai - elas confirmaram a uma só voz. E - agora, só Haruka prosseguiu - também será o maior guardião de nosso tesouro cultural. Talvez a senhora tenha achado nossa forma de agir um tanto diferente. Bom, não é só por termos costumes diferentes. Nós somos jovianas mesmo!
- E não lutamos para um dia ser senshi - continuou a outra - pode até ser que um dia tenhamos interesse, mas a verdade é que fazemos isso porque gostamos.
- É... como alguns gostam de jogar futebol e outros de jogar vôlei.
- Vocês se desenvolveram tanto apenas porque gostam? - ela estava de olhos arregalados. Onde estariam se tivessem metade da determinação de Akira? E ... guardião do tesouro cultural ? Um pesquisador ? Um historiador ? Mas ... em verdade ele sempre foi curiosa quanto a história, a ponto de vez ou outra encher Amy de pergunta, mas sempre soube que o que ele queria era ser um policial .Bom, muita coisa pode acontecer em mil anos ...
- Sim... algum problema?
- Não... nada não... Bom, vocês precisam voltar ao futuro. Hum... quem permitiu que viessem aqui?
- Na verdade ninguém. Mas eu fiquei tão irritada da tia Usagi ficar contando que as vezes vinha visitar a okaasan dela no passado, que eu queria fazer o mesmo com meu otousan. A senhora não vai nos dedar no futuro, não é?
- Meus lábios estão selados - ela sorriu - essa Usagi tem cabelos rosas?
- Sim!
- Já desconfiava... Bom. então é melhor ir antes que uma certa senshi do tempo as note por aqui. E quanto a Akira... acho que ele vai acabar perdendo o jogo. Mas não creio que se sinta incomodado não.
- Que jogo?
- Um jogo de basquete que ele arrumou desafiando uma colega.
- Hum... - as duas se entreolharam por alguns instantes.
Intervalo. Noriko Senta no banco da quadra de basquete e aguarda. Alguns minutos depois, ela e seu time bem selecionado observam seus rivais chegarem. Como esperava, lá estavam Shin e Megumi, junto a um - cambaleante? - Akira.
Ele estava com o olho roxo e alguns cortes no rosto. Mas o que houve com ele?
- Pronta, Noriko?
- Akira... o que aconteceu?
- Um treino forte demais. Mas estou bem. Vamos jogar?
- Jogar? Você mal se agüenta em pé! Que tal deixarmos para a semana que vem?
- Não senhora - ele bateu o pé no chão para dar firmeza - é hoje! Tenho tanta certeza de que vou vencer que quero inclusive aumentar a aposta. Se meu time ganhar... você vai freqüentar o dojo, concorda?
- Hum.. - ela o olha e pensa um pouco. Ele não tinha assim muita chance, mesmo com Shin no seu time - tudo bem, mas se eu vencer, você vai participar do clube desportivo da escola, ok?
- Perfeito.
- Estão faltando dois na sua equipe....
Akira sorri de forma malandra e se afasta, indicando com a cabeça duas moças jovens, gêmeas, usando roupas esportivas - que pegaram emprestado no dojo - e batiam a bola de basquete como se fossem profissionais.
- Onde arrumou estas duas?
- São umas amigas que eu conheci. Vamos?
Foi um tremendo jogo, diga-se de passagem. As duas mantinham a bola a todo custo, deixando uma diferença de pontos enorme. Mas elas também ficaram impressionadas - e muito - com Noriko. Ela realmente tinha um físico invejável, na verdade, embora os demais jogadores fossem bons, parecia que ela estava carregando o time nas costas, inclusive, fora responsável por todas as roubadas de bola das gêmeas, com uma habilidade que as deixava surpresa.
Quanto a Akira...
As mesmas ficaram bem curiosas. Ele estava cansado. Estava praticamente cambaleando no primeiro tempo.
Mas no segundo voltou com força total, para a surpresa de todos, ao passo que, inexplicavelmente, Megumi fora acometida por um cansaço tremendo...
Do lado de fora da quadra, muitos alunos assistiam o jogo entusiasmados. Haviam até alguns professores fazendo parte da torcida. Mas havia uma "penetra" também. Uma mulher alta de cabelos castanhos que observava tudo atentamente. Mas não o jogo em si, nem a desenvoltura das gêmeas, que tinham uma grande vantagem por terem de desligar o peso dos braceletes para não danificar o cimentado da quadra.
Ela observava Noriko. Era realmente bonita, parecia ser apessoada e...
Bem...
Não se incomodaria de tê-la como nora não....
E que Akira não cometesse o erro de perder aquele jogo, ainda mais com o que estava em jogo!
Nada mal, ele pensava. Nada mal, mesmo. Um excelente jogo, diga-se de passagem.
Mako-chan e Haru-chan também estavam bem animadas. Fora um excelente jogo, e o mais impressionante mesmo fora o fato do placar não ter sido tão grande quanto esperavam. Impressionante.
De longe, eles observavam Akira conversando com Noriko. Que droga, por que não ficavam mais próximos deles, para ver suas expressões? Não dava nem para ver se ela estava chateada por perder ou contente por perder...
Ele se despede, combinando de se encontrar com a mesma mais tarde, e vai acompanhando os demais.
- Obrigado - disse ele para elas, quando já estavam perto do parque - eu não teria conseguido sem a ajuda de vocês.
- Disponha lindinho. Foi um prazer ajudar.
Shin tinha ficado com Megumi, que estava muito cansada ainda, e Akira, bem recuperado as acompanhava junto de sua mãe. Ele fazia questão de vê-las partir.
Logo chegam ao parque e, tomando o cuidado de não serem vistas, uma delas levanta a jardineira e a outra pega o cetro que tinham deixado ali na véspera. Makoto olha intrigada para aquilo. Não era o cetro de Setsuna.
- Bom... é agora que vamos partir. Tchau lindinho - ela lhe dá um típico abraço joviano - desculpe não podermos ficar, e nem dizer quando voltaremos, se é que poderemos voltar, mas valeu a pena. E.. tchau, dona Makoto.
- Adeus, minha xará... - elas se abraçam da mesma forma. Logo depois, elas ficam um pouco distantes e erguem o cetro. Logo em seguida desaparecem.
- Será que posso visitar o mundo delas um dia?
Makoto sorriu intimamente. Fora uma boa desculpa essa, de falar que eram de outro mundo e que estavam apenas fazendo uma visita ali.
- Aposto que sim. Akira... me esclarece uma duvida... no dia que for pai.. e se por acaso tiver uma filha... como irá chama-la?
- Makoto - disse ele sem pestanejar.
- Eu imaginava... Vamos indo.
Eles começam a andar devagar, se afastando do parque. Mas ela ainda estava curiosa.
- E se tiver uma segunda filha, vai batiza-la com o nome de uma guerreira poderosa?
- Não okaasan. O nome de minhas filhas virão das mulheres que mais admiro neste mundo. A primeira vai ter de se chamar Makoto, e se houver uma segunda, vai se chamar Minako.
- Pensei que seria Rei...
- Bom... se houver uma terceira....
- Certo... bom, muita coisa pode acontecer até lá, não? Mas... olha... eu sei que vai achar que sou louca de comentar isto contigo agora mas... com certeza, vai dar uma educação decente para as suas filhas, e vai ficar no pé delas para que se vistam de forma coerente. não? Quero dizer... não vai deixar elas se vestirem de forma tão abusada quanto estas duas, certo?
- Onde quer chegar? Claro que quero que minhas filhas se vistam sem abuso. Não que desejo que sejam freiras, mas também não é para serem convidadas para posar por ai...
- Bom.. - ela coloca a mão no seu ombro - seja lá qual for a insistência que planeja ter para este assunto... eu gostaria que multiplicasse isso por vinte...
Akira olha para ela sem entender bem. E ambos continuam andando lentamente para casa.
Elas recolocam o cetro de volta no mesmo lugar e suspiram aliviadas. Ninguém percebeu...
- Bem vindas - disse uma voz atrás delas - se divertiram muito usando o cetro do tempo?
- Hã... oi.. mãe.. - ela arreganhou os dentes e fechou os olhos. Mas ia ser uma senhora bronca mesmo!
- Pelo menos aproveitaram bem o passeio?
- Claro! - disse Haruka sorrindo - vimos o otousan jovem. Ai que graça que ele era... E como lutava bem. Pena que não deu para... eu... ah... tá bom.
- Não sei o que o pai de vocês vai fazer, mas o meu castigo é vocês fazerem mil flexões agora, e na ponta dos dedos.
- M-mil?! - disseram ambas, não acreditando.
- Agora são duas mil. COMECEM!!! E não façam corpo mole, minhas caras gêmeas da tormenta!
Sem mais o que fazer, as duas começaram as flexões. E isso era só o aperitivo. A pai delas também iria dar um forte castigo.
Ou talvez não...
Mas... só para dar aquele beijo em um tio Shin jovem e lindão, valeu a pena!
E, pelo visto, por enquanto terminam aqui as aventuras das gêmeas da tormenta. Será que elas vão aparecer de novo? Bom, quem sabe? Afinal, quem pode prever como seria o futuro?
