Capítulo 3 - Uma Armadilha Bem Preparada

Correndo, Kagome chegou até uma trilha, provavelmente usada por carroças ou algo do tipo, pois parecia bem larga e não havia muitos obstáculos nela. Seguiu por ela até quase desmaiar de tanto correr e caiu sobre os joelhos. Enquanto tentava recuperar o fôlego. Observava atentamente a escuridão atrás de si, mas agora havia um fúnebre silencio. Abraçou o próprio corpo e encolheu-se no chão, pois tremia. Não sabia se de frio, medo ou tristeza. Acabou desmaiando de cansaço. Algumas horas depois, acordou escutando um barulho. Ao abrir seus olhos, para seu terror percebeu um vulto cruzando o alto das árvores e indo em sua direção. Conhecia bem aquele vulto. Mais que prontamente, levantou-se, puxou uma flecha e apontou na direção dele. Ele parou no alto de um galho a observá-la. Parecia um tanto confuso.

– Hei, Kagome! O que foi? O que está fazendo aqui?

Kagome surpreendeu-se com a reação dele. Não parecia o monstro que há poucas horas havia tentado matá-la. Sacudiu a cabeça e manteve-se em posição.

– Eu não sou idiota! Seu maldito! – Lançou sua flecha e quase o acertou no ombro direito.

– "Mas que diabos está acontecendo?". Você ficou maluca? Quase me acertou!

– Pois a próxima eu não vou errar, seu hanyou nojento! – Puxou outra flecha, mas antes que ela pudesse usá-la, ele pulou sobre ela, derrubando-a no chão, mantendo-a presa pelas mãos. Começou a se debater desesperadamente. – NÃO! ME SOLTE!

– Kagome! O que está acontecendo com você? – Apesar do jeito que ela se debatia, ele manteve um jeito calmo de falar e havia muita preocupação e confusão em seu olhar. – Por que você está agindo desse jeito?

Ela parou de se debater e respirava ofegantemente. "Esse olhar...". Notou aquele doce olhar que tanto a cativara.

– Inu-Yasha!

Ela se desvencilhou dele e o abraçou aos soluços. Ele logo se sentou e a acomodou em seu colo, abraçando-a fortemente, tentando confortá-la, mas ainda não entendia a reação dela. Após algum tempo abraçados, ela se lembrou do porque de estar tão desesperada. O empurrou e deu-lhe um tapa no rosto.

– Hei! Que idéia foi essa? – Reclamou ele, enquanto alisava o rosto.

– Se você queria me dar uma lição, saiba que foi muito cruel! Eu podia ter matado você, sabia!

– Em primeiro lugar, – Ele cruzou os braços. – eu não sei do que você está falando! E em segundo lugar, você está muito enganada se pensa que pode me pegar com uma das suas flechas! Você é lenta demais!

– Não se faça de desentendido! Você quase me matou de susto naquela hora!

– Do que você está falando, Kagome? Essa é a primeira vez que eu te vejo em três dias!

Kagome se deu conta do que estava acontecendo. Tocou o rosto dele e o virou para observá-lo melhor sob a luz da lua. O corte causado pela flecha que lançara anteriormente não estava mais lá. Ela fechou os olhos, recolheu sua mão e cerrou o punho. Seu corpo todo tremia.

– Naraku! – Ela resmungou.

– Mas o que ele... – A princípio surpreendeu-se com o comentário da jovem, mas parece que foi capaz de ler os pensamentos dela. A abraçou fortemente. – Ele tentou fazer a mesma coisa...

Ela afirmou com a cabeça.

– Ele assumiu a sua forma e tentou me matar. Mas agora percebo que não era você, porque eu marquei o rosto dele com uma das minhas flechas e você não tem essa marca...

Permaneceram abraçados por um tempo até que ela se acalmasse. Depois, levantaram-se e seguiram na direção pela qual ela viera, tentando encontrar o acampamento dela. Encontraram os destroços do local. Inu-Yasha caminhou até as brasas da fogueira e chutou algumas.

– Maldição! Aquele miserável! – Percebeu o silêncio de Kagome. – Como você está, Kagome?

– Devia ter percebido que não era você. – Lágrimas lhe vieram aos olhos. – Mas ao escutar aquelas palavras eu perdi o controle...

– Que palavras?

– Não me peça para repeti-las porque já foi doloroso demais ouvi-las uma vez. – Pediu ela, encarando-o.

– Não fique se martirizando desse jeito... – Aproximou-se dela. – Como você poderia saber?

– Ele não usou a Tessaiga uma única vez... Não poderia fingir o poder da sua espada, Inu-Yasha... Quase acertei você...

Foi surpreendida por um terno beijo. Ao final deste, ele afagou-lhe os cabelos e a puxou contra seu corpo, envolvendo-a em seus braços.

– Não foi sua culpa...

– Eu sinto muito...

– Pare de se desculpar, já disse que não foi sua culpa...

– Não é isso... É por ter gritado com você aquele dia...

– Eu também gritei com você... Não tinha o direito de dizer as coisas que eu disse... Vamos esquecer isso está bem?

Ela deixou-se embalar pelas batidas do coração dele e o calor de seu corpo. Acabou por adormecer, estava exausta. Parecia que todas as suas forças haviam sido sugadas. Acordou com os primeiros raios de sol em seu rosto. Sentia-se confortável e quentinha nos braços de seu amado. Ele estava sentado, recostado a uma árvore, com ela em seu colo. Seus olhos estavam fechados e tinha um semblante calmo. Ao perceber o despertar dela, ele abriu os olhos e sorriu para ela. Ela retribuiu. "Como pude achar que aquele monstro era você?".

Após tomarem café da manhã, seguiram seu caminho para alcançar Miroku e Sango. A caminhada foi silenciosa, até um certo ponto que Inu-Yasha não agüentava mais. Ele parou e virou-se para encará-la.

– Você está muito quieta...

– É que eu estou cansada, é só isso.

– Se você vai ficar com essa cara, é melhor a gente voltar para o vilarejo onde você possa descansar um pouco.

– Eu estou bem... – Forçou um sorriso. – Sério...

Um vento frio soprou, fazendo-a arrepiar-se, não de frio, mas de pavor. Aquele vento trazia a mesma energia sinistra que sentira pouco antes de ser atacada pelo falso Inu-Yasha. Diante dela, viu o verdadeiro sacar a Tessaiga.

– Esse cheiro... Saia de onde estiver, seu miserável! – Posicionou-se na frente de Kagome.

Uma risada insana ecoou pela floresta e a figura de Inu-Yasha surgiu dentre as árvores diante deles. Um Inu-Yasha com o olhar cheio de maldade.

– Seu maldito! Como ousou tomar a minha forma novamente para tentar matar a Kagome?

– Se eu quisesse realmente matá-la já o teria feito, seu idiota! Só que isso não iria corromper os fragmentos da Jóia de Quatro Almas. Mas as mãos dessa garota manchadas com o seu sangue, isso sim, seria perfeito...

– Tudo isso por causa dessa maldita Jóia de Quatro Almas! Eu vou acabar com você! – Avançou contra o adversário.

Kagome afastou-se um pouco para dar espaço a Inu-Yasha. "Preciso fazer alguma coisa...". Ergueu seu arco e mirou sua flecha. Ela sabia que o alvo seria aquele que não estivesse portando a Tessaiga. Mas então, o falso Inu-Yasha atirou-se sobre o verdadeiro e ambos rolaram pelo chão numa direção e a Tessaiga para outra. "E agora? Ele largou a Tessaiga!". Ela olhou para a espada e teve uma idéia.

– Parem agora os dois ou eu atiro!

Apesar de seu aviso, os dois permaneciam medindo forças, de pé, um diante do outro, segurando-se e empurrando-se pelas mãos.

– E como você vai saber em quem atirar, Kagome? – Perguntou um deles.

– Ela vai atirar em você, porque eu sou o verdadeiro! – Exclamou o outro.

– O quê? Eu é que sou o verdadeiro! – Replicou o primeiro.

Aquele jogo de empurrar-empurra já estava dando nos nervos.

– Já chega! – Gritou ela. Os dois pararam e ficaram olhando-a. – Só tem uma forma de resolver isso! – Mantendo a flecha apontada para ambos, caminhou um pouco e parou diante da Tessaiga. – Naraku... Você teve muito trabalho nos espionando, não é mesmo? Deve ter usado a Kanna ou aqueles insetos. Você sabia exatamente como se portar e o que dizer para me tirar do sério, a ponto de me desesperar e quase matar o Inu-Yasha. Sabia até sobre o colar. Curou o corte que lhe fiz no rosto e olhando assim, os dois lado a lado, são iguaizinhos. Mas tem uma coisa que só o verdadeiro Inu-Yasha pode fazer. – Chutou a Tessaiga, que parou entre os dois. – Eu vou contar até três e, no final, vou atirar naquele que não tiver pego a Tessaiga! Um!

Os dois Inu-Yasha se entreolharam.

– Dois! – Puxou a flecha, deixando-a no 'gatilho'.

Ambos abaixaram-se, mas só um pôde tocar a Tessaiga sem ser repelido pelo seu escudo protetor.

– Três! – Lançou a flecha na direção daquele que não pegou a espada.

Ao mesmo tempo, a Tessaiga transformou-se e o verdadeiro Inu-Yasha a utilizou em seu adversário. A flecha de Kagome acertou o braço esquerdo e a Tessaiga o ombro direito do falso Inu-Yasha. Uma nuvem de miasma (x) encobriu a área e a visão do casal.

– Inu-Yasha! – Ela cobriu a boca com uma das mãos, mas respirar estava ficando cada vez mais difícil. – Que droga!...

Sentiu então alguém segurá-la pela cintura e saltar com ela para fora da nuvem.

– Kagome, você está bem? – Colocou-a gentilmente no chão.

– Sim... estou... – Percebeu que a nuvem estava se dissipando. – Cuidado, Inu-Yasha...

Ele virou-se, esperando que seu oponente surgisse de dentro daquela nuvem, mas, quando todo aquele miasma desapareceu, não havia ninguém no lugar.

– Que droga! Apareça seu covarde!

Um fino raio luminoso cruzou o ar, atingindo as costas de Inu-Yasha. Por um momento, ele parou e olhou para Kagome. Cravou a Tessaiga no solo e apoiou-se nela para permanecer em pé. O ar lhe escapava, assim como suas forças.

– Seus idiotas... Caíram direitinho na minha armadilha... – A marionete (x) de Naraku surgiu por trás de Kagome, que mal percebeu sua presença, pois sua única preocupação era Inu-Yasha. – Eu injetei em você um veneno muito forte. Logo vai agonizar e morrer e não vai ser algo muito bonito de se ver... – Começou a rir.

Kagome virou-se furiosa para ele.

– Seu maldito! – Sentiu a mão de Inu-Yasha sobre seu ombro. – Inu-Yasha... – Cada vez mais ele tinha dificuldade em respirar.

– Afaste-se, Kagome... – Ergueu sua espada, com uma certa dificuldade. – Como eu disse antes, você é um covarde, Naraku... Usa truques sujos e marionetes para fazer o seu trabalho... Só que eu já estou farto disso!

Ele avançou contra a marionete e a destruiu de um só golpe. Recolheu sua espada e ao virar-se para Kagome, ela correu e o abraçou.

– Inu-Yasha... – Sentiu uma certa umidade nas costas dele e cheiro de sangue começou a ficar forte. – O ferimento...

– Você está bem?...

– Sim, mas...

– Que bom... – Fechou os olhos e desmaiou nos braços dela.


(x) Miasma – Gás extremamente tóxico.

(x) Marionete – É um fantoche usado por Naraku, durante as lutas, para que ele possa observar a tudo, sem correr perigo real. Pois, mesmo quando a marionete é destruída, nada acontece ao Naraku.