– Kagome! Abra os olhos! Kagome!
O hanyou quebrou metade da flecha, mas sabia que não poderia retirar o restante sem causar estrago maior. Colocou sua mão no pescoço dela e aliviou-se ao sentir uma pulsação. "Graças a Deus...". Virou-se para Shikage/Setsuna que os olhava friamente.
– Maldito... – Levantou-se e ergueu sua espada. – Você vai pagar pelo o que fez com a Kagome! – Avançou, mas Sesshoumaru se colocou na sua frente, segurando o arco de Kagome. – Saia da minha frente, Sesshoumaru! Se não eu vou cortar você também!
– Já lhe disse que isso é inútil, Inu-Yasha... – Aproximou-se de seu meio-irmão e sussurrou algo em suas orelhas. Inu-Yasha ficou surpreso com o que lhe foi dito e guardou a Tessaiga. Depois, Sesshoumaru se afastou dele. – Tire-a daqui, a não ser que queira que ela morra.
– Mas...
– Essa luta é minha. – Entregou-lhe o arco.
Inu-Yasha concordou, segurou Kagome nos braços e saiu rapidamente, seguido pelos olhos ensangüentados da possuída Setsuna. "Meu mestre deu ordens para eliminar aquela garota.", pensou a criatura. Ergueu seu braço e sobre a palma da mão flutuava a negra esfera da alma.
– Não pense que poderá fugir de mim! – Seu avanço foi impedido, pois Sesshoumaru colocou-se à sua frente. – Protegendo o irmão... Que comovente... Mas saiba que irei atrás deles quando acabar com você. – Sorriu.
– E você acha que pode me derrotar? – Disse Sesshoumaru, desafiadoramente, erguendo um par de dedos brilhantes.
– Posso, porque sei que jamais atacaria para valer essa mulher... Eu poderia tê-lo matado tão facilmente a outra noite... – Sesshoumaru lembrou-se da noite que passara com Setsuna e desarmou-se. – Mas tive que esperar até que ela expusesse sua alma... O poder dentro dela é muito grande, Naraku vai gostar de possuí-lo!
– É isso o que você quer, Setsuna?
– É inútil, ela não pode ouvi-lo!
– Não estou falando com você, verme. – Shikage ficou confuso. – Até quando você vai permitir que aquele maldito controle a sua vida? – Deu-lhe as costas. – Você é muito mais forte que isso. Não se entregue desse jeito.
– Você conta muito com a sorte. Dando-me as costas desse jeito...
– Isso é um monte de besteiras...
– O quê?
– Se quisesse realmente me matar, já o teria feito... Está com a alma dela nas mãos, mas ela não permite que você a use contra mim... Não pode controlá-la, não é mesmo?
– Ora, seu...
Por mais que tentasse, apesar de sua mão estar pronta para ataque, o monstro dentro de Setsuna não conseguia fazê-lo. Seu corpo começou a tremer e desfez a esfera. Sesshoumaru virou-se para encará-la. Setsuna parecia ter tomado o controle novamente, mas era visível o esforço que fazia para mantê-lo. O suor escorria por sua face e as palavras saiam espremidas de sua garganta.
– Se... sshoumaru...
– Eu disse que podia...
– Só por pouco tempo... Não quero lutar contigo...
– Não me peça para fugir, você sabe que eu jamais faria isso.
– Então te peço que termines isso de uma vez... enquanto ainda posso contê-lo... Rin e Jyaken estão presos em uma dimensão a qual só Shikage tem acesso. Se for destruído, eles serão expulsos de lá, retornando ao nosso mundo!
– Não vou matá-la. – Começou a aproximar-se dela.
– Não... – Recuou um pouco. – Afasta-te!
– Você jurou estar sempre do meu lado! Faço minha a sua promessa! – Segurou-a pelo braço.
– Ainda posso escutar as súplicas das vidas inocentes que tirei... – Lágrimas de sangue rolavam por sua face. – Não quero também escutar as tuas! Não poderia viver com isso!
– Não estou suplicando nada! – A abraçou. – Sei que você pode lutar por você mesma...
Por um momento ela entregou-se àquele abraço aos soluços.
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Inu-Yasha corria desesperadamente com Kagome em seus braços. Parou repentinamente e olhou para trás. "Sesshoumaru...".
– Por que saiu de lá, Inu-Yasha?
Ele a colocou gentilmente no chão, recostada a uma árvore.
– Pensei que você...
– Estou bem, na medida do possível... – Ela olhou para o pedaço de flecha ainda cravado em seu peito. – Não atingiu nenhum órgão vital.
– Mas ainda está sangrando muito...
Ela sabia que era grave, mas, como que tentando desviar a atenção do hanyou de seu ferimento, Kagome resolveu mudar de assunto.
– Sesshoumaru está lutando sozinho...
– Não, não está... – Levantou-se e sacou a Tessaiga. – Ele é uma espécie de distração...
– Distração? – Notou que ele virou seu olhar para ela.
– Vou te contar o plano dele para libertar Setsuna...
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Sesshoumaru percebeu que Setsuna logo o apertava fortemente. Então ela o empurrou e deus alguns passos para trás.
– Não! – Gritou ela. A esfera da alma negra começou a surgir diante de seu peito. – Não posso mais segurá-lo! – Encarou Sesshoumaru. – Não posso porque ele possui um grande fragmento corrompido da Jóia de Quatro Almas! Metade dela!
– Então vou dar a ele um brilho que ele não vai poder engolir. – Sacou a Tenseiga. – Inu-Yasha!
As orelhas do hanyou se mexeram.
– É agora... – Ergueu a Tessaiga, mas surpreendeu-se ao perceber Kagome em pé ao seu lado, apontando seu arco na mesma direção. – Kagome, não se esforce desse jeito...
– Você não disse que aquela coisa se alimenta de energia? Vamos dar uma indigestão para ele!
Inu-Yasha mostrou um olhar confiante em sua parceira. Ambos lançaram seus ataques ao mesmo tempo. O golpe da ferida do vento abriu caminho pela mata, seguido pela brilhante flecha purificadora. Adiante, Setsuna percebeu a luz que vinha em sua direção.
– Esse golpe não pode me deter... – Disse ela, novamente com a voz de Shikage.
"Mas ele não está sozinho!", pensou Sesshoumaru.
No momento em que a energia da ferida do vento cortada e a flecha purificadora atingiram Setsuna, Sesshoumaru usou a Tenseiga nela. O choque entre estas forças causou um clarão e um impulso que jogou Sesshoumaru longe. Kagome ia cair, mas Inu-Yasha a segurou e ambos ficaram observando a imensa bola de energia se formar. Dentro dela, a esfera da alma de Setsuna parecia estar sendo espremida e logo, Shikage começou a sair.
– Quanto poder! – Gritou o monstro.
Seu corpo negro começou a sofrer torções, esticando-se e reprimindo-se ao mesmo tempo. Num desses torções, Rin e Jyaken foram expelidos para fora. Foi quando Setsuna abriu seus olhos. Ela estava no controle novamente, pois Sesshoumaru podia ver o mais puro azul dentro deles.
– Me ajude a levantar, Inu-Yasha... – Murmurou uma fraca Kagome.
– Mas você não pode se esforçar mais! O ferimento está abrindo!
Ela olhou seriamente para ele.
– Eu preciso...
– Você não entende...
– Não preciso entender. Preciso ficar de pé e acertá-lo mais uma vez. Se ele escapar virá atrás de nós novamente. Temos que acabar com isso agora, Inu-Yasha!
Ele sabia que ela estava certa. Aquele impasse deveria terminar ali. Então, com a ajuda do hanyou, Kagome ergueu-se e puxou outra flecha, lançando-a contra Shikage. Setsuna, que a esta altura já havia recuperado completamente o controle sobre si mesma, também se preparou para atacar o youkai.
– Monstro miserável!
Ela lançou sua esfera da alma contra o youkai, que foi atingido ao mesmo tempo. No local onde a flecha e a esfera o atingiram, um pouco abaixo da cabeça, o nada começou tomar conta. Um nada que crescia e fazia com que ele fosse desaparecendo aos pedaços até mais nada sobrar, exceto pelo fragmento da Jóia de Quatro Almas que caiu ao chão. Setsuna recolheu sua esfera e caiu de joelhos, recuperando o fôlego. Ela sorriu ao ver Jyaken e Rin desmaiados ao seu lado e depois olhou para Sesshoumaru que se levantava.
– Eu disse que você podia lutar... – Disse ele, enquanto caminhava até ela.
Ele ofereceu-lhe a mão para ajuda-la a se levantar. Assim que ela o fez, ele seguiu pelo caminho aberto pelo golpe da Tessaiga, chegando até Inu-Yasha. Kagome estava em seus braços. Sangrava muito e respirava com dificuldade. O hanyou levantou o olhar e encarou o irmão.
– Você tinha razão, ele não pôde suportar tanta força...
– Mas só foi possível por causa dela... Retire o restante da flecha.
– Se eu fizer isso, a hemorragia vai piorar.
– Retire a flecha, Inu-Yasha...
Inu-Yasha entendeu o que ele ia fazer e retirou o restante da flecha, recostando depois Kagome em uma árvore. Sesshoumaru olhou para Kagome e ergueu sua espada. Espantou-se com o que viu. Ela também tinha uma esfera da alma. Ainda não era tão forte quanto a de Setsuna, que tinha mais experiência. "Ambas são muito poderosas... Mas, o que é isso?...". Sesshoumaru também podia ver algo mais além da esfera. Pôde escutar corações batendo em sua mente. Fechou os olhos e deferiu o golpe de sua espada em Kagome, curando-a do ferimento. Guardou sua espada, virou-se e saiu caminhando.
– Nós nos separamos aqui, Inu-Yasha.
– Obrigado, Sesshoumaru.
Sesshoumaru parou por um instante, de costas para o irmão. "Obrigado...". Continuou em frente. Rin e Jyaken despertavam. Para eles foi como se estivessem dormindo, não haviam percebido nada do que se passara. Só estavam confusos com os machucados que tinham e com o pobre Ah-Un mancando em sua direção.
– Senhorita Setsuna! – A menina correu e a abraçou.
– Senhor Sesshoumaru... – Balbuciou um confuso Jyaken. – O que aconteceu?
– Se você não sabe não sou eu que vou lhe explicar. – Continuou seu caminho, passando ao lado de Setsuna que tinha Rin agarrada a sua cintura. – Vamos embora...
Setsuna sorriu. "Vamos.". Rin soltou-se dela e foi atrás de Sesshoumaru, seguida por Jyaken. Kagome aproximou-se com Inu-Yasha e pegou o enorme fragmento saído de Shikage, purificando-o com seu toque.
– Ainda não terminou, mas pelo menos agora temos uma boa parte da Jóia de Quatro Almas. – Disse Kagome.
– Quanto menos ele tiver, menos poderoso será... – Completou Setsuna. – Nós ainda voltaremos a nos encontrar...
Inu-Yasha e Kagome ficaram observando os 'companheiros' de luta sumirem na escuridão da floresta.
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– Maldita! Kanna! Onde você está, sua imprestável? – Gritava um furioso Naraku. Kanna surgiu das sombras.
– Aqui, meu mestre...
– Onde esteve? Arruinou meu plano deixando Shikage lutar sozinho contra aquelas duas!
– Pensei que talvez gostasse de um presente...
– Presente?
Atrás de Kanna surgiram no chão os corpos inconscientes de Miroku, Sango e Kirara. Naraku olhou para ela e sorriu.
