Saíram caminhando pela trilha de volta ao local onde haviam deixado Shippou, Jyaken e Rin. Resolveram permanecer acampados por mais um dia naquele lugar, para que Kagome pudesse cuidar de Setsuna. Fizeram uma fogueira para aquecê-los do frio da noite. Inu-Yasha havia saído para procurar o restante das ervas que Kagome lhe pedira. Kagome amassava e misturava uma variedade de ervas em uma tigela, para fazer o remédio que daria a Setsuna. Esta por sua vez, continuava inconsciente nos braços de Sesshoumaru. Ele a mantinha aninhada em seu colo, recostado a uma árvore. Então ele percebeu o olhar choroso de Rin.
Ikutsu namida o nagashitara
(Se chorar, quantas lagrimas cairão)
EVERY HEART sunao ni nareru darou
(CADA CORAÇÃO provavelmente se acostumará, tornando-se gentil)
– O que foi, Rin?
– Ela está assim há tanto tempo... Ela não vai morrer, não é, senhor Sesshoumaru?
O gesto dele foi de deixar todo mundo de queixo caído. Ele estendeu sua mão para a menina, que ela aceitou de imediato, e a puxou para perto de si, abraçando-a também.
Dare ni omoi tsutaetara
(Se todos dissessem o que sentem)
EVERY HEART kokoro mita sareru no darou
(CADA CORAÇÃO provavelmente irá se alegrar)
– Ela vai ficar bem...
Rin sorriu docemente para ele, que acabou retribuindo o sorriso. Sango chegou a cochichar algo no ouvido de Miroku. Shippou dormia encostado em Kirara, alheio a situação. Jyaken caiu para trás. "O senhor Sesshoumaru está sorrindo! Que desgraça!". Inu-Yasha chegou bem naquele momento com as ervas e ficou observando seu irmão por alguns segundos. "Acho que talvez elas estejam certas sobre ele...".
– Inu-Yasha?... – Chamou Kagome, retirando-o do tranze.
– Hã?... O quê?...
– As ervas...
– Ah, é... – Entregou as ervas para ela e sentou-se ao lado dela. – Como está indo?
– Já estou quase terminando...
Nagai nagai yoru ni obieteita
(Na longa, longa noite memorizei)
Tooi hoshi ni inotteta
(As estrelas distantes enquanto rezava)
Ela colocou um pouco de água fresca, terminou de amassar aquela mistura e começou a coar o conteúdo para dentro de uma garrafa. Então se levantou e foi até Sesshoumaru.
– Ela tem que beber tudo, Sesshoumaru...
Ele afirmou com a cabeça e Rin se afastou um pouco para que pudessem dar o remédio a Setsuna. Inu-Yasha lembrou-se de quando era Kagome quem estava naquela situação e o desespero que ele sentira por achar que ela iria morrer por causa dele. "Ninguém merece sentir esse tipo desespero... Nem mesmo você, meu irmão...". Kagome retornou para o lado de Inu-Yasha e continuou a socar mais ervas.
– Vou preparar mais para o caso de uma emergência.
Meguru meguru toki no naka de
(Vendo, vendo de dentro do tempo)
Bokutachi wa ai o sagashiteiru
(Nós procuramos o amor)
Tsuyoku tsuyoku naritai kara
(Porque fortemente, fortemente se transforma)
Kyou mo takai sora miageteiru
(Assim como hoje vejo alto no céu)
Inu-Yasha levantou-se e caminhou até Sesshoumaru.
– Preciso conversar com você...
– Eu tenho que tomar contar dela, Inu-Yasha...
– Não há nada que você possa fazer por ela a não ser esperar. Venha comigo.
O hanyou deu as costas e seguiu caminhando na direção do penhasco. Sesshoumaru relutou um pouco antes de resolver seguir atrás do irmão. Deitou Setsuna suavemente sobre a grama e saiu.
– Jyaken...
– Eu já sei... Tome conta delas duas... – Balbuciou o servo, desanimado.
– Algum problema?
– N-N-Não, s-s-senhor Sesshoumaru!... – Viu seu mestre voltar a caminhar. "Ufa...". Porém entrou em pânico novamente quando Sesshoumaru parou. "Pronto! Agora é o meu fim!".
– Jyaken... já tem muita gente aqui que poderá tomar conta de Rin e Setsuna. Por que não tira esta noite para descansar?
Jyaken ficou de boca aberta e seu queixo foi ao chão. "Esse não é o mesmo senhor Sesshoumaru que eu conheço...".
– Err... Obrigado, senhor Sesshoumaru...
Donna egao o deaetara
(Se voltarmos a nos encontrar sorrindo)
EVERY HEART yume ni fumidaseru no
(CADA CORAÇÃO descreverá o sonho)
Sesshoumaru continuou seus passos, atrás de Inu-Yasha, pela floresta. Kagome sorriu discretamente. "Espero que esses dois se entendam...". Miroku percebeu o jeito dela.
– Kagome, me diga. Será que eles vão brigar?
– Eu acho que não é isso, Miroku. – Sango sorriu para a amiga. – Não é mesmo, Kagome?
– Você tem razão, Sango. Parece que finalmente as coisas vão se ajeitar agora.
– Naraku está morto e... – O monge parou meio pensativo.
– O que foi, Miroku? – Sango percebeu que ele fitava sua mão direita. – Será que...
– Só há um modo de saber...
Hito wa kanashimi no mukou ni
(Lá adiante na tristeza das pessoas)
EVERY HEART shiawase ukabete nemuru
(CADA CORAÇÃO dorme falando em felicidade)
O monge levantou-se e apontou sua mão para um local onde não via ninguém e lentamente retirou o colar de contas de sua mão direita. Nada aconteceu. Descrente, arrancou a luva e sua mão nua finalmente o convenceu. Não havia mais buraco do vento. Estava livre da maldição. Cerrou o punho e chorou silenciosamente.
Itsuka itsuka subete no tamashii ga
(Para que um dia, um dia toda alma)
Yasuraka ni nareru you ni
(se acostume a descansar)
"Vovô, papai... finalmente vocês foram vingados... Descansem em paz...". Assim pensou Miroku. Então sentiu a mão de Sango sobre a sua. Ela sorriu docemente para ele que, além de retribuir o sorriso, a puxou para perto de si, abraçando-a. Corada, ela escondeu o rosto nas vestes dele e se entregou ao abraço. Kagome observava a cena com alegria, pois agora sabia que ele não morreria daquela maldição. Mas ainda faltava algo. Ela pegou a Jóia de Quatro Almas e a fitou. "Ainda faltam fragmentos... Kouga tem dois e Kohaku tem um, mas...". Percebeu que sua amiga agora a observava, ainda nos braços do monge. Parecia que as duas haviam pensado sobre a mesma coisa. "...Mas se Kohaku perder o fragmento ele morrerá... E Sango vai sofrer muito...". Seu olhar entristeceu e ela virou o rosto para não se fazer perceber. Ficou segurando a Jóia de Quatro Almas quase completa em suas mãos. Se surpreendeu quando Sango colocou suas mãos sobre as dela.
– Eu sei o que está passando na sua cabeça, Kagome, mas não vamos nos preocupar com isso agora...
– Está bem... – Lembrou-se de algo. – Ah, meu Deus... Você e Miroku ainda não sabem...
– Não sabemos do quê? – Miroku aproximou-se e sentou-se com elas.
Kagome respirou fundo e começou a contar o que ela considerava serem boas notícias.
Meguru meguru toki no naka de
(Vendo, vendo de dentro do tempo)
Bokutachi wa ikite nanika o shiru
(O que nós sabemos para viver)
Toki ni warai sukoshi naite
(Sorrindo por pouco tempo)
Kyou mo mata aruki tsuzuketeyuku
(Assim como ainda hoje agüentamos firme)
Inu-Yasha chegou até o corpo do youkai lagarto. "Esse bicho está fedendo!". Ele agarrou o cadáver por uma das patas, arrastou até o precipício e o jogou lá embaixo. Fez um som abafado ao atingir o fundo, batendo na densa vegetação. Logo atrás dele veio Sesshoumaru, trazendo a cabeça, que também jogou no abismo.
– Não me diga que viemos até aqui só para fazer serviço funerário, Inu-Yasha?
Inu-Yasha sentou-se, olhando para a paisagem.
– Você parece bem diferente, Sesshoumaru... Ainda nem tentou roubar a Tessaiga.
– Meus interesses mudaram. A Tessaiga não faz mais parte deles. – Sentou-se ao lado do irmão.
Uma brisa fresca soprava, refrescando e afastando o odor do corpo do youkai morto que ainda pairava leve no ar. Apesar de estarem sentados lado a lado, apreciando a vista, evitavam olhar-se nos olhos.
Osanai kioku no katasumi ni
(As lembranças da infância se fortalecem)
Atatakana basho ga aru SO SWEET
(Existe um lugar terno TÃO DOCE)
– Quando foi que nós começamos a nos odiar tanto, Sesshoumaru?
– Eu não sei... Já faz muito tempo.
– Eu também não me lembro. – Respirou fundo e cruzou os braços. – Para falar a verdade, me esqueci de muita coisa que eu não queria ter esquecido. Acho que é porque as lembranças doem muito ainda.
– Do que você gostaria de não ter esquecido, Inu-Yasha?
– Do nosso pai... Queria me lembrar dele... E de como você era comigo...
Sesshoumaru olhou com o canto dos olhos para o hanyou.
– E isso importa agora?
– Só se você ainda quiser ver o meu cadáver... – Encarou o irmão.
Sesshoumaru fechou os olhos e cruzou os braços também.
– Como eu lhe disse, Inu-Yasha, meus interesses mudaram. Matar você não é mais o objetivo da minha vida. "Talvez nunca tenha sido..."
– Não foi isso o que eu quis dizer... – Levantou-se.
– Então o que foi? – Abriu os olhos e encarou Inu-Yasha.
– Eu quero saber se você ainda quer me ver morto. – Estava de frente para o abismo. – Isso também inclui me jogar daqui de cima. – Deu um passo.
– Acha que vou segurar você? Se você pensa que eu virei o irmãozinho ideal de uma hora para outra está muito enganando...
Inu-Yasha nada disse e apenas deu mais dois passos, aproximando-se da beirada. Sesshoumaru descruzou os braços e fingiu não se importar.
– Se você quer pular vá em frente. Por acaso acha que eu me importo?
Mais um passo silencioso e Inu-Yasha ficou no limite do penhasco, derrubando um pouco de terra lá embaixo.
– Inu-Yasha... – Trincou os dentes.
Hoshitachi ga hanasu mirai wa
(Quando desviarmos os olhos veremos as estrelas)
Itsumo kagayaiteita SO SHINE
(Sempre tão brilhantes TÃO BRILHANTES)
Inu-Yasha virou-se, dando as costas para o penhasco. Ao mesmo tempo deixou seu corpo pender para trás, caindo no abismo. Tudo parecia passar em câmera lenta diante de Sesshoumaru e ele não conseguia entender qual o propósito daquilo. Mas algo o fez adiantar-se e segurar Inu-Yasha pelo braço. Sesshoumaru se jogou num impulso tão forte que também quase caiu. Ficaram os dois por alguns segundos se observando. Sesshoumaru na beira do penhasco, com o braço esticado para baixo segurando Inu-Yasha, que balançava no ar. "Por que eu salvei a vida desse hanyou?". Ele se enfureceu consigo mesmo e puxou-o, jogando Inu-Yasha para cima e depois contra uma árvore. Ficou ali em pé, indignado com o ato do irmão mais novo. Mais indignado ainda ficou quando Inu-Yasha se levantou e sorriu para ele.
– O que é tão engraçado?
– Nós ainda nos odiamos?
Sesshoumaru ficou sem palavras e desviou o olhar para o céu. Não havia mais nada a ser dito. Eram a família um do outro, a única que tinham. Percebeu que Inu-Yasha se aproximou e estendeu a mão. Os dois se encararam. O mais velho cedeu e apertou firmemente a mão do mais novo. Assim permaneceram por alguns instantes, como que num transe. Depois soltaram as mãos e começaram a caminhar.
– Mano, vamos voltar. – Notou que Sesshoumaru parou meio aborrecido. – O que foi?
– Não me chame desse jeito, Inu-Yasha. É ridículo. – Saiu caminhando.
– Ah, ta bom... Mano. – Esse foi de propósito
– Acabei de me lembrar de uma brincadeira que fazíamos quando éramos pequenos. – Levantou seus dois dedos, fazendo-os brilhar. – Colocar o rabo no burro...
Inu-Yasha sentiu que Sesshoumaru estava tirando uma com a cara dele.
– Ah é? E quem vai ser o burro?
– Bem, me parece que pular de um penhasco é algo que só um burro faria.
– Err... – Ficou sem graça. – Não gostei dessa brincadeira. Tchau para você! – Saiu correndo.
– Hum... – Desfez o chicote. – E corria assim mesmo porque achava que eu estava falando sério...
Meguru meguru toki no naka de
(Vendo, vendo de dentro do tempo)
Bokutachi wa ai o sagashiteiru
(Nós procuramos o amor)
Tsuyoku tsuyoku naritai kara
(Porque fortemente, fortemente se transforma)
Kyou mo takai sora miageteiru
(Assim como hoje vejo alto no céu)
Ao chegarem no acampamento, deram de cara com Sango e Miroku. Os dois estavam de pé, de braços cruzados, com cara nada amigável. Kagome ainda estava sentada ao lado da fogueira, meio sem graça.
– O que foi que aconteceu? – Perguntou o hanyou. Sesshoumaru passou por ele e foi ver como estava Setsuna. Sango parecia um tanto irada.
– Não se faça de desentendido, Inu-Yasha! Como você pôde fazer uma coisa dessas?
– Se eu soubesse que os meus conselhos iriam dar nisso, teria ficado de boca fechada. Agora o estrago já está feito. Depois eu é que sou o tarado aqui... – Completou o monge.
Inu-Yasha corou e ficou completamente sem jeito. Miroku o segurou pela orelha e o arrastou até Kagome, fazendo-o sentar-se ao lado dela.
– Desculpe, eu contei para eles... – Ela confessou.
– Contou! Mas por quê, Kagome?
– Ué... – Meio confusa. – Mas não foi você mesmo quem disse que as pessoas iriam ficar sabendo de qualquer forma?
– Esquece... – Soltou um suspiro curto.
– Inu-Yasha, pelo amor de Deus... – Interrompeu Sesshoumaru, já com Setsuna novamente em seu colo. – Você vai deixar o meu sobrinho crescer com esse tipo de influência? – Sorriu discretamente.
Inu-Yasha também sorriu e Kagome percebeu que eles estavam do mesmo lado agora.
Meguru meguru toki no naka de
(Vendo, vendo de dentro do tempo)
Bokutachi wa ikite nanika o shiru
(O que nós sabemos para viver)
– Vamos ter que pensar nos preparativos para o casamento o mais rápido possível... – Disse, Miroku, meio pensativo.
– Casamento? – Kagome ficou surpresa com o comentário. A idéia nunca havia lhe passado pela cabeça antes. Inu-Yasha ficou irritado com os comentários do monge.
– Hei, quem foi que falou em casamento aqui?
Todos olharam meio atônitos para o hanyou, inclusive Kagome, que cruzou os braços.
– Quer dizer que você não quer se casar, Inu-Yasha? – Havia um certo cinismo no tom de voz da moça.
– Err...
– Tsc, tsc, tsc... Que vergonha... – Repreendeu Sango, balançando a cabeça negativamente. Inu-Yasha coçou a cabeça e fez ar de confuso.
– Essa história está ficando muito complicada... – Apontou o dedo para Miroku. – Isso tudo é culpa sua, seu monge pervertido!
– Eu? Não fui eu quem ficou fazendo besteira...
– Ora seu... – Inu-Yasha cerrou o punho, levantou-se e foi para cima do monge que tratou logo de se mandar. – Volte aqui!... Seu monge de uma figa!
Ficaram os dois dando voltas ao redor da fogueira. Sango e Kagome se acabavam de rir. Shippou acordou por causa da confusão, cheio de sono.
– Ai, mas que droga... Não se pode nem dormir sossegado...
Rin se aninhou ao lado Sesshoumaru, que ficou observando seu irmão continuar com aquela confusão. A fogueira continuava a arder em chamas, jogando para cima, centenas de fagulhas, na direção do céu estrelado.
Toki ni warai sukoshi naite
(Sorrindo por pouco tempo)
Kyou mo mata aruki tsuzuketeyuku
(Assim como ainda hoje agüentamos firme)
-x-x-x-x-x- FIM -x-x-x-x-x-
