Capítulo 4

Ron não fazia idéia por quanto tempo ele ficou lá parado, no meio do bar, enquanto sua irmã corria atrás de Hermione, que havia batido a porta do lugar com força. Viktor fez menção de seguir Gina, mas Harry segurou o seu braço.

- É melhor você ficar onde está.

Viktor olhou para ele com admiração, como se dissesse "isso não é da sua conta".

- Desculpe, Krum. Eu não tenho nada contra você, mas acho que você já fez demais.

O búlgaro olhou para Harry, depois para Ron, e de volta para Harry. Bem, em uma coisa Harry Potter tinha razão: muita confusão já tinha acontecido por ali. Ele achou melhor não forçar a barra. Talvez pudesse falar com Hermione depois, quando todos estivessem mais calmos; afinal, se preocupava muito com a amiga. De cabeça erguida, Viktor Krum saiu do Três Vassouras.

Mas Ron não viu nada daquilo. Ron, aliás, parecia estar em órbita. Em algum lugar muito distante da Terra. Harry até se assustou com o olhar vazio do amigo.

- Ei, cara, você está bem?

Nenhuma resposta.

- Acho melhor eu levar você pra casa.

Nenhuma resposta.

- O Chudley Cannons é uma m**** de time!

Nenhuma resposta.

- Ok. Então eu vou arrastar você até nós chegarmos à Toca.

- Não se preocupe. Eu vou sozinho. - Ron finalmente esboçou um sinal de vida.

- A pé? - Harry brincou.

- Não, idiota. - Ron respondeu, mas não com a mesma impaciência com que um Ron normal se expressaria. - Até.

Ron, então, desaparatou. Harry balançou a cabeça, pensando no porquê de seus amigos sempre complicarem as coisas para eles. Teria sido tão mais fácil Hermione nunca mais falar com Krum, ou Ron tolerar a amizade da garota com ele. Mas, ele se lembrou com uma certa dor no peito, olha só quem estava falando? Ele era Harry Potter. Se tinha alguém para quem nada era fácil, esse alguém era ele.

Gina procurou Hermione por Hogsmeade inteira, e já estava quase desistindo, pensando que a amiga poderia ter aparatado a quilômetros dali, quando viu a silhueta da garota à beira de um lago.

- Hermione! - a ruivinha se aproximou, ofegante. - Eu procurei você por todos os lados.

Hermione não respondeu. Ela apenas virou-se para a amiga, os olhos inchados e cheios de lágrima.

- Ah, não fique assim! - Gina a abraçou. - O meu irmão é um besta, mas espera ele se acalmar e tudo...

- Acabou, Gina. - Hermione soluçou. - Eu estou cheia disso. Estou cheia do Ron sempre batendo de frente comigo com tudo que eu faço. Estou cheia da criancice e irresponsabilidade dele. Estou cheia de ficar cuidando dele... eu quero alguém que cuide de mim!

- E Viktor Krum é essa pessoa? - Gina cruzou os braços.

- Não sei, talvez seja... o que importa é que eu não aguento mais. - Hermione enxugou as lágrimas.

- Hermione, eu acho que você não está sendo justa. - Gina disse, após alguns segundos.

- Como assim? - Hermione se virou para ela, instantaneamente.

- Você sabe que eu não defendo meu irmão, mas você já pensou em, alguma vez, se pôr no lugar dele? Ron é inseguro. E você é muito mais madura que ele. Até ele pode ver isso. - ela sorriu. - E o ciúmes, bem, é uma característica dele. Você não pode terminar com ele só porque ele ficou nervoso de ver você de mãos dadas com o Krum, o que, convenhamos, deixaria qualquer um desconfiado.

- Mas ele deve confiar em mim, Gina! Eu disse que o amo! Eu disse que não queria nada com o Viktor! Eu disse que tinha o escolhido! A minha palavra não é suficiente?

- Por que você está falando no passado? - Gina levantou as sobrancelhas.

- Porque se ele não acredita nisso, eu não estou mais tão certa de que seja verdade. - Hermione se levantou e baixou os olhos para o lago. - Sem querer ofender, amiga, mas eu queria ficar sozinha agora.

- Claro. - Gina deu um sorriso tímido. - Bem, você quer que eu te acompanhe até seu apartamento?

- Não. Eu vou sozinha.

Hermione voltou para casa, uma dor profunda no coração. Ela amava muito Ron. Talvez o amasse desde a primeira vez que o vira. Talvez o amasse só depois de algum tempo em que conviveram juntos. Ela não sabia quando o sentimento tinha nascido, mas só sabia que ele era intenso. Contudo, ela pensou, ela tinha que pensar no futuro. Aliás, era isso que ela odiava em Ron! Por que ele não pensava num futuro juntos? Por que ele não criava responsabilidade? Por que tudo tinha que ser uma aventura de momento? Viktor era sério. Responsável. Ela conseguia ver Viktor se ajoelhando e pedindo-a em casamento. E Ron...bem...ela conseguia ver Ron comprando a aliança. E depois devolvendo, com medo do compromisso.

- Não, não... - ela disse a si mesma. - Acabou. O Ron ia me deixar louca qualquer dia. Eu fiz a coisa certa.

Ela deitou-se em sua cama.

- Eu tenho que ser racional. Usar a cabeça. Eu fiz a coisa certa.

Ela apertou o travesseiro. "A coisa certa..." ela repetiu, tentando convencer a si mesma que aquilo era a verdade. Ela encostou a cabeça e estava quase pegando no sono quando a campainha tocou.

- Ron! - ela exclamou, saltando da cama num impulso. Ela correu até a porta mas parou na metade do caminho. - Não seja idiota, Hermione. Acabou mesmo. Vai ser melhor pros dois.

Ela concentrou-se em fazer uma cara séria e abriu a porta, esperando ver um Ron tristinho, como um cachorrinho com o rabinho entre as pernas.

- VIKTOR? - ela gritou, surpresa.

- É. Acho que esse é meu nome. - ele sorriu. - Perdoe chegar nessa hora ruim, Hermione, mas eu tinha que ver como você está.

- Ah. Claro. Entre. - ela disse, sem graça. Viktor entrou e olhou em volta do apartamento, com cara de aprovação.

- Sua casa é muito bonita. Organizada. Bem sua cara mesmo.

- Obrigada. Você acertou meu nome. - ela sorriu.

- Como? Ah, é... um dia tinha que acontecer, né? - ele sorriu de volta. - Hermione, eu lamento muito o que aconteceu. Eu sei que eu não devia fazer o que eu fiz e...

- Viktor, você não tem culpa de nada! - ela o interrompeu. - A injustiça foi toda do Ron, você é meu amigo, todo mundo sabe muito bem disso. E eu nunca o dei motivos para desconfiar de mim.

- Sabe, esse Ronald...ele é um idiota... se eu tivesse você, eu nunca faria nada para perdê-la... - ele se aproximou, tirando o cabelo do rosto dela.

- Obrigada, Viktor... - ela sorriu, envergonhada. - Mas o Ron é daquele jeito mesmo, o que posso fazer? Mas mesmo assim, eu estou cansada. Agora é o fim mesmo.

- Eu estava pensando... - ele disse, após alguns segundos, mudando de assunto. - já que ficarei na cidade por alguns dias, talvez você quisesse jantar comigo um dia desses...

- Acho melhor não. - ela sorriu, se desculpando. - Eu quero um tempo pra pensar, ficar sozinha.

- Eu respeito isso. - ele murmurou, pegando sua mão e a beijando. - Mas quero que você saiba que eu tenho um sentimento muito forte por você e tenho esperança de que um dia você irá corresponder.

- Você é uma pessoa maravilhosa, Viktor... - ela sorriu timidamente, seu rosto vermelho. Ela não sabia o que dizer. Gina havia perguntado se Hermione achava que Viktor era o cara ideal para ela, e parecia ser mesmo! Ele era doce, sensível, carinhoso, atencioso, gostava muito dela mas... ele não era o Ron!

Harry entrou no campo de quadribol. A noite era clareada pela luz que vinha da lua cheia. Por um instante, ele se lembrou de Remo Lupin. Aquela noite deveria estar sendo muito solitária para seu amigo, assim como para ele. Ron não havia respondido suas mensagens há três dias. Gina também não estava querendo falar com ele, pois ele sabia que não era possível que toda vez que ele tentava entrar em contato com ela, ela estava "ocupada" com alguma coisa. E Hermione, bem, ele não estava a fim de discutir os problemas amorosos do seu casal de amigos com ela, que também parecia muito ocupada com os estudos agora. Só restava para ele ficar sozinho, sobrevoando o campo de quadribol dos Hipogrifos Nervosos com sua velha Firebolt. Ele sentou-se na alta arquibancada, vassoura na mão, e respirou fundo, sentindo então duas mãos em volta de seus olhos.

- Adivinha quem é? - a voz irreconhecível da única menina Weasley ecoou na escuridão.

- Goyle, quanto tempo!

- Idiota! - ela riu, dando um tapinha atrás da cabeça dele. - Oi! - ela sorriu, sentando-se ao lado dele.

- Eu pensei que você tivesse ocupada. - ele olhou para frente.

- Bem... eu sabia que você estaria por aqui. Aliás, muito bonito ficar invadindo o campo à noite. Mas não muito esperto. Sorte sua que o Wood gosta de você...ou você achou que ninguém ia desconfiar, Potter?

- Eu sabia que vocês sabiam. - ele piscou. - Mas já que ninguém nunca reclamou...

- É lindo o luar daqui de cima, não é? - ela suspirou.

- O que você quer comigo?

- Nós temos que conversar.

- Sobre? - ele sorriu discretamente.

- Hmmm... Ron e Hermione.

- O quê? - ele engasgou.

- A gente tem que fazer alguma coisa! Os dois estão um farrapo! Parece uniforme de elfo-doméstico!

- Não, não mesmo, Gina. Eu não vou me meter nisso. Nem vem.

- Eu já tentei conversar com ela, sabe! Mas ela é cabeça-dura, diz que quando ela decidi algo é pra sempre... e o Ron também não quer se desculpar, aquele teimoso... - ela soltou tudo isso rápido, desconsiderando a resposta de Harry.

- Pára! Eu já disse, não quero saber disso!

- Harry, não é justo! Eles se amam! Nada deveria separar duas pessoas que se gostam, sabia? Nada! Nem o fato de que uma considera a outra como uma irmã, apesar de ser uma mentira suja, gorda e feia. - ela riu discretamente.

- Suja, gorda e feia? - ele riu de volta.

- Pois é... eu evitei usar um palavrão! - ela riu.

- Você é mesmo incrível... É uma mentira mesmo. Eu não quis dizer aquilo.

- E por que disse? - ela cruzou os braços.

- Por que...sei lá... é tudo tão... nada na minha vida dá certo, Gina. Todas as pessoas que eu amava morreram. Eu mesmo vivo num perigo constante. Eu sou um imã de desgraças. Eu não quero que nada aconteça com você.

- Harry... - ela respirou fundo. - Meus pais são da Ordem de Fênix. Meus irmãos são da Ordem de Fênix. Colin e Percy morreram por ordens de Voldemort. Eu também convivo com isso. Mas eu não vou parar de viver por causa disso. Eu não vou ter medo de amar você por causa disso. Aliás, o que você faz, a sua coragem, a sua determinação, tudo isso faz eu te amar ainda mais. - ela olhou para baixo, seu rosto vermelho como seus cabelos.

- Eu tenho medo, sim, Gina. Mas amar você não é um deles. - ele sussurrou em seu ouvido, e segurando seu rosto, ele gentilmente o levantou e, quando os olhos dela cruzaram com os seus, ele a beijou.

Ela abriu um sorriso doce.

- Vamos dar uma volta. - ela pegou em sua mão. - Você não trouxe essa vassoura à toa, trouxe?

Harry e Gina sobrevoaram o campo por horas, o vento gelado da noite batendo em seus rostos. Os braços de Gina o envolvendo faziam Harry pensar que, às vezes, a vida podia sorrir para ele.

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Primeiro de tudo, eu queria agradecer minhas duas humildes reviews! Aê, alguém tá gostando da Two Princes hehe. Queria agradecer todos que estão lendo também, obrigada por virem aqui dar uma olhadinha na fic!

Ah, e só um esclarecimento: ná época da fic, o Voldemort ainda não havia sido derrotado, então a Ordem de Fênix ainda existia. Mas eu não vou ficar escrevendo sobre ela porque o importante da fic é mesmo o romance entre H/G e R/H!!

E mais uma coisa: eu vou atualizar a fic toda semana. Desculpem, mas com a faculdade e tudo não dá pra ser mais que isso! Esperem uma semaninha...passa logo ^^