Capítulo 5

Harry acordou, sem abrir os olhos, e sentiu algo que não sentia há muito tempo: felicidade. Seu coração parecia que ia explodir de alegria, mas ao mesmo tempo sentia uma calma... ele se espreguiçou e estava prestes a cantarolar uma música. Então seus braços tocaram alguém ainda adormecida ao seu lado. Gina. Seus finos cabelos vermelhos estavam caidos sobre seu ombro, a cabeça dela encostada no peito de Harry, um sorriso em seus doces lábios enquanto dormia. Harry pensou que estava no paraíso...

Então, levantou-se cuidadosamente, para não acordá-la, e se dirigiu à cozinha. Começou a cantarolar aquela música que já estava em sua cabeça e preparou umas torradas até a campainha tocar. Ele, devagar, caminhou até a porta e a abriu.

Algo entrou correndo como um furacão na pequena sala.

- Harry, cara, você tem que me ajudar! Eu estou ficando louco! LOUCO! Faz... - Ron olhou para mão, contando os dedos - nove dias que eu ligo pra Hermione e ela não me responde...isso num pode ficar assim, cara! Não pode ter acabado! Eu sei onde ela tá...ela tá com aquele Krum...eu sei... - ele cuspiu tudo isso muito rápido, com uma cara péssima.

Harry deslizou pela parede até a porta do quarto e a encostou.

- Hmmmm... bem... isso é ruim, amigo... nove dias é muito tempo...

Ron pausou.

- Por que você está com essa cara? - após alguns segundos, ele ensaiou um sorriso. - Ah... estou atrapalhando alguma coisa...

- Quê? Claro que não! - Harry fez a cara mais não-convincente do mundo. - Hehe. Se você estivesse, eu diria, amigo! - ele disse, olhando rapidamente para a porta.

- Harry James Potter. Eu te conheço há oito anos. A sua cara não engana. Bem, alguém tem que se dar bem por aqui, não é? - ele suspirou, tristemente.

Harry se descuidou, aproximando-se de Ron para dar um tapinha amigo em suas costas. E, nesse mesmo momento, a porta do quarto se abriu. De dentro, saiu Gina, vestindo nada além de sua roupa íntima e uma camisa de Harry.

- Bom dia! - ela sorriu, ainda sonolenta, e beijou Harry carinhosamente. - Hmmm, você me deixou com uma fome...

Harry sentiu um nó na garganta. Na verdade, ele sentiu mil nós, seguidos, na garganta. Nunca a morte esteve tão certa para ele, ele pensou. Ele podia até sentir o cheiro da morte. Aliás, ele até imaginou um espírito com uma capa preta e uma foice na mão caminhando até ele, com um sorriso no rosto e uma varinha na mão. Dessa, ele não escapava. Ele sabia que certas coisas para seu melhor amigo eram sagradas. A irmã caçula dele era uma delas. Ron simplesmente virou-se para encarar sua irmã mais nova e Gina arregalou os olhos quando percebeu quem estava à sua frente. Levou alguns segundos para ambos digerirem a informação.

- O que...vc está...fazendo...aqui...vestida...desse...jeito... - Ron disse lentamente, entre os dentes, com a voz tremida.

- Hmmm, não parece óbvio para você? - ela cruzou os braços, erguendo os ombros. Um sorrisinho se formando no canto do lábio.

- GIIIINAAAAAAA!!!!! - ele gritou, de repente, seu rosto parecendo prestes a explodir a qualquer momento. - Eu não acredito nisso... eu NÃO ACREDITO! E você! Seu filho da p****... minha irmã! Minha irmãzinha... - ele sacudiu a cabeça.

- O quê? - Harry respondeu, nervoso. Nunca tinha visto Ron falar com ele daquele jeito. - Ah, sim, é minha culpa! Toda minha culpa! Eu ataquei sua inocente e indefesa irmã!

Ron olhou com uma cara de "É isso mesmo!"

- Ah, Ron, me poupe! Nós já estamos bem grandinhos pra isso! O que eu e Harry fazemos ou deixamos de fazer é problema nosso e não tem nada a ver com você...

- Meu melhor amigo está dormindo com a minha irmã! - ele gritou, indignado. - Eu acho que isso TEM a ver comigo!!

- Bom, você dormiu com a minha melhor amiga, e do Harry, por muito tempo e eu nunca falei nada... - Gina riu.

O rosto de Ron se contraiu.

"Você não está ajudando..." - Harry sussurrou no ouvido dela e se virou pro amigo. - Pense bem, Ron, você não está nervoso com a gente, você tá assim por causa da Hermione e tal...

- Você não vai querer que eu prove como estou nervoso com você... - Ron respondeu ainda mais ameaçador. Os dois ficaram se encarando por segundos.

- Você falou bem. Você me conhece há oito anos. E eu também conheço a Gina há oito anos. Você realmente acha que eu ia me aproveitar da irmã do meu melhor amigo? Você realmente acha que eu iria arriscar minha amizade se eu não gostasse dela de verdade?

Gina suspirou, sorrindo de orelha a orelha. Ron ficou um tempo parado, ruminando.

- Quer saber de uma coisa? - ele respirou fundo. - Você tá certo. Se tem alguém que eu considero bom o suficiente para ela é você. E sim, Gina, você já é uma mulher. E eu vou ter de me acostumar com isso. - Ron balançou a cabeça. - Mas... - ele se virou para Harry. - Cuide bem dela, ok? E você... pelo amor de Deus, traga umas roupas! Ver você assim é... perturbador...

Gina soltou uma gargalhada.

- Hmmm, acho que os meninos precisam conversar... eu vou estar... te esperando... - ela murmurou e beijou Harry, claramente tentando provocar o irmão. - Tchauzinho, Ron. Ah, e não conta nada para a mamãe, tá?

Ron engoliu aquilo a seco.

- Minha vida virou um caos, e na verdade a última coisa com a qual eu quero me preocupar é com você e a Gina... - ele se jogou no sofá.

- Ah, Hermione de novo. - Harry falou baixinho. Ron virou-se pra ele e Harry notou lágrimas se formando em seus olhos. Ele tentou se lembrar da última vez que Ron chorou na frente dele. Foi na morte de Percy. Aquilo, então, devia ser sério mesmo. - Ron, cara, num fica assim... num é o fim do mundo...

Ron ergueu os olhos para ele; abriu a boca mas nenhum som saiu. "Não é o fim do mundo?" Ron pensou "Como, se Hermione era o mundo dele?"

- Escuta...eu não sei o que te dizer, talvez se você deixasse isso pra lá por uns tempos e...

- Não! Nunca! - Ron pulou do sofá. - Eu não vou deixar pra lá! A Hermione é minha, nós nos amamos e eu não vou deixar o idiota búlgaro levar ela embora!

- Hermione é teimosa e determinada. - Harry comentou. - Não vai ser fácil conquistar ela de volta.

- Então, eu vou ser mais teimoso e determinado ainda. - Ron respondeu. - Eu não vou desistir.

DIAS DEPOIS

Hermione pegou no braço que Viktor a oferecia e os dois entraram no restaurante. Se chamava "La Cuccina Bruxa" e servia comida bruxa italiana. Ela nunca havia estado naquele lugar, que ficava a poucos minutos de Londres, e se impressionou com a beleza de sua decoração. Faixas verdes e vermelhas, brilhantes, enfeitavam o teto, piscando o nome do restaurante; instrumentos no fundo do salão tocavam sozinhos a "Tarantella", e os retratos na parede mostravam casais gordinhos, com rostos corados, vestidos com roupas típicas, dançando e sorrindo. Belas garçonetes de cabelos negros e ondulados anotavam os pedidos.

- Esse lugar é maravilhoso! - Hermione sorriu, olhando em volta. - Muito divertido! E eu não sabia que você gostava da cozinha italiana...

- Bem, eu passei um tempo na Itália com o time, e me apaixonei por comida italiana. - ele sorriu.

- Nossa, Itália! Que interessante! Eu adoraria visitá-la algum dia! É um lugar fantástico! Berço da civilização romana, que tinha uma mitologia impressionante! Bem, na verdade era vinda da Grécia, mas eles deram seu toque pessoal... além disso, tem a Renascença...ah, os artistas renascentistas... Da Vinci, Botticelli, Dante Alighieri... você sabia que muitos deles eram bruxos? O próprio Giordano Brunno passou algum tempo com os centauros aprendendo astronomia, pra depois defender a idéia do heliocentrismo...

Viktor a observava de boca aberta.

- Tem alguma coisa que você não saiba?

- Ah, bem... - ela ficou vermelha.

- Eu não estou dizendo isso por mal! Você é demais! A pessoa mais extraordinária que já conheci!

- Obrigada. - ela murmurou, sem graça, e pegou o cardápio. - E então, o que vamos pedir?

- Por que você faz isso?

- Isso o quê? - ela disse, fingindo que não entendeu.

- Me evitar. - ele olhou pra ela com cara de coitado.

- Eu não te evito... e nós combinamos que esse seria um jantar amigável. - ela virou os olhos pro cardápio.

- E está sendo. Você é que não quer ser amigável. Eu entendia quando você se sentia desconfortável antes, porque você era apaixonada por aquele cara, mas agora terminou, não é?

Ela abaixou o olhar para seu colo.

- Ah.... não acabou. - Krum disse pra si mesmo.

- Desculpe, Viktor... - ela se levantou. - Talvez isso tenha sido uma má idéia...

- Espere! - ele a puxou gentilmente de volta à mesa. - Eu devia me desculpar, eu estou te pressionando. Eu não vou ser mais chato, ok? Só jantar? Entre amigos?

- É melhor assim! - ela sorriu. - Hmmm... acho que vou experimentar a " Lasagna à La Paracelsus"... que nome legal!

Krum e Hermione tiveram um jantar bem amigável após aquilo. Eles conversaram animadamente sobre inúmeras coisas, nenhuma delas ligada ao filho mais novo dos Weasleys. Eles riram, dançaram, e já era mais de 11 horas da noite quando o búlgaro a deixou em casa.

- Então, aqui estamos. - ela apanhou a varinha de dentro da bolsa. - "Alohomorra". - ela murmurou, apontando para a porta, abrindo-a com um estalo. - Obrigada, Viktor, pela noite maravilhosa!

- Qualquer tempo é maravilhoso quando é gasto com você... - ele beijou a mão dela. - Eu espero que possamos nos ver de novo essa semana.

- Ah, eu também... - ela sorriu e ele acariciou seus cabelos. Ela sentiu um arrepio correr a sua espinha. - É melhor eu entrar...

- Por quê? Ainda está tão cedo e a noite está tão bonita... - ele sussurrou com seu sotaque característico. Seu rosto se aproximou do de Hermione, tão próximo que podiam sentir a respiração um do outro. Então...

- EU SABIA!!

Hermione sentiu seu coração dar um salto tão fortemente que ela achou que ele iria explodir. Primeiro, por causa do tremendo susto que levou. Segundo, porque conhecia bem aquela voz...

- Ah, meu Deus! Ron! Você quase nos matou de susto!

- É claro! Vocês dois pareciam tão distraídos, não é???

- Dãã... você de novo... - Krum resmungou.

- É, sou eu sim, o cara que vai quebrar sua cara agora!

- Quebrar a cara de quem, moleque? - Krum encarou Ron com sua famosa cara rabugenta.

- Ah, por favor! - Hermione escondeu seu rosto nas mãos. Quando aquilo ia parar?

- Eu tenho sido muito paciente com você, moleque, mas agora você vai ouvir. Acabou. Entendeu eu você quer que eu repita? A-CA-BOU. Ela não quer mais você. E, honestamente, agora eu entendo porquê. Desencana. - Krum disse, num tom levemente calmo e muito firme, seu braços cruzados despreocupadamente.

Ron hesitou. Respirou fundo.

- Quê? Ah, claro. Com esse sotaque idiota eu não entendi nada do que você disse. Mas aposto que foi um monte de merda. Eu não preciso de você pra nada, Krum. Eu só vou embora se a Mione mandar.

- Ron, pára com isso! - Hermione suplicou. - Nós podemos não estar mais romanticamente envolvidos, mas nós ainda podemos ser amigos! Nós sempre fomos amigos! A sua amizade é muito importante pra mim!

- Amigos? - Ron exclamou, exasperado. - Você realmente acredita que nós podemos esquecer tudo e voltar a ser só amigos?

Hermione abriu a boca, mas as palavras morreram antes de sair. Ela não sabia o que responder. O que dizer. O que fazer. Ela nem sabia como tinham chegado à essa situação.

- Então essa é a sua resposta. Ok. Eu não vou mais te perturbar, srta. Granger.

Ele se virou, evitando olhar para as lágrimas que certamente caíam dos olhos dela. Ele também derramava as suas, discretamente. Uma parte de sua alma havia sido deixada naquele corredor. Krum abraçou Hermione forte, e agora ela chorava de soluçar.

- Ele não é só meu ex-namorado. Ele foi meu melhor amigo. Ele foi minha família.

- É difícil, eu sei. Mas talvez seja o certo a fazer, Hermione. As pessoas mudam. Crescem e não se reconhecem mais. Você pode achar a felicidade... - ele ergueu o rosto dela. - ...em outro lugar.

Ela se sentiu enfraquecida por aquele olhar e se rendeu ao beijo de Viktor.

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A cena do Ron pegando o Harry e a Gina no flagra é dedicada à Ana! Hahahahaha Você me inspirou pra fazer essa cena! Ah, e beijinhos à Naty e à Erika por lerem minha fic! E à todo mundo que deixa uma review (são tantos...hahaha) Ah, e eu sei que esse capítulo ficou dramático... tadinho do meu Ron... é que eu adoro melodrama! Huahuahua Deixem reviews! ;)