Capítulo 02
Bom, foi assim que eu peguei AIDS. E aprendi a viver com ela normalmente. Quer dizer, mais ou menos. Desde então nunca mais me envolvi com alguém. Perdi completamente o interesse pelo amor e todas essas baboseiras a ele relacionadas. Há 7 anos eu não me interesso por ninguém. Meus amigos Duo e Heero e minha irmã Sharon tentam de tudo, mas não adianta. O amor para mim morreu!
Meu aniversário de 23 anos está chegando... 8 anos com AIDS... Terminamos a faculdade. Eu me formei em direito, Heero se formou em informática (e agora pensa seriamente em entrar para o exército) e Duo e Sharon em teatro. Até aí estava tudo correndo bem, até eu começar a ter febre todos os dias e tossir violentamente. Sharon ficou preocupada e, após insistir muito, me levou ao hospital. Não agüento mais hospital. Pela milésima vez tive que ficar preenchendo aqueles formulários irritantes enquanto esperava a mulher me chamar.
- Senhor Barton? – ela chamou.
- Sim?
- O Dr. Winner já vai atendê-lo. Venha por aqui, sim?
- Tudo bem.
No caminho, fiquei imaginando como seria esse Dr. Winner. Provavelmente mais um daqueles velhos chatos de óculos só sabem fazer piadinhas para ganhar a confiança do paciente, mas não conseguem nada.
A mulher que me conduzia bateu duas vezes na porta da sala, a abriu um pouquinho e disse: "Dr. Winner? Seu paciente está aqui!". "Pode mandá-lo entrar, Keila". Keila. Nome feio. Que nem ela. Bem, a voz do tal Dr. Winner não me pareceu voz de velho. Pelo menos isso.
A mulher me empurrou pra dentro da sala e fechou a porta. Eu praticamente entrei em estado de choque. Velho? De óculos? Chato? Definitivamente isso não descrevia o tal dr. Winner. Tava mais para jovem, lindo, meigo, loiro, de olhos azuis. Como uma preciosidade dessas foi parar naquela droga de lugar?! Pela primeira vez em 7 anos eu me sinto atraído por alguém.
- Sente-se, por favor, senhor Barton. – o loiro apontou uma cadeira em frente à sua mesa.
- Obrigado, dr. Winner. – eu sentei.
- Pode me chamar de Quatre.
Quatre? Nome de anjo. Anjo francês. Será?
- Me desculpe a pergunta, mas, o senhor é francês? – o anjo sorriu.
- Não, sou árabe. E não me chame de senhor. Assim eu fico me sentindo um velho.
- Oh, me desculpe, não foi a minha intenção. Pra falar a verdade, não esperava encontrar um médico tão jovem e tão bonito quanto o senh... digo, você.
- Que bom. – percebi que ele ficou corado. - Bom, vamos começar. O que você tem?
- Antes de mais nada, eu tenho AIDS. – fiquei um pouco constrangido em confessar isso logo de cara, mas, afinal, ele é ou não médico?
- Sei. Esse não é o motivo de você ter vindo me procurar, é?
- Não. Eu tenho tido febre todos os dias e tossido muito.
- Hn. Você tem se alimentado direito?
- Pra ser sincero, não. O meu apetite mudou bastante desde que descobri ser HIV-positivo.
- É, percebe-se. Você está bem abatido. Ainda não posso afirmar nada antes de fazer alguns exames. Sente aqui, por favor. - Quatre apontou para uma daquelas camas de hospital. É, isso mesmo, maca.
Eu me levantei da cadeira e sentei no lugar indicado pelo dr. Anjo. Não sei por quê, mas meu coração bateu mais rápido quando ele se aproximou de mim para me examinar. Veio com um daqueles negocinhos pra escutar o barulho que o coração da gente faz. Quatre me pediu para abrir a blusa. Fiquei meio com vergonha de me expor a esse anjo de olhos azuis, mas essa não era a primeira vez que eu abria a blusa na frente de um médico. Já fiz isso inúmeras vezes, essa seria apenas mais uma.
Abri a blusa e percebi que o rosto pálido do loiro ficou meio avermelhado. Apesar de estar abatido, tinha consciência do quanto o meu corpo era bem desenvolvido, como o de Heero. Um corpo sensível e pequeno como o do loirinho iria se encaixar perfeitamente com o meu.
Quatre enconstou aquele aparelho em mim. Isso me fez ficar arrepiado dos pés à cabeça. Não sei se foi pelo contato com o aparelho gelado, ou se foi pela proximidade com o anjo loiro.
- É, Trowa, você está com anemia. Precisa comer alimentos mais saudáveis."Saudáveis... você me parece saudável o bastante!" eu pensei, mas logo afastei esses pensamentos pervertidos da cabeça.
- Tem razão, dr. Quatre. Obrigada pela dica.
- Estou apenas fazendo o meu trabalho, Trowa. Vou lhe passar alguns remédios, mas você vai ter que se alimentar. Caso contrário, os remédios não lhe farão efeito.
- Pode deixar, vou me cuidar direitinho.
Quatre escreveu o nome dos remédios e me entregou o papel.
- Volte sempre! – o loiro sorriu.
- Com certeza. – eu sorri de volta.
Definitivamente eu iria voltar.
- Quem diria? – Duo sorriu ao me ver entrando na lanchonete. – Tro-san está sorrindo novamente! Viu o passarinho verde?
- Digamos que eu vi um passarinho loiro. – eu sorri e me sentei, sem dar maiores explicações.
- Como assim? – Duo me olhou, confuso.
- Garçom, por favor, um suco de acerola com laranja! – eu gritei.
- O que você quis dizer com passarinho loiro, Trowa Barton? – o americano ficou ainda mais curioso.
- Vamos, Barton, comece a falar. – agora foi a vez de Heero ficar curioso.
- Tudo bem, vocês venceram. Eu falo.
- Yeah, baby, yeah! Pode começar. – Duo sorriu abertamente.
- Hoje eu fui no médico. Descobri que eu estou com anemia.
- E você ficou feliz com isso? E o que isso tem a ver com o passarinho loiro?
- Calma, deixe eu terminar. Bom, acontece que o médico é simplesmente a criatura mais encantadora que eu já vi.
- Ora, ora, senhor Trowa Barton está apaixonado! E ele é loiro?
- É. De olhos azuis lindos.
- Aposto que os do Heero são mais! – Duo olhou para Heero, que ficou vermelho.
- Não vamos discutir isso, Duo. – eu falei, pouco me importando com os olhos azuis de Heero. – O nome dele é Quatre Winner.
- Parece francês.
- Foi o que eu pensei. Mas ele disse que é árabe.
- Interessante, um árabe loiro.
- Ele me pediu para voltar sempre.
- Todos os médicos dizem isso, Barton. – Heero afirmou.
- Não corte o meu barato, Yuy!
- É isso mesmo, Heero. Você é um estraga-prazeres!
- Ah é? – Heero ergueu uma sobrancelha para Duo.
- É! – o americano respondeu, desafiando-o.
- Então tá. E você é um chato tagarela.
- Agora eu sou um chato tagarela? – Duo pareceu ofendido.
- Sempre foi.
- Beleza. Então não pecisa mais falar com um CHATO TAGARELA, Heero Yuy! Com licença e passe muito MAL! – Duo levantou bufando e saiu da lanchonete.
- Vou atrás dele. Com licença, Barton.
- Toda.
Heero se levantou e correu atrás de seu amado de olhos violetas. "Parecem duas crianças discutindo", eu pensei e ri comigo mesmo. Logo meu pensamento voltou-se para um certo médico loiro dos olhos azuis.
