Capítulo 03
Cheguei em casa e resolvi tomar uma ducha bem quente para aliviar a tensão do meu corpo. Quatre pareceu bastante constrangido quando eu abri a blusa. Talvez eu tenha alguma chance com ele... Ah, Trowa, pare de ser idiota. Você se esqueceu de um pequeno detalhe, estúpido. Uma palavrinha de quatro letras. A-I-D-S. Bela hora que você foi se envolver com uma prostituta.
Eu só tenho feito besteira ultimamente. Talvez Heero tenha razão. Talvez eu esteja convivendo demais com Duo. Bom, isso não vem ao caso agora. O que eu fiz não tem conserto, vamos pensar no presente. Quatre Winner é meu presente. Presente e, se Deus quiser, será meu futuro.
Vamos, Trowa, pense em alguma coisa. Você precisa vê-lo de novo.Bom, ele é médico. O jeito mais fácil de vê-lo novamente é ter outra consulta. Ele disse que eu preciso me alimentar direito. Então eu não vou fazer isso, assim eu não irei melhorar e precisarei voltar ao hospital. Trowa, você é um gênio!
Que tédio. Estou em casa em pleno sábado e não tem nada pra fazer. Sharon foi ao ensaio de uma peça em que ela vai participar, assim como Duo. Heero deve ter ido assistir. Eu não estou com vontade de assistir a um ensaio de teatro. Acho que vou a concerto de música que vai ter perto do shopping. Música clássica. É, deve servir para me entreter um pouco.
Meia hora depois eu já estou entrando no local aonde será realizado o concerto. Em frente ao palco, estão várias cadeiras enfileiradas. Eu escolhi uma bem no meio. Não gosto de sentar muito atrás, nem muito na frente. Aos poucos o local vai enchendo e, quando eu percebi, já estava lotado. Olhei inconscientemente para o lado e quase morro do coração. Não, não pode ser ele. É. Impossível existir dois anjos loiros lindos de olhos azuis iguais. É ele mesmo, não tenho mais dúvida. Olha só, que coincidência. Coincidência? Eu não acredito em coincidências. Nada acontece por acaso. Aquele anjo loiro está em meu destino.
Após o concerto, eu me levantei e andei lentamente em direção à cadeira onde o loiro estava sentado.
- Dr. Quatre? – eu perguntei, sorrindo.
- Trowa? – ele ficou surpreso.
- Olha só, nunca esperava te encontrar por aqui.
- Eu amo música clássica!
Anjos combinam com música clássica.
- Eu também gosto muito.
- Olha, estamos fora do hospital, não precisa me chamar de dr. Quatre. Só Quatre está bom, ok? – o loiro sorriu, do jeito que me deixa louco.
- Tudo bem, Quatre. – finalmente tomei coragem e perguntei. – Você tem algo para fazer amanhã?
- Nada de importante, por quê?
- Bom, eu estava pensando... – fala logo, idiota. – Você gostaria de... almoçar...comigo?
Pronto, falei.
- Almoçar? - ele deve estar me achando um retardado completo.
- Se você não quiser, eu vou entender... – idiota, idiota, idiota.
- Eu adoraria! – percebi que meu anjo ficou meio corado.
- Sério?
- Sério.
- Que bom! Aonde posso te pegar?
Quatre me deu seu endereço. Tive que me controlar pra não começar a pular de alegria. Definitivamente eu estou andando muito com o americano de olhos violetas. Marcamos a hora, nos despedimos e eu fui para casa, com o loiro mais lindo do mundo no pensamento.
No dia seguinte eu acordei enjoado. "timo. Justamente no dia em que vou sair com o loiro. Legal. Espero que passe logo. Fui até o banheiro e procurei algum comprimido para enjôo. Achei. Maravilha. Tomei dois e resolvi comer alguma coisa. Meu estômago estava roncando.
Após ter um pequeno café da manhã, chequei que horas eram: 10h. Beleza, tinha duas horas antes de pegar meu loirinho desejado. O que fazer? Ver televisão? Não, muito chato. Mas não tem mais nada para fazer. Eu pego o controle e ligo o aparelho infeliz.
"Você tem AIDS?" O cara do comercial perguntou. Isso chamou minha atenção. "Se prepare, a CURA está chegando!". Ah, claro. Com certeza. Até parece que, de uma hora pra outra, alguém vai descobrir a cura da AIDS. Ninguém merece esses caras da TV. Ficam ganhando dinheiro às custas das pessoas aidéticas, eu hein. Assito TV por um tempo, até que olho para meu relógio de novo: 11:30. Droga, eu já devia estar me arrumando.
Levantei o mais rápido que pude e comecei a correr pelo corredor e, de repente, eu tropeço nas minhas próprias pernas e caio que nem saco de batata. Levanto e, dessa vez, apenas ando em um ritmo rápido. Em dez minutos eu já estou arrumado. Nossa, que rapidez. É a vontade de rever meu anjo que me faz ficar rápido.
12h. Meu carro estaciona em frente ao prédio onde mora meu anjo. Lá está ele. Lindo, como sempre. Usando calça bege e uma blusa azul, combinando com seus magníficos olhos. Ele me parece tão inocente. Eu saio do carro e cumprimento meu anjo. Ele fica corado e sorri. Eu, então, abro a porta do carona.
- Entre, por favor.
- Obrigado. – Quatre entrou no carro.
Eu dei a volta e entrei no carro. Oh meu deus, ficamos a apenas alguns centímetros de distância. Posso até sentir o calor de seu corpo frágil.
- Para onde vamos? – o loiro me perguntou, timidamente.
- Você gosta de comida chinesa?
- Adoro. Que bom. Conheço um restaurante de comida chinesa que é ótimo!
Em menos de dez minutos, que mais pareceram uma eternidade, chegamos ao restaurante. Quatre escolheu uma mesa e nós sentamos, sendo imediatamente atendidos por um conhecido meu.
- Olá, Wufei! – eu cumprimentei o garçom chinês.
- Ora, ora, Trowa Barton finalmente apareceu! Por que não voltou mais aqui?
- Motivos pessoais. – lembrei que eu não apareci em quase nenhum lugar depois de descobrir minha doença.
- Ah, claro. Quem é o loiro?
- Este é o dr. Quatre Winner, meu médico. – eu sorri.
- Médico? Nossa, você parece ser tão jovem! – Wufei olhou inconformado para o anjo loiro. – Eu lhe daria, no máximo, 18 anos!
- Que é isso? – Quatre ficou vermelho como pimenta. – Eu tenho 22.
- Pois não parece. Bom, o que vocês vão querer?
Nós fizemos nosso pedido e conversamos enquanto esperávamos a comida. Na verdade, eu que tentei puxar assunto, porque o loiro era muito tímido. Qualquer coisa o deixava ainda mais vermelho. O pedido chegou, nós comemos e conversamos mais um pouco, até que eu olho o relógio e vejo que já está quase na hora da apresentação do grupo de teatro. Sharon havia me convidado para assistir, e eu aceitei.
- Bom, Quatre, eu preciso ir agora. – eu disse, e percebi um ar de decepção no loiro.
- Ah, claro, a sua namorada deve estar esperando, não é? – o anjo sorriu forçado.
- Namorada? – eu quase ri. – Eu não tenho namorada. Pra falar a verdade, eu não me relaciono com ninguém há 7 anos.
- Jura? – Quatre voltou a sorrir normalmente. – Que bom, quer dizer... que pena. Por que não?
- Ah, sei lá... Acho que por causa daquele meu probleminha de quatro letras.
- Mas isso não te impede de se relacionar. É só se precaver para não contagiar a outra pessoa.
- É, eu sei, mas acho que eu não estava pronto para me relacionar com alguém novamente, e não tinha achado alguém.
- Isso quer dizer que você está pronto e que já achou alguém?
- É.
- Ah. – o loirinho pareceu decepcionado novamente.
- Bom, você quer que eu te deixe em casa? – eu perguntei, esperançoso de passar mais um tempo ao lado dele.
- Não, não precisa. Eu pego um táxi.
- Então tá. Até terça-feira!
- Até.
O anjo não estava mais sorrindo como antes. Por que será? Eu não estava entendendo a atitude dele. Eu deixei o dinheiro do almoço na mesa e fui embora, pensando sobre a estranha atitude do meu médico preferido.
Together – midnight in summer
The air is so much warmer
Falling in love under starlight
Holding on so tight – together
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Juntos – meia-noite no verão
O ar está bem mais fresco
Se apaixonando sob a luz das estrelas
Se abraçando bem forte – juntos
