Quarto capítulo

A notável decepção no rosto do loirinho não saía da minha cabeça. Eu ficava martelando nisso o dia inteiro e não achava uma explicação, a não ser… Será? Será mesmo que alguém tão precioso quanto Quatre Winner seria capaz de gostar de alguém insignificante quanto eu? Provavelmente não, mas então que outro motivo poderia existir para a atitude dele no restaurante?

- Você está pensativo, maninho. – Sharon falou, ao entrar no meu quarto.

- Problemas da vida, Sha.

- Não quer me contar o que está havendo? O Duo disse que você está apaixonado.

- Então o americano já foi abrir o bico, é? Que amigo legal!

- Eu iria saber mais cedo ou mais tarde, Trowa Barton, afinal, eu sou sua irmã!

- Tá, tudo bem. É verdade.

- E quem é a felizarda que derreteu o gelo que é seu coração?

Eu quase ri.

- Eu não disse que era mulher.

- Então é um homem? – Sharon pareceu surpresa. – Eu não sabia que você gostava de homens. - Nem eu.

- Bom, você sabe que eu não tenho absolutamente nada contra. Mas me conta, quem é?

- Você vai achar que eu estou louco.

- Não tire conclusões no meu lugar.

- Pelo meu médico. … - Sharon ficou com uma enorme interrogação na cara.

– Como é que é?

- Eu disse que você iria me achar um louco.

- Eu não disse que você está louco. Só acho um pouco… estranho, só isso.

- Tem alunas que se apaixonam pelo seu professor, então por que um paciente não pode se apaixonar pelo seu médico?

- Tem razão, mano. Como ele é?

- Loiro, de olhos azuis, 22 anos, lindo.

- Nossa, deve ser um deus!

- Deus não, anjo.

- E o que está te preocupando nisso tudo? Já sei, está com medo de ele não te corresponder, acertei?

- É, mais ou menos. Ele dá pistas de que gosta de mim, mas eu não sei se é verdade mesmo ou se eu estou imaginando tudo porque eu gosto tanto dele.

Sharon sorriu. Eu até imagino o que ela devia estar pensando. Provavelmente estava feliz porque o seu irmãozinho querido finalmente se apaixonou depois de 7 anos. Até eu estava feliz por mim mesmo, até um certo ponto.

- Não se preocupe, Tro, com certeza não deve ser imaginação sua. Se olhe no espelho. Você é lindo, encantador, qualquer um se apaixonaria por você!

- Não exagere, mana.

- Não estou exagerando. Eu não te contei nada, mas durante essa sua fase de auto-avaliação várias amigas minhas do teatro vieram me pedir pra ver se eu conseguia fazer com que você saísse com elas.

Confesso que fiquei um pouco constrangido com isso.

- E o que você respondia?

- Eu dizia que você já estava comprometido.

Não pude evitar que um sorriso se formasse em meus lábios. Sharon também sorriu. Que bom que eu tinha uma irmã que sabia compreender os meus sentimentos.

- Só você mesma pra me fazer sorrir numa hora dessas.

- É pra isso que servem as irmãs, Trowa. Agora pare de martelar nesse assunto o dia inteiro, vamos sair um pouco.

- Pra onde? Sei lá, vamos dar uma volta pela cidade. O clima está bem fresco.

- Tá, vamos.

Resolvemos sair a pé mesmo. Já estava anoitecendo, corria uma brisa suave, mas o suficiente para balançar os cabelos de Sharon. Eu nunca havia reparado no quanto a minha irmã era bonita. Seus cabelos castanhos iam até a cintura, os olhos também eram verdes. Todos diziam que ela se parecia muito comigo.

Agora que eu parei pra pensar, também não me lembro de ver ela com algum namorado há um bom tempo. Estava tão preocupado com os meus problemas que não prestei atenção nela.

- Sharon?

- Sim, Trowa?

- Você vive perguntando sobre a minha vida amorosa, mas nunca me conta da sua!

- Não tem nada pra contar.

- Você nunca mais namorou?

- Não acho ninguém que preste.

Verdade. É raríssimo achar alguém decente hoje em dia. Sorte que eu consegui achar esse alguém. Às vezes eu fico pensando. Se eu não tivesse pego AIDS, eu não iria ter conhecido esse anjo maravilhoso que é o dr. Quatre.

- No que você está pensando? – Sharon olhou para mim.

- Em nada.

- Tá bom. Me engana que eu gosto. Você está pensando nele novamente, não é verdade? Você está pensando no tal médico.

- Estou mesmo.

- Você está realmente apaixonado.

- É o que parece.

Continuamos a andar pelas ruas, quando eu vejo um rosto angelical muito familiar. Sim, era o meu loiro preferido. Quatre estava saindo de uma loja de artigos japoneses.

- Está vendo aquele loirinho ali? – eu perguntei.

- Estou.

- É ele.

- Ele é o médico???

- É. Ele não é lindo?

- Nossa, eu nunca diria que ele é médico! Gente, ele tem cara de estudante! Realmente, mano, ele é muito lindo.

Sharon me arrastou até ele. Eu não estava acreditando que ela iria realmente falar com Quatre. Era só o que me faltava.

- Com licença. – Sharon disse, fazendo o loirinho se virar.

- Pois não? – Quatre respondeu, ainda não notando a minha presença, eu estava atrás da minha irmã.

Não pensem errado, eu não estava me escondendo. É que foi tudo tão rápido que eu nem prestei atenção em nada.

- Olá, Quatre. – eu falei, saindo de trás dela.

- O…olá Trowa. Não imaginava encontrá-lo aqui. – ele corou.

- Pois é. Mundo pequeno. Essa aqui é a minha irmã, Sharon.

- Muito prazer, sou Quatre Winner.

- Eu sei, o Trowa me falou muuuuuito de você! – Sharon jogou uma indireta, me deixando constrangido.

- Sério? – Quatre ficou ainda mais vermelho.

- Sim, não é, Trowa?

- É… Eu estava dizendo pra ela que você é um ótimo médico!

- Ah. – mais uma vez ele pareceu decepcionado.

Sharon olhou pra mim com uma cara de reprovação. Pelo visto ela estava decidida a nos juntar.

- Pára de ser mentiroso, Trowa. Não ligue pra ele não, Quatre, ele é cabeça-dura assim mesmo. Ele fica dizendo que você é lindo e que parece um anjo. Agora eu vejo que ele tem razão.

Eu quase pulei no pescoço dela. Sharon não tinha esse direito! Agora com que cara eu iria olhar para o loiro??? Ele ficou roxo de vergonha, sem coragem de me olhar nos olhos. Eu nem sabia o que dizer, depois disso.

- Bom, acho que vou deixar vocês a sós. Tenho certeza de que vocês tem muito o que conversar. Até mais.

Sem esperar resposta, Sharon simplesmente se virou e foi embora, me deixando sozinho com aquele anjo constrangido. Eu precisava quebrar aquele silêncio. Já estava me deixando maluco.

- Ahn… você quer comer alguma coisa? – foi a primeira coisa que me veio em mente.

- Tudo bem. – ele respondeu timidamente.

Fomos até um restaurante que havia por perto. Depois dessa cena que Sharon fez, eu realmente precisava falar com ele. Mesmo sabendo do risco que eu corria de não ser correspondido, eu tinha que dizer o quanto eu estava apaixonado.Após fazermos os pedidos, eu olhei profundamente nos olhos azuis do loiro. Era agora ou nunca.