Título: A outra metade do amor

(esse título, na realidade, é da versão portuguesa do filme e achei muito bonito – melhor que "Assunto de meninas"!)

Autora: Manu1

Classificação: PG-13

Resumo: Mary Bedford deixou para trás a cidadezinha onde vivia para estudar no Perkins College, um internato feminino. Lá, é instalada no quarto de Tori e Paulie, que logo "adotam-na" e se tornam suas melhores amigas... Quando para Mary, no início, tudo não passava de uma grande amizade entre elas, descobre que a relação entre as companheiras é muito mais intensa. O mundo de Paulie começa a se fragmentar quando ambas são flagradas em uma situação comprometedora... Enquanto Tori decide renegar seus próprios sentimentos para evitar as pressões e a rejeição da família, Paulie faz de tudo para conseguir seu amor de volta, vivendo grandes conflitos internos.

Disclaimer: A história do filme (e livro) e seus personagens não me pertencem. Deixem isso com Susan Swan e o resto fica para Léa Pool  -º 

Notas da autora: Esse fanfic é, na verdade, a história inteira do filme "Lost and delirious"; para escrevê-la, me baseei no script original de Judith Thompson. Como ninguém é perfeito, pode haver algum errinho (na verdade, algum detalhe) ao longo do texto, mas nada que prejudique o desenrolar da trama. O fanfic está dividido em 20 partes, e espero que gostem!

Para não perder o hábito... boa leitura!

Não sei ao certo para onde eu havia ido... mas foi algo que mudou a minha vida.. para sempre. Nunca tantas coisas significativas aconteceram em tão pouco tempo... e nunca aprendi tanta coisa longe de tudo o que eu conhecia. Aprendi sobre a amizade... sobre o amor... sobre ser eu mesma... sobre enfrentar obstáculos... sobre guardar e dividir segredos... acreditar naquilo que lutamos... lutar por aquilo que acreditamos! Mas também aprendi a perder as pessoas que amamos... e que começávamos a amar. Aprendi que um grande sentimento dentro de nós nos impulsiona a fazer coisas incríveis. E foi nesse lugar especial, com essas pessoas especiais, que aprendi a crescer...

I

Perkins College

            Um carro negro e de bom porte deslizava sobre a pequena ladeira que dava continuidade à estrada. Mary Bedford estava sentada no banco de trás, não parecendo muito entusiasmada com o destino da viagem. Olhava tristemente ora pela janela ao seu lado, ora para as duas pessoas ocupando os assentos da frente. Seu pai dirigia o carro tranqüilamente, enquanto sua madrasta acariciava seus cabelos. O silêncio predominava ali dentro.

            "Mesmo então, eu já estava com um mau pressentimento. Eu me sentia como um rato cinzento indo direto para a boca do gato e não havia nada, nada que pudesse fazer. Minha mãe havia morrido de câncer três anos antes, e eu estava começando a me esquecer de como ela era. Quando eu me olhava no espelho e via meu próprio rosto... (olhando-se discretamente no espelho compacto em seu colo) eu podia me lembrar do dela... o cheiro da maquiagem quando eu a beijava. Minha mãe... ela nunca me matricularia em um colégio interno."  

            Mary olhou para o banco da frente. Sinceramente gostaria de se lembrar do rosto da mãe... e não sabia porque não conseguia. Simplesmente não sabia! Sua lembrança seria um conforto enquanto estivesse longe de tudo o que conhecia... mas faria um esforço para se acostumar com a nova vida que estava-lhe reservada.

            O carro contornou a estrada e dirigiu-se com menos velocidade para a entrada do Perkins College, um colégio interno para garotas localizado em Quebec. Mary olhava receosa pela janela. Era realmente um lugar bonito... uma construção enorme, em belo tom róseo escuro, de pátios extensos cobertos de grama rente ao chão, onde várias meninas e moças corriam e conversavam enquanto o sol iluminava a manhã.

            Algumas tocavam flauta ao ar livre, observando determinadas a partitura, outras duas brincavam de esgrima, e umas ainda faziam uma espécie de festa dentro de uma varandinha redonda branca. Não uma daquelas festas... um tipo de reunião divertida, pelo que lhe parecera.

            Mary sentiu um frio na barriga que a incomodava; seu coração acelerou. Olhou para sua vestimenta... era a primeira vez que usava um uniforme daqueles. Até que havia gostado... saia, terno e gravata cor de vinho – o que havia lhe lembrado algum filme. Respirou fundo e passou a mão pelos cabelos claros e presos, adornados com pequenas fivelas vermelhas, divididos ao meio.

            O carro estacionou. Pronto, já estava ali... Mary estranhamente parecia hesitante em sair do banco de trás. Abriu a porta e saltou, olhando tudo ao redor com timidez. Avistou uma senhora de cabelos grisalhos e curtos, alta, de expressão amável, caminhar em sua direção. Parecia vir exatamente da varandinha onde algumas garotas preparavam a espécie de festa.

            Ms. Vaughn era a professora de leitura e diretora do colégio e vinha dar as boas vinhas à nova aluna. Gostava de ajudar as meninas e queria sempre seu bem-estar... Mary já sabia quem era, mas não podia deduzir muito daquela mulher nos primeiros momentos em que a vira, no entanto sentia-se um pouco mais calma com a sua presença.

            O sr. Bedford saiu do carro e parou de frente a Mary. Um homem alto, olhos claros emoldurados por óculos, de cabelos cinzentos bem arrumados. A garota pensou que seu pai pudesse enxergar sua expressão um tanto quanto insegura, mas os olhos dele também transmitiam algo de... incerteza. Ou saudades precoces. Algo que não a agradava. Abraçou apertado a filha por um instante e tocou seu rosto ternamente. Apesar de sentir um calor paterno, Mary julgou aquela despedida como fria. Mas resolveu não dar atenção.

            O sr. Bedford se dirigiu então à Ms. Vaughn, acompanhado da nova esposa.

            - Obrigado – disse ele, firmemente.

            - Até logo, agora – respondeu Ms. Vaughn, estendendo a mão e despedindo-se do homem.

            Mary Bedford acompanhou com o olhar os passos do pai se distanciarem cada vez mais e entrarem no carro. A última vez que o veria... por um bom tempo. De fato, não esperava muita coisa de sua madrasta. Sequer se despedira. Pensou que estivesse sorrindo em pensamento por finalmente livrar-se da garotinha do papai...

            Ms. Vaughn aproximou-se de Mary, que parecia ter voltado à realidade.

            - Vai ser fácil, você vai ver – tentou animá-la, com uma voz igualmente doce.

            - Não... não, eu estou bem, é sério – respondeu Mary, com leve gaguejo, não sabendo mais se era verdade o que dizia.

            - Ouça, quero que conheça uma pessoa fantástica – disse, retornando seu rosto em direção à varandinha – Victoria!

            Uma moça bonita, por volta de dezessete, dezenove anos... de longos cabelos castanhos e ondulados e olhos claros virou-se até elas. Pareceu quase se engasgar com a bebida (Mary não conseguiu identificar o que havia no copo), enxugando os lábios com os dedos.

            - Victoria! Venha conhecer Mary! – gritou a diretora.

            - Ok! Só um minuto! – gritou de volta, virando-se para a amiga ao lado e rindo.

            Mary gostaria que não tivesse rido dela, ou algo parecido. Essa hipótese sumiu quase que instantaneamente quando a moça deixou o copo com a amiga e veio em sua direção com a maior boa vontade do mundo.