III

Paulie

            Mouse caminhava tranqüilamente pela sala se estar do colégio – um tipo de recepção.

            Fazia pouco tempo que acabara de ajeitar sua bagagem. À princípio as coisas não estavam indo tão mal... as únicas pessoas que falaram com ela até o momento eram simpáticas, e ainda teve a sorte não dividir o quarto com garotas mal humoradas ou metidas. Daqui a pouco iria fazer parte da reunião divertida e assim poderia conhecer mais gente... mas faltava uma pitada de entusiasmo.

            Parou então para admirar a mesma estátua que vira antes quando subia as escadas. Era de uma mulher trazendo um bebê em seus braços... ficara fascinada com aquilo. Passou os dedos delicadamente por ela (que era do nível de sua cintura) e sentou-se em uma das poltronas, dedicando-se a observar o novo lugar.

            Havia indícios de fumaça por trás da estátua... mas Mary não pareceu prestar atenção.

            - Quer um cigarro?

            Mary assustou-se no mesmo instante. Uma moça estava sentada em um sofá atrás da estátua negra e havia se virado para ela, segurando um cigarro, fumando. Tinha os cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo e olhos da mesma cor, em um rosto peculiarmente expressivo e delicado ao mesmo tempo. Parecia um pouco desleixada...

            - Ahh! – Mary levou a mão à boca.

            - Te assustei? – perguntou, num misto de indiferença e preocupação – Está na cara que é novata... uma ovelha nova. Quantos anos você tem? Treze? Quatorze? Daquelas meninas prodígio, que pulam algumas séries? – disse, olhando-a como se a analisasse.

            Mary não disse coisa alguma; continuava a olhá-la, esperando seus batimentos voltarem ao normal. A moça levantou-se e se aproximou, com o cigarro na boca, segurando um rádio. Deixou-o em cima de uma mesa e estendeu o braço direito para Mouse, antes de dar uma tragada.

            - Me chamo Paulie – apresentou-se, baforando a fumaça – Oster.

            Quando foi que ouvira aquele nome antes? Ah!

            Mary estendeu a mão e a garota a balançou com firmeza.                   

            - Eu sou Mary... Bedford. Mas na verdade me chamam... de Mouse...

            - Acho que prefiro chamá-la de cabeça oca do que de Mouse – retrucou Paulie, sentando-se ao seu lado – Então, você vai dividir o quarto comigo e com a Tori, não é?

            - É... foi o que a Ms. Vaughn disse.

            - Bem... imagino que ela não queria nos deixar sozinhas...

            Mary a fitou, sem entender a frase. Aliás, supôs que ainda deveria entender muita coisa!

            - Eu... eu nunca havia ido a um internato antes – disse a garota de sardas, depois de uma pausa.

            - Hum – começou, dando ligeiramente um soquinho no braço de Mary – Agora você é uma das garotas perdidas. Bem-vinda ao clube – sorriu Paulie, puxando uma garrafa de álcool de dentro do terno – Venha, me ajude a batizar o ponche. Vamos esquentar essa festa! Ira total!

            Pauline Oster levantou-se, pegando rapidamente o rádio e jogando o toco do cigarro em um vaso próximo, e saiu da recepção esperando que a menina a seguisse. Mary ficou de pé e ajeitou a saia com a mão.

            - Ira total... – murmurou, com um sorriso escondido, saindo em direção à Paulie.